Seu bairro tem área verde suficiente? Mapa interativo mostra ‘oásis’ e desertos em SP


Dados de plataforma da USP indicam que cobertura verde está abaixo do adequado na maior parte da cidade, com efeitos na temperatura e qualidade do ar

Por Juliana Domingos de Lima
Atualização:

Ainda no inverno, a cidade de São Paulo tem registrado ondas de calor, com máximas que ultrapassam os 30ºC, e baixa umidade do ar, o que fez aumentar o número de queimadas e a incidência de problemas respiratórios. Quem tem acesso a áreas verdes na cidade percebe que elas trazem alívio à secura, à poluição e ao calor.

Com ar seco e fumaça, São Paulo registrou o pior qualidade do ar do mundo na segunda, 09 de setembro de 2024, segundo ranking do site IQAir Foto: Daniel Teixeira/Estadao
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A importância do verde, porém, vai além do alívio pontual. Quando se fala em adaptar as cidades para os efeitos das mudanças climáticas, como ondas de calor e chuvas mais intensas, concentradas em períodos curtos, especialistas destacam a capacidade de absorção da água — como nas chamadas cidades-esponja — da vegetação, reduzindo riscos de inundações, e seu papel para mitigar o efeito das ilhas de calor.

“As áreas verdes são essenciais para o equilíbrio climático das cidades, contribuindo para regulação da temperatura, melhoria da qualidade do ar, controle da poluição e bem-estar físico e mental da população”, diz Marcel Fantin, professor de Arquitetura e Urbanismo da USP em São Carlos.

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Embora a capital apresente mais de 50% de cobertura vegetal segundo a Prefeitura, parte expressiva desse verde se concentra no extremo sul.

Dados da Plataforma UrbVerde de 2021 mostram que, na maior parte do território, a cobertura está abaixo do adequado (igual ou superior a 20%, segundo o critério da plataforma).

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O mapa também permite observar não terem havido grandes alterações na mancha que indica o percentual de árvores, arbustos e gramíneas na cidade no período de 2016 a 2021.

A UrbVerde foi desenvolvida por alunos e professores da USP, Universidade Lusófona, federais de São Carlos (UFSCar) e da Bahia (UFBA), com o objetivo de fornecer dados ao poder público e aos cidadãos no contexto da crise climática.

Nem bairros nobres escapam

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Segundo Marcel Fantin, coordenador da UrbVerde, os dados da plataforma indica que essa má distribuição também está associada à desigualdade de renda na cidade.

“Quanto menor a renda, menor é o acesso a áreas arborizadas, parques e praças, o que implica em bairros mais concretados, densos e suscetíveis às mudanças climáticas. Por outro lado, as regiões da cidade com maior renda geralmente têm melhor acesso a áreas verdes. Podemos dizer que dinheiro não dá em árvore, mas a árvore acompanha o dinheiro”, diz Fantin.

A UrbVerde mostra que, bairros mais arborizados como Alto de Pinheiros, Morumbi e Jardins têm, em média, 15% cobertura verde por setor censitário (divisão de território adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE). Em contraste, bairros periféricos de menor renda apresentam cobertura muito reduzida, como São Miguel (1 a 3%), Capão Redondo (1 a 3%) e Brasilândia (0 a 3%).

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Vsta do bairro Capão Redondo (à esq.) e do entorno da Praça Panamericana (à dir.), em Alto de Pinheiros Foto: Felipe Rau/Estadão

O professor da USP atribui a diferença ao planejamento urbano da cidade, que historicamente priorizou a qualidade ambiental nas áreas de alto padrão, negligenciando outras áreas.

Mas é possível notar que mesmo bairros nobres, como Pinheiros e Itaim Bibi, apresentam áreas com nível de cobertura vegetal quase desértico, abaixo dos 5%.

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A ausência de verde se reflete diretamente nas temperaturas devido ao efeito de ilha de calor, que surgem em áreas muito verticalizadas e concretadas.

As superfícies impermeáveis retêm mais calor e reduzem a evapotranspiração do solo que, somada ao calor emitido pelas atividades humanas, faz com que determinadas regiões em especial, e a mancha urbana como um todo, apresentem temperatura mais elevada se comparada ao entorno.

