Afegãos acampados no Aeroporto de Guarulhos serão levados para Praia Grande, no litoral de SP


Transferência está prevista para ocorrer entre esta sexta-feira, 30, e sábado, 1º, segundo o governo federal

Por Ítalo Lo Re
Atualização:

Os cerca de 150 refugiados afegãos que estão acampados no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, devem ser levados para um abrigo em Praia Grande, no litoral do Estado. A transferência está prevista para ocorrer entre esta sexta-feira, 30, e sábado, 1º, segundo o governo federal.

Como mostrou o Estadão, um surto de escabiose (conhecida como sarna humana) atinge o grupo há cerca de uma semana. Conforme a prefeitura de Guarulhos, 21 ocorrências da doença foram confirmadas desde o último dia 22. Os casos atingem desde crianças a famílias inteiras.

Afegãos acampados no Aeroporto de Guarulhos serão transferidos para Praia Grande, no litoral de SP Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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Diante da situação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) disse que os cerca de 150 imigrantes afegãos que estão no Aeroporto de Guarulhos serão transferidos para Praia Grande, a cerca de 70 quilômetros do centro da capital paulista. Segundo a pasta, eles serão acolhidos nas dependências da Colônia de Férias do Sindicato dos Químicos.

“O trabalho está acontecendo em parceria com governo de São Paulo, prefeitura de Praia Grande, prefeitura de Guarulhos, com Acnur (agência da ONU para refugiados), Cáritas e outras entidades da sociedade civil envolvidas com a temática”, afirmou o ministério, em nota divulgada nesta sexta. Não foi especificado se essa será uma política contínua.

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Na tarde de quinta-feira, 29, representantes das três esferas de governo se reuniram no aeroporto para discutir soluções para os refugiados. Participaram também integrantes da Organização das Nações Unidas e do Frente Afegã, coletivo que ajuda na acolhida de afegãos no aeroporto.

Anteriormente, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, chegou a dizer que os refugiados seriam levados para hotéis, de forma temporária, mas representantes dos governos federal e estadual afirmaram depois da reunião desta quinta que a medida ainda estava sendo avaliada.

“Esperamos que, nas próximas horas, a gente já tenha uma medida efetiva para dar em resposta à situação”, disse Renato Teixeira, ouvidor nacional dos Direitos Humanos. “A ouvidoria esteve presente e constatou grave violação aos direitos humanos dos nossos irmãos afegãos.”

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'Ouvidoria esteve presente e constatou grave violação aos direitos humanos dos nossos irmãos afegãos', disse ouvidor nacional dos Direitos Humanos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O prefeito de Guarulhos, Guti (PSD), reconheceu a importância do envio de recursos pelo governo federal, mas cobrou uma “política de interiorização”. “São 11 mil vistos emitidos ou na iminência de serem emitidos, e por aqui passaram 4 mil afegãos”, disse. “Significa que a gente tem de 6 a 7 mil afegãos para entrar.”

‘Não tomei banho por uma semana’

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A reportagem do Estadão passou algumas horas no Aeroporto de Guarulhos durante esta quinta. Há duas semanas no País, o analista de logística Mohsen Kabiry, de 38 anos, se preparava para dormir mais uma noite no chão do aeroporto. Sem saber falar inglês, ele pediu ajuda a outro afegão para dizer que cinco dos nove familiares que vieram com ele estavam com sarna.

O casal de artistas Nematollah Vali, 29, e Forouzan Sediqi, 28, também foi afetado pelo surto. “Quando cheguei, não tomei banho por uma semana, então comecei a enfrentar problemas com minha pele”, disse Forouzan. Na maioria dos dias, os afegãos não têm acesso a banheiros com chuveiro no aeroporto. “Por sorte, conseguiram me levar para tomar banho e melhorou um pouco.”

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Para se higienizar, muitos têm a ajuda de voluntários e até de um hotel na região, que oferece cerca de 20 banhos diários aos refugiados. Mas outros tipos de problemas são relatados. Afegãos ouvidos pela reportagem se queixam de mofo e infiltração nas paredes, cheiro ruim nas cobertas e dificuldade de se adaptar. “Por quatro dias, só comi biscoito e água”, disse Forouzan.

A situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário aos afegãos por conta da tomada de poder pelo grupo extremista Taleban. “O que está acontecendo é uma tragédia anunciada. A gente já sabia disso (condições precárias) desde agosto do ano passado, quando eles já passavam 15, 20 dias sem banho”, disse Aline Sobral, atual presidente do Coletivo Frente Afegã.

