Caso Eloá e Linha Direta: relembre sequestro que teve entrevista de assassino para Sônia Abrão


Episódio de 2008 marca a reestreia de programa que volta a ser transmitido pela TV Globo na noite desta quinta-feira

Por Caio Possati
Atualização:

A TV Globo volta a transmitir nesta quinta-feira, 4, o programa Linha Direta, que fez parte da grade de programação da emissora entre os anos 1990 e 2000. A atração, conhecida por recontar a história de crimes - dos mais históricos aos menos conhecidos -, faz a sua reestreia com o caso da estudante Eloá Cristina Pimentel que, em outubro de 2008, foi sequestrada e morta, aos 15 anos, pelo ex-namorado Lindemberg Alves, de 22, em Santo André, na Grande São Paulo.

Eloá esteve em poder de Lindemberg por cinco dias dentro do próprio apartamento na zona periférica da cidade. O sequestro durou cerca de 100 horas, quase todas acompanhadas e monitoradas de perto pela imprensa. O caso teve refém libertada que voltou ao cárcere; entrevista do sequestrador para apresentadora de TV Sonia Abrão; e até participação de um dirigente do São Paulo nas tratativas para libertar as vítimas.

Lindemberg durante julgamento que o condenou a 98 anos e 10 meses de prisão. Foto: André Lessa/Estadão (fev/2012)
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A história terminou com a morte de Eloá e com a condenação de Lindemberg a 98 anos e 10 meses de prisão. O episódio também revelou uma série de erros técnicos da polícia na condução do caso, sobretudo do Grupo de Ações Táticas da Polícia Militar do Estado de São Paulo (Gate), que estava à frente da missão de libertar as reféns e evitar um fim trágico.

Sequestro dia a dia

  • Segunda-feira, 13 de outubro: O sequestro começou à tarde, quando Eloá estava com mais três amigos, Nayara Rodrigues da Silva, Iago Vilera e Victor Campos, estudando em seu apartamento, em um conjunto habitacional da periferia de Santo André. Nessa época, a adolescente e Lindemberg Alves já não namoravam mais, mas o rapaz, sete anos mais velho que ela, dizia não aceitar o término da relação.
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Ele invadiu o apartamento de Eloá com dois revólveres e fez o grupo de refém. Horas depois, ao perceber a demora do filho em chegar em casa, o pai de um dos garotos bate na porte da casa de Eloá. Foi quando o sequestro foi revelado e denunciado à polícia.

No mesmo dia, já em meio às negociações com policiais do Gate, Lindemberg liberta os dois rapazes, mas mantém Eloá e sua melhor amiga, Nayara, dentro do apartamento.

  • Terça-feira, 14 de outubro: As negociações foram retomadas no dia seguinte. Em dois momentos, Lindemberg chega a disparar contra pessoas que acompanhavam o sequestro in loco. A polícia reagiu e cortou a luz do apartamento. O Gate combinou de só reestabelecer a energia depois que ele libertasse uma das reféns. Momentos depois, Nayara foi liberada.
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Eloá, em momento de aparição, acena para as pessoas que acompanham o sequestro. Foto: ROBSON FERNANDJES/Estadão (14/10/2008)
  • Quarta-feira, 15 de outubro: no 3º dia de sequestro, a produção da RedeTV consegue contato com Lindemberg, e a jornalista e apresentadora Sonia Abrão faz uma entrevista ao vivo, em rede aberta, com o sequestrador.

No diálogo, ela tenta convencê-lo a libertar a adolescente e juntos chegam a arquitetar uma possível rendição. O plano, segundo Lindemberg, era sair junto com Eloá. Ela portaria os dois revólveres sem munição, e ele, atrás dela, estenderia os braços para cima. “Mas não vou dar a data e nem a hora”, disse o rapaz à apresentadora.

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Na época, a conduta de Sônia Abrão foi criticada pela imprensa e por especialistas em segurança. Mesmo assim, em declarações dadas anos após o sequestro, ela disse que não se arrepende do gesto, e que sua formação de jornalista foi importante na condução da conversa.

