Chuva no litoral: Voluntários se juntam a bombeiros e Defesa Civil na busca por corpos na Vila Sahy


‘Estadão’ acompanhou o trabalho das equipes na comunidade de São Sebastião onde ao menos 34 pessoas morreram no fim de semana

Por Renata Cafardo
Atualização:

SÃO SEBASTIÃO - A comunidade de Vila Sahy, onde pelo menos 34 pessoas morreram por causa da chuva intensa que atingiu o litoral norte de São Paulo, era chamada de vila baiana, tamanha a quantidade de imigrantes nordestinos que chegaram há mais de 20 anos. Vieram para trabalhar nas construções ou como empregadas e caseiros nas casas de luxo de uma das praias mais bonitas do Estado. Diferente das badaladas Maresias e Camburi, cheias de jovens e surfistas, o Sahy é a praia das famílias, com mar tranquilo e um riozinho acolhedor.

Bombeiros e voluntários tentam retirar escombros e lama na Vila Sahy, em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Na mesma proporção que aumentava o número de casas perto da praia, crescia a comunidade do outro lado da rodovia Rio-Santos. Primeiro na beira da rodovia, depois subindo os morros, de forma irregular. “Esse lugar aqui era apaixonante, sossego, essa praia linda, comunidade unida. Mas não sei se consigo continuar aqui”, diz a cozinheira Natalia Cerqueira, de 24 anos, que perdeu dezenas de amigos com o deslizamento na Vila Sahy. Ela ajuda a identificar corpos desde domingo e nesta terça-feira, 21, levava marmitas aos que trabalhavam nos escombros.

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O Estadão acompanhou o trabalho de remoção dos restos de casas, árvores e lama na comunidade e a busca por corpos nesta terça-feira. Água barrenta corria pelas ruas pavimentadas do morro, carros, motos e casas inteiras - mesmo as que não foram destruídas - tinham um metro de lama.

Eram mais voluntários que bombeiros e homens da Defesa Civil. Passavam baldes de terra em mão e mão, cavavam, levantavam pedaços gigantes de concreto.

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No meio deles, puxando a corda, estava Alan Soares Ferreira, de 20 anos, que procurava o tio desaparecido. No dia anterior, o avô Elias Pereira já tinha sido retirado sem vida - a avó conseguiu escapar. “Quando ouvi o barulho de tudo caindo, vim correndo pra cá, vi que era casa da vó, conseguimos tirar algumas pessoas, mas meu tio não”, conta ele, que mora a alguns metros de lá.

Tempestade provocou queda de barreiras em diversas cidades do litoral norte paulistano, provocando morte, sobretudo na Vila Sahy, antiga Vila Baiana. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Perto da casa da avó de Alan, viviam os recém casados Caio e Michele Gomes, de 21 e 22 anos. “No dia da chuva, ele me pediu pra trazer em casa, quando eu deixei ele aqui já estava alagado ali embaixo”, conta Elenildo Batista Gomes, de 47 anos, pai de Caio, que trabalha como caseiro. Eram 23 horas, o temporal havia começado por volta das 20 horas de sábado. “Eu não fiquei preocupado porque a casa era alta, não achei que podia ter deslizamento de terra.” Quando Elenildo chegou ao Camburi, recebeu a última mensagem do filho: “pai, quase não consigo entrar em casa”. “Quero dar um enterro digno para meu filho e minha nora e tocar a vida.”

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No meio dos pedaços de concreto e lama, um violão quebrado, cobertores infantis, brinquedos e roupas. Uma das casas que ruiu, segundo os moradores, tinha 30 turistas de São Paulo, que haviam alugado o local para passar o carnaval. Cerca de 500 famílias moram na Vila, outras tantas tinham alugado suas casas simples no feriado.

No meio do dia, um corpo foi encontrado na área, antes da chuva voltar - dessa vez, ela foi rápida e os trabalhos puderam recomeçar. Não era o tio de Alan nem o filho ou a nora de Elenildo.

Os desabamentos deixaram mortos e inúmeros desabrigados. Continuidade das chuvas deixa a região em alerta para novos desabamentos. Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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“Ninguém mais tem coragem de dormir aqui”, conta Daniel de Oliveira Silva, estudante de educação física, de 20 anos, que nasceu na Vila Sahy. O medo é que a chuva volte forte e leve mais casas. A de Daniel tem o térreo tomado de lama, dois carros e uma moto da família estão soterrados no que era a garagem. “Muita gente correu por aqui, mas tinham duas trombas de água que se encontraram nesse ponto, muitos ficaram soterrados”, afirma, mostrando a rua onde mora. Ele e a família ficaram na parte de cima da casa e só saíram pela manhã.