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Segundo o coletivo, nesta quinta eram 175 refugiados acampados no aeroporto, todos muçulmanos. Só nesta semana, foram 35 novos acolhidos, o que mostra como o grupo muda a cada semana. Em geral, os refugiados ficam em torno de três semanas esperando acolhimento. Cerca de 3 a 4 voos chegam por dia do Oriente Médio, com a possibilidade de trazer novos afegãos precisando de ajuda.

Situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário aos afegãos por conta da tomada de poder pelo grupo extremista Taleban Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A Prefeitura de São Paulo informou ter acolhido 718 afegãos entre janeiro e 20 de junho deste ano. Em todo o ano passado, foram 714. A gestão das vagas dos abrigos é feita pelo governo do Estado, com suporte de um centro de atendimento instalado em área de mezanino do terminal 2 pela prefeitura de Guarulhos. A gestão municipal também fornece refeições diariamente.

A GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto, informou que tem contribuído no suporte à realização de procedimentos de higiene pessoal e manutenção de limpeza constante do espaço. “A higienização dos banheiros daquela área também foi intensificada”, disse. “O vestiário, por se tratar de uma área operacional destinada a funcionários, é viabilizado dentro das condições e disponibilidade do aeroporto, de acordo com um planejamento alinhado com a prefeitura de Guarulhos.”

Os cerca de 150 refugiados afegãos que estão acampados no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, devem ser levados para um abrigo em Praia Grande, no litoral do Estado. A transferência está prevista para ocorrer entre esta sexta-feira, 30, e sábado, 1º, segundo o governo federal.

Como mostrou o Estadão, um surto de escabiose (conhecida como sarna humana) atinge o grupo há cerca de uma semana. Conforme a prefeitura de Guarulhos, 21 ocorrências da doença foram confirmadas desde o último dia 22. Os casos atingem desde crianças a famílias inteiras.

Afegãos acampados no Aeroporto de Guarulhos serão transferidos para Praia Grande, no litoral de SP Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Diante da situação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) disse que os cerca de 150 imigrantes afegãos que estão no Aeroporto de Guarulhos serão transferidos para Praia Grande, a cerca de 70 quilômetros do centro da capital paulista. Segundo a pasta, eles serão acolhidos nas dependências da Colônia de Férias do Sindicato dos Químicos.

“O trabalho está acontecendo em parceria com governo de São Paulo, prefeitura de Praia Grande, prefeitura de Guarulhos, com Acnur (agência da ONU para refugiados), Cáritas e outras entidades da sociedade civil envolvidas com a temática”, afirmou o ministério, em nota divulgada nesta sexta. Não foi especificado se essa será uma política contínua.

Na tarde de quinta-feira, 29, representantes das três esferas de governo se reuniram no aeroporto para discutir soluções para os refugiados. Participaram também integrantes da Organização das Nações Unidas e do Frente Afegã, coletivo que ajuda na acolhida de afegãos no aeroporto.

Anteriormente, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, chegou a dizer que os refugiados seriam levados para hotéis, de forma temporária, mas representantes dos governos federal e estadual afirmaram depois da reunião desta quinta que a medida ainda estava sendo avaliada.

“Esperamos que, nas próximas horas, a gente já tenha uma medida efetiva para dar em resposta à situação”, disse Renato Teixeira, ouvidor nacional dos Direitos Humanos. “A ouvidoria esteve presente e constatou grave violação aos direitos humanos dos nossos irmãos afegãos.”

'Ouvidoria esteve presente e constatou grave violação aos direitos humanos dos nossos irmãos afegãos', disse ouvidor nacional dos Direitos Humanos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O prefeito de Guarulhos, Guti (PSD), reconheceu a importância do envio de recursos pelo governo federal, mas cobrou uma “política de interiorização”. “São 11 mil vistos emitidos ou na iminência de serem emitidos, e por aqui passaram 4 mil afegãos”, disse. “Significa que a gente tem de 6 a 7 mil afegãos para entrar.”

‘Não tomei banho por uma semana’

A reportagem do Estadão passou algumas horas no Aeroporto de Guarulhos durante esta quinta. Há duas semanas no País, o analista de logística Mohsen Kabiry, de 38 anos, se preparava para dormir mais uma noite no chão do aeroporto. Sem saber falar inglês, ele pediu ajuda a outro afegão para dizer que cinco dos nove familiares que vieram com ele estavam com sarna.

