A deputada Carla Zambelli (PL-SP), afastada por razões médicas da Câmara, convocou seguidores para um ato no dia 4 de junho, organizado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), em defesa do deputado cassado Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Ela foi criticada por seguidores e apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), incluindo Fabio Wajngarten, advogado e assessor do ex-presidente. A deputada publicou uma retratação na manhã desta quinta-feira, 25. À noite, ela abriu uma live no Instagram “desconvocando” os seguidores.
“Bolsonaro pediu por escrito para não fazer a manifestação (de 4 de junho). Não consultaram o Bolsonaro sobre uma data para fazer uma manifestação e erraram. Estão me chamando de traidora. Eu sei que não sou”, disse Zambelli na live. Ela afirmou que o deputado Carlos Jordy (PL-SP), líder da oposição, ajudou a organizar o ato. “Erramos em não conversar com Bolsonaro antes. Se ele falou para não ir, não vamos. Mas vou pedir a vocês, não desistam do Deltan Dallagnol.”
Na nota divulgada mais cedo, a parlamentar fez um apelo de solidariedade a Dallagnol. “Hoje é o Deltan, amanhã pode ser o Nikolas (Ferreira) ou eu.... (não é difícil, de verdade). Vocês não gostariam que esses movimentos também fossem às ruas por nós?”, questionou a deputada. Zambelli é filiada ao PL de Bolsonaro, com quem o MBL rompeu após a eleição de 2018.
O MBL convocou para o próximo dia 4 uma manifestação com o nome “Democracia, Justiça e Liberdade”, contra gestos recentes da gestão petista, interpretados pelo grupo como “perseguição a inimigos”. “Começando com a farsa de Flávio Dino, passando pelo PL 2.630 (PL das Fake News), o PL da Censura e chegando agora à cassação de Deltan, sabemos que o PT não vai parar”, disse o movimento.
Desde que deixou a Câmara, Dallagnol tem participado de manifestações que protestam contra a sua cassação. No domingo, 21, ele foi a um ato do MBL em Curitiba e discursou a simpatizantes.
Wajngarten, que assessora o ex-presidente, disse que é “necessário avaliar quem esteve de fato ao lado do governo nos últimos quatro anos antes de sair apoiando e promovendo manifestação oportunista”. “A direita teima em ser vagão e rebocada por quem nunca conseguiu ser locomotiva”, escreveu, no Twitter. Ao Estadão, ele confirmou que a publicação é uma crítica à manifestação do 4 de junho e também à deputada Carla Zambelli.
O episódio ratifica uma dissidência dos bastidores do bolsonarismo. Parte dos aliados do ex-presidente diz acreditar que a deputada influenciou o resultado das eleições, contribuindo para a derrota de Bolsonaro nas urnas. No dia 29 de outubro, véspera do segundo turno, Zambelli e um segurança perseguiram e apontaram armas de fogo para o jornalista Luan Araújo, com quem ela teve uma discussão. O incidente aconteceu nos Jardins, bairro da zona Sul de São Paulo.
A deputada responde a uma investigação criminal por causa do episódio. Ela afirma que foi agredida e que agiu em legítima defesa. No dia 3 de janeiro, no âmbito desse inquérito e a mando do Supremo Tribunal Federal (STF), foi realizada a apreensão de três armas de fogo nas residências da parlamentar. Ela está com o porte de arma suspenso.
Na quinta-feira, 18, Zambelli foi diagnosticada com covid-19, enquanto estava internada em um hospital particular em Brasília. Na segunda-feira, 22, a deputada recebeu alta hospitalar, mas foi afastada por 30 dias do trabalho em razão de “agudização do quadro de fibromialgia, relacionada a Burnout”, de acordo com o que diz seu relatório médico. A deputada disse que escolheu fazer o tratamento em São Paulo.
Na Justiça, a deputada enfrenta problemas. Ela abriu uma ”vaquinha” virtual para arrecadar dinheiro para indenizações a que tem sido condenada. Em 14 dias, Zambelli arrecadou R$ 168 mil – valor acima da meta estabelecida, de R$ 100 mil. Titular de um salário bruto de R$ 41 mil na Câmara, a deputada disse não ter condições financeiras de arcar com condenações, que, na sua perspectiva, vêm de uma “perseguição judicial”.