Arrastões fazem condomínios usarem inteligência artificial e consultor de segurança contra roubos


Agilidade para identificar risco e acionar equipes de segurança são vantagens; assaltos como o do Jardim Paulistano este mês, em que R$ 3 milhões foram levados, assustam moradores

Por Gonçalo Junior
Atualização:

Para se proteger de arrastões, condomínios de alto padrão em São Paulo têm usado a inteligência artificial (IA) para analisar as câmeras de monitoramento e identificar potenciais riscos à segurança, como aglomerações de pessoas e movimentações em locais proibidos.

As imagens de vídeo são “vistas” pela IA que faz comparações com o que ela “aprendeu” como normal por meio das configurações. Com isso, ela identifica situações suspeitas ou fora do padrão. Esse tipo de vigilância é possível graças à capacidade de aprendizagem contínua dos programas.

Hoje, eles auxiliam principalmente nos controles de acesso e segurança. Uma câmera da rampa de acesso de veículos pode disparar o alarme se identificar um pedestre no local, que pode ser uma tentativa de invasão. Da mesma forma, o sistema pode ser “ensinado” a alertar as equipes de segurança em caso de aglomerações, o que pode ser um arrastão. Sempre é necessária a análise do agente de segurança.

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Porteiro usa radiocomunicador para falar com outros prédios; segurança tem sido reforçada em condomínios de luxo Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

As vantagens são a agilidade na identificação do risco, a redução da possibilidade de falha humana e o rápido acionamento das equipes de segurança, enumera Rafael Daoud, diretor do Sindicato das Empresas de Segurança Eletrônica de São Paulo (Siese) e CEO do Grupo Alarmwolx.

A AI complementa o trabalho dos agentes de segurança e porteiros, captando detalhes que fogem ao olho humano, como uma pessoa armada num grupo. A inovação muda até a maneira de analisar os acontecimentos, como explica Átila Cordova, CEO do Grupo Magav, consultoria de segurança patrimonial e organizacional.

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“O trabalho se torna mais preventivo que olhar as câmeras no passado, depois que aconteceu, como é o caso na maioria das vezes”, diz.

A expansão da IA nos conjuntos residenciais já é uma realidade por causa dos investimentos dos condomínios em segurança, prioridade em todas as regiões, como avalia José Roberto Graiche Júnior, presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios (AABIC). “A soma de ações e de inteligências, humana e artificial, permite aprimorar a proteção das pessoas”.

Sala de monitoramento de empresa de segurança de condomínios; sistema de inteligência artificial reconhece situações e comportamentos fora do habitual e emite um alerta na tela Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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A preocupação de zeladores, síndicos e líderes comunitários é evitar o que aconteceu no condomínio do Jardim Paulistano, zona sul, no último final de semana com a invasão de pelo menos 17 homens. Os moradores de duas casas chegaram a ser amarrados e presos na sala do zelador. Os ladrões teriam levado R$ 3 milhões em joias.

De acordo com a polícia, eles estavam bem armados, inclusive com fuzis. Vizinhos relatam que os ladrões entraram em um imóvel vizinho, que será demolido, e que possui uma parte mais baixa do muro e não tem cerca elétrica.

Nem sempre os roubos são feitos por quadrilhas armadas e que planejaram a ação com antecedência. Em um conjunto residencial na Avenida República do Líbano, investigadores do 15º DP prenderam em flagrante um ladrão que chegou de bicicleta, pulou o muro e tentou abrir os carros do condomínio de Pinheiros no dia 21 de julho. O boletim de ocorrência classificou o roubo como “amador”.

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Apenas nos bairros de Pinheiros, Itaim Bibi e Butantã, bairros nobres da cidade, foram 13 ocorrências de roubos residenciais desde 1º de junho. A Secretaria de Segurança Pública não divulgou os dados do ano todo.

Embora o número seja semelhante ao do ano passado, no mesmo período, a violência dos bandidos assusta, como no episódio do início de agosto no Alto de Pinheiros, na zona oeste. Um casal, de 79 e 80 anos, e a neta deles, que não teve a idade informada, foram amarrados por ladrões que invadiram a casa onde moram. Foram levados cerca de R$ 20 mil, joias, relógios, celulares, um notebook, além de duas pistolas registradas no nome do idoso.

