Um sensor capaz de detectar restos de antibióticos que vão parar nos esgotos e contaminam as águas. O dispositivo foi desenvolvido em pesquisa da química brasileira Rafaela Lamarca, durante doutorado na Université Laval, em Quebec, no Canadá, num convênio com a universidade paulista Unesp.
A tecnologia foi usada para avaliar amostras de esgoto contaminado por substâncias químicas de remédios com uma precisão de 97% nas análises. O sistema usa um eletrodo de carbono impresso que contém um anticorpo imobilizado para, em contato com substância de um antibiótico, gerar um sinal elétrico apontando a presença dos restos do medicamentos na água ou no esgoto.
"A técnica que nós usamos na pesquisa foi a espectroscopia de impedância eletroquímica", conta a doutoranda de pós-graduação de Química, que desenvolveu o dispositivo em laboratório, já testado na universidade canadense, durante um ano de pesquisa. A química brasileira, que já retornou ao Brasil, explica que restos de medicamentos usados no tratamento de doenças como bronquite, sinusites e pneumonias terminam indo parar nas águas porque o organismo humano elimina 72% da droga por fezes e urina.
Ela argumenta ainda que atualmente as estações de tratamento de água e também as de esgotos não conseguem detectar e remover resíduos da classe de remédios estudada na pesquisa. "No Brasil, hoje, diferentemente de outros países, não temos uma regulamentação para o monitoramento desse contaminante e as estações não foram preparadas para esse procedimento", esclarece a pesquisadora. "Elas conseguem fazer a purificação da água, mas não conseguem remover totalmente esses contaminantes" diz a química.
Rafaela lembra que estudos já mostram que alguns hormônios, de anticoncepcionais, por exemplo, quando presentes nas águas, podem provocar mutação em animais, como alguns peixes. Ela destaca que um dos principais pontos do dispositivo é o baixo custo.
"Em torno de R$ 12 reais", avalia a pesquisadora. Hoje o dispositivo poderia ser usado somente em estações de tratamento, porque exige equipamento especial para a análise, mas a ideia, segundo ela, é que o sistema, com o tempo, possa ter o custo reduzido para ser usado pela população em casa. "Para as pessoas poderem detectar se a água que está sendo consumida tem ou não esses contaminantes", afirma.
Segundo informações do Instituto de Química da Unesp em Araraquara, a pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) com participação de cientistas do IQ e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).