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Opinião|Gorbachev tentou reformar um sistema irreformável; leia a coluna de William Waack


Líder soviético sempre esbanjou uma inteligência prática e uma visão abrangente que o levaram à guilhotina política

Por William Waack
Atualização:

De Berlim a Moscou para encontrar Mikhail Gorbachev, morto nesta terça-feira, 30, aos 91 anos, foi uma viagem pelas emoções do mundo da bipolaridade, da Guerra Fria, do confronto entre as superpotências – que parecia ter ficado no passado. Eu acabara de assumir o posto de correspondente do Estadão em Berlim, depois de cobrir a queda do Muro, um evento indissociável da figura de Gorbachev.

Conversar com Gorbachev era uma oportunidade única, que dependia de o gravador funcionar. Quando, ao final da primeira longa resposta, olho para o pequeno aparelho na mesa, um arrepio de horror. Não estava gravando. “Não se preocupe”, disse Gorbachev, com ar paternal, assim que parei a entrevista e lhe avisei do problema técnico. “Eu repito tudo igualzinho.”

Tirando Nikita Kruchev (um exemplo que Gorbachev evitava), líderes soviéticos não eram conhecidos pelo bom humor. Isso só mudaria com o sucessor de Gorbachev, Boris Yeltsin – mas o humor, nesse caso, dependia muito de quanto ele tinha bebido.

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Visão abrangente

Gorbachev sempre esbanjou uma inteligência prática e uma visão abrangente que o levaram à guilhotina política. Pouco depois de perder o poder, já era abominado pelos “siloviki” (os homens daquele obscuro agente da KGB que viria a ser o presidente Vladimir Putin) como o coveiro da pior tragédia geopolítica do século.

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Gorbachev parecia sinalizar a compreensão de que tentara reformar um sistema irreformável. Seu empenho era salvar o que pudesse do monopólio do poder do Partido Comunista, do “near abroad”, como a Rússia ainda hoje entende o papel dos países sob sua influência, ao mesmo tempo que reconhecia o atraso econômico e tecnológico que foram fatores para a implosão do império soviético.

Ele nunca entendeu o mundo sob a perspectiva de uma hipotética governança global dividida entre potências iguais. Sua visão era distante do hiper-realismo de Henry Kissinger, mas admitia que as potências se relacionam sempre sob o temor pela própria segurança. Elas não têm amigos, só interesses.

O mundo do qual Gorbachev se despediu é mais parecido com aquele que ele tentou reformar. Um mundo da competição entre grandes blocos, no qual ele tinha ajudado a abrir uma pequena fresta, uma janela para um outro possível – mas que já se fechou.

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Morre Mikhail Gorbachev, ex-líder da URSS

1 | 10

Visita ao Estadão

2 | 10

Gorbachev e Ronald Reagan

3 | 10

Gorbachev e Fidel Castro

4 | 10

Gorbachev e George Bush

5 | 10

Gorbachev e papa João Paulo II

Foto: REUTERS/Luciano Mellace
6 | 10

Gorbachev e Raisa

7 | 10

Gorbachev e Angela Merkel

8 | 10

Gorbachev e Margaret Thatcher

9 | 10

Bono, Bill Clinton e Gorbachev

10 | 10

Gorbachev e Putin

Foto: Itar-Tass/Reuters

De Berlim a Moscou para encontrar Mikhail Gorbachev, morto nesta terça-feira, 30, aos 91 anos, foi uma viagem pelas emoções do mundo da bipolaridade, da Guerra Fria, do confronto entre as superpotências – que parecia ter ficado no passado. Eu acabara de assumir o posto de correspondente do Estadão em Berlim, depois de cobrir a queda do Muro, um evento indissociável da figura de Gorbachev.

Conversar com Gorbachev era uma oportunidade única, que dependia de o gravador funcionar. Quando, ao final da primeira longa resposta, olho para o pequeno aparelho na mesa, um arrepio de horror. Não estava gravando. “Não se preocupe”, disse Gorbachev, com ar paternal, assim que parei a entrevista e lhe avisei do problema técnico. “Eu repito tudo igualzinho.”

Tirando Nikita Kruchev (um exemplo que Gorbachev evitava), líderes soviéticos não eram conhecidos pelo bom humor. Isso só mudaria com o sucessor de Gorbachev, Boris Yeltsin – mas o humor, nesse caso, dependia muito de quanto ele tinha bebido.

Visão abrangente

Gorbachev sempre esbanjou uma inteligência prática e uma visão abrangente que o levaram à guilhotina política. Pouco depois de perder o poder, já era abominado pelos “siloviki” (os homens daquele obscuro agente da KGB que viria a ser o presidente Vladimir Putin) como o coveiro da pior tragédia geopolítica do século.

Gorbachev parecia sinalizar a compreensão de que tentara reformar um sistema irreformável. Seu empenho era salvar o que pudesse do monopólio do poder do Partido Comunista, do “near abroad”, como a Rússia ainda hoje entende o papel dos países sob sua influência, ao mesmo tempo que reconhecia o atraso econômico e tecnológico que foram fatores para a implosão do império soviético.

Ele nunca entendeu o mundo sob a perspectiva de uma hipotética governança global dividida entre potências iguais. Sua visão era distante do hiper-realismo de Henry Kissinger, mas admitia que as potências se relacionam sempre sob o temor pela própria segurança. Elas não têm amigos, só interesses.

O mundo do qual Gorbachev se despediu é mais parecido com aquele que ele tentou reformar. Um mundo da competição entre grandes blocos, no qual ele tinha ajudado a abrir uma pequena fresta, uma janela para um outro possível – mas que já se fechou.