De acordo com boletim de ocorrência, o homem, a esposa e a neta dormiam quando foram surpreendidos por três assaltantes armados. No 15.º DP, onde esse caso e o do Jardim Paulistano foram registrados, o total de roubos saltou de 998 no primeiro semestre do ano passado para 1.301 neste ano.

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Os condomínios são alvos relativamente fáceis para os bandidos. Essa é a visão de Diógenes Lucca, tenente-coronel da reserva da PM de São Paulo e um dos fundadores do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE). “Isso contraria o senso comum que imagina os condomínios como lugares seguros. Falta sensibilidade das pessoas para a questão da segurança nos condomínios. Para ser mais seguro que uma casa, é preciso profissionais bem treinados, condôminos conscientes e que respeitem as regras”.

O consultor Waldir Samora completa e diz sentir falta de uma “cultura de segurança”, que ele define como atitudes compartilhadas por um grupo para evitar riscos.

Críticas ao possível viés discriminatório do reconhecimento facial

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As câmeras de reconhecimento facial também são motivo de polêmicas. O uso em escolas, postos de saúde e parques para identificar foragidos da Justiça, iniciativa da Prefeitura de São Paulo, foi criticada por entidades defensoras de direitos humanos que apontam a possibilidade de viés discriminatório e de falsos positivos, principalmente contra pessoas negras. Além disso, especialistas em proteção de dados colocam em dúvida as garantias de proteção das informações dos cidadãos.

A utilização em ambientes privados, inclusive com a coleta dos dados dos visitantes é permitida, desde que esteja em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados, como explica o professor e advogado Luiz Augusto D’Urso. Por outro lado, o professor de Direito Digital no MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV) alerta que o viés preconceituoso também pode acontecer na esfera privada.

Essa é a mesma visão de Rafael Daoud. “Da mesma maneira que a tecnologia vem para ajudar, ela também pode segregar. É preciso uma regulamentação urgente para definir os limites do uso da tecnologia”.

Portarias virtuais estão entre outras inovações

O uso da inteligência artificial está na esteira de inovações para proteger os condomínios. Nas portarias remotas ou virtuais, um profissional especializado faz o controle de entrada e saída a partir de uma central e de forma automatizada. Não há a figura do porteiro no condomínio. O contato e checagem de informações se dá por áudio e vídeo.

O objetivo é evitar que prestadores de serviço ou moradores sejam abordados fisicamente e obrigados a liberar a entrada de pessoas não autorizadas. “A principal vantagem desse sistema é acionar as forças de segurança pública sem interferências e com maior rapidez”, explica o coronel Clodomir Ramos Marcondes, diretor executivo do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo (SESVESP).

As novas tecnologias convivem com práticas já consolidadas, como a troca de informações entre os porteiros com radiocomunicadores e grupos de Whatsapp gerenciados pelos moradores. Na região do Itaim Bibi, pelo menos 40 empreendimentos trocam informações dessa forma. A cooperação foi necessária por causa das tentativas diárias de invasão na região, como conta um zelador que atua desde 2013 e que prefere não se identificar.

Banner do portal Sindiconet alerta para principais disfarces nas tentativas de invasões Foto: Sindiconet

O Sindiconet, portal voltado para síndicos, administradores e moradores de condomínio, como o próprio nome indica, também usa o compartilhamento de mensagens virtuais para conscientizar e prevenir problemas relacionados à segurança. Em uma das mensagens, o portal lista os disfarces mais comuns usados em assaltos a condomínios.

“Pelo uso de imagens e textos curtos, cartazes e banners de whatsapp são um jeito muito prático e eficiente para os síndicos instruírem e alertarem porteiros e moradores para essa questão”, diz Julio Paim, fundador do SíndicoNet.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que forças policiais monitoram continuamente os índices criminais para planejar ações estratégicas a fim de coibir os crimes, em especial os contra o patrimônio. “A Polícia Militar intensificou o policiamento na região e realizou diversas operações, como a Operação Impacto, para combater os roubos e furtos.”

Em relação ao caso citado, a pasta informou que o crime é investigado pelo 15.º Distrito Policial (Itaim Bibi). “A equipe da unidade realiza diligências, analisa imagens e efetua pesquisas nos sistemas policiais de inteligência a fim de identificar e prender os envolvidos, bem como recuperar os objetos subtraídos. Mais detalhes serão preservados para garantir autonomia ao trabalho policial.”

