Zema nem de Jair Bolsonaro obteve perdão; leia análise


Governador de Minas Gerais dá sinais de que despreza a política e os políticos; vale ignorar 27% dos eleitores?

Por Fabiano Lana
Atualização:

Há um trecho da hoje já célebre entrevista em que o governador Romeu Zema concedeu ao Estadão, no qual chama a atenção um certo desprezo que o gestor-administrativo do Estado tem pela política como um todo. De que adianta vir com bons projetos, boas ideias, se os parlamentares querem é tomar café, visitar as cidades o tendo como companhia – se queixou em determinado momento.

Zema tentou ser fiel ao personagem, talvez verdadeiro, de um agente público acidental que se comporta como um CEO de uma empresa e não tem papas nas línguas para dizer o que pensa aos seus funcionários, quer dizer, à população. Um sobrevivente da nova política, após o debacle de gente como o ex-governador de São Paulo, João Doria, e a derrota presidencial de Bolsonaro – que de novo não tinha nada.

O governador de Minas, Romeu Zema; entrevista rendeu críticas de setores da extrema-esquerda até dos radicais de direita Foto: Dirceu Aurélio/Divulgação
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Mas foi exatamente a política que deu o troco em Zema. E de maneira avassaladora. Conseguiu ser uma rara unanimidade nacional ao receber críticas de setores da extrema-esquerda até dos radicais de direita. Para se ter uma ideia do impacto da entrevista do governador, apenas no Nordeste, o Jornal do Commercio, de Pernambuco, um dos mais importantes da região, dedicou mais de 10 páginas ao assunto “Zema”. Fora as críticas em memes, grupos de redes sociais, conversas no ambiente de trabalho, nas famílias, por aí vai.

No final das contas, Zema cometeu o erro comum dos que desprezam a política. Tinha uma janela aberta para o Brasil e falou apenas para os seus reafirmando convicções conhecidas. Não se deu conta de que um suposto postulante à presidência da República precisa se comunicar com muito mais gente em um País diverso, contraditório e desigual. Defendeu os 56% dos brasileiros do Consórcio Sul-Sudeste, mas esqueceu-se dos 44% das demais regiões. Parece ter ignorado até a enorme parte de Minas que possui índices sociais e econômicos semelhantes às das mais pobres do Brasil.

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Não houve nenhum ataque direto ao Nordeste por parte de Zema. Mas quando se soma a outras declarações, como a feita em junho, na qual afirma que nos estados do Sul-Sudeste se vive de trabalho e nos demais de auxílio emergencial; ou quando fala de “vaquinhas que produzem pouco” como analogia à região nordestina, o conjunto da obra se tornou mais do que suficiente para a invertida político-popular que o governador recebeu.

Existe a frase atribuída a Juscelino Kubitscheck, o habilidoso presidente mineiro: “falem mal, mas falem de mim”. Zema de alguma maneira conseguiu esse feito. A dúvida é se vale ficar marcado por posições tão divisionistas e consideradas preconceituosas por uma região que representa 27% do eleitorado brasileiro. E, além disso, como não seguiu a seita e divergiu na entrevista em questões como vacinas e meio-ambiente, nem de Bolsonaro obteve perdão, recebendo uma chamada pública do ex-presidente para o qual deu nota 8 em 10.

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A entrevista de Zema não é de todo ruim. Fala dos méritos administrativos de um governador que conseguiu melhorar as contas públicas e colocar os salários em dia. Mas não basta isso aos políticos que almejam muito e precisam conquistar as maiorias. No final das contas, o CEO de Minas cometeu um erro até de aritmética, incomum aos grandes gestores privados, ao praticamente jogar fora tantos potenciais apoiadores. Não faz sentido nem para quem raciocina por meios de planilha de Excel.

Certamente, durante a madrugada, após a publicação da entrevista, o espírito de algum político mineiro, como Tancredo Neves ou José Maria Alkmin, sussurrou no seu ouvido: “Cuidado com a política, moço!”

