A polícia vai fazer a reconstituição da morte da jovem Vitória Regina Sousa, em Cajamar, na região metropolitana de São Paulo, após a família apontar contradições no depoimento do rapaz suspeito do assassinato. O investigado, Maicol Antônio Sales dos Santos, está preso e confessou o crime, conforme a Polícia Civil.
O depoimento dele, no entanto, não condiz com as circunstâncias do crime, segundo a família. Já a defesa de Maicol diz que ele foi coagido a confessar. A Polícia Civil afirma que os procedimentos obedeceram ao Código de Processo Penal (leia mais abaixo).

No sábado, 22, os familiares e amigos de Vitória fizeram uma manifestação com faixas e cartazes, em frente à delegacia da Polícia Civil de Cajamar, apontando inconsistências na confissão de Maicol e pedindo mais investigação.
Conforme o advogado da família, Fábio Costa, o depoimento de Maicol apresenta incongruências que podem ser esclarecidas durante a reconstituição. Entre as várias inconsistências, segundo aponta, está a afirmação de Maicol de que ele matou a jovem dentro do carro com uma faca que estava entre o banco do motorista e a porta do veículo.
“Matar dentro do carro e a perícia não identificar nenhuma mancha de sangue é menosprezar o trabalho da Polícia Científica. A menos que ele tenha matado em outro carro. Causaria estranheza querer fechar a investigação com uma dúvida desta”, afirma.
Outra inconsistência, segundo ele, é a afirmação de Maicol de que ele teria levado o corpo da vítima em seu carro e usado uma pá e uma enxada para enterrá-lo na mata. “Eu cheguei lá com a família quando o corpo foi encontrado, antes mesmo da chegada da perícia. Não tinha sinal de terra algum. Aquele corpo não foi enterrado, nem desenterrado”, afirma Costa.
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Quanto às afirmações do investigado de que ele teria convidado Vitória para entrar no carro, sem forçá-la para isso, o advogado interpreta como uma orientação que ele recebeu. “Se ela entra livremente no carro, ele se livra da acusação de emboscada, que é uma qualificadora. Da mesma forma, quando ele diz que a matou durante uma briga, ele tenta se livrar do motivo torpe. São duas qualificadoras importantes em um tribunal do júri”, diz.
Segundo Costa, a reconstituição em algum momento vai trazer à tona que houve a participação de outra pessoa, como tem afirmado a família da vítima. “A reconstituição pode evidenciar que em algum momento ele teve a ajuda de outra pessoa. A investigação não está encerrada”, continua.
Weronica Regina de Sousa, irmã de Vitória, disse que a família espera que o caso não seja encerrado sem mais investigações. “Há várias coisas que não batem, inclusive (a informação) de ele ter enterrado o corpo, o que não é verdade”, diz.
Segundo ela, a família acredita que há outros envolvidos que podem estar sendo acobertados. “Ela nunca entraria no carro dele por conta própria. A Vitória nunca teve relacionamento nem contato com ele, e muito menos com a mulher dele”, diz.
No depoimento, segundo o advogado, o rapaz teria alegado que chamou Vitória para conversar porque ela teria ameaçado contar à mulher dele sobre um antigo relacionamento entre os dois. A afirmação se choca com a versão da polícia sobre a motivação do crime, que seria uma obsessão de Maicol pela Vitória.
Coação
A defesa de Maicol Sales dos Santos afirma que ele sofreu coação psicológica para confessar o crime. Em nota, os defensores apontam que o depoimento foi tomado durante “o período de repouso noturno” e sem a presença dos advogados. A
firmam ainda que uma perícia psiquiátrica foi agendada “sem ordem judicial” e determinada “apenas um dia após a suposta confissão de Maicol que, por si só, já está cercada de graves irregularidades”. A nota é assinada pelos advogados Flávio Ubirajara, Arthur Perin Novaes e Vitor Aurélio Timóteo da Silva.
A Secretaria da Segurança Pública diz que a Polícia Civil solicitou ao Instituto Médico-Legal (IML) a reconstituição do crime para “esclarecer todas as circunstâncias em que ele ocorreu”. Segundo a nota, o principal suspeito segue preso temporariamente após confessar a autoria do homicídio e as investigações prosseguem pela Delegacia de Cajamar para a conclusão do inquérito policial.
Ainda segundo a nota, “a Polícia Civil ressalta que todos os procedimentos adotados no caso, inclusive o depoimento do suspeito, obedeceram estritamente o Código de Processo Penal.”