“Estava apresentando o programa quando o diretor me avisou que o Lindemberg estava na linha. Com minha experiência jornalística, conversei com ele. E falei com a Eloá também. No meio da conversa, ele cortou e desligou. Todo mundo me assistiu, a polícia, a imprensa, o público”, disse Sonia ao portal UOL em 2014.

  • Quinta-feira, 16: Na manhã do 4º dia de sequestro, 16, Nayara volta ao prédio para ajudar a libertar Eloá. Mas acabou entrando no apartamento de novo e ficando, outra vez, em poder de Lindemberg. A polícia foi criticada por permitir que a garota participasse do processo de negociação de um sequestro pelo qual ela já tinha sido libertada.
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Em depoimento, Nayara afirmou que Douglas, irmão de Eloá, foi orientado pelos PMs a subir até o primeiro piso do prédio, enquanto ela deveria ir ao segundo andar, sem se aproximar muito da porta do apartamento. No entanto, quando chegou perto do local - e sem a proteção de agentes de segurança -, a porta foi aberta e Lindemberg ameaçava Eloá com uma arma. Eloá, então, teria dado a mão à amiga, que voltou a ser mantida como refém.

Lindemberg pendura camisa do São Paulo na janela do banheiro do apartamento onde mantinha Eloá sob cárcere. Gesto motivou ida de dirigente são-paulino a Santo André.  Foto: ROBSON FERNANDJES/Estadão (16/10/2008)

Já Lindemberg afirmaria depois que Nayara voltou a pedido da amiga. “Foi a Eloá (quem pediu para a Nayara voltar). Ela falou, assim, que a amizade delas era grande”. A polícia, na época, se defendeu e disse que só havia autorizado a jovem a negociar a partir do primeiro piso do edifício.

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Na tarde de quinta, o então vereador e superintendente de futebol do São Paulo, Marco Aurélio Cunha, se escalou para conversar com Lindemberg. O motivo? O sequestrador pendurou na janela do apartamento uma camisa do clube, indicando ser torcedor do time do Morumbi. Mas a iniciativa do dirigente também não funcionou.

  • Sexta-feira, 17 de outubro: No 5º e último dia de cárcere, as negociações avançam e Lindemberg chega a dizer que se renderia. Mas imagens feitas pela polícia na época mostram o jovem, do outro lado da linha do telefone, conversando com um tom de cansaço e dizendo não ter perspectivas para o próprio futuro. “Não quero mais a Eloá”, disse ele aos policiais.

No entanto, no fim da tarde, agentes do Gate invadem o apartamento sob alegação de ter ouvido tiros dentro do imóvel. Na hora de entrada, o sequestrador dispara e atinge Eloá, na cabeça e na virilha. Os tiros também acertaram o rosto de Nayara. O rapaz fazia ameaças de que mataria as duas reféns caso a polícia entrasse na casa.

As duas adolescentes foram atendidas e internadas em estado grave, enquanto Lindemberg era detido e levado à delegacia pelo Gate. Nayara sobreviveu aos ferimentos, mas Eloá teve a morte cerebral confirmada na noite do dia seguinte, sábado, 18, às 23h30. Mais de 12 mil pessoas acompanharam o velório da jovem, que foi sepultada e enterrada em Santo André, na terça-feira, 21, oito dias depois do início do sequestro.

Cerca de 12 mil pessoas acompanham o velório de Eloá Pimentel, que morreu aos 15 anos depois de ficar cinco dias sequestradas em poder do ex-namorado.  Foto: EVELSON DE FREITAS / Estadão (20/10/2008)

Condenação

Em fevereiro de 2012, Lindemberg, aos 25 anos, foi condenado a 98 anos e 10 meses de prisão após um julgamento de quatro dias. A sentença o considerou culpado por 12 crimes, incluindo homicídio doloso de Eloá, dupla tentativa de homicídio de Nayara Rodrigues e o sargento da PM Atos Valeriano (ambos baleados), cárcere privado e disparo de arma de fogo.

Em julho de 2013, o Tribunal de Justiça de São Paulo reduziu a pena para 39 anos e 3 meses em regime fechado. Em 2021, Justiça o autorizou a cumprir o restante da pena em regime semiaberto, mas a 16ª Câmara de Direito Criminal de São Paulo e o Ministério Público se posicionaram contra a mudança. Desde a condenação, ele cumpre a pena na penitenciária de Tremembé, no interior paulista.