De janeiro a julho deste ano, na zona oeste de São Paulo, 3.148 infratores foram presos/apreendidos, sendo 22,3% a mais do que no mesmo período do ano passado, de acordo com a secretaria. Além disso, 388 armas de fogo foram retiradas das mãos dos criminosos.

Para se proteger de arrastões, condomínios de alto padrão em São Paulo têm usado a inteligência artificial (IA) para analisar as câmeras de monitoramento e identificar potenciais riscos à segurança, como aglomerações de pessoas e movimentações em locais proibidos.

As imagens de vídeo são “vistas” pela IA que faz comparações com o que ela “aprendeu” como normal por meio das configurações. Com isso, ela identifica situações suspeitas ou fora do padrão. Esse tipo de vigilância é possível graças à capacidade de aprendizagem contínua dos programas.

Hoje, eles auxiliam principalmente nos controles de acesso e segurança. Uma câmera da rampa de acesso de veículos pode disparar o alarme se identificar um pedestre no local, que pode ser uma tentativa de invasão. Da mesma forma, o sistema pode ser “ensinado” a alertar as equipes de segurança em caso de aglomerações, o que pode ser um arrastão. Sempre é necessária a análise do agente de segurança.

Porteiro usa radiocomunicador para falar com outros prédios; segurança tem sido reforçada em condomínios de luxo Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

As vantagens são a agilidade na identificação do risco, a redução da possibilidade de falha humana e o rápido acionamento das equipes de segurança, enumera Rafael Daoud, diretor do Sindicato das Empresas de Segurança Eletrônica de São Paulo (Siese) e CEO do Grupo Alarmwolx.

A AI complementa o trabalho dos agentes de segurança e porteiros, captando detalhes que fogem ao olho humano, como uma pessoa armada num grupo. A inovação muda até a maneira de analisar os acontecimentos, como explica Átila Cordova, CEO do Grupo Magav, consultoria de segurança patrimonial e organizacional.

“O trabalho se torna mais preventivo que olhar as câmeras no passado, depois que aconteceu, como é o caso na maioria das vezes”, diz.

A expansão da IA nos conjuntos residenciais já é uma realidade por causa dos investimentos dos condomínios em segurança, prioridade em todas as regiões, como avalia José Roberto Graiche Júnior, presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios (AABIC). “A soma de ações e de inteligências, humana e artificial, permite aprimorar a proteção das pessoas”.

Sala de monitoramento de empresa de segurança de condomínios; sistema de inteligência artificial reconhece situações e comportamentos fora do habitual e emite um alerta na tela Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A preocupação de zeladores, síndicos e líderes comunitários é evitar o que aconteceu no condomínio do Jardim Paulistano, zona sul, no último final de semana com a invasão de pelo menos 17 homens. Os moradores de duas casas chegaram a ser amarrados e presos na sala do zelador. Os ladrões teriam levado R$ 3 milhões em joias.

De acordo com a polícia, eles estavam bem armados, inclusive com fuzis. Vizinhos relatam que os ladrões entraram em um imóvel vizinho, que será demolido, e que possui uma parte mais baixa do muro e não tem cerca elétrica.

Nem sempre os roubos são feitos por quadrilhas armadas e que planejaram a ação com antecedência. Em um conjunto residencial na Avenida República do Líbano, investigadores do 15º DP prenderam em flagrante um ladrão que chegou de bicicleta, pulou o muro e tentou abrir os carros do condomínio de Pinheiros no dia 21 de julho. O boletim de ocorrência classificou o roubo como “amador”.

Apenas nos bairros de Pinheiros, Itaim Bibi e Butantã, bairros nobres da cidade, foram 13 ocorrências de roubos residenciais desde 1º de junho. A Secretaria de Segurança Pública não divulgou os dados do ano todo.

Embora o número seja semelhante ao do ano passado, no mesmo período, a violência dos bandidos assusta, como no episódio do início de agosto no Alto de Pinheiros, na zona oeste. Um casal, de 79 e 80 anos, e a neta deles, que não teve a idade informada, foram amarrados por ladrões que invadiram a casa onde moram. Foram levados cerca de R$ 20 mil, joias, relógios, celulares, um notebook, além de duas pistolas registradas no nome do idoso.

De acordo com boletim de ocorrência, o homem, a esposa e a neta dormiam quando foram surpreendidos por três assaltantes armados. No 15.º DP, onde esse caso e o do Jardim Paulistano foram registrados, o total de roubos saltou de 998 no primeiro semestre do ano passado para 1.301 neste ano.

