É como se todos os dias uma banca de jornal despejasse seus exemplares na porta do imponente prédio da Biblioteca Nacional, na Cinelândia, centro do Rio. São 4 mil novos exemplares por mês. Ao longo de 200 anos, a biblioteca recebeu 4, 5 milhões de jornais e revistas. "Já temos 17 quilômetros de prateleiras só com este acervo", diz Mônica Rizzo, diretora do Centro de Referência e Difusão da biblioteca. O maior acervo de periódicos da América Latina vai poder, enfim, respirar. O BNDES liberou R$ 32 milhões para a Fundação Biblioteca Nacional. Desse valor, R$ 17,9 milhões serão usados para adaptar um antigo armazém de grãos na área do Cais do Porto para receber a Hemeroteca Brasileira. A verba é um pedido antigo. "Há pelo menos dois anos estamos nessa negociação. Agora vamos poder ficar tranquilos durante um bom tempo. Teremos espaço para uma coleção três vezes maior do que a atual ", suspira Mônica. O acervo não para de crescer. Por força da lei de depósito legal, qualquer publicação no Brasil tem de doar um exemplar à biblioteca. O que é excelente para a memória nacional, mas trágico para falta de espaço de um prédio que não tem mais para onde crescer.Atualmente a biblioteca tem 9 milhões de itens. A grande maioria está no prédio da Cinelândia, inaugurado em 1910. A falta de espaço obrigou a direção a transferir parte do acervo ao Palácio Gustavo Capanema, também no centro. No armazém do cais do porto também já estão cerca de 1 milhão de jornais.Quando a hemeroteca for inaugurada, haverá mais espaço para guardar livros no prédio da Cinelândia. "A cada ano, recebemos cerca de 100 mil novas peças, entre livros, jornais, partituras, gravuras, mapas, CDs e DVDs. É fundamental que nos preparemos para continuar abrigando as publicações, inclusive digitais. A biblioteca, há 200 anos, é a guardiã oficial da memória do País", define Galeno Amorim, presidente da Fundação Biblioteca Nacional. O antigo armazém já pertence à biblioteca desde os anos 1980. O que faltava era o dinheiro para obra. Até agora, só foi reformado um andar, o terceiro. O espaço foi dividido em seis unidades estanques. "Se acontecer uma infelicidade e começar a pegar fogo em uma unidade, o incêndio fica restrito a esse espaço. Não se propaga. A mesma coisa com uma possível infestação de cupim. Ela não se espalhará para o resto do acervo", diz Mônica. As obras vão durar 30 meses. O acervo é precioso. Estão lá o primeiro exemplar do Correio Braziliense, de 1808, que era impresso em Londres. Ainda faz parte da hemeroteca a coleção da Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal impresso em terras brasileiras, que se transformou no atual Diário Oficial da União. "Temos também as edições do Diário de Pernambuco, desde 1825, a mais antiga publicação corrente em língua portuguesa no mundo. Temos a Revista da Semana, de 1900, O Tico-Tico, O Malho, a revista O Cruzeiro. Isso sem contar os jornais da imprensa alternativa, perseguidos durante a ditadura militar, jornais regionais de todo o Brasil e jornais literários", diz Amorim. Pesquisa. Tudo isso está aberto ao público para pesquisa. Boa parte do acervo já está microfilmado. "Temos 40 leitoras de microfilme e dez mesas para atender o público. Mesmo assim, há dias em que não conseguimos atender todo mundo." Exemplares mais antigos só podem ser pesquisados em microfilmes. "Cada vez que um exemplar centenário é manuseado, ele solta pedaços. Temos de preservar o máximo possível", explica Mônica. Aos poucos estão sendo digitalizados todos os exemplares para que fiquem disponíveis na internet (http://www.bn.br/portal/).