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3 | 10

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Gorbachev e Raisa

7 | 10

Gorbachev e Angela Merkel

8 | 10

Gorbachev e Margaret Thatcher

9 | 10

Bono, Bill Clinton e Gorbachev

10 | 10

Gorbachev e Putin

Foto: Itar-Tass/Reuters

De Berlim a Moscou para encontrar Mikhail Gorbachev, morto nesta terça-feira, 30, aos 91 anos, foi uma viagem pelas emoções do mundo da bipolaridade, da Guerra Fria, do confronto entre as superpotências – que parecia ter ficado no passado. Eu acabara de assumir o posto de correspondente do Estadão em Berlim, depois de cobrir a queda do Muro, um evento indissociável da figura de Gorbachev.

Conversar com Gorbachev era uma oportunidade única, que dependia de o gravador funcionar. Quando, ao final da primeira longa resposta, olho para o pequeno aparelho na mesa, um arrepio de horror. Não estava gravando. “Não se preocupe”, disse Gorbachev, com ar paternal, assim que parei a entrevista e lhe avisei do problema técnico. “Eu repito tudo igualzinho.”

Tirando Nikita Kruchev (um exemplo que Gorbachev evitava), líderes soviéticos não eram conhecidos pelo bom humor. Isso só mudaria com o sucessor de Gorbachev, Boris Yeltsin – mas o humor, nesse caso, dependia muito de quanto ele tinha bebido.

Visão abrangente

Gorbachev sempre esbanjou uma inteligência prática e uma visão abrangente que o levaram à guilhotina política. Pouco depois de perder o poder, já era abominado pelos “siloviki” (os homens daquele obscuro agente da KGB que viria a ser o presidente Vladimir Putin) como o coveiro da pior tragédia geopolítica do século.

Gorbachev parecia sinalizar a compreensão de que tentara reformar um sistema irreformável. Seu empenho era salvar o que pudesse do monopólio do poder do Partido Comunista, do “near abroad”, como a Rússia ainda hoje entende o papel dos países sob sua influência, ao mesmo tempo que reconhecia o atraso econômico e tecnológico que foram fatores para a implosão do império soviético.

Ele nunca entendeu o mundo sob a perspectiva de uma hipotética governança global dividida entre potências iguais. Sua visão era distante do hiper-realismo de Henry Kissinger, mas admitia que as potências se relacionam sempre sob o temor pela própria segurança. Elas não têm amigos, só interesses.

O mundo do qual Gorbachev se despediu é mais parecido com aquele que ele tentou reformar. Um mundo da competição entre grandes blocos, no qual ele tinha ajudado a abrir uma pequena fresta, uma janela para um outro possível – mas que já se fechou.

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Gorbachev e Angela Merkel

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Gorbachev e Margaret Thatcher

9 | 10

Bono, Bill Clinton e Gorbachev

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Gorbachev e Putin

Foto: Itar-Tass/Reuters

De Berlim a Moscou para encontrar Mikhail Gorbachev, morto nesta terça-feira, 30, aos 91 anos, foi uma viagem pelas emoções do mundo da bipolaridade, da Guerra Fria, do confronto entre as superpotências – que parecia ter ficado no passado. Eu acabara de assumir o posto de correspondente do Estadão em Berlim, depois de cobrir a queda do Muro, um evento indissociável da figura de Gorbachev.

Conversar com Gorbachev era uma oportunidade única, que dependia de o gravador funcionar. Quando, ao final da primeira longa resposta, olho para o pequeno aparelho na mesa, um arrepio de horror. Não estava gravando. “Não se preocupe”, disse Gorbachev, com ar paternal, assim que parei a entrevista e lhe avisei do problema técnico. “Eu repito tudo igualzinho.”

Tirando Nikita Kruchev (um exemplo que Gorbachev evitava), líderes soviéticos não eram conhecidos pelo bom humor. Isso só mudaria com o sucessor de Gorbachev, Boris Yeltsin – mas o humor, nesse caso, dependia muito de quanto ele tinha bebido.

Visão abrangente

Gorbachev sempre esbanjou uma inteligência prática e uma visão abrangente que o levaram à guilhotina política. Pouco depois de perder o poder, já era abominado pelos “siloviki” (os homens daquele obscuro agente da KGB que viria a ser o presidente Vladimir Putin) como o coveiro da pior tragédia geopolítica do século.

Gorbachev parecia sinalizar a compreensão de que tentara reformar um sistema irreformável. Seu empenho era salvar o que pudesse do monopólio do poder do Partido Comunista, do “near abroad”, como a Rússia ainda hoje entende o papel dos países sob sua influência, ao mesmo tempo que reconhecia o atraso econômico e tecnológico que foram fatores para a implosão do império soviético.

Ele nunca entendeu o mundo sob a perspectiva de uma hipotética governança global dividida entre potências iguais. Sua visão era distante do hiper-realismo de Henry Kissinger, mas admitia que as potências se relacionam sempre sob o temor pela própria segurança. Elas não têm amigos, só interesses.

O mundo do qual Gorbachev se despediu é mais parecido com aquele que ele tentou reformar. Um mundo da competição entre grandes blocos, no qual ele tinha ajudado a abrir uma pequena fresta, uma janela para um outro possível – mas que já se fechou.

Morre Mikhail Gorbachev, ex-líder da URSS

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Gorbachev e Raisa

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Gorbachev e Angela Merkel

8 | 10

Gorbachev e Margaret Thatcher

9 | 10

Bono, Bill Clinton e Gorbachev

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Gorbachev e Putin

Foto: Itar-Tass/Reuters
Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

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