Os condomínios são alvos relativamente fáceis para os bandidos. Essa é a visão de Diógenes Lucca, tenente-coronel da reserva da PM de São Paulo e um dos fundadores do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE). “Isso contraria o senso comum que imagina os condomínios como lugares seguros. Falta sensibilidade das pessoas para a questão da segurança nos condomínios. Para ser mais seguro que uma casa, é preciso profissionais bem treinados, condôminos conscientes e que respeitem as regras”.

O consultor Waldir Samora completa e diz sentir falta de uma “cultura de segurança”, que ele define como atitudes compartilhadas por um grupo para evitar riscos.

Críticas ao possível viés discriminatório do reconhecimento facial

As câmeras de reconhecimento facial também são motivo de polêmicas. O uso em escolas, postos de saúde e parques para identificar foragidos da Justiça, iniciativa da Prefeitura de São Paulo, foi criticada por entidades defensoras de direitos humanos que apontam a possibilidade de viés discriminatório e de falsos positivos, principalmente contra pessoas negras. Além disso, especialistas em proteção de dados colocam em dúvida as garantias de proteção das informações dos cidadãos.

A utilização em ambientes privados, inclusive com a coleta dos dados dos visitantes é permitida, desde que esteja em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados, como explica o professor e advogado Luiz Augusto D’Urso. Por outro lado, o professor de Direito Digital no MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV) alerta que o viés preconceituoso também pode acontecer na esfera privada.

Essa é a mesma visão de Rafael Daoud. “Da mesma maneira que a tecnologia vem para ajudar, ela também pode segregar. É preciso uma regulamentação urgente para definir os limites do uso da tecnologia”.

Portarias virtuais estão entre outras inovações

O uso da inteligência artificial está na esteira de inovações para proteger os condomínios. Nas portarias remotas ou virtuais, um profissional especializado faz o controle de entrada e saída a partir de uma central e de forma automatizada. Não há a figura do porteiro no condomínio. O contato e checagem de informações se dá por áudio e vídeo.

O objetivo é evitar que prestadores de serviço ou moradores sejam abordados fisicamente e obrigados a liberar a entrada de pessoas não autorizadas. “A principal vantagem desse sistema é acionar as forças de segurança pública sem interferências e com maior rapidez”, explica o coronel Clodomir Ramos Marcondes, diretor executivo do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo (SESVESP).

As novas tecnologias convivem com práticas já consolidadas, como a troca de informações entre os porteiros com radiocomunicadores e grupos de Whatsapp gerenciados pelos moradores. Na região do Itaim Bibi, pelo menos 40 empreendimentos trocam informações dessa forma. A cooperação foi necessária por causa das tentativas diárias de invasão na região, como conta um zelador que atua desde 2013 e que prefere não se identificar.

Banner do portal Sindiconet alerta para principais disfarces nas tentativas de invasões Foto: Sindiconet

O Sindiconet, portal voltado para síndicos, administradores e moradores de condomínio, como o próprio nome indica, também usa o compartilhamento de mensagens virtuais para conscientizar e prevenir problemas relacionados à segurança. Em uma das mensagens, o portal lista os disfarces mais comuns usados em assaltos a condomínios.

“Pelo uso de imagens e textos curtos, cartazes e banners de whatsapp são um jeito muito prático e eficiente para os síndicos instruírem e alertarem porteiros e moradores para essa questão”, diz Julio Paim, fundador do SíndicoNet.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que forças policiais monitoram continuamente os índices criminais para planejar ações estratégicas a fim de coibir os crimes, em especial os contra o patrimônio. “A Polícia Militar intensificou o policiamento na região e realizou diversas operações, como a Operação Impacto, para combater os roubos e furtos.”

Em relação ao caso citado, a pasta informou que o crime é investigado pelo 15.º Distrito Policial (Itaim Bibi). “A equipe da unidade realiza diligências, analisa imagens e efetua pesquisas nos sistemas policiais de inteligência a fim de identificar e prender os envolvidos, bem como recuperar os objetos subtraídos. Mais detalhes serão preservados para garantir autonomia ao trabalho policial.”

