Sábado quente de feriado. Bem em frente à Praça Victor Civita, um casal com uma menina de uns oito anos me pergunta: -- "moço, onde está aquela praça que tinha por aqui?".
A pergunta faz sentido. As grades fechadas dão a impressão de que a praça está fechada, ou abandonada ou que nem existe. Mas há uma portinha no canto. Lá dentro, quase ninguém. Duas pessoas parecem estar morando nos bancos de madeira, há lixo no chão, tábuas soltas e um forte cheiro de xixi por toda parte.
Há menos de cinco anos, a praça havia sido inaugurada com pompa, num projeto premiado e caro, que promovia a recuperação de uma área degradada, a partir de uma PPP entre a Prefeitura e a Abril. Durante algum tempo, o espaço foi cuidado pela empresa, que ainda oferecia atividades e vivia cheio. De um tempo para cá, a Abril devolveu a praça à prefeitura. A manutenção piorou, o museu parece estar permanentemente fechado e o movimento caiu.
Num terreno quase em frente à praça, as casinhas que existiam já foram demolidas e se anuncia um novo empreendimento, um prédio enorme, com "lazer completo". Na esteira dos grandes lançamentos próximos a estações de metrô, o novo edifício é um exemplo do assunto da conversa de hoje na Folha, entre a secretária de urbanismo Heloisa Proença e o ex-secretário Fernando de Mello Franco.
O debate, aparentemente, é sobre a altura de prédios no miolo de quadras, mas na verdade é sobre urbanidade. Os prédios mais altos, mais baratos para os construtores, são parte do problema. A questão é que todos, altos e baixos, parecem ignorar as vantagens para uso misto e fachada ativa. E viram as costas para a rua.
O novo prédio da rua Sumidouro, quase em frente à praça Victor Civita terá 28 andares. Pela ilustração e pela maquete, percebe-se que não vai "conversar" muito com a cidade: ao contrário, seus 4 mil metros quadrados de terreno estarão bem protegidos da rua por muros altos. Mesmo em outros lançamentos mais modestos, a ligação com a cidade também não acontece, tal qual esse outro folheto que recebi hoje, de um lançamento na Pompéia. Com duas torres ou uma, altos ou baixos, o efeito é o mesmo.
É o modo preferido das construtoras: um terreno grande, com uma torre bem alta no meio, com um muro bem alto em volta. É o modo como a cidade tem sido adensada.
A questão é que esses prédios, esse modelo, esses muros todos, não estabelecem relações com a cidade, com a rua e com o parque em frente.
Uma das contradições no crescimento de São Paulo parece estar contida exatamente nesse ponto da cidade, na rua Sumidouro. De um lado, o prédio que não quer a rua. De outro, o parque que se ressente da falta de vida que apenas os novos moradores poderão trazer. Mais adiante, a Prefeitura Regional, que vai ter que arranjar recursos para manter o parque funcionando.
O resultado nós vamos ver nos próximos anos. Teremos uma praça viva ou apenas umas árvores que servirão de cenário para o churrasco na varanda gourmet?