Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião|Na prática, o Brasil está do lado da China e da Rússia na contestação da ordem internacional


O fortalecimento das relações com o País asiático, com a assinatura de mais de 20 acordos, vem embalado como defesa de interesse nacional brasileiro

Por William Waack

A vida deu a Lula a oportunidade de dar o troco a quem ele entende que lhe causou algum mal. Com a viagem à China, chegou a vez dos americanos.

O presidente acha que o governo americano estava implicado na Lava Jato, visando destruir a capacidade de concorrência internacional de empreiteiras brasileiras. De qualquer modo, na visão lulista, os “loiros do Norte” sempre se dedicaram a impedir o desenvolvimento das potências do Sul, como o Brasil.

Vem dessa visão de mundo boa parte da postura de passar o pano na brutal agressão russa à Ucrânia. Pois, se os americanos estão apoiando um lado, só pode ser em interesse próprio, e quem se opõe à hegemonia imperialista gringa (como a Rússia) só pode estar do lado certo.

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A expansão das relações do Brasil com a China é a bofetada perfeita aplicada onde dói. No lote de documentos confidenciais do Pentágono vazados recentemente está a preocupação americana com acordos secretos entre a China e a Nicarágua – fora a notável ampliação da presença chinesa na Argentina, entre outros.

O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante chegada a Xangai, na China Foto: Ricardo Stuckert/PR

Nesse conjunto de papéis confidenciais está o registro de como os russos receberam a genialidade de Lula de propor um “clube da paz” de países neutros para mediar a guerra na Ucrânia, em associação com a China: como forma de se quebrar o paradigma ocidental de agressor (Rússia) e vítima (Ucrânia).

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O fortalecimento das relações com a China, com a assinatura de mais de 20 acordos, vem embalado como defesa de interesse nacional. De fato, sendo a China do ponto de vista comercial tão relevante para o Brasil, como não se aproximar dela?

Ocorre que a essência da questão internacional colocada hoje é geopolítica, e não simplesmente comercial. É situação substancialmente diferente daquela de 20 anos atrás, quando a China chamava a atenção por crescer muito. Com a Rússia, uma potência que lhe é subordinada, o que a China pretende hoje é quebrar os 70 anos de ordem internacional garantida sobretudo pelos Estados Unidos.

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Vem daí o grande problema em manter a tal “equidistância” entre potências gigantescas em pé de guerra (talvez seja um problema insolúvel). Sistemas internacionais sempre dependeram de algum ordenamento, imposto e mantido por uma ou por um conjunto de potências. China e Rússia consideram que o atual ordenamento é prejudicial aos seus interesses. Na prática, o Brasil indica o mesmo.

A atual liderança chinesa quer dar o troco por 150 anos de humilhações impostas por potências ocidentais (na Rússia, ela já conseguiu). O Brasil é uma potência média regional muito vulnerável, mas Lula acha que chegou a vez dele também.

A vida deu a Lula a oportunidade de dar o troco a quem ele entende que lhe causou algum mal. Com a viagem à China, chegou a vez dos americanos.

O presidente acha que o governo americano estava implicado na Lava Jato, visando destruir a capacidade de concorrência internacional de empreiteiras brasileiras. De qualquer modo, na visão lulista, os “loiros do Norte” sempre se dedicaram a impedir o desenvolvimento das potências do Sul, como o Brasil.

Vem dessa visão de mundo boa parte da postura de passar o pano na brutal agressão russa à Ucrânia. Pois, se os americanos estão apoiando um lado, só pode ser em interesse próprio, e quem se opõe à hegemonia imperialista gringa (como a Rússia) só pode estar do lado certo.

A expansão das relações do Brasil com a China é a bofetada perfeita aplicada onde dói. No lote de documentos confidenciais do Pentágono vazados recentemente está a preocupação americana com acordos secretos entre a China e a Nicarágua – fora a notável ampliação da presença chinesa na Argentina, entre outros.

