Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião|Não foi Trump quem inaugurou, mas ele aprofunda a era das incertezas


Pode-se discutir ad infinitum quanto ele é responsável ou apenas sintoma do que os acadêmicos passaram a chamar de ‘políticas do ressentimento cultural’

Por William Waack
Atualização:

Uma das imagens mais poderosas que orientou os estrategistas republicanos nas três últimas eleições foi a do voo 93, título de um famoso (para a direita americana) artigo publicado em 2016. “Voo 93″ se refere ao episódio, durante os ataques terroristas do 11 de setembro, no qual os passageiros de um dos voos sequestrados se rebelam contra os terroristas e tentam invadir a cabine.

Os republicanos tinham de tomar o cockpit do avião Estados Unidos ou morrer, pregava a doutrina eleitoral. Pois eles acabam de conseguir exatamente isso. Tomaram o Legislativo, o Executivo e a Suprema Corte já era conservadora antes das últimas eleições. Mas assumiram o comando do voo no meio de uma era das incertezas.

Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos pela segunda vez Foto: Evan Vucci/AP Photo
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A primeira delas é doméstica e tem profundas raízes culturais, daí a gravidade da crise política americana. Trata-se da perda do consenso sobre o que é ser americano, reflexo direto de visões contrárias e irreconciliáveis sobre o que de fato constitui o país. É esse fenômeno abrangente que explica em boa parte a desconfiança em relação às instituições, ao sistema eleitoral, mídia, políticos, “a Washington” e, especialmente, às elites tecnocráticas, liberais e ideológicas dissociadas do “homem comum”.

A segunda grande incerteza vem de fora e na sua expressão mais simples é o desafio apresentado pela China à potência até aqui hegemônica. Não há diferenças entre republicanos e democratas sobre o fato da China ser considerada uma inimiga, e não apenas uma competidora, nem quanto as ferramentas para “sufocá-la”. Mas não existe uma estratégia “comum”.

O voto popular e o colégio eleitoral têm como vencedor a figura de um “homem forte” que construiu em boa medida seu sucesso pregando o desrespeito à regra e ao que se poderia chamar de convencional. Em seu primeiro mandato, porém, Donald Trump exibiu comportamento errático, mudanças abruptas de julgamento e opiniões, um estilo no mínimo caótico de administração do próprio pessoal e uma profunda desconfiança quanto ao próprio aparato de Estado montado para servi-lo (como os serviços secretos, por exemplo).

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Pode-se discutir ad infinitum quanto Trump é responsável ou apenas sintoma do que os acadêmicos passaram a chamar de “políticas do ressentimento cultural”. O fato é que ele soube melhor do que qualquer outro personagem político expressar a raiva frente às elites privilegiadas (à qual sempre pertenceu, aliás), o tal “campo progressista” e seu apego às ideias identitárias, a mídia, aos circuito da educação superior e até mesmo à indústria do entretenimento e, claro, o governo federal.

Daí a realizar as promessas empenhadas, dentro e fora dos Estados Unidos, é também uma grande incerteza. E já que se trata de tomar o cockpit, paira sobre tudo isso a frase do capitão Sully, quando pousou seu Airbus no Rio Hudson: “brace for impact”.

Uma das imagens mais poderosas que orientou os estrategistas republicanos nas três últimas eleições foi a do voo 93, título de um famoso (para a direita americana) artigo publicado em 2016. “Voo 93″ se refere ao episódio, durante os ataques terroristas do 11 de setembro, no qual os passageiros de um dos voos sequestrados se rebelam contra os terroristas e tentam invadir a cabine.

Os republicanos tinham de tomar o cockpit do avião Estados Unidos ou morrer, pregava a doutrina eleitoral. Pois eles acabam de conseguir exatamente isso. Tomaram o Legislativo, o Executivo e a Suprema Corte já era conservadora antes das últimas eleições. Mas assumiram o comando do voo no meio de uma era das incertezas.

Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos pela segunda vez Foto: Evan Vucci/AP Photo

A primeira delas é doméstica e tem profundas raízes culturais, daí a gravidade da crise política americana. Trata-se da perda do consenso sobre o que é ser americano, reflexo direto de visões contrárias e irreconciliáveis sobre o que de fato constitui o país. É esse fenômeno abrangente que explica em boa parte a desconfiança em relação às instituições, ao sistema eleitoral, mídia, políticos, “a Washington” e, especialmente, às elites tecnocráticas, liberais e ideológicas dissociadas do “homem comum”.