Há ainda árvores prestes a tombar no alto do morro, mostra o voluntário Rodrigo de Paula, que já ajudou em tragédias como as de Brumadinho e Petrópolis. Segundo ele, além da chuva, o sol também é um problema porque a lama seca e dificulta o trabalho de resgate.

Do outro lado da rodovia, turistas alugavam nesta terça-feira helicópteros por cerca de R$ 20 mil e pegavam barcos na praia, agora barrenta, para deixar a cidade. Só é possível sair da Barra do Sahy pelo ar, mar ou dirigindo em direção a São Sebastião, com a Rodovia dos Tamoios. Para o outro lado, em direção a Juquei, a estrada continua totalmente interditada.

SÃO SEBASTIÃO - A comunidade de Vila Sahy, onde pelo menos 34 pessoas morreram por causa da chuva intensa que atingiu o litoral norte de São Paulo, era chamada de vila baiana, tamanha a quantidade de imigrantes nordestinos que chegaram há mais de 20 anos. Vieram para trabalhar nas construções ou como empregadas e caseiros nas casas de luxo de uma das praias mais bonitas do Estado. Diferente das badaladas Maresias e Camburi, cheias de jovens e surfistas, o Sahy é a praia das famílias, com mar tranquilo e um riozinho acolhedor.

Bombeiros e voluntários tentam retirar escombros e lama na Vila Sahy, em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Na mesma proporção que aumentava o número de casas perto da praia, crescia a comunidade do outro lado da rodovia Rio-Santos. Primeiro na beira da rodovia, depois subindo os morros, de forma irregular. “Esse lugar aqui era apaixonante, sossego, essa praia linda, comunidade unida. Mas não sei se consigo continuar aqui”, diz a cozinheira Natalia Cerqueira, de 24 anos, que perdeu dezenas de amigos com o deslizamento na Vila Sahy. Ela ajuda a identificar corpos desde domingo e nesta terça-feira, 21, levava marmitas aos que trabalhavam nos escombros.

O Estadão acompanhou o trabalho de remoção dos restos de casas, árvores e lama na comunidade e a busca por corpos nesta terça-feira. Água barrenta corria pelas ruas pavimentadas do morro, carros, motos e casas inteiras - mesmo as que não foram destruídas - tinham um metro de lama.

Eram mais voluntários que bombeiros e homens da Defesa Civil. Passavam baldes de terra em mão e mão, cavavam, levantavam pedaços gigantes de concreto.

No meio deles, puxando a corda, estava Alan Soares Ferreira, de 20 anos, que procurava o tio desaparecido. No dia anterior, o avô Elias Pereira já tinha sido retirado sem vida - a avó conseguiu escapar. “Quando ouvi o barulho de tudo caindo, vim correndo pra cá, vi que era casa da vó, conseguimos tirar algumas pessoas, mas meu tio não”, conta ele, que mora a alguns metros de lá.

Tempestade provocou queda de barreiras em diversas cidades do litoral norte paulistano, provocando morte, sobretudo na Vila Sahy, antiga Vila Baiana. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Perto da casa da avó de Alan, viviam os recém casados Caio e Michele Gomes, de 21 e 22 anos. “No dia da chuva, ele me pediu pra trazer em casa, quando eu deixei ele aqui já estava alagado ali embaixo”, conta Elenildo Batista Gomes, de 47 anos, pai de Caio, que trabalha como caseiro. Eram 23 horas, o temporal havia começado por volta das 20 horas de sábado. “Eu não fiquei preocupado porque a casa era alta, não achei que podia ter deslizamento de terra.” Quando Elenildo chegou ao Camburi, recebeu a última mensagem do filho: “pai, quase não consigo entrar em casa”. “Quero dar um enterro digno para meu filho e minha nora e tocar a vida.”

No meio dos pedaços de concreto e lama, um violão quebrado, cobertores infantis, brinquedos e roupas. Uma das casas que ruiu, segundo os moradores, tinha 30 turistas de São Paulo, que haviam alugado o local para passar o carnaval. Cerca de 500 famílias moram na Vila, outras tantas tinham alugado suas casas simples no feriado.

No meio do dia, um corpo foi encontrado na área, antes da chuva voltar - dessa vez, ela foi rápida e os trabalhos puderam recomeçar. Não era o tio de Alan nem o filho ou a nora de Elenildo.