O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante chegada a Xangai, na China Foto: Ricardo Stuckert/PR

Nesse conjunto de papéis confidenciais está o registro de como os russos receberam a genialidade de Lula de propor um “clube da paz” de países neutros para mediar a guerra na Ucrânia, em associação com a China: como forma de se quebrar o paradigma ocidental de agressor (Rússia) e vítima (Ucrânia).

O fortalecimento das relações com a China, com a assinatura de mais de 20 acordos, vem embalado como defesa de interesse nacional. De fato, sendo a China do ponto de vista comercial tão relevante para o Brasil, como não se aproximar dela?

Ocorre que a essência da questão internacional colocada hoje é geopolítica, e não simplesmente comercial. É situação substancialmente diferente daquela de 20 anos atrás, quando a China chamava a atenção por crescer muito. Com a Rússia, uma potência que lhe é subordinada, o que a China pretende hoje é quebrar os 70 anos de ordem internacional garantida sobretudo pelos Estados Unidos.

Vem daí o grande problema em manter a tal “equidistância” entre potências gigantescas em pé de guerra (talvez seja um problema insolúvel). Sistemas internacionais sempre dependeram de algum ordenamento, imposto e mantido por uma ou por um conjunto de potências. China e Rússia consideram que o atual ordenamento é prejudicial aos seus interesses. Na prática, o Brasil indica o mesmo.

A atual liderança chinesa quer dar o troco por 150 anos de humilhações impostas por potências ocidentais (na Rússia, ela já conseguiu). O Brasil é uma potência média regional muito vulnerável, mas Lula acha que chegou a vez dele também.

A vida deu a Lula a oportunidade de dar o troco a quem ele entende que lhe causou algum mal. Com a viagem à China, chegou a vez dos americanos.

O presidente acha que o governo americano estava implicado na Lava Jato, visando destruir a capacidade de concorrência internacional de empreiteiras brasileiras. De qualquer modo, na visão lulista, os “loiros do Norte” sempre se dedicaram a impedir o desenvolvimento das potências do Sul, como o Brasil.

Vem dessa visão de mundo boa parte da postura de passar o pano na brutal agressão russa à Ucrânia. Pois, se os americanos estão apoiando um lado, só pode ser em interesse próprio, e quem se opõe à hegemonia imperialista gringa (como a Rússia) só pode estar do lado certo.

A expansão das relações do Brasil com a China é a bofetada perfeita aplicada onde dói. No lote de documentos confidenciais do Pentágono vazados recentemente está a preocupação americana com acordos secretos entre a China e a Nicarágua – fora a notável ampliação da presença chinesa na Argentina, entre outros.

O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante chegada a Xangai, na China Foto: Ricardo Stuckert/PR

Nesse conjunto de papéis confidenciais está o registro de como os russos receberam a genialidade de Lula de propor um “clube da paz” de países neutros para mediar a guerra na Ucrânia, em associação com a China: como forma de se quebrar o paradigma ocidental de agressor (Rússia) e vítima (Ucrânia).

O fortalecimento das relações com a China, com a assinatura de mais de 20 acordos, vem embalado como defesa de interesse nacional. De fato, sendo a China do ponto de vista comercial tão relevante para o Brasil, como não se aproximar dela?

Ocorre que a essência da questão internacional colocada hoje é geopolítica, e não simplesmente comercial. É situação substancialmente diferente daquela de 20 anos atrás, quando a China chamava a atenção por crescer muito. Com a Rússia, uma potência que lhe é subordinada, o que a China pretende hoje é quebrar os 70 anos de ordem internacional garantida sobretudo pelos Estados Unidos.

Vem daí o grande problema em manter a tal “equidistância” entre potências gigantescas em pé de guerra (talvez seja um problema insolúvel). Sistemas internacionais sempre dependeram de algum ordenamento, imposto e mantido por uma ou por um conjunto de potências. China e Rússia consideram que o atual ordenamento é prejudicial aos seus interesses. Na prática, o Brasil indica o mesmo.

A atual liderança chinesa quer dar o troco por 150 anos de humilhações impostas por potências ocidentais (na Rússia, ela já conseguiu). O Brasil é uma potência média regional muito vulnerável, mas Lula acha que chegou a vez dele também.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

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