O casal de artistas Nematollah Vali, 29, e Forouzan Sediqi, 28, também foi afetado pelo surto. “Quando cheguei, não tomei banho por uma semana, então comecei a enfrentar problemas com minha pele”, disse Forouzan. Na maioria dos dias, os afegãos não têm acesso a banheiros com chuveiro no aeroporto. “Por sorte, conseguiram me levar para tomar banho e melhorou um pouco.”

Para se higienizar, muitos têm a ajuda de voluntários e até de um hotel na região, que oferece cerca de 20 banhos diários aos refugiados. Mas outros tipos de problemas são relatados. Afegãos ouvidos pela reportagem se queixam de mofo e infiltração nas paredes, cheiro ruim nas cobertas e dificuldade de se adaptar. “Por quatro dias, só comi biscoito e água”, disse Forouzan.

A situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário aos afegãos por conta da tomada de poder pelo grupo extremista Taleban. “O que está acontecendo é uma tragédia anunciada. A gente já sabia disso (condições precárias) desde agosto do ano passado, quando eles já passavam 15, 20 dias sem banho”, disse Aline Sobral, atual presidente do Coletivo Frente Afegã.

Segundo o coletivo, nesta quinta eram 175 refugiados acampados no aeroporto, todos muçulmanos. Só nesta semana, foram 35 novos acolhidos, o que mostra como o grupo muda a cada semana. Em geral, os refugiados ficam em torno de três semanas esperando acolhimento. Cerca de 3 a 4 voos chegam por dia do Oriente Médio, com a possibilidade de trazer novos afegãos precisando de ajuda.

Situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário aos afegãos por conta da tomada de poder pelo grupo extremista Taleban Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A Prefeitura de São Paulo informou ter acolhido 718 afegãos entre janeiro e 20 de junho deste ano. Em todo o ano passado, foram 714. A gestão das vagas dos abrigos é feita pelo governo do Estado, com suporte de um centro de atendimento instalado em área de mezanino do terminal 2 pela prefeitura de Guarulhos. A gestão municipal também fornece refeições diariamente.

A GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto, informou que tem contribuído no suporte à realização de procedimentos de higiene pessoal e manutenção de limpeza constante do espaço. “A higienização dos banheiros daquela área também foi intensificada”, disse. “O vestiário, por se tratar de uma área operacional destinada a funcionários, é viabilizado dentro das condições e disponibilidade do aeroporto, de acordo com um planejamento alinhado com a prefeitura de Guarulhos.”

Os cerca de 150 refugiados afegãos que estão acampados no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, devem ser levados para um abrigo em Praia Grande, no litoral do Estado. A transferência está prevista para ocorrer entre esta sexta-feira, 30, e sábado, 1º, segundo o governo federal.

Como mostrou o Estadão, um surto de escabiose (conhecida como sarna humana) atinge o grupo há cerca de uma semana. Conforme a prefeitura de Guarulhos, 21 ocorrências da doença foram confirmadas desde o último dia 22. Os casos atingem desde crianças a famílias inteiras.

Afegãos acampados no Aeroporto de Guarulhos serão transferidos para Praia Grande, no litoral de SP Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Diante da situação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) disse que os cerca de 150 imigrantes afegãos que estão no Aeroporto de Guarulhos serão transferidos para Praia Grande, a cerca de 70 quilômetros do centro da capital paulista. Segundo a pasta, eles serão acolhidos nas dependências da Colônia de Férias do Sindicato dos Químicos.

“O trabalho está acontecendo em parceria com governo de São Paulo, prefeitura de Praia Grande, prefeitura de Guarulhos, com Acnur (agência da ONU para refugiados), Cáritas e outras entidades da sociedade civil envolvidas com a temática”, afirmou o ministério, em nota divulgada nesta sexta. Não foi especificado se essa será uma política contínua.

Na tarde de quinta-feira, 29, representantes das três esferas de governo se reuniram no aeroporto para discutir soluções para os refugiados. Participaram também integrantes da Organização das Nações Unidas e do Frente Afegã, coletivo que ajuda na acolhida de afegãos no aeroporto.

Anteriormente, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, chegou a dizer que os refugiados seriam levados para hotéis, de forma temporária, mas representantes dos governos federal e estadual afirmaram depois da reunião desta quinta que a medida ainda estava sendo avaliada.

“Esperamos que, nas próximas horas, a gente já tenha uma medida efetiva para dar em resposta à situação”, disse Renato Teixeira, ouvidor nacional dos Direitos Humanos. “A ouvidoria esteve presente e constatou grave violação aos direitos humanos dos nossos irmãos afegãos.”