Os desabamentos deixaram mortos e inúmeros desabrigados. Continuidade das chuvas deixa a região em alerta para novos desabamentos. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Ninguém mais tem coragem de dormir aqui”, conta Daniel de Oliveira Silva, estudante de educação física, de 20 anos, que nasceu na Vila Sahy. O medo é que a chuva volte forte e leve mais casas. A de Daniel tem o térreo tomado de lama, dois carros e uma moto da família estão soterrados no que era a garagem. “Muita gente correu por aqui, mas tinham duas trombas de água que se encontraram nesse ponto, muitos ficaram soterrados”, afirma, mostrando a rua onde mora. Ele e a família ficaram na parte de cima da casa e só saíram pela manhã.

Há ainda árvores prestes a tombar no alto do morro, mostra o voluntário Rodrigo de Paula, que já ajudou em tragédias como as de Brumadinho e Petrópolis. Segundo ele, além da chuva, o sol também é um problema porque a lama seca e dificulta o trabalho de resgate.

Do outro lado da rodovia, turistas alugavam nesta terça-feira helicópteros por cerca de R$ 20 mil e pegavam barcos na praia, agora barrenta, para deixar a cidade. Só é possível sair da Barra do Sahy pelo ar, mar ou dirigindo em direção a São Sebastião, com a Rodovia dos Tamoios. Para o outro lado, em direção a Juquei, a estrada continua totalmente interditada.

SÃO SEBASTIÃO - A comunidade de Vila Sahy, onde pelo menos 34 pessoas morreram por causa da chuva intensa que atingiu o litoral norte de São Paulo, era chamada de vila baiana, tamanha a quantidade de imigrantes nordestinos que chegaram há mais de 20 anos. Vieram para trabalhar nas construções ou como empregadas e caseiros nas casas de luxo de uma das praias mais bonitas do Estado. Diferente das badaladas Maresias e Camburi, cheias de jovens e surfistas, o Sahy é a praia das famílias, com mar tranquilo e um riozinho acolhedor.

Bombeiros e voluntários tentam retirar escombros e lama na Vila Sahy, em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Na mesma proporção que aumentava o número de casas perto da praia, crescia a comunidade do outro lado da rodovia Rio-Santos. Primeiro na beira da rodovia, depois subindo os morros, de forma irregular. “Esse lugar aqui era apaixonante, sossego, essa praia linda, comunidade unida. Mas não sei se consigo continuar aqui”, diz a cozinheira Natalia Cerqueira, de 24 anos, que perdeu dezenas de amigos com o deslizamento na Vila Sahy. Ela ajuda a identificar corpos desde domingo e nesta terça-feira, 21, levava marmitas aos que trabalhavam nos escombros.

O Estadão acompanhou o trabalho de remoção dos restos de casas, árvores e lama na comunidade e a busca por corpos nesta terça-feira. Água barrenta corria pelas ruas pavimentadas do morro, carros, motos e casas inteiras - mesmo as que não foram destruídas - tinham um metro de lama.

Eram mais voluntários que bombeiros e homens da Defesa Civil. Passavam baldes de terra em mão e mão, cavavam, levantavam pedaços gigantes de concreto.

No meio deles, puxando a corda, estava Alan Soares Ferreira, de 20 anos, que procurava o tio desaparecido. No dia anterior, o avô Elias Pereira já tinha sido retirado sem vida - a avó conseguiu escapar. “Quando ouvi o barulho de tudo caindo, vim correndo pra cá, vi que era casa da vó, conseguimos tirar algumas pessoas, mas meu tio não”, conta ele, que mora a alguns metros de lá.

Tempestade provocou queda de barreiras em diversas cidades do litoral norte paulistano, provocando morte, sobretudo na Vila Sahy, antiga Vila Baiana. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Perto da casa da avó de Alan, viviam os recém casados Caio e Michele Gomes, de 21 e 22 anos. “No dia da chuva, ele me pediu pra trazer em casa, quando eu deixei ele aqui já estava alagado ali embaixo”, conta Elenildo Batista Gomes, de 47 anos, pai de Caio, que trabalha como caseiro. Eram 23 horas, o temporal havia começado por volta das 20 horas de sábado. “Eu não fiquei preocupado porque a casa era alta, não achei que podia ter deslizamento de terra.” Quando Elenildo chegou ao Camburi, recebeu a última mensagem do filho: “pai, quase não consigo entrar em casa”. “Quero dar um enterro digno para meu filho e minha nora e tocar a vida.”

