Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião|“Herança” de Bolsonaro flui para mais um movimento disruptivo, sem agenda clara


“Acabar com o que está aí” pode ser coisa muito diferente dependendo do setor. A grande dificuldade de “ondas disruptivas” é definir claramente seus objetivos estratégicos

Por William Waack
Atualização:

Jair Bolsonaro perdeu em boa parte para si mesmo as eleições de 2022 e, a julgar pelo que está acontecendo na capital paulista, sua figura e influência políticas sofrem acelerado processo de erosão. O curioso é que o potencial de votos “antissistema” em geral e o “de direita” (como se queira chamar isso) em particular aumentou desde a derrota de Bolsonaro.

Em São Paulo, o óbvio “herdeiro” é Pablo Marçal. Não importam as diferenças entre cada um: esses personagens de meteórica ascensão trafegam no mesmo “filão”. Asseguram que são capazes de mudar para melhor a vida de cada um “arrebentando” com “isso que está aí”.

As lições trazidas por Bolsonaro, e que aparentemente Marçal ainda não assimilou, é que a parte mais fácil da trajetória política é surfar a onda dos sentimentos gerais de angústia e impotência diante, por exemplo, da percebida mão de ferro do STF, da Receita, da burocracia, agravadas pelo medo gerado por questões de segurança pública e o dia a dia travado, sobretudo de empreendedores.

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Jair Bolsonaro discursa durante ato na avenida Paulista que pediu o impeachment de Alexandre de Moraes, no último 7 de Setembro  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Acabar com o que está aí”, porém, pode ser coisa muito diferente dependendo do setor. E a grande dificuldade de “ondas disruptivas”, como as de Bolsonaro antes e Marçal agora, é definir claramente seu eixo de ação e, portanto, seus objetivos estratégicos — além da óbvia conquista do poder. Bolsonaro nem sequer criou uma estrutura razoavelmente hierarquizada, o que espelha fielmente a falência de partidos políticos no Brasil.

Ocorre que essas agremiações são essenciais para se governar no sistema brasileiro que ainda perdura. Conforme o próprio Bolsonaro demonstrou, revelou-se uma ilusão fatal supor que o personagem “conectado com os anseios populares” trafegue como quiser no semipresidencialismo jabuticaba, acrescido do STF.

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O que se possa chamar de “voto de direita” — e não só o voto “antissistema” — padece, em primeiro lugar, da falta de partidos com definido propósito ideológico. Resultado direto do fato de que no Brasil inexiste uma clara definição do que é “ser conservador” ou “liberal conservador”. Portanto, de agendas prioritárias além de chavões como “diminuir o tamanho do Estado”.

O momento político da onda antissistêmica e que engloba “a direita” vai dependendo de várias agremiações ou representações setoriais que não são unidas. Sem capacidade até aqui de conduzir alianças — e consensos —, especialmente num ambiente de alto fracionamento, como é o do Legislativo, e de enorme bagunça institucional.

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Num universo eleitoral tão amplo cabem várias figuras de ponta, o que já se antevê para 2026. O problema é quando só uma delas acha que é dona da agenda.

Jair Bolsonaro perdeu em boa parte para si mesmo as eleições de 2022 e, a julgar pelo que está acontecendo na capital paulista, sua figura e influência políticas sofrem acelerado processo de erosão. O curioso é que o potencial de votos “antissistema” em geral e o “de direita” (como se queira chamar isso) em particular aumentou desde a derrota de Bolsonaro.

Em São Paulo, o óbvio “herdeiro” é Pablo Marçal. Não importam as diferenças entre cada um: esses personagens de meteórica ascensão trafegam no mesmo “filão”. Asseguram que são capazes de mudar para melhor a vida de cada um “arrebentando” com “isso que está aí”.

As lições trazidas por Bolsonaro, e que aparentemente Marçal ainda não assimilou, é que a parte mais fácil da trajetória política é surfar a onda dos sentimentos gerais de angústia e impotência diante, por exemplo, da percebida mão de ferro do STF, da Receita, da burocracia, agravadas pelo medo gerado por questões de segurança pública e o dia a dia travado, sobretudo de empreendedores.

Jair Bolsonaro discursa durante ato na avenida Paulista que pediu o impeachment de Alexandre de Moraes, no último 7 de Setembro  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Acabar com o que está aí”, porém, pode ser coisa muito diferente dependendo do setor. E a grande dificuldade de “ondas disruptivas”, como as de Bolsonaro antes e Marçal agora, é definir claramente seu eixo de ação e, portanto, seus objetivos estratégicos — além da óbvia conquista do poder. Bolsonaro nem sequer criou uma estrutura razoavelmente hierarquizada, o que espelha fielmente a falência de partidos políticos no Brasil.

Ocorre que essas agremiações são essenciais para se governar no sistema brasileiro que ainda perdura. Conforme o próprio Bolsonaro demonstrou, revelou-se uma ilusão fatal supor que o personagem “conectado com os anseios populares” trafegue como quiser no semipresidencialismo jabuticaba, acrescido do STF.

O que se possa chamar de “voto de direita” — e não só o voto “antissistema” — padece, em primeiro lugar, da falta de partidos com definido propósito ideológico. Resultado direto do fato de que no Brasil inexiste uma clara definição do que é “ser conservador” ou “liberal conservador”. Portanto, de agendas prioritárias além de chavões como “diminuir o tamanho do Estado”.

O momento político da onda antissistêmica e que engloba “a direita” vai dependendo de várias agremiações ou representações setoriais que não são unidas. Sem capacidade até aqui de conduzir alianças — e consensos —, especialmente num ambiente de alto fracionamento, como é o do Legislativo, e de enorme bagunça institucional.

