Conciliação e pacificação são palavras de fácil uso e difícil implementação. Aparecem com certa frequência nos pronunciamentos dos dois personagens que dominam a política brasileira, Lula e Bolsonaro. Mas não são para valer.
Ambos subordinam a própria sobrevivência política à “missão” de liquidar o adversário. Operam por contraste em relação ao oponente. Isso foi sempre parte da postura de Bolsonaro frente “à esquerda” mas é razoavelmente novo em Lula, que passou de “pai dos pobres” para “pai da democracia” (quer dizer, campeão do anti bolsonarismo).
Do ponto de vista de Lula, as investigações criminais e o STF não eliminaram seu adversário, pelo menos não na rapidez desejada. Cujo atual peso eleitoral, mesmo inelegível, se explica em boa medida pelo próprio... Lula.
Bolsonaro exibe a dificuldade em entender que suas teorias conspiratórias não “colaram” num eleitorado muito além do seu núcleo duro que, da mesma maneira como acontece com lulistas, aceita qualquer coisa que venha do líder. Em outras palavras, há um nutrido contingente profundamente insatisfeito como “o que está aí” (especialmente a volta do PT ao poder), que não engole Bolsonaro como saída para o País.
É óbvio que não há muito espaço de “conciliação” e “pacificação” num cenário de “ladrão” contra “golpista”, ainda mais quando cada um considera que suas vantagens eleitorais residem no jogo de contraste com o adversário/inimigo. Curiosamente, ambos parecem ter assumido que o adversário se dissolveria em suas próprias vulnerabilidades políticas, associadas a fatos recentes, o que não aconteceu.
Ambos não conseguem, porém, ampliar o próprio potencial na direção de maiorias consistentes. E estão, por motivos diferentes, diante da necessidade de criar um “herdeiro”. Lula teria um “herdeiro natural” no atual ministro da Fazenda, que por isso mesmo é ferozmente combatido dentro do próprio PT, às voltas no momento com lideranças regionais sem clara projeção nacional.
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Quanto a Bolsonaro, mesmo com a resiliência política que apresenta, não é o automático “king maker” de quem por ele enfrentaria Lula/PT nas próximas eleições. As raposas das operações políticas já perceberam isso, e seu movimento é na mesma direção das últimas eleições: o que importa é a formação de bancadas no Legislativo, que sempre terá o presidente da República como um refém político, não importa quem seja.
Apesar do enorme cansaço que causa, até aqui não parece que esse ferrolho político possa ser rompido.