O aposentado Enio Delefrate, de 69 anos, mudou para São Paulo em 1967, mas a cada dois meses volta a Buritizal, sua terra natal, a 451 km da capital, para cuidar de uma propriedade rural e rever amigos e parentes. "O bom é que toda vez encontro tudo certinho em seu lugar", diz. A cidade de 4.055 habitantes, no extremo norte do Estado, foi considerada pelo IBGE a mais organizada urbanisticamente do Estado. De zero a 100, a identificação de logradouros recebeu nota 96,2; a iluminação pública, 99,9; a pavimentação, 99,7; as calçadas, 95; o meio-fio, 100; bueiros e galerias, 94.Basta rodar um pouco pelos 120 quarteirões da área urbana, distribuídos por 24 ruas de um quadrilátero quase perfeito, para descobrir a razão. Não há terrenos vazios na área urbana e as casas são simples, mas aconchegantes - a maioria com um pequeno jardim na frente. Todas as ruas são asfaltadas, arborizadas e as esquinas formam ângulos retos. "Aqui não se põe asfalto sem antes passar a rede de água e esgoto", diz Delefrate. O esgoto coletado nas casas vai para uma estação de tratamento. As guias das calçadas são pintadas e, em pontos certos, rebaixadas para cadeiras de roda. Os principais prédios públicos têm rampas. Na praça central, além do tradicional coreto, há quatro quiosques - já que a prefeitura não permite carrinho de lanche nem ambulante - e um banheiro público bem conservado, embora pudesse estar mais limpo. A igreja de 70 anos contrasta com a câmera de monitoramento e o relógio digital. E todos se conhecem mais pelo apelido que pelo nome. Segundo o chefe de gabinete da prefeitura, Dagoberto Antonio Rogério, a cidade começou com duas ruas e foi crescendo de forma organizada. Hoje não se constrói ali se o lote não tiver água, esgoto, iluminação e asfalto. A maioria dos lotes mede 14 metros por 35. "Não autorizamos desmembramentos abaixo do lote padrão de 300 m²", diz ele, contando que a prefeitura está lançando um residencial com 118 lotes. Município desde 1954, Buritizal tem apenas uma indústria, a Usina Buriti, a maior empregadora da cidade. O estudante Caique Bichuette, de 18 anos, viaja todo dia para fazer faculdade de Veterinária em Ituverava. "A prefeitura lhe dá a condução e um auxílio mensal de R$ 200."Para o agricultor José Stuck, o Zé do Fusca, a cidade já foi mais pacata. "Ano passado tentaram explodir o caixa eletrônico do banco e neste ano teve um morador que matou a mulher por ciúmes", conta.