No meio dos pedaços de concreto e lama, um violão quebrado, cobertores infantis, brinquedos e roupas. Uma das casas que ruiu, segundo os moradores, tinha 30 turistas de São Paulo, que haviam alugado o local para passar o carnaval. Cerca de 500 famílias moram na Vila, outras tantas tinham alugado suas casas simples no feriado.

No meio do dia, um corpo foi encontrado na área, antes da chuva voltar - dessa vez, ela foi rápida e os trabalhos puderam recomeçar. Não era o tio de Alan nem o filho ou a nora de Elenildo.

Os desabamentos deixaram mortos e inúmeros desabrigados. Continuidade das chuvas deixa a região em alerta para novos desabamentos. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Ninguém mais tem coragem de dormir aqui”, conta Daniel de Oliveira Silva, estudante de educação física, de 20 anos, que nasceu na Vila Sahy. O medo é que a chuva volte forte e leve mais casas. A de Daniel tem o térreo tomado de lama, dois carros e uma moto da família estão soterrados no que era a garagem. “Muita gente correu por aqui, mas tinham duas trombas de água que se encontraram nesse ponto, muitos ficaram soterrados”, afirma, mostrando a rua onde mora. Ele e a família ficaram na parte de cima da casa e só saíram pela manhã.

Há ainda árvores prestes a tombar no alto do morro, mostra o voluntário Rodrigo de Paula, que já ajudou em tragédias como as de Brumadinho e Petrópolis. Segundo ele, além da chuva, o sol também é um problema porque a lama seca e dificulta o trabalho de resgate.

Do outro lado da rodovia, turistas alugavam nesta terça-feira helicópteros por cerca de R$ 20 mil e pegavam barcos na praia, agora barrenta, para deixar a cidade. Só é possível sair da Barra do Sahy pelo ar, mar ou dirigindo em direção a São Sebastião, com a Rodovia dos Tamoios. Para o outro lado, em direção a Juquei, a estrada continua totalmente interditada.

SÃO SEBASTIÃO - A comunidade de Vila Sahy, onde pelo menos 34 pessoas morreram por causa da chuva intensa que atingiu o litoral norte de São Paulo, era chamada de vila baiana, tamanha a quantidade de imigrantes nordestinos que chegaram há mais de 20 anos. Vieram para trabalhar nas construções ou como empregadas e caseiros nas casas de luxo de uma das praias mais bonitas do Estado. Diferente das badaladas Maresias e Camburi, cheias de jovens e surfistas, o Sahy é a praia das famílias, com mar tranquilo e um riozinho acolhedor.

Bombeiros e voluntários tentam retirar escombros e lama na Vila Sahy, em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Na mesma proporção que aumentava o número de casas perto da praia, crescia a comunidade do outro lado da rodovia Rio-Santos. Primeiro na beira da rodovia, depois subindo os morros, de forma irregular. “Esse lugar aqui era apaixonante, sossego, essa praia linda, comunidade unida. Mas não sei se consigo continuar aqui”, diz a cozinheira Natalia Cerqueira, de 24 anos, que perdeu dezenas de amigos com o deslizamento na Vila Sahy. Ela ajuda a identificar corpos desde domingo e nesta terça-feira, 21, levava marmitas aos que trabalhavam nos escombros.

O Estadão acompanhou o trabalho de remoção dos restos de casas, árvores e lama na comunidade e a busca por corpos nesta terça-feira. Água barrenta corria pelas ruas pavimentadas do morro, carros, motos e casas inteiras - mesmo as que não foram destruídas - tinham um metro de lama.

Eram mais voluntários que bombeiros e homens da Defesa Civil. Passavam baldes de terra em mão e mão, cavavam, levantavam pedaços gigantes de concreto.

No meio deles, puxando a corda, estava Alan Soares Ferreira, de 20 anos, que procurava o tio desaparecido. No dia anterior, o avô Elias Pereira já tinha sido retirado sem vida - a avó conseguiu escapar. “Quando ouvi o barulho de tudo caindo, vim correndo pra cá, vi que era casa da vó, conseguimos tirar algumas pessoas, mas meu tio não”, conta ele, que mora a alguns metros de lá.

Tempestade provocou queda de barreiras em diversas cidades do litoral norte paulistano, provocando morte, sobretudo na Vila Sahy, antiga Vila Baiana. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Perto da casa da avó de Alan, viviam os recém casados Caio e Michele Gomes, de 21 e 22 anos. “No dia da chuva, ele me pediu pra trazer em casa, quando eu deixei ele aqui já estava alagado ali embaixo”, conta Elenildo Batista Gomes, de 47 anos, pai de Caio, que trabalha como caseiro. Eram 23 horas, o temporal havia começado por volta das 20 horas de sábado. “Eu não fiquei preocupado porque a casa era alta, não achei que podia ter deslizamento de terra.” Quando Elenildo chegou ao Camburi, recebeu a última mensagem do filho: “pai, quase não consigo entrar em casa”. “Quero dar um enterro digno para meu filho e minha nora e tocar a vida.”