Para Fantin, a ampliação de parques, praças e outros espaços de verdes “deve ser prioridade para qualquer gestão urbana comprometida em enfrentar os efeitos das mudanças climáticas e promover a qualidade de vida”.

Em nota, a Prefeitura afirma ter inaugurado nove parques na atual gestão. Outros seis estão em implantação - Linear Córrego do Bispo, Morumbi Sul, Fazenda da Juta, Mooca, Jardim Apurá-Búfalos e Cabeceiras do Aricanduva -, com previsão de entrega até o fim deste ano. Desses 15 novos parques, 10 estão na periferia.

Segundo o professor, essas ações precisam estar integradas a políticas habitacionais e de mobilidade para garantir que os espaços urbanos se tornem mais verdes e também mais inclusivos.

“A próxima gestão municipal tem a oportunidade de transformar essa realidade implementando um plano de arborização urbana, com a criação de parques e praças, especialmente nas áreas mais vulneráveis”, diz.

Ele destaca ainda que os projetos devem incluir o plantio de espécies nativas, mais adaptadas ao clima local e que demandam menor manutenção, e menciona como referência Bogotá e Medellín, na Colômbia, que já implementaram com sucesso iniciativas de arborização em áreas vulneráveis.

A Prefeitura diz que a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente conduz o projeto-piloto de implementação do corredor verde do Butantã, que inclui arborização urbana, implantação de jardins de chuva, corredores polinizadores e telhados verdes.

Entre 2021 e julho deste ano, o Município informa ter plantado 207.178 árvores na cidade.

Ainda no inverno, a cidade de São Paulo tem registrado ondas de calor, com máximas que ultrapassam os 30ºC, e baixa umidade do ar, o que fez aumentar o número de queimadas e a incidência de problemas respiratórios. Quem tem acesso a áreas verdes na cidade percebe que elas trazem alívio à secura, à poluição e ao calor.

Com ar seco e fumaça, São Paulo registrou o pior qualidade do ar do mundo na segunda, 09 de setembro de 2024, segundo ranking do site IQAir Foto: Daniel Teixeira/Estadao

A importância do verde, porém, vai além do alívio pontual. Quando se fala em adaptar as cidades para os efeitos das mudanças climáticas, como ondas de calor e chuvas mais intensas, concentradas em períodos curtos, especialistas destacam a capacidade de absorção da água — como nas chamadas cidades-esponja — da vegetação, reduzindo riscos de inundações, e seu papel para mitigar o efeito das ilhas de calor.

“As áreas verdes são essenciais para o equilíbrio climático das cidades, contribuindo para regulação da temperatura, melhoria da qualidade do ar, controle da poluição e bem-estar físico e mental da população”, diz Marcel Fantin, professor de Arquitetura e Urbanismo da USP em São Carlos.

Embora a capital apresente mais de 50% de cobertura vegetal segundo a Prefeitura, parte expressiva desse verde se concentra no extremo sul.

Dados da Plataforma UrbVerde de 2021 mostram que, na maior parte do território, a cobertura está abaixo do adequado (igual ou superior a 20%, segundo o critério da plataforma).

O mapa também permite observar não terem havido grandes alterações na mancha que indica o percentual de árvores, arbustos e gramíneas na cidade no período de 2016 a 2021.

A UrbVerde foi desenvolvida por alunos e professores da USP, Universidade Lusófona, federais de São Carlos (UFSCar) e da Bahia (UFBA), com o objetivo de fornecer dados ao poder público e aos cidadãos no contexto da crise climática.

Nem bairros nobres escapam

Segundo Marcel Fantin, coordenador da UrbVerde, os dados da plataforma indica que essa má distribuição também está associada à desigualdade de renda na cidade.

“Quanto menor a renda, menor é o acesso a áreas arborizadas, parques e praças, o que implica em bairros mais concretados, densos e suscetíveis às mudanças climáticas. Por outro lado, as regiões da cidade com maior renda geralmente têm melhor acesso a áreas verdes. Podemos dizer que dinheiro não dá em árvore, mas a árvore acompanha o dinheiro”, diz Fantin.