'Ouvidoria esteve presente e constatou grave violação aos direitos humanos dos nossos irmãos afegãos', disse ouvidor nacional dos Direitos Humanos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O prefeito de Guarulhos, Guti (PSD), reconheceu a importância do envio de recursos pelo governo federal, mas cobrou uma “política de interiorização”. “São 11 mil vistos emitidos ou na iminência de serem emitidos, e por aqui passaram 4 mil afegãos”, disse. “Significa que a gente tem de 6 a 7 mil afegãos para entrar.”

‘Não tomei banho por uma semana’

A reportagem do Estadão passou algumas horas no Aeroporto de Guarulhos durante esta quinta. Há duas semanas no País, o analista de logística Mohsen Kabiry, de 38 anos, se preparava para dormir mais uma noite no chão do aeroporto. Sem saber falar inglês, ele pediu ajuda a outro afegão para dizer que cinco dos nove familiares que vieram com ele estavam com sarna.

O casal de artistas Nematollah Vali, 29, e Forouzan Sediqi, 28, também foi afetado pelo surto. “Quando cheguei, não tomei banho por uma semana, então comecei a enfrentar problemas com minha pele”, disse Forouzan. Na maioria dos dias, os afegãos não têm acesso a banheiros com chuveiro no aeroporto. “Por sorte, conseguiram me levar para tomar banho e melhorou um pouco.”

Para se higienizar, muitos têm a ajuda de voluntários e até de um hotel na região, que oferece cerca de 20 banhos diários aos refugiados. Mas outros tipos de problemas são relatados. Afegãos ouvidos pela reportagem se queixam de mofo e infiltração nas paredes, cheiro ruim nas cobertas e dificuldade de se adaptar. “Por quatro dias, só comi biscoito e água”, disse Forouzan.

A situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário aos afegãos por conta da tomada de poder pelo grupo extremista Taleban. “O que está acontecendo é uma tragédia anunciada. A gente já sabia disso (condições precárias) desde agosto do ano passado, quando eles já passavam 15, 20 dias sem banho”, disse Aline Sobral, atual presidente do Coletivo Frente Afegã.

Segundo o coletivo, nesta quinta eram 175 refugiados acampados no aeroporto, todos muçulmanos. Só nesta semana, foram 35 novos acolhidos, o que mostra como o grupo muda a cada semana. Em geral, os refugiados ficam em torno de três semanas esperando acolhimento. Cerca de 3 a 4 voos chegam por dia do Oriente Médio, com a possibilidade de trazer novos afegãos precisando de ajuda.

Situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário aos afegãos por conta da tomada de poder pelo grupo extremista Taleban Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A Prefeitura de São Paulo informou ter acolhido 718 afegãos entre janeiro e 20 de junho deste ano. Em todo o ano passado, foram 714. A gestão das vagas dos abrigos é feita pelo governo do Estado, com suporte de um centro de atendimento instalado em área de mezanino do terminal 2 pela prefeitura de Guarulhos. A gestão municipal também fornece refeições diariamente.

A GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto, informou que tem contribuído no suporte à realização de procedimentos de higiene pessoal e manutenção de limpeza constante do espaço. “A higienização dos banheiros daquela área também foi intensificada”, disse. “O vestiário, por se tratar de uma área operacional destinada a funcionários, é viabilizado dentro das condições e disponibilidade do aeroporto, de acordo com um planejamento alinhado com a prefeitura de Guarulhos.”

Os cerca de 150 refugiados afegãos que estão acampados no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, devem ser levados para um abrigo em Praia Grande, no litoral do Estado. A transferência está prevista para ocorrer entre esta sexta-feira, 30, e sábado, 1º, segundo o governo federal.

Como mostrou o Estadão, um surto de escabiose (conhecida como sarna humana) atinge o grupo há cerca de uma semana. Conforme a prefeitura de Guarulhos, 21 ocorrências da doença foram confirmadas desde o último dia 22. Os casos atingem desde crianças a famílias inteiras.

Afegãos acampados no Aeroporto de Guarulhos serão transferidos para Praia Grande, no litoral de SP Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Diante da situação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) disse que os cerca de 150 imigrantes afegãos que estão no Aeroporto de Guarulhos serão transferidos para Praia Grande, a cerca de 70 quilômetros do centro da capital paulista. Segundo a pasta, eles serão acolhidos nas dependências da Colônia de Férias do Sindicato dos Químicos.