A TV Globo volta a transmitir nesta quinta-feira, 4, o programa Linha Direta, que fez parte da grade de programação da emissora entre os anos 1990 e 2000. A atração, conhecida por recontar a história de crimes - dos mais históricos aos menos conhecidos -, faz a sua reestreia com o caso da estudante Eloá Cristina Pimentel que, em outubro de 2008, foi sequestrada e morta, aos 15 anos, pelo ex-namorado Lindemberg Alves, de 22, em Santo André, na Grande São Paulo.

Eloá esteve em poder de Lindemberg por cinco dias dentro do próprio apartamento na zona periférica da cidade. O sequestro durou cerca de 100 horas, quase todas acompanhadas e monitoradas de perto pela imprensa. O caso teve refém libertada que voltou ao cárcere; entrevista do sequestrador para apresentadora de TV Sonia Abrão; e até participação de um dirigente do São Paulo nas tratativas para libertar as vítimas.

Lindemberg durante julgamento que o condenou a 98 anos e 10 meses de prisão. Foto: André Lessa/Estadão (fev/2012)

A história terminou com a morte de Eloá e com a condenação de Lindemberg a 98 anos e 10 meses de prisão. O episódio também revelou uma série de erros técnicos da polícia na condução do caso, sobretudo do Grupo de Ações Táticas da Polícia Militar do Estado de São Paulo (Gate), que estava à frente da missão de libertar as reféns e evitar um fim trágico.

Sequestro dia a dia

  • Segunda-feira, 13 de outubro: O sequestro começou à tarde, quando Eloá estava com mais três amigos, Nayara Rodrigues da Silva, Iago Vilera e Victor Campos, estudando em seu apartamento, em um conjunto habitacional da periferia de Santo André. Nessa época, a adolescente e Lindemberg Alves já não namoravam mais, mas o rapaz, sete anos mais velho que ela, dizia não aceitar o término da relação.

Ele invadiu o apartamento de Eloá com dois revólveres e fez o grupo de refém. Horas depois, ao perceber a demora do filho em chegar em casa, o pai de um dos garotos bate na porte da casa de Eloá. Foi quando o sequestro foi revelado e denunciado à polícia.

No mesmo dia, já em meio às negociações com policiais do Gate, Lindemberg liberta os dois rapazes, mas mantém Eloá e sua melhor amiga, Nayara, dentro do apartamento.

  • Terça-feira, 14 de outubro: As negociações foram retomadas no dia seguinte. Em dois momentos, Lindemberg chega a disparar contra pessoas que acompanhavam o sequestro in loco. A polícia reagiu e cortou a luz do apartamento. O Gate combinou de só reestabelecer a energia depois que ele libertasse uma das reféns. Momentos depois, Nayara foi liberada.
Eloá, em momento de aparição, acena para as pessoas que acompanham o sequestro. Foto: ROBSON FERNANDJES/Estadão (14/10/2008)
  • Quarta-feira, 15 de outubro: no 3º dia de sequestro, a produção da RedeTV consegue contato com Lindemberg, e a jornalista e apresentadora Sonia Abrão faz uma entrevista ao vivo, em rede aberta, com o sequestrador.

No diálogo, ela tenta convencê-lo a libertar a adolescente e juntos chegam a arquitetar uma possível rendição. O plano, segundo Lindemberg, era sair junto com Eloá. Ela portaria os dois revólveres sem munição, e ele, atrás dela, estenderia os braços para cima. “Mas não vou dar a data e nem a hora”, disse o rapaz à apresentadora.

Na época, a conduta de Sônia Abrão foi criticada pela imprensa e por especialistas em segurança. Mesmo assim, em declarações dadas anos após o sequestro, ela disse que não se arrepende do gesto, e que sua formação de jornalista foi importante na condução da conversa.

“Estava apresentando o programa quando o diretor me avisou que o Lindemberg estava na linha. Com minha experiência jornalística, conversei com ele. E falei com a Eloá também. No meio da conversa, ele cortou e desligou. Todo mundo me assistiu, a polícia, a imprensa, o público”, disse Sonia ao portal UOL em 2014.

