Pode-se trocar os atores no atual teatro político em Brasília e não mudam os personagens centrais. Muito menos o enredo: uma luta feroz pelo poder entre Congresso e Executivo. Os chefes do Executivo e das Casas legislativas estão entrelaçados numa disputa pelos instrumentos básicos de atuação política – a alocação de recursos via orçamento público e a ocupação da máquina estatal.
É o resultado lógico de um péssimo “design” de sistema de governo que só piorou na última década. O conflito programado entre Executivo e Legislativo agravou-se com o resultado da última eleição, que não deu a lado algum peso decisivo para impor uma agenda política.
Mas o “clinch” institucional vivido por Arthur Lira e Lula não explica tudo, pois existe um largo espaço para a atuação de indivíduos. A de Lira tem sido a exploração brutal do que ele entende como prerrogativas de poder irrevogáveis do Parlamento. Seu maior problema é coordenar forças políticas fracionadas, que não obedecem a um comando central.
A atuação de Lula sofre em razão da incompreensão das mudanças de poder, além de achar que suas vontades prevalecem sobre os fatos. Ele não desenvolveu até aqui um plano coerente de governo e de ação política, e está improvisando nas duas esferas. Obrigou-se ao microgerenciamento de infindáveis minicrises, deixando a sensação de que quanto mais fala, menos se sai lugar.
As principais pautas de interesse imediato para o País estão sendo empurradas, mas não conduzidas com um senso de horizonte um pouco mais amplo (seria mesmo uma utopia). A do arcabouço fiscal agrada ao desejo de gastar compartilhado entre Congresso e Executivo, mas de maneira perversa está dependendo em parte substancial do Judiciário para garantir aumento de arrecadação.
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A reforma tributária será um grande sucesso se corrigir distorções. Ocorre que “distorções” é um eufemismo pelo qual se descreve como os mais variados interesses regionais, econômicos ou de segmentos criaram e defendem seus “direitos”, cuja acomodação via cofres públicos a crise fiscal impossibilita.
O mais dramático de um enredo desse tipo é a constatação de que o tamanho dos problemas supera a estatura e a capacidade de compreensão dos principais personagens políticos sobre o que está envolvido em termos de futuro do País.
É um soberbo material para roteiristas de séries no “streaming”, sustentaria muitas temporadas e dezenas de capítulos. Infelizmente não se pode relaxar e assistir comencdo pipoca. O que está em jogo não é apenas o destino dos personagens. É o de todos nós.