Quando o arquiteto David Libeskind (1928-2014) propôs a criação de um edifício sem portas, com múltiplas entradas e que tinha no piso interno a continuação da calçada, usando o mesmo revestimento de pedras portuguesas, mudou para sempre o imaginário paulistano. Ali se fundiram os limites entre público e privado, rua e propriedade, dentro e fora. Entre as várias ousadias colocadas em prática, o principal mérito do Conjunto Nacional é questionar as fronteiras, reforçando a noção de que somos todos parte da cidade. Foi a pedra fundamental e marca da vocação de uma avenida que, com o passar do tempo, só se tornaria mais e mais aberta para as pessoas.
A escala do edifício dialoga com a da rua, tornando-o convidativo aos pedestres. Seu interior permite diferentes percursos, contribuindo para torná-lo ainda mais atraente para quem está a pé. O resultado é a criação de uma praça aberta que transmite a sensação de que somos todos bem-vindos.
O uso misto é outro ponto importante, pois dá vida própria ao edifício e fez dele um dos endereços mais interessantes e, ao mesmo tempo, seguros da cidade. Ele comprova que nada pode ser mais tranquilo do que um lugar cheio de gente, mesmo quando não há controle de entrada, aplicando a mesma lógica que faz o sucesso do Copan. A convivência de diferentes perfis também é bem-vinda. Em uma avenida que se tornou sinônimo do encontro, o Conjunto Nacional não poderia ser mais atual.
*MARIANA BARROS É CO-FUNDADORA DO ESQUINA.NET.BR