De janeiro a julho deste ano, na zona oeste de São Paulo, 3.148 infratores foram presos/apreendidos, sendo 22,3% a mais do que no mesmo período do ano passado, de acordo com a secretaria. Além disso, 388 armas de fogo foram retiradas das mãos dos criminosos.

Para se proteger de arrastões, condomínios de alto padrão em São Paulo têm usado a inteligência artificial (IA) para analisar as câmeras de monitoramento e identificar potenciais riscos à segurança, como aglomerações de pessoas e movimentações em locais proibidos.

As imagens de vídeo são “vistas” pela IA que faz comparações com o que ela “aprendeu” como normal por meio das configurações. Com isso, ela identifica situações suspeitas ou fora do padrão. Esse tipo de vigilância é possível graças à capacidade de aprendizagem contínua dos programas.

Hoje, eles auxiliam principalmente nos controles de acesso e segurança. Uma câmera da rampa de acesso de veículos pode disparar o alarme se identificar um pedestre no local, que pode ser uma tentativa de invasão. Da mesma forma, o sistema pode ser “ensinado” a alertar as equipes de segurança em caso de aglomerações, o que pode ser um arrastão. Sempre é necessária a análise do agente de segurança.

Porteiro usa radiocomunicador para falar com outros prédios; segurança tem sido reforçada em condomínios de luxo Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

As vantagens são a agilidade na identificação do risco, a redução da possibilidade de falha humana e o rápido acionamento das equipes de segurança, enumera Rafael Daoud, diretor do Sindicato das Empresas de Segurança Eletrônica de São Paulo (Siese) e CEO do Grupo Alarmwolx.

A AI complementa o trabalho dos agentes de segurança e porteiros, captando detalhes que fogem ao olho humano, como uma pessoa armada num grupo. A inovação muda até a maneira de analisar os acontecimentos, como explica Átila Cordova, CEO do Grupo Magav, consultoria de segurança patrimonial e organizacional.

“O trabalho se torna mais preventivo que olhar as câmeras no passado, depois que aconteceu, como é o caso na maioria das vezes”, diz.

A expansão da IA nos conjuntos residenciais já é uma realidade por causa dos investimentos dos condomínios em segurança, prioridade em todas as regiões, como avalia José Roberto Graiche Júnior, presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios (AABIC). “A soma de ações e de inteligências, humana e artificial, permite aprimorar a proteção das pessoas”.

Sala de monitoramento de empresa de segurança de condomínios; sistema de inteligência artificial reconhece situações e comportamentos fora do habitual e emite um alerta na tela Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A preocupação de zeladores, síndicos e líderes comunitários é evitar o que aconteceu no condomínio do Jardim Paulistano, zona sul, no último final de semana com a invasão de pelo menos 17 homens. Os moradores de duas casas chegaram a ser amarrados e presos na sala do zelador. Os ladrões teriam levado R$ 3 milhões em joias.

De acordo com a polícia, eles estavam bem armados, inclusive com fuzis. Vizinhos relatam que os ladrões entraram em um imóvel vizinho, que será demolido, e que possui uma parte mais baixa do muro e não tem cerca elétrica.

Nem sempre os roubos são feitos por quadrilhas armadas e que planejaram a ação com antecedência. Em um conjunto residencial na Avenida República do Líbano, investigadores do 15º DP prenderam em flagrante um ladrão que chegou de bicicleta, pulou o muro e tentou abrir os carros do condomínio de Pinheiros no dia 21 de julho. O boletim de ocorrência classificou o roubo como “amador”.

Apenas nos bairros de Pinheiros, Itaim Bibi e Butantã, bairros nobres da cidade, foram 13 ocorrências de roubos residenciais desde 1º de junho. A Secretaria de Segurança Pública não divulgou os dados do ano todo.

Embora o número seja semelhante ao do ano passado, no mesmo período, a violência dos bandidos assusta, como no episódio do início de agosto no Alto de Pinheiros, na zona oeste. Um casal, de 79 e 80 anos, e a neta deles, que não teve a idade informada, foram amarrados por ladrões que invadiram a casa onde moram. Foram levados cerca de R$ 20 mil, joias, relógios, celulares, um notebook, além de duas pistolas registradas no nome do idoso.

De acordo com boletim de ocorrência, o homem, a esposa e a neta dormiam quando foram surpreendidos por três assaltantes armados. No 15.º DP, onde esse caso e o do Jardim Paulistano foram registrados, o total de roubos saltou de 998 no primeiro semestre do ano passado para 1.301 neste ano.

