O secretário-executivo da pasta da Segurança Pública do Estado de São Paulo, delegado Osvaldo Nico Gonçalves, falou nesta segunda-feira, 11, sobre como vai atuar a força-tarefa criada para apurar a execução do empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, de 38 anos, três dias antes no Aeroporto de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. “Nós vamos investigar até o fundo, doa a quem doer. Se tiver algum policial envolvido com a morte dele, também vai ser penalizado”, disse o delegado ao Estadão.
Apontado como desafeto do Primeiro Comando da Capital (PCC), Gritzbach havia firmado delação para denunciar esquemas de lavagem de dinheiro da facção e também falou sobre casos de corrupção policial. Ele foi alvejado com dez disparos de fuzil em plena luz do dia.
Número 2 da pasta da Segurança Pública, Gonçalves foi designado para comandar a força-tarefa para apurar o caso. A iniciativa deve contar com outros cinco membros fixos. Entre eles, estão a diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, delegada Ivalda Aleixo, o corregedor da Polícia Militar, Fábio Sérgio do Amaral, e o chefe do setor de Inteligência da PM, coronel Pedro Luís de Sousa Lopes. Ao menos 50 policiais de diferentes departamentos devem integrar a iniciativa.
O primeiro passo, segundo Gonçalves, é tentar montar o que ele define como quebra-cabeça do caso. Imagens de câmeras de segurança mostram que Gritzbach foi assassinado em ação que envolveu dois homens encapuzados. “Interessava para muita gente a morte desse cara, muita gente queria ver o Vinicius morto”, afirmou o delegado. “A investigação vai ser feita, vamos trabalhar em cima de fatos, independentemente se isso implicar alguém da Polícia Civil ou da Militar.”
Em entrevista coletiva realizada nesta segunda, o secretário Guilherme Derrite não descartou a possibilidade de participação de policiais civis na execução de Gritzbach. Segundo ele, extratos da delação do empresário recebidos pela pasta implicavam nominalmente agentes da corporação.
A delação de Gritzbach teria indicado que havia policiais que manipulavam inquéritos para livrar integrantes do PCC da acusação de crimes, mediante pagamento de propinas. Os nomes e o número de policiais citados por Gritzbach não foram revelados pelas autoridades.
Por conta das denúncias, Gritzbach foi chamado para depor na Corregedoria da corporação no último dia 31, oito dias antes de ser assassinado no maior aeroporto do País. Derrite afirmou que nenhum policial foi afastado até o momento, mas indicou que, como medida de precaução, prevê afastar agentes da Polícia Civil citados na delação.
Em paralelo, os quatro policiais militares que faziam a escolta do empresário no dia do assassinato foram afastados e têm a conduta investigada. Um ponto que chamou atenção é que, após um dos carros em que estavam supostamente estragar, três deles ficaram em um posto de gasolina quando Gritzbach foi alvo do ataque. Veja abaixo principais trechos da entrevista de Gonçalves ao Estadão:
Qual é o foco inicial da força-tarefa e de que forma vão trabalhar?
Ninguém faz nada sozinho. Agradeço ao secretário (Guilherme) Derrite, que confiou em mim. Depois de 43 anos de polícia, devo saber um pouquinho. A gente vai pegar o quebra-cabeça, juntar as peças e dar uma linha de conduta. Sem achismo. Nós vamos tentar se organizar, coordenar as investigações e trabalhar com fatos. É o que estamos fazendo desde o começo.
Mas, na prática, o que vão buscar esclarecer neste primeiro momento?
A morte dele (Gritzbach). Quem mandou matar, o porquê mandou e quem foi lá no aeroporto de fuzil.
Tem algum prazo para finalização dos laudos dos carros, das armas e da balística?
Nós estamos muito empenhados, tem equipe ‘virada’ (trabalhando de madrugada). A gente não pode fazer nada precipitado, mas está tudo ‘andando’ bem. Assim que tiver algo concreto, nós informaremos.
Leia Também:
Se policiais civis estiverem envolvidos, qual vai ser o posicionamento da força-tarefa?
Nós não temos aqui compromisso com ninguém. Nós recebemos parte da delação dele (Gritzbach) no fim de outubro, fizemos a transcrição e ele foi ouvido (pela Corregedoria). A investigação vai ser feita, vamos trabalhar em cima de fatos, independentemente se isso implicar alguém da Polícia Civil ou da Militar. Interessava para muita gente a morte desse cara, muita gente queria ver o Vinicius morto. Alguém pagou por isso, alguém mandou fazer isso. Nós vamos chegar lá (na autoria).
Quantos policiais civis foram implicados, conforme o extrato da delação que a polícia recebeu? Há pelo menos um número aproximado?
Ainda não sei, não tem um número certo.
Leia Também:
O Estadão apurou que alguns deles são de departamentos centrais da polícia, como o Deic e o DHPP. Alguém vai ser afastado?
Isso (de que são de Deic e DHPP) é com a Corregedoria, não cheguei ainda nesse fato. Estou com os esforços centralizados na investigação da morte. Nesse caso (dos policiais civis), tem uma delegação que foi feita, que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público do Estado) mandou, e a apuração está na Corregedoria da Polícia Civil e da Militar.
De toda forma, como há menção nominal a policiais civis, qual vai ser a estratégia da força-tarefa para ‘blindar’ a investigação de possíveis intervenções?
Para blindar, não. Nós vamos investigar até o fundo, doa a quem doer. Se tiver algum policial envolvido com a morte dele, também vai ser penalizado. Nós estamos tentando chegar no esclarecimento (do crime).
São seis membros que encabeçam a força-tarefa, mas vocês esperam incorporar quantos policiais para trabalhar nesse caso?
A gente quer juntar todo o quebra-cabeça. Vão ser muitos policiais trabalhando nesse caso, pelo menos mais de 50.
Tem algum prazo para um primeiro avanço?
Nosso prazo é o tempo que for necessário.