Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião|Elites frustradas


O protesto da carta é mais amplo do que a defesa das eleições

Por William Waack

Jair Bolsonaro não entendeu a natureza política mais abrangente da carta em defesa da democracia. Assim como não entendeu até hoje a natureza da onda disruptiva que o levou – para própria surpresa – ao Palácio do Planalto.

O PT também não havia entendido a natureza dos movimentos de protesto de 2013, e pagou por isso um preço alto em 2016. Em cada uma dessas ocasiões (2013, 2016 e 2018) o solavanco foi causado por movimentos de elites descontentes talvez consigo mesmas.

Mas a atual insatisfação não se refere apenas ao atual governo, ainda que tivesse traído esperanças. Refere-se a um sistema político e de governo que se tornou ainda pior  Foto: Dida Sampaio/Estadão - 27/7/2021
continua após a publicidade

É o que está acontecendo agora. A sensação é a de que o Brasil está se desfazendo em pedaços, sem que as eleições sinalizem como juntar os cacos. Ao contrário: elas evidenciam o triunfo do regionalismo. Tanto Bolsonaro como Lula se apresentam como “líderes nacionais”, mas é só no nome.

Os dirigentes do PT, que no momento possuem uma visão mais abrangente do processo político (e seu horizonte está há tempos em 2023), entenderam que os milhares de assinaturas no texto não são endosso automático da candidatura Lula. Bolsonaro, preso à sua extraordinária limitação cognitiva, acha que se trata de evento apenas contra ele.

Aparentemente, é. O estopim para a mobilização foi dado pelo próprio Bolsonaro e sua boçalidade autoritária. Somada à falta de estratégia e seus fantasmas individuais, levou-o ao córner do ringue político. De onde seu instinto belicoso o faz supor que sairá apenas golpeando forte, em vários sentidos.

continua após a publicidade

O “basta” que ele ouviu vem de segmentos de tomada de decisão e formação de opinião cujos cinismo, oportunismo, falta de visão de longo prazo e incapacidade de articulação ampla são, ao mesmo tempo, causa e efeito da situação de paralisia do País. Nesse sentido, o Centrão e suas figuras mais visíveis são sintoma e não a “razão” da nossa estagnação.

Mas a atual insatisfação não se refere apenas ao atual governo, ainda que tivesse traído esperanças. Refere-se a um sistema político e de governo que se tornou ainda pior e claramente menos capaz de fornecer as respostas que a sociedade demanda, enquanto tudo parece mover-se para ficar no mesmo lugar.

As elites descontentes defendem interesses antagônicos, têm graus muito díspares de cosmopolitismo e posturas ideológicas às vezes opostas. Sua principal característica em comum (consenso entre sociólogos, antropólogos e historiadores) é a defesa de seus interesses paroquiais, setoriais e regionais, sem ter o País ou o todo como preocupação central.

continua após a publicidade

O que existe é uma imensa frustração, da qual a carta em defesa da democracia é uma tradução. E a falta de um caminho de saída dela.

Jair Bolsonaro não entendeu a natureza política mais abrangente da carta em defesa da democracia. Assim como não entendeu até hoje a natureza da onda disruptiva que o levou – para própria surpresa – ao Palácio do Planalto.

O PT também não havia entendido a natureza dos movimentos de protesto de 2013, e pagou por isso um preço alto em 2016. Em cada uma dessas ocasiões (2013, 2016 e 2018) o solavanco foi causado por movimentos de elites descontentes talvez consigo mesmas.

Mas a atual insatisfação não se refere apenas ao atual governo, ainda que tivesse traído esperanças. Refere-se a um sistema político e de governo que se tornou ainda pior  Foto: Dida Sampaio/Estadão - 27/7/2021

É o que está acontecendo agora. A sensação é a de que o Brasil está se desfazendo em pedaços, sem que as eleições sinalizem como juntar os cacos. Ao contrário: elas evidenciam o triunfo do regionalismo. Tanto Bolsonaro como Lula se apresentam como “líderes nacionais”, mas é só no nome.

Os dirigentes do PT, que no momento possuem uma visão mais abrangente do processo político (e seu horizonte está há tempos em 2023), entenderam que os milhares de assinaturas no texto não são endosso automático da candidatura Lula. Bolsonaro, preso à sua extraordinária limitação cognitiva, acha que se trata de evento apenas contra ele.