Os condomínios são alvos relativamente fáceis para os bandidos. Essa é a visão de Diógenes Lucca, tenente-coronel da reserva da PM de São Paulo e um dos fundadores do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE). “Isso contraria o senso comum que imagina os condomínios como lugares seguros. Falta sensibilidade das pessoas para a questão da segurança nos condomínios. Para ser mais seguro que uma casa, é preciso profissionais bem treinados, condôminos conscientes e que respeitem as regras”.

O consultor Waldir Samora completa e diz sentir falta de uma “cultura de segurança”, que ele define como atitudes compartilhadas por um grupo para evitar riscos.

Críticas ao possível viés discriminatório do reconhecimento facial

As câmeras de reconhecimento facial também são motivo de polêmicas. O uso em escolas, postos de saúde e parques para identificar foragidos da Justiça, iniciativa da Prefeitura de São Paulo, foi criticada por entidades defensoras de direitos humanos que apontam a possibilidade de viés discriminatório e de falsos positivos, principalmente contra pessoas negras. Além disso, especialistas em proteção de dados colocam em dúvida as garantias de proteção das informações dos cidadãos.

A utilização em ambientes privados, inclusive com a coleta dos dados dos visitantes é permitida, desde que esteja em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados, como explica o professor e advogado Luiz Augusto D’Urso. Por outro lado, o professor de Direito Digital no MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV) alerta que o viés preconceituoso também pode acontecer na esfera privada.

Essa é a mesma visão de Rafael Daoud. “Da mesma maneira que a tecnologia vem para ajudar, ela também pode segregar. É preciso uma regulamentação urgente para definir os limites do uso da tecnologia”.

Portarias virtuais estão entre outras inovações

O uso da inteligência artificial está na esteira de inovações para proteger os condomínios. Nas portarias remotas ou virtuais, um profissional especializado faz o controle de entrada e saída a partir de uma central e de forma automatizada. Não há a figura do porteiro no condomínio. O contato e checagem de informações se dá por áudio e vídeo.

O objetivo é evitar que prestadores de serviço ou moradores sejam abordados fisicamente e obrigados a liberar a entrada de pessoas não autorizadas. “A principal vantagem desse sistema é acionar as forças de segurança pública sem interferências e com maior rapidez”, explica o coronel Clodomir Ramos Marcondes, diretor executivo do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo (SESVESP).

As novas tecnologias convivem com práticas já consolidadas, como a troca de informações entre os porteiros com radiocomunicadores e grupos de Whatsapp gerenciados pelos moradores. Na região do Itaim Bibi, pelo menos 40 empreendimentos trocam informações dessa forma. A cooperação foi necessária por causa das tentativas diárias de invasão na região, como conta um zelador que atua desde 2013 e que prefere não se identificar.

Banner do portal Sindiconet alerta para principais disfarces nas tentativas de invasões Foto: Sindiconet

O Sindiconet, portal voltado para síndicos, administradores e moradores de condomínio, como o próprio nome indica, também usa o compartilhamento de mensagens virtuais para conscientizar e prevenir problemas relacionados à segurança. Em uma das mensagens, o portal lista os disfarces mais comuns usados em assaltos a condomínios.

“Pelo uso de imagens e textos curtos, cartazes e banners de whatsapp são um jeito muito prático e eficiente para os síndicos instruírem e alertarem porteiros e moradores para essa questão”, diz Julio Paim, fundador do SíndicoNet.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que forças policiais monitoram continuamente os índices criminais para planejar ações estratégicas a fim de coibir os crimes, em especial os contra o patrimônio. “A Polícia Militar intensificou o policiamento na região e realizou diversas operações, como a Operação Impacto, para combater os roubos e furtos.”

Em relação ao caso citado, a pasta informou que o crime é investigado pelo 15.º Distrito Policial (Itaim Bibi). “A equipe da unidade realiza diligências, analisa imagens e efetua pesquisas nos sistemas policiais de inteligência a fim de identificar e prender os envolvidos, bem como recuperar os objetos subtraídos. Mais detalhes serão preservados para garantir autonomia ao trabalho policial.”

De janeiro a julho deste ano, na zona oeste de São Paulo, 3.148 infratores foram presos/apreendidos, sendo 22,3% a mais do que no mesmo período do ano passado, de acordo com a secretaria. Além disso, 388 armas de fogo foram retiradas das mãos dos criminosos.

