OSASCO - Principal prova contra o policial militar das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e réu Fabrício Eleutério, a testemunha protegida "Elias" abre o segundo dia do júri da maior chacina de São Paulo, que terminou com 17 pessoas assassinadas a tiros na Grande São Paulo, em agosto de 2015. Sob sigilo, o depoimento ocorre com o plenário do Fórum de Osasco de portas fechadas.
"Elias" foi localizado por policiais da força-tarefa montada para investigar a chacina, cerca de uma semana após os crimes. Em seu relato aos policiais, ele disse que foi baleado, após um veículo passar atirando na Rua Suzano, em Osasco, mas conseguiu correr e fugir.
Primeiro, a testemunha reconheceu Eleutério como autor dos disparos. Depois, ele fez reconhecimento facial do suspeito, acompanhado pessoalmente pelo então secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes.
Na fase de audiências preliminares, "Elias" demorou mais de nove minutos para apontar quem era Eleutério novamente e chegou a se urinar no tribunal. Na ocasião, ele teria dito precisar de óculos para fazer o reconhecimento e a defesa do policial alega que a vítima estava sem óculos na noite do crime.
Outro ponto de contestação levantado pela defesa de Eleutério é que outra pessoa na cena do crime, a testemunha protegida 798, que diz ter visto um adolescente entre 14 e 17 anos ser baleado. As características não condizem com "Elias". A testemunha 798 ainda não foi ouvida na júri.
Como "Elias" não consta em nenhum boletim de ocorrência da chacina, o Ministério Público sustenta que era ele a vítima com base no registro de entrada em um hospital da região, para onde foi após ser baleado. Para a acusação, a outra testemunha também pode ter se confundido, uma vez que "Elias" voltava de um jogo de futebol, estava de calção e camiseta e poderia "se passar por um adolescente".
Também são réus o PM Thiago Henklain e o guarda-civil de Barueri Sérgio Manhanhã. O outro PM preso, Victor Cristilder, teve o processo desmembrado e será levado a júri depois. Todos alegam inocência.
Vida de ponta-cabeça
Irmã de Rafael Nunes de Lima, morto com cinco tiros aos 23 anos na chacina de Osasco, na Grande São Paulo, em 2015, a bancária Fernanda Nunes de Lima se emocionou ao falar do crime nesta terça-feira, 19. "A nossa vida virou de ponta-cabeça", afirmou aos jurados.
Na época, ela estava grávida de dois meses e contou no plenário que, na noite do dia 13 de agosto, o irmão chegou do trabalho, tomou um banho e avisou que ia dar uma volta na rua. "Até hoje eu e minha mãe, antes de dormir, dizemos para deixar a porta aberta porque o Rafa vai chegar", disse Fernanda, que batizou o filho de Rafael, em homenagem ao irmão.
"É o que machuca. O Rafa era meu único irmão. Meu único irmão. Só trabalhava. Ele não tinha passagem (pela polícia)", disse. Ao longo do depoimento, que durou cerca de 15 minutos, ela chorou mais de uma vez e precisou ser acalmada pela juíza Élia Kinosita Bulman, que preside o julgamento. "Só o que eu peço é força para cuidar da minha mãe."
Fernanda prestou depoimento sem a presença dos réus. Aos jurados, também disse que não viu o crime, mas que, por comentários, ouviu que um carro havia passado pela Rua Professor Moacir Sales D'Ávila, em Osasco.
Na sequência, foi ouvida a testemunha Sidneia Ferreira, mãe de um dos mortos. Ela falou por cinco minutos e relatou não ter visto o crime.
Primeiro dia
No dia anterior, foram ouvidas quatro testemunhas no julgamento. Entre elas, três policiais: o capitão Rodrigo Elias da Silva, da Corregedoria da PM, e os delegados José Mário de Lara e Andreas Schiffmann. O sobrevivente Amauri José Custódio também foi ouvido.