Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião|Lula continua devendo uma lista de prioridades


Presidente tem demonstrado grande apego à capacidade de improvisação

Por William Waack

Aos cem dias está faltando ainda um governo de frente ampla. O que Lula parece estar fazendo até aqui é contestar aspectos amplos do que encontrou ao assumir para o terceiro mandato.

O ponto de contestação mais recente é o do Marco Legal do Saneamento, que tem como pano de fundo o notório desconforto do presidente com qualquer tipo de privatização. Outros aspectos contestados (a lista não é exaustiva) têm a ver com educação, formação de preços no setor de energia, relações capital trabalho e uso de estatais como moeda de troca nas relações políticas.

Outro ponto que merece destaque é a inserção do Brasil nas relações internacionais a partir do que Lula percebe como equidistância a ser mantida pelo “global south” frente aos grandes focos de poder mundiais – na prática, significa alinhar o Brasil à China e à Rússia.

continua após a publicidade
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião ministerial;  Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO - 3/4/2023

Aqui não cabe entrar no mérito de cada uma dessas questões, que têm extraordinária abrangência. Mas, sim, perguntar se o presidente tem as forças políticas adequadas para atacar em tantas frentes ao mesmo tempo.

Aparentemente, não. A escolha de temas tão relevantes e, ao mesmo tempo, distantes entre si sugere que o presidente não estabeleceu uma lista de prioridades. Dedica-se ao que vem surgindo pela frente preso à narrativa de que é necessário desfazer o que encontrou.

continua após a publicidade

Curioso nesse processo de “seleção” de objetivos (na verdade, na falta de) é o desapego ao que se poderia chamar de “avaliação” das próprias forças. Isto fica mais evidente quanto mais se aproxima o momento de testar as próprias capacidades – como a votação de MPs de interesse imediato do governo. O principal risco no momento está associado à dificuldade de Lula de dizer com qual time vai entrar em campo para disputar qual tipo de votação.

Não é por outro motivo que se tem mencionado a reforma tributária como teste decisivo. Ela demanda uma capacidade sobre-humana de coordenação e articulação políticas, num ambiente no qual já de saída é difícil subordinar os vários interesses antagônicos a posturas político-ideológicas claras.

continua após a publicidade

Lula tem demonstrado grande apego à capacidade de improvisação. Mas pouquíssima dedicação à enfadonha tarefa de sistematizar assuntos, dissecá-los em suas partes constituintes e abordá-los com algum tipo de método. É o que ficou bastante transparente no envolvimento dele com o arcabouço fiscal, no qual seu único ponto de vivo interesse parece ter sido em torno da questão “vou continuar podendo gastar?”

Improviso na política não é, por definição, uma característica negativa. O problema para o governante é quando não existe nada, além de improviso.

Aos cem dias está faltando ainda um governo de frente ampla. O que Lula parece estar fazendo até aqui é contestar aspectos amplos do que encontrou ao assumir para o terceiro mandato.

O ponto de contestação mais recente é o do Marco Legal do Saneamento, que tem como pano de fundo o notório desconforto do presidente com qualquer tipo de privatização. Outros aspectos contestados (a lista não é exaustiva) têm a ver com educação, formação de preços no setor de energia, relações capital trabalho e uso de estatais como moeda de troca nas relações políticas.

Outro ponto que merece destaque é a inserção do Brasil nas relações internacionais a partir do que Lula percebe como equidistância a ser mantida pelo “global south” frente aos grandes focos de poder mundiais – na prática, significa alinhar o Brasil à China e à Rússia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião ministerial;  Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO - 3/4/2023

Aqui não cabe entrar no mérito de cada uma dessas questões, que têm extraordinária abrangência. Mas, sim, perguntar se o presidente tem as forças políticas adequadas para atacar em tantas frentes ao mesmo tempo.