Aparentemente, é. O estopim para a mobilização foi dado pelo próprio Bolsonaro e sua boçalidade autoritária. Somada à falta de estratégia e seus fantasmas individuais, levou-o ao córner do ringue político. De onde seu instinto belicoso o faz supor que sairá apenas golpeando forte, em vários sentidos.

O “basta” que ele ouviu vem de segmentos de tomada de decisão e formação de opinião cujos cinismo, oportunismo, falta de visão de longo prazo e incapacidade de articulação ampla são, ao mesmo tempo, causa e efeito da situação de paralisia do País. Nesse sentido, o Centrão e suas figuras mais visíveis são sintoma e não a “razão” da nossa estagnação.

Mas a atual insatisfação não se refere apenas ao atual governo, ainda que tivesse traído esperanças. Refere-se a um sistema político e de governo que se tornou ainda pior e claramente menos capaz de fornecer as respostas que a sociedade demanda, enquanto tudo parece mover-se para ficar no mesmo lugar.

As elites descontentes defendem interesses antagônicos, têm graus muito díspares de cosmopolitismo e posturas ideológicas às vezes opostas. Sua principal característica em comum (consenso entre sociólogos, antropólogos e historiadores) é a defesa de seus interesses paroquiais, setoriais e regionais, sem ter o País ou o todo como preocupação central.

O que existe é uma imensa frustração, da qual a carta em defesa da democracia é uma tradução. E a falta de um caminho de saída dela.

Jair Bolsonaro não entendeu a natureza política mais abrangente da carta em defesa da democracia. Assim como não entendeu até hoje a natureza da onda disruptiva que o levou – para própria surpresa – ao Palácio do Planalto.

O PT também não havia entendido a natureza dos movimentos de protesto de 2013, e pagou por isso um preço alto em 2016. Em cada uma dessas ocasiões (2013, 2016 e 2018) o solavanco foi causado por movimentos de elites descontentes talvez consigo mesmas.

Mas a atual insatisfação não se refere apenas ao atual governo, ainda que tivesse traído esperanças. Refere-se a um sistema político e de governo que se tornou ainda pior  Foto: Dida Sampaio/Estadão - 27/7/2021

É o que está acontecendo agora. A sensação é a de que o Brasil está se desfazendo em pedaços, sem que as eleições sinalizem como juntar os cacos. Ao contrário: elas evidenciam o triunfo do regionalismo. Tanto Bolsonaro como Lula se apresentam como “líderes nacionais”, mas é só no nome.

Os dirigentes do PT, que no momento possuem uma visão mais abrangente do processo político (e seu horizonte está há tempos em 2023), entenderam que os milhares de assinaturas no texto não são endosso automático da candidatura Lula. Bolsonaro, preso à sua extraordinária limitação cognitiva, acha que se trata de evento apenas contra ele.

Aparentemente, é. O estopim para a mobilização foi dado pelo próprio Bolsonaro e sua boçalidade autoritária. Somada à falta de estratégia e seus fantasmas individuais, levou-o ao córner do ringue político. De onde seu instinto belicoso o faz supor que sairá apenas golpeando forte, em vários sentidos.

O “basta” que ele ouviu vem de segmentos de tomada de decisão e formação de opinião cujos cinismo, oportunismo, falta de visão de longo prazo e incapacidade de articulação ampla são, ao mesmo tempo, causa e efeito da situação de paralisia do País. Nesse sentido, o Centrão e suas figuras mais visíveis são sintoma e não a “razão” da nossa estagnação.

Mas a atual insatisfação não se refere apenas ao atual governo, ainda que tivesse traído esperanças. Refere-se a um sistema político e de governo que se tornou ainda pior e claramente menos capaz de fornecer as respostas que a sociedade demanda, enquanto tudo parece mover-se para ficar no mesmo lugar.

As elites descontentes defendem interesses antagônicos, têm graus muito díspares de cosmopolitismo e posturas ideológicas às vezes opostas. Sua principal característica em comum (consenso entre sociólogos, antropólogos e historiadores) é a defesa de seus interesses paroquiais, setoriais e regionais, sem ter o País ou o todo como preocupação central.

O que existe é uma imensa frustração, da qual a carta em defesa da democracia é uma tradução. E a falta de um caminho de saída dela.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.