Aeroporto de Ubatuba tem 10 acidentes e incidentes em 12 anos, metade por ultrapassagem de pista


Faixa de pouso do aeródromo tem tamanho limitado pela proximidade com a praia e a Serra do Mar; acidente nesta semana deixou um morto e quatro passageiros feridos

Por Zeca Ferreira e Ítalo Lo Re
Atualização:

O Aeroporto Estadual de Ubatuba possui um histórico de incidentes e acidentes aéreos relacionados à saída de aeronaves de sua pista de pouso e decolagem. Nos últimos 12 anos, o local registrou dez ocorrências - metade foi de aviões que ultrapassaram o limite da aterrissagem, segundo informações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), ligado à Força Aérea Brasileira (FAB).

O caso mais recente foi nesta quinta-feira, 9. Um avião de pequeno porte saiu da pista durante o pouso, atravessou o alambrado do aeroporto e explodiu na orla da Praia do Cruzeiro. A ocorrência resultou na morte do piloto, enquanto os quatro passageiros (um casal e seus dois filhos) precisaram ser hospitalizados.

Avião de pequeno porte sofreu acidente em Ubatuba, no litoral norte, na quinta-feira, 8 Foto: Wendell Marques/AFP
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Entre 2013 e 2023, o Aeroporto de Ubatuba registrou nove ocorrências envolvendo aeronaves. Dessas, quatro foram classificadas pelo Cenipa como “acidentes”, três como “incidentes graves” e duas como “incidentes”.

O caso desta quinta ainda não tem classificação oficial. Deve ser enquadrado como acidente, devido à morte do piloto, elevando para dez o número de ocorrências no local nos últimos 12 anos.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), um acidente aeronáutico é caracterizado por mortes, ferimentos graves, danos estruturais à aeronave ou pelo desaparecimento da mesma.

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Já os incidentes e incidentes graves são eventos que comprometem a decolagem ou o pouso, mas não se configuram como acidentes, sendo o incidente grave uma ocorrência de maior gravidade que o incidente comum.

Pista curta

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O modelo de avião que se acidentou mais recentemente pousou em uma pista operacional com quase 300 metros de extensão a menos do que o indicado para locais molhados, conforme o manual da aeronave. Segundo o documento, a faixa de pouso operacional deve ter ao menos 838 metros de extensão quando o local está molhado.

O especialista em aviação Lito Sousa afirmou ao Estadão que o tamanho da pista do Aeroporto de Ubatuba e as condições meteorológicas podem ter contribuído para o acidente. Para ele, a ampliação da pista é improvável devido à orla de um lado e à Serra do Mar, do outro. “Poderia ser instalado aquele sistema usado em Congonhas, que, em caso de excursão de pista, ajuda a conter a aeronave”, disse.

A pista tem 940 metros de comprimento, mas apenas 560 metros estão liberados para pousos na cabeceira 09, voltada para a praia e utilizada pelo avião que se acidentou nesta semana. Os 380 metros restantes estão interditados devido ao relevo acidentado e à presença de obstáculos, conforme o Manual Auxiliar de Rotas Aéreas (Rotaer), disponível online.

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Para pousar com a maior extensão da pista, é necessário usar a cabeceira 27, voltada para a Serra do Mar. No entanto, nas decolagens, ela oferece apenas 560 metros utilizáveis.

Seu navegador não suporta esse video.

Por conta disso, pilotos de jatos como o Cessna Citation 525 CJ1, modelo que se acidentou nesta quinta, costumam optar pelo outro sentido, para aproveitar a extensão toda da pista, segundo um piloto que atua na região ouvido pelo Estadão.

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“Quando pouso naquela pista, por operar aviões mais leves, menores e mais lentos, normalmente opero pela cabeceira 09, que é a mesma que esse jato pousou”, disse o aviador Fernando De Berthole.

“Porém, jatos normalmente operam na cabeceira oposta, a 27, justamente para ter distância maior para fazer a parada da aeronave”, acrescentou. “Por que o piloto pousou do lado da 09? Não dá para saber. Não sei qual era a condição de vento naquele momento.”

A Rede Voa, concessionária que administra o aeroporto, informa que a extensão da pista atende ao manual do Cessna Citation 525 CJ1. “Apenas a cabeceira 09, que foi a selecionada pelo piloto, possui recuo de 380m por conta da topografia do local. A RWY 27, em direção ao mar, tem disponível tão somente 560m”, diz.

