Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião|Pix: Como a credibilidade das autoridades é baixa, não adianta dizer que ‘nunca acontecerá'


O episódio da notícia falsa sobre taxação do meio de pagamento é muito mais significativo do que a força de uma fake news

Por William Waack

A derrota do governo na questão do monitoramento do Pix é grave não só pelo estrago causado por uma clara fake news. Mas, sim, pelo grau de desconfiança que ele revela no público em geral, especialmente em relação a autoridades e seu comportamento.

O poder de fogo de uma fake news está associado a dois fatores. O primeiro é que seu conteúdo possa parecer verossímil. As pessoas acreditam num conteúdo falso pois consideram alto seu grau de plausibilidade.

O presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, discutiram a revogação de ato da Receita sobre Pix Foto: Wilton Júnior/Estadão
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O segundo é a ausência de referências – as instâncias tidas como guardiãs da veracidade objetiva dos fatos. Esse papel já foi representado por instituições (como a Receita Federal) ou mesmo a imprensa profissional.

Em relação ao primeiro fator que explica a potência de uma fake news o governo está lutando contra sua própria reputação. De fato, monitoramento de transações pelo Pix faz sentido do ponto de vista do combate à sonegação. Ocorre que o atual governo é visto como gastador e, por isso, arrecadador.

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Portanto, do ponto de vista de quem usa o sistema, faz todo sentido acreditar que combate à sonegação é apenas a desculpa para, num futuro não muito distante, taxar os usuários da ferramenta. Como a credibilidade das autoridades é baixa, não adianta dizer que “nunca acontecerá”.

Em relação ao segundo fator a questão da fake news é ainda mais preocupante, pois não depende apenas dos governantes do momento. Em quem confiar quando se trata de acreditar num fato? A degradação da credibilidade das instâncias “convencionais” (que inclui instituições de Estado, mas também privadas, como a mídia) é um fenômeno inquestionável.

Pode-se debater quem são os “culpados” disso, ou se a perda de credibilidade das instâncias citadas acima é “justa”, “merecida” ou “positiva” para a sociedade brasileira em geral. O que não se pode é fazer de conta que esse fato não existe.

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O comportamento do governo nesse episódio demonstra sua baixíssima capacidade de apreciação da realidade política, com destaque para o grau de resistência social ao que a corrente política no poder representa. E sua espetacular ineficácia em “conduzir narrativas”. Em termos clássicos da política, é um governo sempre a reboque dos acontecimentos, incapaz de moldá-los a contento.

Desconfiança é algo seríssimo em política e economia, que o governo confunde com deficiência de estratégia de marketing. É o que está na raiz dos comportamentos de agentes econômicos nos mais variados níveis e grupos. Subida do dólar, expectativa de inflação alta e a facilidade com que uma fake news sobre o Pix tomaram conta do espaço público são dois lados dessa mesma moeda.

A derrota do governo na questão do monitoramento do Pix é grave não só pelo estrago causado por uma clara fake news. Mas, sim, pelo grau de desconfiança que ele revela no público em geral, especialmente em relação a autoridades e seu comportamento.

O poder de fogo de uma fake news está associado a dois fatores. O primeiro é que seu conteúdo possa parecer verossímil. As pessoas acreditam num conteúdo falso pois consideram alto seu grau de plausibilidade.

O presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, discutiram a revogação de ato da Receita sobre Pix Foto: Wilton Júnior/Estadão

O segundo é a ausência de referências – as instâncias tidas como guardiãs da veracidade objetiva dos fatos. Esse papel já foi representado por instituições (como a Receita Federal) ou mesmo a imprensa profissional.

Em relação ao primeiro fator que explica a potência de uma fake news o governo está lutando contra sua própria reputação. De fato, monitoramento de transações pelo Pix faz sentido do ponto de vista do combate à sonegação. Ocorre que o atual governo é visto como gastador e, por isso, arrecadador.