“O trabalho está acontecendo em parceria com governo de São Paulo, prefeitura de Praia Grande, prefeitura de Guarulhos, com Acnur (agência da ONU para refugiados), Cáritas e outras entidades da sociedade civil envolvidas com a temática”, afirmou o ministério, em nota divulgada nesta sexta. Não foi especificado se essa será uma política contínua.

Na tarde de quinta-feira, 29, representantes das três esferas de governo se reuniram no aeroporto para discutir soluções para os refugiados. Participaram também integrantes da Organização das Nações Unidas e do Frente Afegã, coletivo que ajuda na acolhida de afegãos no aeroporto.

Anteriormente, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, chegou a dizer que os refugiados seriam levados para hotéis, de forma temporária, mas representantes dos governos federal e estadual afirmaram depois da reunião desta quinta que a medida ainda estava sendo avaliada.

“Esperamos que, nas próximas horas, a gente já tenha uma medida efetiva para dar em resposta à situação”, disse Renato Teixeira, ouvidor nacional dos Direitos Humanos. “A ouvidoria esteve presente e constatou grave violação aos direitos humanos dos nossos irmãos afegãos.”

'Ouvidoria esteve presente e constatou grave violação aos direitos humanos dos nossos irmãos afegãos', disse ouvidor nacional dos Direitos Humanos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O prefeito de Guarulhos, Guti (PSD), reconheceu a importância do envio de recursos pelo governo federal, mas cobrou uma “política de interiorização”. “São 11 mil vistos emitidos ou na iminência de serem emitidos, e por aqui passaram 4 mil afegãos”, disse. “Significa que a gente tem de 6 a 7 mil afegãos para entrar.”

‘Não tomei banho por uma semana’

A reportagem do Estadão passou algumas horas no Aeroporto de Guarulhos durante esta quinta. Há duas semanas no País, o analista de logística Mohsen Kabiry, de 38 anos, se preparava para dormir mais uma noite no chão do aeroporto. Sem saber falar inglês, ele pediu ajuda a outro afegão para dizer que cinco dos nove familiares que vieram com ele estavam com sarna.

O casal de artistas Nematollah Vali, 29, e Forouzan Sediqi, 28, também foi afetado pelo surto. “Quando cheguei, não tomei banho por uma semana, então comecei a enfrentar problemas com minha pele”, disse Forouzan. Na maioria dos dias, os afegãos não têm acesso a banheiros com chuveiro no aeroporto. “Por sorte, conseguiram me levar para tomar banho e melhorou um pouco.”

Para se higienizar, muitos têm a ajuda de voluntários e até de um hotel na região, que oferece cerca de 20 banhos diários aos refugiados. Mas outros tipos de problemas são relatados. Afegãos ouvidos pela reportagem se queixam de mofo e infiltração nas paredes, cheiro ruim nas cobertas e dificuldade de se adaptar. “Por quatro dias, só comi biscoito e água”, disse Forouzan.

A situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário aos afegãos por conta da tomada de poder pelo grupo extremista Taleban. “O que está acontecendo é uma tragédia anunciada. A gente já sabia disso (condições precárias) desde agosto do ano passado, quando eles já passavam 15, 20 dias sem banho”, disse Aline Sobral, atual presidente do Coletivo Frente Afegã.

Segundo o coletivo, nesta quinta eram 175 refugiados acampados no aeroporto, todos muçulmanos. Só nesta semana, foram 35 novos acolhidos, o que mostra como o grupo muda a cada semana. Em geral, os refugiados ficam em torno de três semanas esperando acolhimento. Cerca de 3 a 4 voos chegam por dia do Oriente Médio, com a possibilidade de trazer novos afegãos precisando de ajuda.

Situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário aos afegãos por conta da tomada de poder pelo grupo extremista Taleban Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A Prefeitura de São Paulo informou ter acolhido 718 afegãos entre janeiro e 20 de junho deste ano. Em todo o ano passado, foram 714. A gestão das vagas dos abrigos é feita pelo governo do Estado, com suporte de um centro de atendimento instalado em área de mezanino do terminal 2 pela prefeitura de Guarulhos. A gestão municipal também fornece refeições diariamente.

A GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto, informou que tem contribuído no suporte à realização de procedimentos de higiene pessoal e manutenção de limpeza constante do espaço. “A higienização dos banheiros daquela área também foi intensificada”, disse. “O vestiário, por se tratar de uma área operacional destinada a funcionários, é viabilizado dentro das condições e disponibilidade do aeroporto, de acordo com um planejamento alinhado com a prefeitura de Guarulhos.”

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