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“Como tem muito morro em volta, por segurança, principalmente para aviões maiores, como um jato, o ponto de toque não é no início do asfalto, mas sim 380 metros para frente”, disse. “Logo, sobram só 560 metros de pista operacional para pouso do lado da cabeceira 09″, continua De Berthole.

Acidentes anteriores reforçam as dificuldades operacionais do local. Em julho de 2017, um avião de pequeno porte que decolou do Aeródromo Campo de Marte, em São Paulo, ultrapassou os limites da pista ao pousar em Ubatuba, parando numa área gramada. A aeronave sofreu danos substanciais, mas todos os ocupantes saíram ilesos.

Aeronave que decolou de Campo de Marte, em São Paulo, ultrapassa o limite da pista após pouso no Aeroporto de Ubatuba, em julho de 2017, parando em uma área gramada. Foto: Cenipa

A investigação da Cenipa concluiu que o acidente foi causado pela inexperiência do piloto, que havia se formado naquele ano e nunca havia pousado naquela pista. O piloto também teria escolhido a cabeceira errada para o pouso, ignorando o vento predominante que soprava do mar para a terra.

“O fato de o piloto não ter operado anteriormente no Aeródromo de SBUD (Ubatuba), combinado com a pouca experiência de voo, ocasionou inadequada escolha de pista para o pouso (...) A falta de familiarização do piloto com aquele aeródromo pode ter favorecido que sua decisão desconsiderasse alguns fatores relevantes para assegurar o pouso seguro”, concluiu o relatório.

‘Excesso de confiança’

Em dezembro de 2017, houve outro caso similar, mas que, dessa vez, teve o “excesso de confiança” do piloto apontado como uma das causas da ocorrência. O relatório do Cenipa ainda concluiu que o tamanho da pista foi decisivo para o acidente, por ser menor do que o necessário para o pouso.

Nesse caso, o avião decolou de Jundiaí com destino a Ubatuba, transportando um piloto e três passageiros. A aeronave ultrapassou o limite da pista em 43 metros, também parando em área gramada. A aeronave sofreu danos leves, e todos os ocupantes saíram ilesos.

Aeronave que decolou de Jundiaí em dezembro de 2017 ultrapassou o limite da pista no Aeroporto de Ubatuba Foto: Cenipa

No relatório desse caso, o Cenipa apontou que o piloto era experiente e conhecia a pista. Por isso, indicou que essa familiaridade pode ter aumentado a confiança em relação às operações no local, resultando em redução do nível de consciência sobre os riscos do voo, sobretudo em relação à distância de pista necessária para o pouso seguro.

Além disso, o centro de investigação verificou que a aeronave nas condições em que estava precisava de uma pista de 1.062 metros. Ou seja, aproximadamente 120 metros superior ao comprimento de pista disponível.

O Cenipa realiza o trabalho de investigação do acidente mais recente. O Ministério Público de São Paulo também apura a ocorrência.

Em nota, a Anac destacou que o aeroporto está em condição regular. Sobre uma possível ampliação, apontou que uma decisão nesse sentido deve ser discutida entre o governo do Estado e a concessionária.

Já a Rede Voa afirmou que o aeroporto é homologado para “voos em condições visuais de meteorologia”. “O aeroporto não conta com controle de tráfego aéreo por conta do baixo movimento, cerca de 5 mil movimentações por ano”, completou.

O Aeroporto Estadual de Ubatuba possui um histórico de incidentes e acidentes aéreos relacionados à saída de aeronaves de sua pista de pouso e decolagem. Nos últimos 12 anos, o local registrou dez ocorrências - metade foi de aviões que ultrapassaram o limite da aterrissagem, segundo informações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), ligado à Força Aérea Brasileira (FAB).

O caso mais recente foi nesta quinta-feira, 9. Um avião de pequeno porte saiu da pista durante o pouso, atravessou o alambrado do aeroporto e explodiu na orla da Praia do Cruzeiro. A ocorrência resultou na morte do piloto, enquanto os quatro passageiros (um casal e seus dois filhos) precisaram ser hospitalizados.

Avião de pequeno porte sofreu acidente em Ubatuba, no litoral norte, na quinta-feira, 8 Foto: Wendell Marques/AFP

Entre 2013 e 2023, o Aeroporto de Ubatuba registrou nove ocorrências envolvendo aeronaves. Dessas, quatro foram classificadas pelo Cenipa como “acidentes”, três como “incidentes graves” e duas como “incidentes”.