*Fabiano Lana é filósofo, jornalista e consultor político e colunista convidado do Estadão em agosto

Há um trecho da hoje já célebre entrevista em que o governador Romeu Zema concedeu ao Estadão, no qual chama a atenção um certo desprezo que o gestor-administrativo do Estado tem pela política como um todo. De que adianta vir com bons projetos, boas ideias, se os parlamentares querem é tomar café, visitar as cidades o tendo como companhia – se queixou em determinado momento.

Zema tentou ser fiel ao personagem, talvez verdadeiro, de um agente público acidental que se comporta como um CEO de uma empresa e não tem papas nas línguas para dizer o que pensa aos seus funcionários, quer dizer, à população. Um sobrevivente da nova política, após o debacle de gente como o ex-governador de São Paulo, João Doria, e a derrota presidencial de Bolsonaro – que de novo não tinha nada.

O governador de Minas, Romeu Zema; entrevista rendeu críticas de setores da extrema-esquerda até dos radicais de direita Foto: Dirceu Aurélio/Divulgação

Mas foi exatamente a política que deu o troco em Zema. E de maneira avassaladora. Conseguiu ser uma rara unanimidade nacional ao receber críticas de setores da extrema-esquerda até dos radicais de direita. Para se ter uma ideia do impacto da entrevista do governador, apenas no Nordeste, o Jornal do Commercio, de Pernambuco, um dos mais importantes da região, dedicou mais de 10 páginas ao assunto “Zema”. Fora as críticas em memes, grupos de redes sociais, conversas no ambiente de trabalho, nas famílias, por aí vai.

No final das contas, Zema cometeu o erro comum dos que desprezam a política. Tinha uma janela aberta para o Brasil e falou apenas para os seus reafirmando convicções conhecidas. Não se deu conta de que um suposto postulante à presidência da República precisa se comunicar com muito mais gente em um País diverso, contraditório e desigual. Defendeu os 56% dos brasileiros do Consórcio Sul-Sudeste, mas esqueceu-se dos 44% das demais regiões. Parece ter ignorado até a enorme parte de Minas que possui índices sociais e econômicos semelhantes às das mais pobres do Brasil.

Não houve nenhum ataque direto ao Nordeste por parte de Zema. Mas quando se soma a outras declarações, como a feita em junho, na qual afirma que nos estados do Sul-Sudeste se vive de trabalho e nos demais de auxílio emergencial; ou quando fala de “vaquinhas que produzem pouco” como analogia à região nordestina, o conjunto da obra se tornou mais do que suficiente para a invertida político-popular que o governador recebeu.

Existe a frase atribuída a Juscelino Kubitscheck, o habilidoso presidente mineiro: “falem mal, mas falem de mim”. Zema de alguma maneira conseguiu esse feito. A dúvida é se vale ficar marcado por posições tão divisionistas e consideradas preconceituosas por uma região que representa 27% do eleitorado brasileiro. E, além disso, como não seguiu a seita e divergiu na entrevista em questões como vacinas e meio-ambiente, nem de Bolsonaro obteve perdão, recebendo uma chamada pública do ex-presidente para o qual deu nota 8 em 10.

A entrevista de Zema não é de todo ruim. Fala dos méritos administrativos de um governador que conseguiu melhorar as contas públicas e colocar os salários em dia. Mas não basta isso aos políticos que almejam muito e precisam conquistar as maiorias. No final das contas, o CEO de Minas cometeu um erro até de aritmética, incomum aos grandes gestores privados, ao praticamente jogar fora tantos potenciais apoiadores. Não faz sentido nem para quem raciocina por meios de planilha de Excel.

Certamente, durante a madrugada, após a publicação da entrevista, o espírito de algum político mineiro, como Tancredo Neves ou José Maria Alkmin, sussurrou no seu ouvido: “Cuidado com a política, moço!”