A UrbVerde mostra que, bairros mais arborizados como Alto de Pinheiros, Morumbi e Jardins têm, em média, 15% cobertura verde por setor censitário (divisão de território adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE). Em contraste, bairros periféricos de menor renda apresentam cobertura muito reduzida, como São Miguel (1 a 3%), Capão Redondo (1 a 3%) e Brasilândia (0 a 3%).

Vsta do bairro Capão Redondo (à esq.) e do entorno da Praça Panamericana (à dir.), em Alto de Pinheiros Foto: Felipe Rau/Estadão

O professor da USP atribui a diferença ao planejamento urbano da cidade, que historicamente priorizou a qualidade ambiental nas áreas de alto padrão, negligenciando outras áreas.

Mas é possível notar que mesmo bairros nobres, como Pinheiros e Itaim Bibi, apresentam áreas com nível de cobertura vegetal quase desértico, abaixo dos 5%.

A ausência de verde se reflete diretamente nas temperaturas devido ao efeito de ilha de calor, que surgem em áreas muito verticalizadas e concretadas.

As superfícies impermeáveis retêm mais calor e reduzem a evapotranspiração do solo que, somada ao calor emitido pelas atividades humanas, faz com que determinadas regiões em especial, e a mancha urbana como um todo, apresentem temperatura mais elevada se comparada ao entorno.

Para Fantin, a ampliação de parques, praças e outros espaços de verdes “deve ser prioridade para qualquer gestão urbana comprometida em enfrentar os efeitos das mudanças climáticas e promover a qualidade de vida”.

Em nota, a Prefeitura afirma ter inaugurado nove parques na atual gestão. Outros seis estão em implantação - Linear Córrego do Bispo, Morumbi Sul, Fazenda da Juta, Mooca, Jardim Apurá-Búfalos e Cabeceiras do Aricanduva -, com previsão de entrega até o fim deste ano. Desses 15 novos parques, 10 estão na periferia.

Segundo o professor, essas ações precisam estar integradas a políticas habitacionais e de mobilidade para garantir que os espaços urbanos se tornem mais verdes e também mais inclusivos.

“A próxima gestão municipal tem a oportunidade de transformar essa realidade implementando um plano de arborização urbana, com a criação de parques e praças, especialmente nas áreas mais vulneráveis”, diz.

Ele destaca ainda que os projetos devem incluir o plantio de espécies nativas, mais adaptadas ao clima local e que demandam menor manutenção, e menciona como referência Bogotá e Medellín, na Colômbia, que já implementaram com sucesso iniciativas de arborização em áreas vulneráveis.

A Prefeitura diz que a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente conduz o projeto-piloto de implementação do corredor verde do Butantã, que inclui arborização urbana, implantação de jardins de chuva, corredores polinizadores e telhados verdes.

Entre 2021 e julho deste ano, o Município informa ter plantado 207.178 árvores na cidade.

Ainda no inverno, a cidade de São Paulo tem registrado ondas de calor, com máximas que ultrapassam os 30ºC, e baixa umidade do ar, o que fez aumentar o número de queimadas e a incidência de problemas respiratórios. Quem tem acesso a áreas verdes na cidade percebe que elas trazem alívio à secura, à poluição e ao calor.

Com ar seco e fumaça, São Paulo registrou o pior qualidade do ar do mundo na segunda, 09 de setembro de 2024, segundo ranking do site IQAir Foto: Daniel Teixeira/Estadao

A importância do verde, porém, vai além do alívio pontual. Quando se fala em adaptar as cidades para os efeitos das mudanças climáticas, como ondas de calor e chuvas mais intensas, concentradas em períodos curtos, especialistas destacam a capacidade de absorção da água — como nas chamadas cidades-esponja — da vegetação, reduzindo riscos de inundações, e seu papel para mitigar o efeito das ilhas de calor.

“As áreas verdes são essenciais para o equilíbrio climático das cidades, contribuindo para regulação da temperatura, melhoria da qualidade do ar, controle da poluição e bem-estar físico e mental da população”, diz Marcel Fantin, professor de Arquitetura e Urbanismo da USP em São Carlos.

