SÃO PAULO - A cidade de São Paulo pode ganhar um sistema público de compartilhamento de bicicletas, à maneira do que existe em outras metrópoles, entre as quais Barcelona, na Espanha. O secretário municipal dos Transportes, Jilmar Tatto, disse nesta sexta-feira, 20, que a Prefeitura planeja enviar à Câmara Municipal um projeto de lei autorizando a concessão desse serviço à iniciativa privada. Segundo o dirigente, ao menos 50 mil magrelas deverão ser oferecidas à população, que só precisaria do Bilhete Único para utilizá-las.
Hoje em dia, a capital paulista conta com redes particulares de aluguel de bicicletas como o Bike Sampa, gerenciada pelo Itaú, Samba e Serttel, com cerca de 1,5 mil equipamentos, e o CicloSampa, da Bradesco Seguros, com 129. No futuro modelo, as diretrizes para a instalação dos equipamentos e a distribuição dos pontos de estacionamento das bicicletas passará a ser premissa do próprio poder público. A intenção é espalhar o serviço por toda a cidade, e não apenas em áreas centrais, como nos dois sistemas em operação.
Outro diferencial é que o serviço deverá ser debitado do próprio Bilhete Único. No Bike Sampa, o cartão de transportes pode até ser usado em parte das estações, mas precisa estar vinculado a um número de cartão de crédito, por meio de um cadastro prévio feito no site da rede. Por meio da concessão, a ideia é que a oferta de magrelas se torne complementar à ampliação da malha cicloviária na capital paulista, prevista para ultrapassar 400 km até o final de 2015.
Tatto acredita que o projeto, ainda em gestação na Secretaria Municipal dos Transportes, seja encaminhado ao Legislativo no segundo semestre deste ano. A iniciativa, segundo ele, é do próprio prefeito Fernando Haddad (PT). Outras pastas, como a de Desenvolvimento Urbano e a do Verde e do Meio Ambiente, ainda precisam avaliar a questão. Depois, o material segue para a Secretaria Municipal de Governo, de onde será despachado para os vereadores.
“Fizemos um levantamento que a necessidade de você atender a cidade toda precisaria de pelo menos 50 mil bicicletas”, afirmou Tatto. Ele não soube informar, no entanto, se a concessão iria concorrer com os serviços atuais de empréstimo de bikes. “Eventualmente, esse tipo de credenciamento precário (do Bike Sampa e do CicloSampa) deixaria de existir. Agora, nada impede o Itaú de fazer parte da concessão, ou o Bradesco, o Safra... vários bancos. É uma concorrência saudável.”
Repercussão. O diretor de participação da ONG Ciclocidade, Daniel Guth, defende que os atuais modelos do Itaú e da Bradesco Seguros são “equivocados”. “Porque hoje é um termo de cooperação via Lei Cidade Limpa. O que deve ser feito é, em primeiro lugar, integrar o sistema ao plano de mobilidade da cidade. Também tem de ter um instrumento que garanta as diretrizes públicas e não as de interesse da marca. Entendo que uma licitação para um modelo unificado e integrado ao Bilhete Único seja o ideal.”
A arquiteta e cicloativista Renata Falzoni classificou a ideia de “excelente”. “Se você soma essa intenção de facilitar o acesso da população ao uso da bicicleta sem o ônus de ter de ficar cuidando dela a uma estrutura cicloviária aumenta muito as viagens de curta distância feitas fora do carro.” Para ela, o poder público precisa justamente estimular que esses pequenos deslocamentos feitos de carro - para ir comprar pão na padaria, ou levar o filho na escola, por exemplo - passem para a bicicleta. “Em São Paulo, só 0,5% das viagens são feitas de bicicleta, contra 7% em Londres e quase 40% em Copenhagen. Para dar o salto, tem de ter uma estrutura segregada de ciclovias e a Prefeitura começou a focar nisso.”
O secretário Jilmar Tatto atacou as gestões anteriores, que investiram relativamente pouco na construção de ciclovias, fazendo com que a cidade chegasse a 2014 com cerca de 60 km de canaletas só para bikes, ante 750 km em Berlim e 359 km em Bogotá. “O problema na cidade de São Paulo é decisão política. Você teve prefeitos que tiveram medinho de fazer esse tipo de coisa. O prefeito Haddad não está tendo medo de fazer faixas exclusivas nem ciclovias.”