Num universo eleitoral tão amplo cabem várias figuras de ponta, o que já se antevê para 2026. O problema é quando só uma delas acha que é dona da agenda.

Jair Bolsonaro perdeu em boa parte para si mesmo as eleições de 2022 e, a julgar pelo que está acontecendo na capital paulista, sua figura e influência políticas sofrem acelerado processo de erosão. O curioso é que o potencial de votos “antissistema” em geral e o “de direita” (como se queira chamar isso) em particular aumentou desde a derrota de Bolsonaro.

Em São Paulo, o óbvio “herdeiro” é Pablo Marçal. Não importam as diferenças entre cada um: esses personagens de meteórica ascensão trafegam no mesmo “filão”. Asseguram que são capazes de mudar para melhor a vida de cada um “arrebentando” com “isso que está aí”.

As lições trazidas por Bolsonaro, e que aparentemente Marçal ainda não assimilou, é que a parte mais fácil da trajetória política é surfar a onda dos sentimentos gerais de angústia e impotência diante, por exemplo, da percebida mão de ferro do STF, da Receita, da burocracia, agravadas pelo medo gerado por questões de segurança pública e o dia a dia travado, sobretudo de empreendedores.

Jair Bolsonaro discursa durante ato na avenida Paulista que pediu o impeachment de Alexandre de Moraes, no último 7 de Setembro  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Acabar com o que está aí”, porém, pode ser coisa muito diferente dependendo do setor. E a grande dificuldade de “ondas disruptivas”, como as de Bolsonaro antes e Marçal agora, é definir claramente seu eixo de ação e, portanto, seus objetivos estratégicos — além da óbvia conquista do poder. Bolsonaro nem sequer criou uma estrutura razoavelmente hierarquizada, o que espelha fielmente a falência de partidos políticos no Brasil.

Ocorre que essas agremiações são essenciais para se governar no sistema brasileiro que ainda perdura. Conforme o próprio Bolsonaro demonstrou, revelou-se uma ilusão fatal supor que o personagem “conectado com os anseios populares” trafegue como quiser no semipresidencialismo jabuticaba, acrescido do STF.

O que se possa chamar de “voto de direita” — e não só o voto “antissistema” — padece, em primeiro lugar, da falta de partidos com definido propósito ideológico. Resultado direto do fato de que no Brasil inexiste uma clara definição do que é “ser conservador” ou “liberal conservador”. Portanto, de agendas prioritárias além de chavões como “diminuir o tamanho do Estado”.

O momento político da onda antissistêmica e que engloba “a direita” vai dependendo de várias agremiações ou representações setoriais que não são unidas. Sem capacidade até aqui de conduzir alianças — e consensos —, especialmente num ambiente de alto fracionamento, como é o do Legislativo, e de enorme bagunça institucional.

Num universo eleitoral tão amplo cabem várias figuras de ponta, o que já se antevê para 2026. O problema é quando só uma delas acha que é dona da agenda.

Jair Bolsonaro perdeu em boa parte para si mesmo as eleições de 2022 e, a julgar pelo que está acontecendo na capital paulista, sua figura e influência políticas sofrem acelerado processo de erosão. O curioso é que o potencial de votos “antissistema” em geral e o “de direita” (como se queira chamar isso) em particular aumentou desde a derrota de Bolsonaro.

Em São Paulo, o óbvio “herdeiro” é Pablo Marçal. Não importam as diferenças entre cada um: esses personagens de meteórica ascensão trafegam no mesmo “filão”. Asseguram que são capazes de mudar para melhor a vida de cada um “arrebentando” com “isso que está aí”.

As lições trazidas por Bolsonaro, e que aparentemente Marçal ainda não assimilou, é que a parte mais fácil da trajetória política é surfar a onda dos sentimentos gerais de angústia e impotência diante, por exemplo, da percebida mão de ferro do STF, da Receita, da burocracia, agravadas pelo medo gerado por questões de segurança pública e o dia a dia travado, sobretudo de empreendedores.

Jair Bolsonaro discursa durante ato na avenida Paulista que pediu o impeachment de Alexandre de Moraes, no último 7 de Setembro  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Acabar com o que está aí”, porém, pode ser coisa muito diferente dependendo do setor. E a grande dificuldade de “ondas disruptivas”, como as de Bolsonaro antes e Marçal agora, é definir claramente seu eixo de ação e, portanto, seus objetivos estratégicos — além da óbvia conquista do poder. Bolsonaro nem sequer criou uma estrutura razoavelmente hierarquizada, o que espelha fielmente a falência de partidos políticos no Brasil.

Ocorre que essas agremiações são essenciais para se governar no sistema brasileiro que ainda perdura. Conforme o próprio Bolsonaro demonstrou, revelou-se uma ilusão fatal supor que o personagem “conectado com os anseios populares” trafegue como quiser no semipresidencialismo jabuticaba, acrescido do STF.

O que se possa chamar de “voto de direita” — e não só o voto “antissistema” — padece, em primeiro lugar, da falta de partidos com definido propósito ideológico. Resultado direto do fato de que no Brasil inexiste uma clara definição do que é “ser conservador” ou “liberal conservador”. Portanto, de agendas prioritárias além de chavões como “diminuir o tamanho do Estado”.

O momento político da onda antissistêmica e que engloba “a direita” vai dependendo de várias agremiações ou representações setoriais que não são unidas. Sem capacidade até aqui de conduzir alianças — e consensos —, especialmente num ambiente de alto fracionamento, como é o do Legislativo, e de enorme bagunça institucional.

Num universo eleitoral tão amplo cabem várias figuras de ponta, o que já se antevê para 2026. O problema é quando só uma delas acha que é dona da agenda.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

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