Aparentemente, não. A escolha de temas tão relevantes e, ao mesmo tempo, distantes entre si sugere que o presidente não estabeleceu uma lista de prioridades. Dedica-se ao que vem surgindo pela frente preso à narrativa de que é necessário desfazer o que encontrou.

Curioso nesse processo de “seleção” de objetivos (na verdade, na falta de) é o desapego ao que se poderia chamar de “avaliação” das próprias forças. Isto fica mais evidente quanto mais se aproxima o momento de testar as próprias capacidades – como a votação de MPs de interesse imediato do governo. O principal risco no momento está associado à dificuldade de Lula de dizer com qual time vai entrar em campo para disputar qual tipo de votação.

Não é por outro motivo que se tem mencionado a reforma tributária como teste decisivo. Ela demanda uma capacidade sobre-humana de coordenação e articulação políticas, num ambiente no qual já de saída é difícil subordinar os vários interesses antagônicos a posturas político-ideológicas claras.

Lula tem demonstrado grande apego à capacidade de improvisação. Mas pouquíssima dedicação à enfadonha tarefa de sistematizar assuntos, dissecá-los em suas partes constituintes e abordá-los com algum tipo de método. É o que ficou bastante transparente no envolvimento dele com o arcabouço fiscal, no qual seu único ponto de vivo interesse parece ter sido em torno da questão “vou continuar podendo gastar?”

Improviso na política não é, por definição, uma característica negativa. O problema para o governante é quando não existe nada, além de improviso.

Aos cem dias está faltando ainda um governo de frente ampla. O que Lula parece estar fazendo até aqui é contestar aspectos amplos do que encontrou ao assumir para o terceiro mandato.

O ponto de contestação mais recente é o do Marco Legal do Saneamento, que tem como pano de fundo o notório desconforto do presidente com qualquer tipo de privatização. Outros aspectos contestados (a lista não é exaustiva) têm a ver com educação, formação de preços no setor de energia, relações capital trabalho e uso de estatais como moeda de troca nas relações políticas.

Outro ponto que merece destaque é a inserção do Brasil nas relações internacionais a partir do que Lula percebe como equidistância a ser mantida pelo “global south” frente aos grandes focos de poder mundiais – na prática, significa alinhar o Brasil à China e à Rússia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião ministerial;  Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO - 3/4/2023

Aqui não cabe entrar no mérito de cada uma dessas questões, que têm extraordinária abrangência. Mas, sim, perguntar se o presidente tem as forças políticas adequadas para atacar em tantas frentes ao mesmo tempo.

Aparentemente, não. A escolha de temas tão relevantes e, ao mesmo tempo, distantes entre si sugere que o presidente não estabeleceu uma lista de prioridades. Dedica-se ao que vem surgindo pela frente preso à narrativa de que é necessário desfazer o que encontrou.

Curioso nesse processo de “seleção” de objetivos (na verdade, na falta de) é o desapego ao que se poderia chamar de “avaliação” das próprias forças. Isto fica mais evidente quanto mais se aproxima o momento de testar as próprias capacidades – como a votação de MPs de interesse imediato do governo. O principal risco no momento está associado à dificuldade de Lula de dizer com qual time vai entrar em campo para disputar qual tipo de votação.

Não é por outro motivo que se tem mencionado a reforma tributária como teste decisivo. Ela demanda uma capacidade sobre-humana de coordenação e articulação políticas, num ambiente no qual já de saída é difícil subordinar os vários interesses antagônicos a posturas político-ideológicas claras.

Lula tem demonstrado grande apego à capacidade de improvisação. Mas pouquíssima dedicação à enfadonha tarefa de sistematizar assuntos, dissecá-los em suas partes constituintes e abordá-los com algum tipo de método. É o que ficou bastante transparente no envolvimento dele com o arcabouço fiscal, no qual seu único ponto de vivo interesse parece ter sido em torno da questão “vou continuar podendo gastar?”

Improviso na política não é, por definição, uma característica negativa. O problema para o governante é quando não existe nada, além de improviso.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.