O caso desta quinta ainda não tem classificação oficial. Deve ser enquadrado como acidente, devido à morte do piloto, elevando para dez o número de ocorrências no local nos últimos 12 anos.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), um acidente aeronáutico é caracterizado por mortes, ferimentos graves, danos estruturais à aeronave ou pelo desaparecimento da mesma.

Já os incidentes e incidentes graves são eventos que comprometem a decolagem ou o pouso, mas não se configuram como acidentes, sendo o incidente grave uma ocorrência de maior gravidade que o incidente comum.

Pista curta

O modelo de avião que se acidentou mais recentemente pousou em uma pista operacional com quase 300 metros de extensão a menos do que o indicado para locais molhados, conforme o manual da aeronave. Segundo o documento, a faixa de pouso operacional deve ter ao menos 838 metros de extensão quando o local está molhado.

O especialista em aviação Lito Sousa afirmou ao Estadão que o tamanho da pista do Aeroporto de Ubatuba e as condições meteorológicas podem ter contribuído para o acidente. Para ele, a ampliação da pista é improvável devido à orla de um lado e à Serra do Mar, do outro. “Poderia ser instalado aquele sistema usado em Congonhas, que, em caso de excursão de pista, ajuda a conter a aeronave”, disse.

A pista tem 940 metros de comprimento, mas apenas 560 metros estão liberados para pousos na cabeceira 09, voltada para a praia e utilizada pelo avião que se acidentou nesta semana. Os 380 metros restantes estão interditados devido ao relevo acidentado e à presença de obstáculos, conforme o Manual Auxiliar de Rotas Aéreas (Rotaer), disponível online.

Para pousar com a maior extensão da pista, é necessário usar a cabeceira 27, voltada para a Serra do Mar. No entanto, nas decolagens, ela oferece apenas 560 metros utilizáveis.

Seu navegador não suporta esse video.

Por conta disso, pilotos de jatos como o Cessna Citation 525 CJ1, modelo que se acidentou nesta quinta, costumam optar pelo outro sentido, para aproveitar a extensão toda da pista, segundo um piloto que atua na região ouvido pelo Estadão.

“Quando pouso naquela pista, por operar aviões mais leves, menores e mais lentos, normalmente opero pela cabeceira 09, que é a mesma que esse jato pousou”, disse o aviador Fernando De Berthole.

“Porém, jatos normalmente operam na cabeceira oposta, a 27, justamente para ter distância maior para fazer a parada da aeronave”, acrescentou. “Por que o piloto pousou do lado da 09? Não dá para saber. Não sei qual era a condição de vento naquele momento.”

A Rede Voa, concessionária que administra o aeroporto, informa que a extensão da pista atende ao manual do Cessna Citation 525 CJ1. “Apenas a cabeceira 09, que foi a selecionada pelo piloto, possui recuo de 380m por conta da topografia do local. A RWY 27, em direção ao mar, tem disponível tão somente 560m”, diz.

“Como tem muito morro em volta, por segurança, principalmente para aviões maiores, como um jato, o ponto de toque não é no início do asfalto, mas sim 380 metros para frente”, disse. “Logo, sobram só 560 metros de pista operacional para pouso do lado da cabeceira 09″, continua De Berthole.

Acidentes anteriores reforçam as dificuldades operacionais do local. Em julho de 2017, um avião de pequeno porte que decolou do Aeródromo Campo de Marte, em São Paulo, ultrapassou os limites da pista ao pousar em Ubatuba, parando numa área gramada. A aeronave sofreu danos substanciais, mas todos os ocupantes saíram ilesos.

Aeronave que decolou de Campo de Marte, em São Paulo, ultrapassa o limite da pista após pouso no Aeroporto de Ubatuba, em julho de 2017, parando em uma área gramada. Foto: Cenipa

A investigação da Cenipa concluiu que o acidente foi causado pela inexperiência do piloto, que havia se formado naquele ano e nunca havia pousado naquela pista. O piloto também teria escolhido a cabeceira errada para o pouso, ignorando o vento predominante que soprava do mar para a terra.

“O fato de o piloto não ter operado anteriormente no Aeródromo de SBUD (Ubatuba), combinado com a pouca experiência de voo, ocasionou inadequada escolha de pista para o pouso (...) A falta de familiarização do piloto com aquele aeródromo pode ter favorecido que sua decisão desconsiderasse alguns fatores relevantes para assegurar o pouso seguro”, concluiu o relatório.

‘Excesso de confiança’

Em dezembro de 2017, houve outro caso similar, mas que, dessa vez, teve o “excesso de confiança” do piloto apontado como uma das causas da ocorrência. O relatório do Cenipa ainda concluiu que o tamanho da pista foi decisivo para o acidente, por ser menor do que o necessário para o pouso.

