Um veículo que transportava material radioativo foi levado por ladrões na cidade de São Paulo na noite de domingo, 30. O caso foi divulgado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que alertou a população sobre os riscos de contato com o material. Até o início da tarde desta sexta-feira, 5, nada havia sido recuperado.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que o crime ocorreu na Rua Félix Bernardelli, zona leste da capital. “O carro, pertencente a uma empresa de equipamentos médicos, armazenava uma carga de materiais radioativos que foram coletados no RJ e seriam entregues no Paraná e em Santa Catarina”, disse a pasta. “Diligências estão em andamento para recuperar o material e o veículo furtados e identificar o autor do crime.”
O veículo furtado é uma Saveiro de placa RFI873, da empresa Medical Ald. “A referida empresa, que possui Supervisor de Proteção Radiológica em Transporte e Plano de Proteção Radiológica para Transporte aprovado pela CNEN, estava à serviço da R2Pharma - Radiofarmácia Centralizada LTDA”, informou a CNEN.
De acordo com o órgão federal, um boletim de ocorrência foi registrado na segunda-feira, 1º, por um representante da Medical Ald. “Consta que, por imprudência do motorista, que decidiu levar o automóvel para local diverso do pátio seguro onde o veículo deveria ficar abrigado durante à noite, o veículo foi furtado”, destacou a comissão.
Em nota, a Medical informou que a empresa é regulamentada pela CNEN e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “O material que transportamos é de cunho oncológico para diagnóstico e tratamento do câncer. Ao ano transportamos mais de 5.000 radiofármacos para todo o País, com segurança e rastreabilidade”, afirmou a empresa.
O Estadão pediu posicionamento à R2Pharma e aguarda retorno.
Risco radiológico é “muito baixo”, diz diretor do órgão governamental
“O veículo transportava a fonte geradora de radiofármacos rumo as cidades de Curitiba/PR e Blumenau/SC para uso médico. Essa fonte de Germânio/Gálio (68Ge/68Ga) foi fabricada pela empresa Eckert & Ziegler e possui uma atividade corrigida de 29,73mCi, segundo sua última calibração realizada em 11/12/2023″, diz a comissão.
“Segundo o Código de Conduta em Segurança de Fontes Radioativas da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) essa fonte, por sua baixa atividade, se enquadra na categoria 4, representando risco radiológico muito baixo para a população e o meio ambiente”, acrescenta o texto da CNEN, assinado por Alessandro Facure, diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear do órgão.
Mais cedo, a CNEN já havia declarado que material radioativo estava acondicionado em embalagens de chumbo, apontada pelo órgão como “seguras” e que blindam qualquer risco de radiação. “No entanto, a manipulação inadequada pode vir a causar danos à saúde”, destaca a comissão.
No momento em que foram furtados, o veículo e o material radioativo estavam sinalizados com o símbolo internacional de radiação ionizante.
A CNEN também pediu que quem encontrar o material entre em contato e informe a polícia. Os telefones indicados pela CNEN são o (21) 98368-0734 e (21) 98368-0763.
O órgão é responsável por fiscalizar as atividades que envolvam a exploração do mineral radioativo no País. A comissão mantém atividades de pesquisa ligadas a diversos setores, como geração de energia, medicina nuclear e aplicação na indústria.
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Césio em Goiânia deixou 4 mortos em 1987
Em 13 de setembro de 1987, o manuseio indevido de um aparelho de radioterapia abandonado, onde funcionava o Instituto Goiano de Radioterapia, gerou um acidente que envolveu direta e indiretamente centenas de pessoas. Quatro morreram, e o acidente radiológico é considerado um dos maiores do mundo até hoje.
O caso aconteceu quando os catadores de lixo Roberto dos Santos e Wagner Mota encontraram uma cápsula com césio 137, que fazia parte do aparelho. No ferro-velho, os funcionários se encantaram com o pó de brilho intenso.
Parentes e amigos passaram a visitar o local para ver a descoberta. Além dos quatro mortos, quem teve contato direto com a substância adoeceu.
Como a meia-vida física do césio é de cerca de 33 anos, diversos locais, especificamente naqueles onde houve manipulação do material e para onde foram levadas as várias partes do aparelho de radioterapia, ficaram contaminados por décadas. Centenas de pessoas ainda são monitoradas pelo Centro de Assistência aos Radioacidentados (Cara), da Secretaria de Saúde de Goiás.