Eu estou certo e o mundo está errado costuma ser uma postura típica de profetas. Às vezes precisam de séculos para terem razão.
Lula não é profeta, nem visionário, nem tem todo esse tempo. Mas, na vital esfera da política econômica, está se comportando como se fosse dono de uma verdade que só mal-intencionados se recusam a aceitar.
O presidente enxerga o crescimento da economia como função quase exclusiva do crescimento do consumo das famílias. Por sua vez, dependente de transferência de renda via políticas públicas e da expansão de gastos sociais.
Os obstáculos, tais como equilíbrio fiscal, são vistos como artifícios criados por ricos que só prosperam vivendo da renda de juros altos. E por reacionários que combatem por motivos ideológicos um governo que se diz comprometido com os pobres.
O Lula dos 77 anos exibe traços de regressão a um passado no qual as coisas pareciam mais simples. Enxerga a Lava Jato como operação do serviço secreto americano destinada sobretudo a destruir a capacidade de competição internacional de grandes empreiteiras brasileiras.
Considera que a reindustrialização é função quase exclusiva de um Estado que protege, incentiva (com renúncias fiscais) e investe via bancos públicos. A falência de recentes experimentos nas linhas dessa fórmula foi apenas resultado de sabotagem política e do golpe de 2016.
O Lula 3 exibe também um notável traço de autocentrismo, em oposição ao Lula 1 e 2, quando estava cercado de operadores políticos capazes de peitá-lo. E cujo julgamento o então presidente respeitava (como Dirceu, Palocci ou Thomaz Bastos). O Estado-Maior petista de hoje é segunda linha comparado ao de 20 anos atrás.
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O problema para a visão de mundo propagada pelo presidente é que nela não parece haver lugar para dois fatores de altíssima complexidade: a deterioração dos poderes do chefe do Executivo frente ao Legislativo e a polarização política calcificada que reforça ampla oposição social (que tirou do lulismo a antiga capacidade de conciliação).
Árbitro supremo de todas as questões, Lula 3 tem hesitado em tomar decisões, como aconteceu com o arcabouço fiscal – e, por isso, é criticado abertamente por operadores políticos como Arthur Lira. Os fatos difíceis da realidade (degradação do poder político e estagnação do crescimento econômico) ajudam a entender essa hesitação, ao mesmo tempo que parecem aprofundar em Lula uma clara frustração.
O Lula 3 televisivo exibe mais exasperação do que otimismo e confiança. O profeta está tendo dificuldades para mudar a realidade.