  • Quinta-feira, 16: Na manhã do 4º dia de sequestro, 16, Nayara volta ao prédio para ajudar a libertar Eloá. Mas acabou entrando no apartamento de novo e ficando, outra vez, em poder de Lindemberg. A polícia foi criticada por permitir que a garota participasse do processo de negociação de um sequestro pelo qual ela já tinha sido libertada.

Em depoimento, Nayara afirmou que Douglas, irmão de Eloá, foi orientado pelos PMs a subir até o primeiro piso do prédio, enquanto ela deveria ir ao segundo andar, sem se aproximar muito da porta do apartamento. No entanto, quando chegou perto do local - e sem a proteção de agentes de segurança -, a porta foi aberta e Lindemberg ameaçava Eloá com uma arma. Eloá, então, teria dado a mão à amiga, que voltou a ser mantida como refém.

Lindemberg pendura camisa do São Paulo na janela do banheiro do apartamento onde mantinha Eloá sob cárcere. Gesto motivou ida de dirigente são-paulino a Santo André.  Foto: ROBSON FERNANDJES/Estadão (16/10/2008)

Já Lindemberg afirmaria depois que Nayara voltou a pedido da amiga. “Foi a Eloá (quem pediu para a Nayara voltar). Ela falou, assim, que a amizade delas era grande”. A polícia, na época, se defendeu e disse que só havia autorizado a jovem a negociar a partir do primeiro piso do edifício.

Na tarde de quinta, o então vereador e superintendente de futebol do São Paulo, Marco Aurélio Cunha, se escalou para conversar com Lindemberg. O motivo? O sequestrador pendurou na janela do apartamento uma camisa do clube, indicando ser torcedor do time do Morumbi. Mas a iniciativa do dirigente também não funcionou.

  • Sexta-feira, 17 de outubro: No 5º e último dia de cárcere, as negociações avançam e Lindemberg chega a dizer que se renderia. Mas imagens feitas pela polícia na época mostram o jovem, do outro lado da linha do telefone, conversando com um tom de cansaço e dizendo não ter perspectivas para o próprio futuro. “Não quero mais a Eloá”, disse ele aos policiais.

No entanto, no fim da tarde, agentes do Gate invadem o apartamento sob alegação de ter ouvido tiros dentro do imóvel. Na hora de entrada, o sequestrador dispara e atinge Eloá, na cabeça e na virilha. Os tiros também acertaram o rosto de Nayara. O rapaz fazia ameaças de que mataria as duas reféns caso a polícia entrasse na casa.

As duas adolescentes foram atendidas e internadas em estado grave, enquanto Lindemberg era detido e levado à delegacia pelo Gate. Nayara sobreviveu aos ferimentos, mas Eloá teve a morte cerebral confirmada na noite do dia seguinte, sábado, 18, às 23h30. Mais de 12 mil pessoas acompanharam o velório da jovem, que foi sepultada e enterrada em Santo André, na terça-feira, 21, oito dias depois do início do sequestro.

Cerca de 12 mil pessoas acompanham o velório de Eloá Pimentel, que morreu aos 15 anos depois de ficar cinco dias sequestradas em poder do ex-namorado.  Foto: EVELSON DE FREITAS / Estadão (20/10/2008)

Condenação

Em fevereiro de 2012, Lindemberg, aos 25 anos, foi condenado a 98 anos e 10 meses de prisão após um julgamento de quatro dias. A sentença o considerou culpado por 12 crimes, incluindo homicídio doloso de Eloá, dupla tentativa de homicídio de Nayara Rodrigues e o sargento da PM Atos Valeriano (ambos baleados), cárcere privado e disparo de arma de fogo.

Em julho de 2013, o Tribunal de Justiça de São Paulo reduziu a pena para 39 anos e 3 meses em regime fechado. Em 2021, Justiça o autorizou a cumprir o restante da pena em regime semiaberto, mas a 16ª Câmara de Direito Criminal de São Paulo e o Ministério Público se posicionaram contra a mudança. Desde a condenação, ele cumpre a pena na penitenciária de Tremembé, no interior paulista.

