SÃO PAULO - Uma polêmica que começou com uma discussão sobre uma prova com uma questão em inglês terminou com uma professora demitida, um aluno transgênero expulso e a perda do cargo do coordenador do curso. O caso aconteceu na semana passada na Faculdade Cásper Líbero, na Avenida Paulista, região central de São Paulo. O estudante de Publicidade Samuel Silva acusa docentes e alunos de transfobia.
O caso teve início no fim de setembro, após o aluno alegar ter sido prejudicado em uma avaliação de Redação Publicitária por não dominar a língua estrangeira. "Fiz uma crítica no Facebook à prova, não à professora. Eu queria que as pessoas refletissem que aquilo era elitista", disse.
O estudante não procurou a professora antes de escrever o texto porque, segundo ele, não era tratado por ela no gênero masculino. O Estado procurou a professora, que pediu para não ter seu nome divulgado. Ela afirma que um vídeo sobre a questão em inglês havia sido passado aos alunos antes da prova, o que permitiria a busca pelo menos de uma tradução. E destacou que respeitava a identidade de gênero de Silva.
Segundo ela, seu método de avaliação agradou a turma. O grupo de alunos teria então hostilizado Silva. A professora escreveu, na sequência, um e-mail aberto à turma. Na mensagem, apontou a "vitimização moral" do estudante. O caso chegou à direção da faculdade e o coordenador do curso de Publicidade convocou uma reunião com representantes da classe. Silva entrou na sala de reunião e questionou não ter sido chamado para dar sua versão. Na sequência, ficou nervoso por ser repetidamente tratado no gênero feminino. "Quis fugir e trombei com o coordenador. Ele entendeu o ocorrido como uma agressão física."
Segundo a direção, testemunhas afirmaram que houve agressão. E o coordenador registrou um boletim de ocorrência.
O diretor da Cásper, Carlos Roberto da Costa, atribuiu a demissão da professora ao e-mail que tornava pública a situação do estudante. "Ela cometeu uma besteira pedagógica. Foi um assédio público a uma pessoa", disse. A professora assinou a rescisão nesta terça-feira, 13. No caso de Silva, Costa disse que o regimento interno da faculdade prevê expulsão por agressão. "Ele veio para ser aluno, e não militante. Nesse caso, ser trans não faz diferença." O aluno alega que, se não fosse transexual, o desfecho teria sido outro.
Nesta terça, grupos da faculdade ligados a causas sociais publicaram uma nota de repúdio à decisão de expulsar Samuel Silva e de manter o coordenador no quadro de funcionários como professor. Além disso, cobraram melhor acolhida a transexuais. A direção da Cásper Líbero afirmou que ainda pode rever as decisões.