Para se proteger de arrastões, condomínios de alto padrão em São Paulo têm usado a inteligência artificial (IA) para analisar as câmeras de monitoramento e identificar potenciais riscos à segurança, como aglomerações de pessoas e movimentações em locais proibidos.

As imagens de vídeo são “vistas” pela IA que faz comparações com o que ela “aprendeu” como normal por meio das configurações. Com isso, ela identifica situações suspeitas ou fora do padrão. Esse tipo de vigilância é possível graças à capacidade de aprendizagem contínua dos programas.

Hoje, eles auxiliam principalmente nos controles de acesso e segurança. Uma câmera da rampa de acesso de veículos pode disparar o alarme se identificar um pedestre no local, que pode ser uma tentativa de invasão. Da mesma forma, o sistema pode ser “ensinado” a alertar as equipes de segurança em caso de aglomerações, o que pode ser um arrastão. Sempre é necessária a análise do agente de segurança.

Porteiro usa radiocomunicador para falar com outros prédios; segurança tem sido reforçada em condomínios de luxo Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

As vantagens são a agilidade na identificação do risco, a redução da possibilidade de falha humana e o rápido acionamento das equipes de segurança, enumera Rafael Daoud, diretor do Sindicato das Empresas de Segurança Eletrônica de São Paulo (Siese) e CEO do Grupo Alarmwolx.

A AI complementa o trabalho dos agentes de segurança e porteiros, captando detalhes que fogem ao olho humano, como uma pessoa armada num grupo. A inovação muda até a maneira de analisar os acontecimentos, como explica Átila Cordova, CEO do Grupo Magav, consultoria de segurança patrimonial e organizacional.

“O trabalho se torna mais preventivo que olhar as câmeras no passado, depois que aconteceu, como é o caso na maioria das vezes”, diz.

A expansão da IA nos conjuntos residenciais já é uma realidade por causa dos investimentos dos condomínios em segurança, prioridade em todas as regiões, como avalia José Roberto Graiche Júnior, presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios (AABIC). “A soma de ações e de inteligências, humana e artificial, permite aprimorar a proteção das pessoas”.

Sala de monitoramento de empresa de segurança de condomínios; sistema de inteligência artificial reconhece situações e comportamentos fora do habitual e emite um alerta na tela Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A preocupação de zeladores, síndicos e líderes comunitários é evitar o que aconteceu no condomínio do Jardim Paulistano, zona sul, no último final de semana com a invasão de pelo menos 17 homens. Os moradores de duas casas chegaram a ser amarrados e presos na sala do zelador. Os ladrões teriam levado R$ 3 milhões em joias.

De acordo com a polícia, eles estavam bem armados, inclusive com fuzis. Vizinhos relatam que os ladrões entraram em um imóvel vizinho, que será demolido, e que possui uma parte mais baixa do muro e não tem cerca elétrica.

Nem sempre os roubos são feitos por quadrilhas armadas e que planejaram a ação com antecedência. Em um conjunto residencial na Avenida República do Líbano, investigadores do 15º DP prenderam em flagrante um ladrão que chegou de bicicleta, pulou o muro e tentou abrir os carros do condomínio de Pinheiros no dia 21 de julho. O boletim de ocorrência classificou o roubo como “amador”.

Apenas nos bairros de Pinheiros, Itaim Bibi e Butantã, bairros nobres da cidade, foram 13 ocorrências de roubos residenciais desde 1º de junho. A Secretaria de Segurança Pública não divulgou os dados do ano todo.

Embora o número seja semelhante ao do ano passado, no mesmo período, a violência dos bandidos assusta, como no episódio do início de agosto no Alto de Pinheiros, na zona oeste. Um casal, de 79 e 80 anos, e a neta deles, que não teve a idade informada, foram amarrados por ladrões que invadiram a casa onde moram. Foram levados cerca de R$ 20 mil, joias, relógios, celulares, um notebook, além de duas pistolas registradas no nome do idoso.

De acordo com boletim de ocorrência, o homem, a esposa e a neta dormiam quando foram surpreendidos por três assaltantes armados. No 15.º DP, onde esse caso e o do Jardim Paulistano foram registrados, o total de roubos saltou de 998 no primeiro semestre do ano passado para 1.301 neste ano.

