O conselho consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu três novos patrimônios culturais brasileiros em reuniões na quarta, 28, e nesta quinta-feira, 29. As decisões foram unânimes e envolveram o registro do gênero musical chorinho como patrimônio imaterial e o tombamento do conjunto histórico da Estação Júlio Prestes — que inclui a Sala São Paulo, no centro da capital paulista — e do centenário terreiro Ilê Axé Icimimó Aganjú Didê — em Cachoeira, no Recôncavo Baiano.
- Com a decisão, o complexo da Estação Júlio Prestes será inscrito tanto no Livro do Tombo de Belas Artes quanto no Livro do Tombo Histórico do País.
- A construção foi inaugurada nos anos 1930. De 1925, o projeto é de autoria de Christiano Stockler das Neves, arquiteto do Edifício Sampaio Moreira (sede da Secretaria Municipal de Cultura) e do Palacete Riachuelo, dentre outros, e prefeito paulistano nos anos 1940.
“Foi inscrito no Livro do Tombo de Belas Artes, por ser uma construção monumental, exemplo máximo de uma determinada arquitetura do período. Também foi inscrito no Livro do Tombo Histórico, como a materialização de uma forma de pensar a questão econômica, com intervencionismo estatal, que fugia dos padrões do liberalismo clássico, o que era uma novidade na forma de pensar da década de 1920 no Brasil”, informou o instituto.
O conjunto inclui hoje os espaços de operação da Linha 8-Diamante, ligada à CPTM, as instalações da Sala São Paulo — que completa 25 anos em 2024, com atividades da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) — e a sede da Secretaria de Cultura, Economia e Indústrias Criativas do Estado.
Antes da decisão, o conjunto já era tombado no âmbito estadual e municipal. Segundo o Iphan, o reconhecimento nacional foi solicitado em 1997, pelo então secretário estadual de Cultura, Marcos Mendonça. Com o novo reconhecimento, alterações significativas precisarão de autorização nas três esferas.
- O reconhecimento do chorinho como patrimônio cultural imaterial destacou a história desse gênero musical brasileiro, nascido no século 19, no Rio de Janeiro, e cuja trajetória passou por influências dos continentes americano, africano e europeu, como de lundus, fados, valsas e tangos. Na reunião, destacou-se a importância das rodas de choro em diferentes partes do País.
A avaliação do registro como patrimônio cultural foi solicitada pelo Clube de Choro de Brasília em 2012, com pedidos subsequentes do Instituto Casa do Choro, do Clube do Choro de Santos e de músicos (os chamados “chorões”) de Pernambuco e do Rio Grande do Sul.
Com a decisão, o choro será inscrito no Livro das Formas de Expressão. Um dos maiores expoentes desse gênero no País é Pixinguinha, mas há diversos outros artistas de destaque, como Altamiro Carrilho, Chiquinha Gonzaga, Plauto Cruz e Ernesto Nazareth.
O parecer pelo reconhecimento destaca diversos motivos para o reconhecimento. “Por sua relevância nacional, na medida em que aporta elementos importantes para a memória, identidade e a formação de grupos formadores da sociedade brasileira. Pela continuidade histórica dos processos de reiteração, transformação e atualização dessas práticas musicais.
“Por construir uma manifestação artística que agrega uma diversidade de formas estéticas e de expressão e que se estabelece como forma de comunicação considerada importante para a cultura, memória e identidade de grupos formadores da sociedade brasileira”, diz a conclusão.
- Já o terreiro Ilê Axé Icimimó Aganjú Didê será inscrito no Livro do Tombo Histórico, Etnográfico e Paisagístico. O espaço foi fundado em 1916, por Judith Ferreira do Sacramento, e também é reconhecido como patrimônio cultural baiano.
Segundo o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (IPAC-BA), o terreiro é uma Casa de Santo da Nação Nagô, que é um segmento do candomblé. O reconhecimento envolve todo o espaço, não apenas áreas edificadas, mas também elementos sacralizados identificados e a vegetação.
Na decisão, foram lembrados os 40 anos do primeiro tombamento de um terreiro pelo Iphan, o Terreiro Casa Branca, em Salvador. Também comentou-se sobre o pequeno número de espaços de religiões de matriz africana reconhecidos pelo instituto, de apenas 11.