Os golpes são uma preocupação real para quem vai às ruas no carnaval deste ano. Repaginado e adaptado às novas tecnologias, esse tipo de crime pode multiplicar o prejuízo das vítimas em poucos minutos após um roubo de celular ou de cartão. A empolgação com a festa de rua, nesse caso, logo se transforma em dor de cabeça para os foliões.
Há dois grupos de golpes apontados como possivelmente os mais frequentes no carnaval 2023: os que envolvem irregularidades no pagamento com cartão, como cobrança de valores indevidos, e os relacionados a desvios pelo Pix, lançado no fim de 2020 pelo Banco Central – é o primeiro carnaval de grande porte com presença da ferramenta.
Diante disso, o Estadão listou dicas sobre como os foliões podem se proteger desse tipo de crime. Elas abordam, primeiramente, estratégias para evitar cair em golpes relacionados a maquininhas de cartão e, mais à frente, boas práticas para não deixar o celular exposto após roubos e furtos. Confira:
Priorize pagamento em dinheiro
Com uma ampla variedade de golpes usando cartões, uma dica inicial é que foliões priorizem pagamentos com dinheiro em espécie. A prática evita clonagens e golpes por meio de pagamentos por aproximação, por exemplo. Em um eventual roubo, o prejuízo pode ser considerável se a vítima estiver andando com muitas notas, mas ainda assim o impacto normalmente acaba sendo menor do que possíveis transferências bancárias.
Evite sair com cartões por aproximação
Se for inevitável levar um cartão, os cartões de pagamento por aproximação devem ser evitados. Isso é o que diz Gustavo Barreto, mentor do Programa Cidadão Digital, da Safernet. “No meio da multidão, os golpistas podem se aproveitar para roubar o dinheiro através da aproximação sem a pessoa saber”, explica. Ao mesmo tempo, também é importante evitar sair em blocos com as alternativas de pagamento por aproximação para celular, como Samsung Pay, Google Pay ou Apple Pay.
Leve no máximo um cartão, e com limite baixo
Em contrapartida, Barreto reconhece que os cartões sem aproximação (que requerem inserção para fazer o pagamento) têm mais brechas para clonagem. A orientação dele, diante disso, é também evitar sair com itens deste tipo – priorizando sempre o dinheiro. Se não houver alternativa, a dica é levar apenas um ir ao bloco e, preferencialmente, com limite baixo para transferências.
Não realize a leitura de QR Code sem saber do que se trata
Conforme Barreto, é importante evitar a leitura de QR Code sem saber do que se trata. “É uma espécie de código de barras, que pode encaminhar o usuário para sites desconhecidos e maliciosos”, disse ele. “É importante só fazer o acesso naquele tipo de código que você conhece para onde vai ser destinado.”
Em paralelo, é importante não clicar em links suspeitos, o que pode resultar em golpes à distância. Segundo o delegado Luiz Alberto Guerra, titular da 2ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG) do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), a maioria “esmagadora” das invasões a contas bancárias é por meio de phishing, técnica que consiste no envio de armadilhas – normalmente links maliciosos – aos alvos.
Adesive o cartão para diferenciá-lo
Para diferenciar o cartão, organizadores de bloco e foliões ouvidos pelo Estadão aconselharam também o adesivamento do cartão. Isso torna a identificação do item mais rápida e evita que ele seja trocado após compras com golpistas. Os adesivos usados por moradores de São Paulo são variados: vão desde corações a marcas genéricas de cores chamativas, como verde-neon.
Não perca o cartão de vista durante os pagamentos
Também é recomendado, durante os pagamentos, não perder o cartão de vista ou entregá-lo na mão do vendedor. Isso evita que o item seja trocado enquanto a vítima é distraída. “É importante que as pessoas prestem atenção na operação, em todas as fases dela”, afirma Raquel Saraiva, presidente do Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife (IP.rec). “Os golpes podem aparecer em diversos momentos dessa operação.”
Evite comprar com vendedores não credenciados
Outra dica é evitar comprar com vendedores ambulantes não credenciados e com carrinhos ou coolers pequenos. Normalmente golpistas têm esse perfil, o que os permite se deslocar rapidamente após a aplicação de golpes. O engenheiro Gustavo Garcia, de 26 anos, sofreu golpe de um criminoso com esse perfil no carnaval do ano passado. Ele teve um prejuízo de R$ 9 mil.
Não insira o cartão em maquininha com visor quebrado
O golpe da maquininha com visor quebrado consiste em cobrar um valor muito acima da vítima em potencial. Como não é possível conferir o valor na maquininha, isso pode não gerar suspeitas em um primeiro momento. A dica principal é jamais inserir cartões em máquinas com esse perfil. Nesta semana, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) preparou um material com dicas de segurança para o carnaval e incluiu o seguinte ponto: “Sempre verifique o valor digitado na maquininha e peça o comprovante impresso.”
Desconfie de supostas falhas na máquina de cartão
Uma outra dica dada pela Febraban é, se o vendedor informar que precisa passar o cartão novamente, desconfiar. “Verifique o valor e se houve alguma cobrança diferente pelo aplicativo do seu banco”, disse a entidade na lista de dicas.