Embora a capital apresente mais de 50% de cobertura vegetal segundo a Prefeitura, parte expressiva desse verde se concentra no extremo sul.

Dados da Plataforma UrbVerde de 2021 mostram que, na maior parte do território, a cobertura está abaixo do adequado (igual ou superior a 20%, segundo o critério da plataforma).

O mapa também permite observar não terem havido grandes alterações na mancha que indica o percentual de árvores, arbustos e gramíneas na cidade no período de 2016 a 2021.

A UrbVerde foi desenvolvida por alunos e professores da USP, Universidade Lusófona, federais de São Carlos (UFSCar) e da Bahia (UFBA), com o objetivo de fornecer dados ao poder público e aos cidadãos no contexto da crise climática.

Nem bairros nobres escapam

Segundo Marcel Fantin, coordenador da UrbVerde, os dados da plataforma indica que essa má distribuição também está associada à desigualdade de renda na cidade.

“Quanto menor a renda, menor é o acesso a áreas arborizadas, parques e praças, o que implica em bairros mais concretados, densos e suscetíveis às mudanças climáticas. Por outro lado, as regiões da cidade com maior renda geralmente têm melhor acesso a áreas verdes. Podemos dizer que dinheiro não dá em árvore, mas a árvore acompanha o dinheiro”, diz Fantin.

A UrbVerde mostra que, bairros mais arborizados como Alto de Pinheiros, Morumbi e Jardins têm, em média, 15% cobertura verde por setor censitário (divisão de território adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE). Em contraste, bairros periféricos de menor renda apresentam cobertura muito reduzida, como São Miguel (1 a 3%), Capão Redondo (1 a 3%) e Brasilândia (0 a 3%).

Vsta do bairro Capão Redondo (à esq.) e do entorno da Praça Panamericana (à dir.), em Alto de Pinheiros Foto: Felipe Rau/Estadão

O professor da USP atribui a diferença ao planejamento urbano da cidade, que historicamente priorizou a qualidade ambiental nas áreas de alto padrão, negligenciando outras áreas.

Mas é possível notar que mesmo bairros nobres, como Pinheiros e Itaim Bibi, apresentam áreas com nível de cobertura vegetal quase desértico, abaixo dos 5%.

A ausência de verde se reflete diretamente nas temperaturas devido ao efeito de ilha de calor, que surgem em áreas muito verticalizadas e concretadas.

As superfícies impermeáveis retêm mais calor e reduzem a evapotranspiração do solo que, somada ao calor emitido pelas atividades humanas, faz com que determinadas regiões em especial, e a mancha urbana como um todo, apresentem temperatura mais elevada se comparada ao entorno.

Para Fantin, a ampliação de parques, praças e outros espaços de verdes “deve ser prioridade para qualquer gestão urbana comprometida em enfrentar os efeitos das mudanças climáticas e promover a qualidade de vida”.

Em nota, a Prefeitura afirma ter inaugurado nove parques na atual gestão. Outros seis estão em implantação - Linear Córrego do Bispo, Morumbi Sul, Fazenda da Juta, Mooca, Jardim Apurá-Búfalos e Cabeceiras do Aricanduva -, com previsão de entrega até o fim deste ano. Desses 15 novos parques, 10 estão na periferia.

Segundo o professor, essas ações precisam estar integradas a políticas habitacionais e de mobilidade para garantir que os espaços urbanos se tornem mais verdes e também mais inclusivos.

“A próxima gestão municipal tem a oportunidade de transformar essa realidade implementando um plano de arborização urbana, com a criação de parques e praças, especialmente nas áreas mais vulneráveis”, diz.

Ele destaca ainda que os projetos devem incluir o plantio de espécies nativas, mais adaptadas ao clima local e que demandam menor manutenção, e menciona como referência Bogotá e Medellín, na Colômbia, que já implementaram com sucesso iniciativas de arborização em áreas vulneráveis.

A Prefeitura diz que a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente conduz o projeto-piloto de implementação do corredor verde do Butantã, que inclui arborização urbana, implantação de jardins de chuva, corredores polinizadores e telhados verdes.

Entre 2021 e julho deste ano, o Município informa ter plantado 207.178 árvores na cidade.

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