Nesse caso, o avião decolou de Jundiaí com destino a Ubatuba, transportando um piloto e três passageiros. A aeronave ultrapassou o limite da pista em 43 metros, também parando em área gramada. A aeronave sofreu danos leves, e todos os ocupantes saíram ilesos.

Aeronave que decolou de Jundiaí em dezembro de 2017 ultrapassou o limite da pista no Aeroporto de Ubatuba Foto: Cenipa

No relatório desse caso, o Cenipa apontou que o piloto era experiente e conhecia a pista. Por isso, indicou que essa familiaridade pode ter aumentado a confiança em relação às operações no local, resultando em redução do nível de consciência sobre os riscos do voo, sobretudo em relação à distância de pista necessária para o pouso seguro.

Além disso, o centro de investigação verificou que a aeronave nas condições em que estava precisava de uma pista de 1.062 metros. Ou seja, aproximadamente 120 metros superior ao comprimento de pista disponível.

O Cenipa realiza o trabalho de investigação do acidente mais recente. O Ministério Público de São Paulo também apura a ocorrência.

Em nota, a Anac destacou que o aeroporto está em condição regular. Sobre uma possível ampliação, apontou que uma decisão nesse sentido deve ser discutida entre o governo do Estado e a concessionária.

Já a Rede Voa afirmou que o aeroporto é homologado para “voos em condições visuais de meteorologia”. “O aeroporto não conta com controle de tráfego aéreo por conta do baixo movimento, cerca de 5 mil movimentações por ano”, completou.

O Aeroporto Estadual de Ubatuba possui um histórico de incidentes e acidentes aéreos relacionados à saída de aeronaves de sua pista de pouso e decolagem. Nos últimos 12 anos, o local registrou dez ocorrências - metade foi de aviões que ultrapassaram o limite da aterrissagem, segundo informações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), ligado à Força Aérea Brasileira (FAB).

O caso mais recente foi nesta quinta-feira, 9. Um avião de pequeno porte saiu da pista durante o pouso, atravessou o alambrado do aeroporto e explodiu na orla da Praia do Cruzeiro. A ocorrência resultou na morte do piloto, enquanto os quatro passageiros (um casal e seus dois filhos) precisaram ser hospitalizados.

Avião de pequeno porte sofreu acidente em Ubatuba, no litoral norte, na quinta-feira, 8 Foto: Wendell Marques/AFP

Entre 2013 e 2023, o Aeroporto de Ubatuba registrou nove ocorrências envolvendo aeronaves. Dessas, quatro foram classificadas pelo Cenipa como “acidentes”, três como “incidentes graves” e duas como “incidentes”.

O caso desta quinta ainda não tem classificação oficial. Deve ser enquadrado como acidente, devido à morte do piloto, elevando para dez o número de ocorrências no local nos últimos 12 anos.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), um acidente aeronáutico é caracterizado por mortes, ferimentos graves, danos estruturais à aeronave ou pelo desaparecimento da mesma.

Já os incidentes e incidentes graves são eventos que comprometem a decolagem ou o pouso, mas não se configuram como acidentes, sendo o incidente grave uma ocorrência de maior gravidade que o incidente comum.

Pista curta

O modelo de avião que se acidentou mais recentemente pousou em uma pista operacional com quase 300 metros de extensão a menos do que o indicado para locais molhados, conforme o manual da aeronave. Segundo o documento, a faixa de pouso operacional deve ter ao menos 838 metros de extensão quando o local está molhado.

O especialista em aviação Lito Sousa afirmou ao Estadão que o tamanho da pista do Aeroporto de Ubatuba e as condições meteorológicas podem ter contribuído para o acidente. Para ele, a ampliação da pista é improvável devido à orla de um lado e à Serra do Mar, do outro. “Poderia ser instalado aquele sistema usado em Congonhas, que, em caso de excursão de pista, ajuda a conter a aeronave”, disse.

A pista tem 940 metros de comprimento, mas apenas 560 metros estão liberados para pousos na cabeceira 09, voltada para a praia e utilizada pelo avião que se acidentou nesta semana. Os 380 metros restantes estão interditados devido ao relevo acidentado e à presença de obstáculos, conforme o Manual Auxiliar de Rotas Aéreas (Rotaer), disponível online.

Para pousar com a maior extensão da pista, é necessário usar a cabeceira 27, voltada para a Serra do Mar. No entanto, nas decolagens, ela oferece apenas 560 metros utilizáveis.

