Condenado à demolição depois de décadas de abandono, o palacete da Rua Artur Prado, número 376, na Bela Vista, no centro da capital, não é o único imóvel tombado e em risco de ruir na região central de São Paulo. Ao menos três edifícios próximos, dois casarões e um hotel tombados, estão se deteriorando, segundo estudiosos da arquitetura paulistana. Dois deles ficam na Avenida Brigadeiro Luís Antônio e o outro na Rua Condessa de São Joaquim, também na Bela Vista.
Gabriel Rostey, consultor em política urbana e patrimônio, mora próximo do palacete Rua Artur Prado, que também ficou conhecido como “Casarão das Muletas”, devido às escoras, e do qual sua mãe é vizinha. Por isso, acompanhou a situação do prédio. “É uma barbaridade que essa construção tenha se deteriorado e chegado ao ponto de colapsar ao longo de décadas em que o imóvel estava protegido pelo patrimônio municipal”, disse.
O local não serve como residência há anos, e foi tombado como patrimônio histórico em 2002. “Este é um caso sem precedentes. Já houve casos de demolirem as construções antes de saber que seriam tombadas e mesmo após o tombamento. Agora, deixar o imóvel tombado cair sozinho, pelo abandono, isso é inédito”, disse o consultor, que integrou o Conselho de Política Urbana de São Paulo.
Rostey lembrou que, na Alameda Santos, ele mesmo pediu o tombamento de um casarão que seria demolido. “Ele foi tombado, mas a empresa pôde usar o terreno e construiu um prédio integrado ao casarão que está lá, conservado. Neste caso (da Artur Prado), isso poderia ser feito, mas não foi, e teria sido melhor para todos os envolvidos, os proprietários, o município, a vizinhança e o patrimônio.”
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Conforme o pesquisador Douglas Nascimento, diretor do Instituto São Paulo Antiga, o palacete da Rua Artur Prado foi construído em 1913 e serviu de residência para a família Ribeiro da Luz até meados dos anos 1980. Nele residiu o engenheiro Cristiano Ribeiro da Luz e a benemérita Vicentina Ribeiro da Luz, pioneira do serviço social de São Paulo, falecida em 1979. Nascimento encontrou os nomes dos moradores no Livro Vermelho dos Telefones da capital do ano de 1938.
Conforme o pesquisador, o prédio foi construído pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, que também esteve à frente da edificação do Teatro Municipal, do prédio da atual Pinacoteca e do Mercado Municipal. “Pelas formas, acredito que o próprio Ramos de Azevedo projetou o palacete, pois é de uma época em que o arquiteto ainda era muito atuante.”
Ele lembra que, em 2013, já deteriorado, o prédio chegou a ser coberto com uma lona azul, mas as obras esperadas não aconteceram. A lona foi removida em 2017.
A Resolução 22/2022 do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) que tombou o palacete da Artur Prado e dezenas de imóveis da região levou em conta a “importância histórica e urbanística do bairro da Bela Vista na estruturação da cidade de São Paulo, como sendo um dos poucos bairros paulistanos que ainda guardam inalteradas as características originais do seu traçado urbano e parcelamento do solo”. Também levou em conta a existência de elementos estruturadores do ambiente urbano, como ruas, praças, escadarias e largos, com interesse de preservação pelo seu valor cultural, ambiental, afetivo e turístico.
No último dia 13, parte da habitação cedeu. Após o episódio, o local e parte de um prédio ao lado foram interditados, e a Prefeitura passou a estudar a possibilidade de fazer uma reforma ou demolir a construção. Laudo feito por técnicos da Subprefeitura Sé concluiu que deveria ser feita a “demolição imediata do imóvel por risco de colapso”. A liberação da demolição do palacete depende também do aval do Departamento do Patrimônio Histórico do Município, que vai avaliar o laudo enviado pela administração regional. De acordo com a Prefeitura, a Subprefeitura Sé “já iniciou o processo para contratação emergencial” do serviço.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura de São Paulo e com o Conpresp, através da Secretaria da Cultura, e aguarda retorno.