Os condomínios são alvos relativamente fáceis para os bandidos. Essa é a visão de Diógenes Lucca, tenente-coronel da reserva da PM de São Paulo e um dos fundadores do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE). “Isso contraria o senso comum que imagina os condomínios como lugares seguros. Falta sensibilidade das pessoas para a questão da segurança nos condomínios. Para ser mais seguro que uma casa, é preciso profissionais bem treinados, condôminos conscientes e que respeitem as regras”.

O consultor Waldir Samora completa e diz sentir falta de uma “cultura de segurança”, que ele define como atitudes compartilhadas por um grupo para evitar riscos.

Críticas ao possível viés discriminatório do reconhecimento facial

As câmeras de reconhecimento facial também são motivo de polêmicas. O uso em escolas, postos de saúde e parques para identificar foragidos da Justiça, iniciativa da Prefeitura de São Paulo, foi criticada por entidades defensoras de direitos humanos que apontam a possibilidade de viés discriminatório e de falsos positivos, principalmente contra pessoas negras. Além disso, especialistas em proteção de dados colocam em dúvida as garantias de proteção das informações dos cidadãos.

A utilização em ambientes privados, inclusive com a coleta dos dados dos visitantes é permitida, desde que esteja em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados, como explica o professor e advogado Luiz Augusto D’Urso. Por outro lado, o professor de Direito Digital no MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV) alerta que o viés preconceituoso também pode acontecer na esfera privada.

Essa é a mesma visão de Rafael Daoud. “Da mesma maneira que a tecnologia vem para ajudar, ela também pode segregar. É preciso uma regulamentação urgente para definir os limites do uso da tecnologia”.

Portarias virtuais estão entre outras inovações

O uso da inteligência artificial está na esteira de inovações para proteger os condomínios. Nas portarias remotas ou virtuais, um profissional especializado faz o controle de entrada e saída a partir de uma central e de forma automatizada. Não há a figura do porteiro no condomínio. O contato e checagem de informações se dá por áudio e vídeo.

O objetivo é evitar que prestadores de serviço ou moradores sejam abordados fisicamente e obrigados a liberar a entrada de pessoas não autorizadas. “A principal vantagem desse sistema é acionar as forças de segurança pública sem interferências e com maior rapidez”, explica o coronel Clodomir Ramos Marcondes, diretor executivo do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo (SESVESP).

As novas tecnologias convivem com práticas já consolidadas, como a troca de informações entre os porteiros com radiocomunicadores e grupos de Whatsapp gerenciados pelos moradores. Na região do Itaim Bibi, pelo menos 40 empreendimentos trocam informações dessa forma. A cooperação foi necessária por causa das tentativas diárias de invasão na região, como conta um zelador que atua desde 2013 e que prefere não se identificar.

Banner do portal Sindiconet alerta para principais disfarces nas tentativas de invasões Foto: Sindiconet

O Sindiconet, portal voltado para síndicos, administradores e moradores de condomínio, como o próprio nome indica, também usa o compartilhamento de mensagens virtuais para conscientizar e prevenir problemas relacionados à segurança. Em uma das mensagens, o portal lista os disfarces mais comuns usados em assaltos a condomínios.

“Pelo uso de imagens e textos curtos, cartazes e banners de whatsapp são um jeito muito prático e eficiente para os síndicos instruírem e alertarem porteiros e moradores para essa questão”, diz Julio Paim, fundador do SíndicoNet.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que forças policiais monitoram continuamente os índices criminais para planejar ações estratégicas a fim de coibir os crimes, em especial os contra o patrimônio. “A Polícia Militar intensificou o policiamento na região e realizou diversas operações, como a Operação Impacto, para combater os roubos e furtos.”

Em relação ao caso citado, a pasta informou que o crime é investigado pelo 15.º Distrito Policial (Itaim Bibi). “A equipe da unidade realiza diligências, analisa imagens e efetua pesquisas nos sistemas policiais de inteligência a fim de identificar e prender os envolvidos, bem como recuperar os objetos subtraídos. Mais detalhes serão preservados para garantir autonomia ao trabalho policial.”

De janeiro a julho deste ano, na zona oeste de São Paulo, 3.148 infratores foram presos/apreendidos, sendo 22,3% a mais do que no mesmo período do ano passado, de acordo com a secretaria. Além disso, 388 armas de fogo foram retiradas das mãos dos criminosos.

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