Seu navegador não suporta esse video.

Por conta disso, pilotos de jatos como o Cessna Citation 525 CJ1, modelo que se acidentou nesta quinta, costumam optar pelo outro sentido, para aproveitar a extensão toda da pista, segundo um piloto que atua na região ouvido pelo Estadão.

“Quando pouso naquela pista, por operar aviões mais leves, menores e mais lentos, normalmente opero pela cabeceira 09, que é a mesma que esse jato pousou”, disse o aviador Fernando De Berthole.

“Porém, jatos normalmente operam na cabeceira oposta, a 27, justamente para ter distância maior para fazer a parada da aeronave”, acrescentou. “Por que o piloto pousou do lado da 09? Não dá para saber. Não sei qual era a condição de vento naquele momento.”

A Rede Voa, concessionária que administra o aeroporto, informa que a extensão da pista atende ao manual do Cessna Citation 525 CJ1. “Apenas a cabeceira 09, que foi a selecionada pelo piloto, possui recuo de 380m por conta da topografia do local. A RWY 27, em direção ao mar, tem disponível tão somente 560m”, diz.

“Como tem muito morro em volta, por segurança, principalmente para aviões maiores, como um jato, o ponto de toque não é no início do asfalto, mas sim 380 metros para frente”, disse. “Logo, sobram só 560 metros de pista operacional para pouso do lado da cabeceira 09″, continua De Berthole.

Acidentes anteriores reforçam as dificuldades operacionais do local. Em julho de 2017, um avião de pequeno porte que decolou do Aeródromo Campo de Marte, em São Paulo, ultrapassou os limites da pista ao pousar em Ubatuba, parando numa área gramada. A aeronave sofreu danos substanciais, mas todos os ocupantes saíram ilesos.

Aeronave que decolou de Campo de Marte, em São Paulo, ultrapassa o limite da pista após pouso no Aeroporto de Ubatuba, em julho de 2017, parando em uma área gramada. Foto: Cenipa

A investigação da Cenipa concluiu que o acidente foi causado pela inexperiência do piloto, que havia se formado naquele ano e nunca havia pousado naquela pista. O piloto também teria escolhido a cabeceira errada para o pouso, ignorando o vento predominante que soprava do mar para a terra.

“O fato de o piloto não ter operado anteriormente no Aeródromo de SBUD (Ubatuba), combinado com a pouca experiência de voo, ocasionou inadequada escolha de pista para o pouso (...) A falta de familiarização do piloto com aquele aeródromo pode ter favorecido que sua decisão desconsiderasse alguns fatores relevantes para assegurar o pouso seguro”, concluiu o relatório.

‘Excesso de confiança’

Em dezembro de 2017, houve outro caso similar, mas que, dessa vez, teve o “excesso de confiança” do piloto apontado como uma das causas da ocorrência. O relatório do Cenipa ainda concluiu que o tamanho da pista foi decisivo para o acidente, por ser menor do que o necessário para o pouso.

Nesse caso, o avião decolou de Jundiaí com destino a Ubatuba, transportando um piloto e três passageiros. A aeronave ultrapassou o limite da pista em 43 metros, também parando em área gramada. A aeronave sofreu danos leves, e todos os ocupantes saíram ilesos.

Aeronave que decolou de Jundiaí em dezembro de 2017 ultrapassou o limite da pista no Aeroporto de Ubatuba Foto: Cenipa

No relatório desse caso, o Cenipa apontou que o piloto era experiente e conhecia a pista. Por isso, indicou que essa familiaridade pode ter aumentado a confiança em relação às operações no local, resultando em redução do nível de consciência sobre os riscos do voo, sobretudo em relação à distância de pista necessária para o pouso seguro.

Além disso, o centro de investigação verificou que a aeronave nas condições em que estava precisava de uma pista de 1.062 metros. Ou seja, aproximadamente 120 metros superior ao comprimento de pista disponível.

O Cenipa realiza o trabalho de investigação do acidente mais recente. O Ministério Público de São Paulo também apura a ocorrência.

Em nota, a Anac destacou que o aeroporto está em condição regular. Sobre uma possível ampliação, apontou que uma decisão nesse sentido deve ser discutida entre o governo do Estado e a concessionária.

Já a Rede Voa afirmou que o aeroporto é homologado para “voos em condições visuais de meteorologia”. “O aeroporto não conta com controle de tráfego aéreo por conta do baixo movimento, cerca de 5 mil movimentações por ano”, completou.

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