Portanto, do ponto de vista de quem usa o sistema, faz todo sentido acreditar que combate à sonegação é apenas a desculpa para, num futuro não muito distante, taxar os usuários da ferramenta. Como a credibilidade das autoridades é baixa, não adianta dizer que “nunca acontecerá”.

Em relação ao segundo fator a questão da fake news é ainda mais preocupante, pois não depende apenas dos governantes do momento. Em quem confiar quando se trata de acreditar num fato? A degradação da credibilidade das instâncias “convencionais” (que inclui instituições de Estado, mas também privadas, como a mídia) é um fenômeno inquestionável.

Pode-se debater quem são os “culpados” disso, ou se a perda de credibilidade das instâncias citadas acima é “justa”, “merecida” ou “positiva” para a sociedade brasileira em geral. O que não se pode é fazer de conta que esse fato não existe.

O comportamento do governo nesse episódio demonstra sua baixíssima capacidade de apreciação da realidade política, com destaque para o grau de resistência social ao que a corrente política no poder representa. E sua espetacular ineficácia em “conduzir narrativas”. Em termos clássicos da política, é um governo sempre a reboque dos acontecimentos, incapaz de moldá-los a contento.

Desconfiança é algo seríssimo em política e economia, que o governo confunde com deficiência de estratégia de marketing. É o que está na raiz dos comportamentos de agentes econômicos nos mais variados níveis e grupos. Subida do dólar, expectativa de inflação alta e a facilidade com que uma fake news sobre o Pix tomaram conta do espaço público são dois lados dessa mesma moeda.

A derrota do governo na questão do monitoramento do Pix é grave não só pelo estrago causado por uma clara fake news. Mas, sim, pelo grau de desconfiança que ele revela no público em geral, especialmente em relação a autoridades e seu comportamento.

O poder de fogo de uma fake news está associado a dois fatores. O primeiro é que seu conteúdo possa parecer verossímil. As pessoas acreditam num conteúdo falso pois consideram alto seu grau de plausibilidade.

O presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, discutiram a revogação de ato da Receita sobre Pix Foto: Wilton Júnior/Estadão

O segundo é a ausência de referências – as instâncias tidas como guardiãs da veracidade objetiva dos fatos. Esse papel já foi representado por instituições (como a Receita Federal) ou mesmo a imprensa profissional.

Em relação ao primeiro fator que explica a potência de uma fake news o governo está lutando contra sua própria reputação. De fato, monitoramento de transações pelo Pix faz sentido do ponto de vista do combate à sonegação. Ocorre que o atual governo é visto como gastador e, por isso, arrecadador.

Portanto, do ponto de vista de quem usa o sistema, faz todo sentido acreditar que combate à sonegação é apenas a desculpa para, num futuro não muito distante, taxar os usuários da ferramenta. Como a credibilidade das autoridades é baixa, não adianta dizer que “nunca acontecerá”.

Em relação ao segundo fator a questão da fake news é ainda mais preocupante, pois não depende apenas dos governantes do momento. Em quem confiar quando se trata de acreditar num fato? A degradação da credibilidade das instâncias “convencionais” (que inclui instituições de Estado, mas também privadas, como a mídia) é um fenômeno inquestionável.

Pode-se debater quem são os “culpados” disso, ou se a perda de credibilidade das instâncias citadas acima é “justa”, “merecida” ou “positiva” para a sociedade brasileira em geral. O que não se pode é fazer de conta que esse fato não existe.

O comportamento do governo nesse episódio demonstra sua baixíssima capacidade de apreciação da realidade política, com destaque para o grau de resistência social ao que a corrente política no poder representa. E sua espetacular ineficácia em “conduzir narrativas”. Em termos clássicos da política, é um governo sempre a reboque dos acontecimentos, incapaz de moldá-los a contento.

Desconfiança é algo seríssimo em política e economia, que o governo confunde com deficiência de estratégia de marketing. É o que está na raiz dos comportamentos de agentes econômicos nos mais variados níveis e grupos. Subida do dólar, expectativa de inflação alta e a facilidade com que uma fake news sobre o Pix tomaram conta do espaço público são dois lados dessa mesma moeda.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

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