Seja feita a vontade do chefe é um problema difícil em qualquer governo mesmo quando o chefe manda sozinho. Não é o caso do presidente Lula. Ele está muito longe de governar sozinho, mas insiste para que suas vontades sejam feitas. A lista de vontades do chefe é longa e apoiada em inabaláveis convicções próprias. Seus subordinados estão suando sangue, e algumas das vontades ainda não passaram pelo teste da realidade.
“Abrasileirar” os preços de combustíveis estava no topo da lista e foi possível depois de estabelecido o controle político da Petrobras, nas mãos do PT e sindicatos. Flanqueada por uma baixa de preços já prevista, a mudança permitiu a Lula gravar o primeiro vídeo em quatro meses dizendo “hoje eu estou muito feliz”. Resta saber como fica quando o petróleo lá fora voltar a subir (o setor do etanol já perdeu o sono).
O chefe quer carros populares na contramão do desenvolvimento tecnológico do setor, criando benefícios na contramão do espírito da reforma tributária e ignorando que o problema do carro que pobre possa comprar (palavras de Lula) não é o preço alto, mas a renda baixa. Seus subordinados estão montando às pressas um plano para o tal carro popular, sob reticência das montadoras.
O chefe quer gastar o que julgar necessário para o Bolsa Família e para conceder aumentos reais de salário mínimo. Essa vontade complicou bastante as negociações da equipe econômica com o Congresso em torno do arcabouço fiscal, a velocidade da tramitação da matéria e, por último, a credibilidade dos instrumentos para controle das contas públicas. Mas seja feita a vontade.
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Foi parar no pleno do STF a vontade do chefe de atacar a privatização (“sacanagem”, segundo Lula) da Eletrobras. Para satisfazer os desejos do presidente lançou-se mão de um instrumento jurídico considerado extremamente duvidoso por ministros do STF, mas aparentemente o governo acredita possuir uma maioria na Corte Suprema. Investidores consideram essa vontade do chefe simplesmente uma monumental quebra de contrato.
As vontades do chefe, como baixar juros na marra, o fizeram comprar brigas de enorme desgaste com a autoridade monetária – atrasando, em vez de acelerar, a almejada redução da Selic. A próxima briga já “contratada” é com sua ministra do Meio Ambiente: Lula manifestou que realizará sua vontade de ver a Petrobras explorando petróleo junto à foz do Amazonas, não importa o que diga o Ibama.
As vontades do presidente implicam alto preço político. E o preço está subindo.