Recentemente, a consultoria Kaspersky identificou um novo tipo de golpe, em que criminosos enviam links maliciosos para comerciantes e instalam um vírus nas maquininhas que gera erro em pagamentos por aproximação. Após terem a primeira tentativa negada, as vítimas inserem o cartão no aparelho para tentar efetuar o pagamento novamente e têm altas quantias desviadas para os criminosos.
Não deixe que outras pessoas o vejam digitando senhas
A visualização da senha do seu cartão por terceiros pode fazer com que você se torne um alvo de roubo para desvios posteriores. Pode parecer simples, mas a prática de memorizar os dígitos está por trás de muitos golpes do cartão trocado, por exemplo. “Ao digitar sua senha, garanta que não esteja visível para quaisquer pessoas ao seu redor”, orientou a Febraban.
Avalie levar um celular mais velho ao sair
Como já mostrou o Estadão no ano passado, diante da alta de roubos e também de desvios pelo Pix, moradores de São Paulo passaram a adotar celulares mais velhos ao sair em locais de maior risco. Isso tira um pouco do conforto de andar com o celular principal, mas elimina alguns riscos de golpe, além do próprio prejuízo que a pessoa teria com o roubo do aparelho no carnaval.
Desinstale aplicativos de banco
Em casos em que não é possível levar um celular mais velho ou mesmo ir sem um aparelho, a orientação é apagar os apps bancários. É principalmente por meio deles que criminosos multiplicam os lucros após os roubos. “Para evitar maiores prejuízos se o celular for roubado, o ideal é desinstalar aplicativos de banco do celular antes de sair”, afirmou Raquel Saraiva.
Não faça pagamentos pelo Pix no meio da multidão
Outra dica é evitar fazer pagamentos por Pix, sobretudo no meio de grandes multidões, Isso porque, se o celular for roubado em condições como essas, com o aplicativo de banco destravado, a realização de desvios bancários pelo criminoso fica muito mais fácil.
Anote o Imei do seu celular
Segundo Raquel, outro ponto importante é o folião ter acesso rápido ao Imei, que é uma espécie de código identificador do celular, para o caso de ser roubado. “A pessoa deve guardar esse código para conseguir bloquear o celular na companhia telefônica, caso ele seja roubado”, afirmou.
Se o usuário não tem o Imei do aparelho registrado, é possível se precaver e obtê-lo discando o comando *#06# no telefone. O número é informado logo em seguida. A recomendação é anotá-lo em um lugar seguro e que possa ser acessado caso o celular seja roubado.
Use autenticação em dois fatores em aplicativos
É importante, paralelamente, aplicar a autenticação de dois fatores em aplicativos com informações sensíveis no celular, especialmente em apps de banco e e-mail. A medida também pode evitar que golpistas acessem fotos pessoais e, a partir delas, tentem aplicar golpes em amigos e familiares.
“A forma mais segura de se fazer a autenticação de dois fatores é através do aplicativo de autenticação”, disse Raquel. Outra alternativa é fazer a verificação por meio de um e-mail que não esteja logado no celular, o que impede que a mensagem de verificação chegue no mesmo aparelho que o bandido tem em mãos.
Coloque senha no chip do aparelho
Outro dica é colocar senha no chip do aparelho, que impede que, ao tentar colocar o chip da vítima em celulares bloqueados, bandidos tenham livre acesso. Quando eles tentarem fazer isso, uma senha de segurança será solicitada, travando a continuidade do golpe.
Use doleira para proteger objetos pessoais
O uso de doleiras e/ou bolsos escondidos pode aumentar a segurança no carnaval. Em lista de recomendações publicadas há alguns dias, a Prefeitura de São Paulo reforçou que os foliões também mantenham bolsas junto ao corpo. A medida evita que os objetos fiquem à mercê de terceiros, especialmente ao passar pela multidão de blocos maiores.
Em paralelo, a Febraban orientou aos foliões que protejam seus cartões e a não os guardarem soltos em bolsos ou bolsas. “Isso pode facilitar o pagamento por aproximação em situações de aglomeração, como em bloquinhos de carnaval”, diz a entidade.
Use uma senha única para o banco e bloqueio de tela
A senha deve ser única para acesso ao banco. “Também use o bloqueio de tela inicial, biometria facial/digital para acessar o celular e os aplicativos. Ative o bloqueio automático de tela”, disse a Febraban. Senão evitar, o bloqueio pode retardar os desvios após os roubos.
Não demore a agir em caso de roubo
Em caso de roubo de celular, é imprescindível bloquear as transações da conta o quanto antes, por meio de contato com o banco, e registrar boletim de ocorrência junto às autoridades policiais. No Estado de São Paulo, é possível registrar ocorrência de forma online para parte dos crimes, como roubo e furto, por meio do site da Secretaria de Segurança Pública. “Em caso de roubo, comunique imediatamente o seu banco e registre um boletim de ocorrência”, disse a Febraban.