A TV Globo volta a transmitir nesta quinta-feira, 4, o programa Linha Direta, que fez parte da grade de programação da emissora entre os anos 1990 e 2000. A atração, conhecida por recontar a história de crimes - dos mais históricos aos menos conhecidos -, faz a sua reestreia com o caso da estudante Eloá Cristina Pimentel que, em outubro de 2008, foi sequestrada e morta, aos 15 anos, pelo ex-namorado Lindemberg Alves, de 22, em Santo André, na Grande São Paulo.

Eloá esteve em poder de Lindemberg por cinco dias dentro do próprio apartamento na zona periférica da cidade. O sequestro durou cerca de 100 horas, quase todas acompanhadas e monitoradas de perto pela imprensa. O caso teve refém libertada que voltou ao cárcere; entrevista do sequestrador para apresentadora de TV Sonia Abrão; e até participação de um dirigente do São Paulo nas tratativas para libertar as vítimas.

Lindemberg durante julgamento que o condenou a 98 anos e 10 meses de prisão. Foto: André Lessa/Estadão (fev/2012)

A história terminou com a morte de Eloá e com a condenação de Lindemberg a 98 anos e 10 meses de prisão. O episódio também revelou uma série de erros técnicos da polícia na condução do caso, sobretudo do Grupo de Ações Táticas da Polícia Militar do Estado de São Paulo (Gate), que estava à frente da missão de libertar as reféns e evitar um fim trágico.

Sequestro dia a dia

  • Segunda-feira, 13 de outubro: O sequestro começou à tarde, quando Eloá estava com mais três amigos, Nayara Rodrigues da Silva, Iago Vilera e Victor Campos, estudando em seu apartamento, em um conjunto habitacional da periferia de Santo André. Nessa época, a adolescente e Lindemberg Alves já não namoravam mais, mas o rapaz, sete anos mais velho que ela, dizia não aceitar o término da relação.

Ele invadiu o apartamento de Eloá com dois revólveres e fez o grupo de refém. Horas depois, ao perceber a demora do filho em chegar em casa, o pai de um dos garotos bate na porte da casa de Eloá. Foi quando o sequestro foi revelado e denunciado à polícia.

No mesmo dia, já em meio às negociações com policiais do Gate, Lindemberg liberta os dois rapazes, mas mantém Eloá e sua melhor amiga, Nayara, dentro do apartamento.

  • Terça-feira, 14 de outubro: As negociações foram retomadas no dia seguinte. Em dois momentos, Lindemberg chega a disparar contra pessoas que acompanhavam o sequestro in loco. A polícia reagiu e cortou a luz do apartamento. O Gate combinou de só reestabelecer a energia depois que ele libertasse uma das reféns. Momentos depois, Nayara foi liberada.
Eloá, em momento de aparição, acena para as pessoas que acompanham o sequestro. Foto: ROBSON FERNANDJES/Estadão (14/10/2008)
  • Quarta-feira, 15 de outubro: no 3º dia de sequestro, a produção da RedeTV consegue contato com Lindemberg, e a jornalista e apresentadora Sonia Abrão faz uma entrevista ao vivo, em rede aberta, com o sequestrador.

No diálogo, ela tenta convencê-lo a libertar a adolescente e juntos chegam a arquitetar uma possível rendição. O plano, segundo Lindemberg, era sair junto com Eloá. Ela portaria os dois revólveres sem munição, e ele, atrás dela, estenderia os braços para cima. “Mas não vou dar a data e nem a hora”, disse o rapaz à apresentadora.

Na época, a conduta de Sônia Abrão foi criticada pela imprensa e por especialistas em segurança. Mesmo assim, em declarações dadas anos após o sequestro, ela disse que não se arrepende do gesto, e que sua formação de jornalista foi importante na condução da conversa.

“Estava apresentando o programa quando o diretor me avisou que o Lindemberg estava na linha. Com minha experiência jornalística, conversei com ele. E falei com a Eloá também. No meio da conversa, ele cortou e desligou. Todo mundo me assistiu, a polícia, a imprensa, o público”, disse Sonia ao portal UOL em 2014.