*Fabiano Lana é filósofo, jornalista e consultor político e colunista convidado do Estadão em agosto

Há um trecho da hoje já célebre entrevista em que o governador Romeu Zema concedeu ao Estadão, no qual chama a atenção um certo desprezo que o gestor-administrativo do Estado tem pela política como um todo. De que adianta vir com bons projetos, boas ideias, se os parlamentares querem é tomar café, visitar as cidades o tendo como companhia – se queixou em determinado momento.

Zema tentou ser fiel ao personagem, talvez verdadeiro, de um agente público acidental que se comporta como um CEO de uma empresa e não tem papas nas línguas para dizer o que pensa aos seus funcionários, quer dizer, à população. Um sobrevivente da nova política, após o debacle de gente como o ex-governador de São Paulo, João Doria, e a derrota presidencial de Bolsonaro – que de novo não tinha nada.

O governador de Minas, Romeu Zema; entrevista rendeu críticas de setores da extrema-esquerda até dos radicais de direita Foto: Dirceu Aurélio/Divulgação

Mas foi exatamente a política que deu o troco em Zema. E de maneira avassaladora. Conseguiu ser uma rara unanimidade nacional ao receber críticas de setores da extrema-esquerda até dos radicais de direita. Para se ter uma ideia do impacto da entrevista do governador, apenas no Nordeste, o Jornal do Commercio, de Pernambuco, um dos mais importantes da região, dedicou mais de 10 páginas ao assunto “Zema”. Fora as críticas em memes, grupos de redes sociais, conversas no ambiente de trabalho, nas famílias, por aí vai.

No final das contas, Zema cometeu o erro comum dos que desprezam a política. Tinha uma janela aberta para o Brasil e falou apenas para os seus reafirmando convicções conhecidas. Não se deu conta de que um suposto postulante à presidência da República precisa se comunicar com muito mais gente em um País diverso, contraditório e desigual. Defendeu os 56% dos brasileiros do Consórcio Sul-Sudeste, mas esqueceu-se dos 44% das demais regiões. Parece ter ignorado até a enorme parte de Minas que possui índices sociais e econômicos semelhantes às das mais pobres do Brasil.

Não houve nenhum ataque direto ao Nordeste por parte de Zema. Mas quando se soma a outras declarações, como a feita em junho, na qual afirma que nos estados do Sul-Sudeste se vive de trabalho e nos demais de auxílio emergencial; ou quando fala de “vaquinhas que produzem pouco” como analogia à região nordestina, o conjunto da obra se tornou mais do que suficiente para a invertida político-popular que o governador recebeu.

Existe a frase atribuída a Juscelino Kubitscheck, o habilidoso presidente mineiro: “falem mal, mas falem de mim”. Zema de alguma maneira conseguiu esse feito. A dúvida é se vale ficar marcado por posições tão divisionistas e consideradas preconceituosas por uma região que representa 27% do eleitorado brasileiro. E, além disso, como não seguiu a seita e divergiu na entrevista em questões como vacinas e meio-ambiente, nem de Bolsonaro obteve perdão, recebendo uma chamada pública do ex-presidente para o qual deu nota 8 em 10.

A entrevista de Zema não é de todo ruim. Fala dos méritos administrativos de um governador que conseguiu melhorar as contas públicas e colocar os salários em dia. Mas não basta isso aos políticos que almejam muito e precisam conquistar as maiorias. No final das contas, o CEO de Minas cometeu um erro até de aritmética, incomum aos grandes gestores privados, ao praticamente jogar fora tantos potenciais apoiadores. Não faz sentido nem para quem raciocina por meios de planilha de Excel.

Certamente, durante a madrugada, após a publicação da entrevista, o espírito de algum político mineiro, como Tancredo Neves ou José Maria Alkmin, sussurrou no seu ouvido: “Cuidado com a política, moço!”

*Fabiano Lana é filósofo, jornalista e consultor político e colunista convidado do Estadão em agosto

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