A Avenida Paulista comemora 130 anos nesta quarta-feira em uma nova fase. Construída sobre um espigão em um dos pontos mais altos da cidade para servir à elite da época, ela foi inaugurada em 8 de dezembro de 1891 e logo foi se tornando o principal símbolo da cidade. Foi a primeira via com asfalto, a primeira a receber um corso carnavalesco e agora pode ser também pioneira na sustentabilidade. Ou seja, pretende deixar o cinza para trás, tornar-se mais verde e continuar colorida.
Os projetos envolvem iniciativa privada, poder público, sociedade civil e entidades. Um de seus eixos principais é criar metas de redução de emissão de carbono na avenida, que tem circulação intensa de veículos. O programa Avenida Paulista Sustentável, liderado pela Associação Paulista Viva (APV), pretende atuar em cinco grandes vertentes: eficiência energética, uso racional de água, destino final do lixo, combate à poluição do ar e educação ambiental.
No dia 8, data em que se comemora a inauguração, haverá um ato às 11h entre a Alameda Campinas e a Rua Pamplona para iniciar o programa de revitalização da Paulista, começando por este quarteirão. Essa revitalização, que deve se estender por toda a avenida, pretende criar um Distrito Sustentável Local, segundo uma ideia gerada a partir do Fórum de Sustentabilidade “Caminhos para a Transformação das Cidades”, promovido pela APV em julho deste ano.
“Vamos fazer a recuperação do paisagismo dos canteiros, consertar calçadas, repor o piso tátil, arrumar os gradis que fazem a contenção das pessoas e instalar nas bancas de jornal fotos gigantes em preto e branco da Paulista antiga. Também vamos instalar lixeiras para coleta reciclável e de orgânicos com o perfil do Masp e bituqueiras”, explica Lívio Giosa, presidente da APV, que encabeça o projeto.
Mais verde
O esforço rumo à sustentabilidade na avenida tem ganhado força nos últimos anos. O centro cultural Japan House, por exemplo, foi inaugurado em 2017 e conquistou três anos depois a Certificação LEED na categoria Platinum, concedida a edificações sustentáveis pela ONG americana U.S. Green Building Council (USGBC).
“A questão da sustentabilidade sempre foi uma preocupação constante para nós, considerando inclusive a postura do Japão nesse quesito. Sendo assim, ao longo do tempo, estudamos possibilidades e novas práticas visando à implementação de melhorias em nossos processos, com a finalidade de tornarmos a sustentabilidade algo mais possível na rotina da instituição”, explica Claudio Kurita, diretor de operações da Japan House São Paulo.
Em sua construção, o centro cultural utilizou metais hidrossanitários de tecnologia japonesa, com torneiras de lavatório com vazão de 1,9 litro por minuto e bacias sanitárias com vazão de 3 e 4,8 litros por acionamento. Essas bacias, se comparadas ao modelo convencional de 6 litros por acionamento, representam uma redução de 35% no consumo de água.
A iluminação é composta por luminárias de alta eficiência com lâmpadas LED dimerizáveis e há sensores de presença nos banheiros, que garantem acionamento e desligamento de luminárias e exaustores. “Acreditamos que uma menor agressão ao meio ambiente com algumas implementações em nosso prédio é, com certeza, uma relevante contribuição”, completa Kurita.
É de uma associação liderada pelo mesmo grupo do megacomplexo Cidade Matarazzo outra proposta que deve mudar a cara da Paulista. A ideia, apresentada à Prefeitura, é construir um bulevar para a região, além de intervenções urbanas para reduzir a velocidade dos carros, criando setores de “traffic calming” (áreas com redução de velocidade de veículos).
Também é previsto um Mercado de Produtos Orgânicos com 35 quiosques, o plantio de 400 árvores nativas e a instalação de bancos, mesas e cadeiras para tornar a área mais amigável para pedestres. O projeto passa por audiências públicas e ainda depende de aval do Município. O Cidade Matarazzo, em obras, será um polo de moda, gastronomia, hotelaria, negócios e cultura.
Acessibilidade
A arquiteta e urbanista Débora Machado, que estudou a Paulista no doutorado, diz que a avenida é a mais emblemática da capital por várias razões, mas a principal é a acessibilidade. “Está no centro expandido de São Paulo, com três estações de metrô que permitem acesso das pessoas de diversos locais da cidade”, afirma. A recente ocupação pelos ciclistas e o fechamento para veículos aos domingos são outros marcos da ocupação a pé do espaço.
A crescente incorporação de alternativas para automóveis é outra tendência mais sustentável para uma via muito lembrada pelos congestionamentos. “Já é muito positivo para uma sociedade tão dependente de carros como a nossa. O futuro da via está diretamente relacionado à cidade mais compacta com comércios, serviços e moradias aproximadas, com práticas de mobilidade mais respeitosas e um solo mais permeável, com áreas livres e verdes”, acrescenta.