  • Quinta-feira, 16: Na manhã do 4º dia de sequestro, 16, Nayara volta ao prédio para ajudar a libertar Eloá. Mas acabou entrando no apartamento de novo e ficando, outra vez, em poder de Lindemberg. A polícia foi criticada por permitir que a garota participasse do processo de negociação de um sequestro pelo qual ela já tinha sido libertada.

Em depoimento, Nayara afirmou que Douglas, irmão de Eloá, foi orientado pelos PMs a subir até o primeiro piso do prédio, enquanto ela deveria ir ao segundo andar, sem se aproximar muito da porta do apartamento. No entanto, quando chegou perto do local - e sem a proteção de agentes de segurança -, a porta foi aberta e Lindemberg ameaçava Eloá com uma arma. Eloá, então, teria dado a mão à amiga, que voltou a ser mantida como refém.

Lindemberg pendura camisa do São Paulo na janela do banheiro do apartamento onde mantinha Eloá sob cárcere. Gesto motivou ida de dirigente são-paulino a Santo André.  Foto: ROBSON FERNANDJES/Estadão (16/10/2008)

Já Lindemberg afirmaria depois que Nayara voltou a pedido da amiga. “Foi a Eloá (quem pediu para a Nayara voltar). Ela falou, assim, que a amizade delas era grande”. A polícia, na época, se defendeu e disse que só havia autorizado a jovem a negociar a partir do primeiro piso do edifício.

Na tarde de quinta, o então vereador e superintendente de futebol do São Paulo, Marco Aurélio Cunha, se escalou para conversar com Lindemberg. O motivo? O sequestrador pendurou na janela do apartamento uma camisa do clube, indicando ser torcedor do time do Morumbi. Mas a iniciativa do dirigente também não funcionou.

  • Sexta-feira, 17 de outubro: No 5º e último dia de cárcere, as negociações avançam e Lindemberg chega a dizer que se renderia. Mas imagens feitas pela polícia na época mostram o jovem, do outro lado da linha do telefone, conversando com um tom de cansaço e dizendo não ter perspectivas para o próprio futuro. “Não quero mais a Eloá”, disse ele aos policiais.

No entanto, no fim da tarde, agentes do Gate invadem o apartamento sob alegação de ter ouvido tiros dentro do imóvel. Na hora de entrada, o sequestrador dispara e atinge Eloá, na cabeça e na virilha. Os tiros também acertaram o rosto de Nayara. O rapaz fazia ameaças de que mataria as duas reféns caso a polícia entrasse na casa.

As duas adolescentes foram atendidas e internadas em estado grave, enquanto Lindemberg era detido e levado à delegacia pelo Gate. Nayara sobreviveu aos ferimentos, mas Eloá teve a morte cerebral confirmada na noite do dia seguinte, sábado, 18, às 23h30. Mais de 12 mil pessoas acompanharam o velório da jovem, que foi sepultada e enterrada em Santo André, na terça-feira, 21, oito dias depois do início do sequestro.

Cerca de 12 mil pessoas acompanham o velório de Eloá Pimentel, que morreu aos 15 anos depois de ficar cinco dias sequestradas em poder do ex-namorado.  Foto: EVELSON DE FREITAS / Estadão (20/10/2008)

Condenação

Em fevereiro de 2012, Lindemberg, aos 25 anos, foi condenado a 98 anos e 10 meses de prisão após um julgamento de quatro dias. A sentença o considerou culpado por 12 crimes, incluindo homicídio doloso de Eloá, dupla tentativa de homicídio de Nayara Rodrigues e o sargento da PM Atos Valeriano (ambos baleados), cárcere privado e disparo de arma de fogo.

Em julho de 2013, o Tribunal de Justiça de São Paulo reduziu a pena para 39 anos e 3 meses em regime fechado. Em 2021, Justiça o autorizou a cumprir o restante da pena em regime semiaberto, mas a 16ª Câmara de Direito Criminal de São Paulo e o Ministério Público se posicionaram contra a mudança. Desde a condenação, ele cumpre a pena na penitenciária de Tremembé, no interior paulista.

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