A segunda grande incerteza vem de fora e na sua expressão mais simples é o desafio apresentado pela China à potência até aqui hegemônica. Não há diferenças entre republicanos e democratas sobre o fato da China ser considerada uma inimiga, e não apenas uma competidora, nem quanto as ferramentas para “sufocá-la”. Mas não existe uma estratégia “comum”.

O voto popular e o colégio eleitoral têm como vencedor a figura de um “homem forte” que construiu em boa medida seu sucesso pregando o desrespeito à regra e ao que se poderia chamar de convencional. Em seu primeiro mandato, porém, Donald Trump exibiu comportamento errático, mudanças abruptas de julgamento e opiniões, um estilo no mínimo caótico de administração do próprio pessoal e uma profunda desconfiança quanto ao próprio aparato de Estado montado para servi-lo (como os serviços secretos, por exemplo).

Pode-se discutir ad infinitum quanto Trump é responsável ou apenas sintoma do que os acadêmicos passaram a chamar de “políticas do ressentimento cultural”. O fato é que ele soube melhor do que qualquer outro personagem político expressar a raiva frente às elites privilegiadas (à qual sempre pertenceu, aliás), o tal “campo progressista” e seu apego às ideias identitárias, a mídia, aos circuito da educação superior e até mesmo à indústria do entretenimento e, claro, o governo federal.

Daí a realizar as promessas empenhadas, dentro e fora dos Estados Unidos, é também uma grande incerteza. E já que se trata de tomar o cockpit, paira sobre tudo isso a frase do capitão Sully, quando pousou seu Airbus no Rio Hudson: “brace for impact”.

Uma das imagens mais poderosas que orientou os estrategistas republicanos nas três últimas eleições foi a do voo 93, título de um famoso (para a direita americana) artigo publicado em 2016. “Voo 93″ se refere ao episódio, durante os ataques terroristas do 11 de setembro, no qual os passageiros de um dos voos sequestrados se rebelam contra os terroristas e tentam invadir a cabine.

Os republicanos tinham de tomar o cockpit do avião Estados Unidos ou morrer, pregava a doutrina eleitoral. Pois eles acabam de conseguir exatamente isso. Tomaram o Legislativo, o Executivo e a Suprema Corte já era conservadora antes das últimas eleições. Mas assumiram o comando do voo no meio de uma era das incertezas.

Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos pela segunda vez Foto: Evan Vucci/AP Photo

A primeira delas é doméstica e tem profundas raízes culturais, daí a gravidade da crise política americana. Trata-se da perda do consenso sobre o que é ser americano, reflexo direto de visões contrárias e irreconciliáveis sobre o que de fato constitui o país. É esse fenômeno abrangente que explica em boa parte a desconfiança em relação às instituições, ao sistema eleitoral, mídia, políticos, “a Washington” e, especialmente, às elites tecnocráticas, liberais e ideológicas dissociadas do “homem comum”.

A segunda grande incerteza vem de fora e na sua expressão mais simples é o desafio apresentado pela China à potência até aqui hegemônica. Não há diferenças entre republicanos e democratas sobre o fato da China ser considerada uma inimiga, e não apenas uma competidora, nem quanto as ferramentas para “sufocá-la”. Mas não existe uma estratégia “comum”.

O voto popular e o colégio eleitoral têm como vencedor a figura de um “homem forte” que construiu em boa medida seu sucesso pregando o desrespeito à regra e ao que se poderia chamar de convencional. Em seu primeiro mandato, porém, Donald Trump exibiu comportamento errático, mudanças abruptas de julgamento e opiniões, um estilo no mínimo caótico de administração do próprio pessoal e uma profunda desconfiança quanto ao próprio aparato de Estado montado para servi-lo (como os serviços secretos, por exemplo).

Pode-se discutir ad infinitum quanto Trump é responsável ou apenas sintoma do que os acadêmicos passaram a chamar de “políticas do ressentimento cultural”. O fato é que ele soube melhor do que qualquer outro personagem político expressar a raiva frente às elites privilegiadas (à qual sempre pertenceu, aliás), o tal “campo progressista” e seu apego às ideias identitárias, a mídia, aos circuito da educação superior e até mesmo à indústria do entretenimento e, claro, o governo federal.

Daí a realizar as promessas empenhadas, dentro e fora dos Estados Unidos, é também uma grande incerteza. E já que se trata de tomar o cockpit, paira sobre tudo isso a frase do capitão Sully, quando pousou seu Airbus no Rio Hudson: “brace for impact”.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

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