No meio dos pedaços de concreto e lama, um violão quebrado, cobertores infantis, brinquedos e roupas. Uma das casas que ruiu, segundo os moradores, tinha 30 turistas de São Paulo, que haviam alugado o local para passar o carnaval. Cerca de 500 famílias moram na Vila, outras tantas tinham alugado suas casas simples no feriado.

No meio do dia, um corpo foi encontrado na área, antes da chuva voltar - dessa vez, ela foi rápida e os trabalhos puderam recomeçar. Não era o tio de Alan nem o filho ou a nora de Elenildo.

Os desabamentos deixaram mortos e inúmeros desabrigados. Continuidade das chuvas deixa a região em alerta para novos desabamentos. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Ninguém mais tem coragem de dormir aqui”, conta Daniel de Oliveira Silva, estudante de educação física, de 20 anos, que nasceu na Vila Sahy. O medo é que a chuva volte forte e leve mais casas. A de Daniel tem o térreo tomado de lama, dois carros e uma moto da família estão soterrados no que era a garagem. “Muita gente correu por aqui, mas tinham duas trombas de água que se encontraram nesse ponto, muitos ficaram soterrados”, afirma, mostrando a rua onde mora. Ele e a família ficaram na parte de cima da casa e só saíram pela manhã.

Há ainda árvores prestes a tombar no alto do morro, mostra o voluntário Rodrigo de Paula, que já ajudou em tragédias como as de Brumadinho e Petrópolis. Segundo ele, além da chuva, o sol também é um problema porque a lama seca e dificulta o trabalho de resgate.

Do outro lado da rodovia, turistas alugavam nesta terça-feira helicópteros por cerca de R$ 20 mil e pegavam barcos na praia, agora barrenta, para deixar a cidade. Só é possível sair da Barra do Sahy pelo ar, mar ou dirigindo em direção a São Sebastião, com a Rodovia dos Tamoios. Para o outro lado, em direção a Juquei, a estrada continua totalmente interditada.

SÃO SEBASTIÃO - A comunidade de Vila Sahy, onde pelo menos 34 pessoas morreram por causa da chuva intensa que atingiu o litoral norte de São Paulo, era chamada de vila baiana, tamanha a quantidade de imigrantes nordestinos que chegaram há mais de 20 anos. Vieram para trabalhar nas construções ou como empregadas e caseiros nas casas de luxo de uma das praias mais bonitas do Estado. Diferente das badaladas Maresias e Camburi, cheias de jovens e surfistas, o Sahy é a praia das famílias, com mar tranquilo e um riozinho acolhedor.

Bombeiros e voluntários tentam retirar escombros e lama na Vila Sahy, em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Na mesma proporção que aumentava o número de casas perto da praia, crescia a comunidade do outro lado da rodovia Rio-Santos. Primeiro na beira da rodovia, depois subindo os morros, de forma irregular. “Esse lugar aqui era apaixonante, sossego, essa praia linda, comunidade unida. Mas não sei se consigo continuar aqui”, diz a cozinheira Natalia Cerqueira, de 24 anos, que perdeu dezenas de amigos com o deslizamento na Vila Sahy. Ela ajuda a identificar corpos desde domingo e nesta terça-feira, 21, levava marmitas aos que trabalhavam nos escombros.

O Estadão acompanhou o trabalho de remoção dos restos de casas, árvores e lama na comunidade e a busca por corpos nesta terça-feira. Água barrenta corria pelas ruas pavimentadas do morro, carros, motos e casas inteiras - mesmo as que não foram destruídas - tinham um metro de lama.

Eram mais voluntários que bombeiros e homens da Defesa Civil. Passavam baldes de terra em mão e mão, cavavam, levantavam pedaços gigantes de concreto.

No meio deles, puxando a corda, estava Alan Soares Ferreira, de 20 anos, que procurava o tio desaparecido. No dia anterior, o avô Elias Pereira já tinha sido retirado sem vida - a avó conseguiu escapar. “Quando ouvi o barulho de tudo caindo, vim correndo pra cá, vi que era casa da vó, conseguimos tirar algumas pessoas, mas meu tio não”, conta ele, que mora a alguns metros de lá.

Tempestade provocou queda de barreiras em diversas cidades do litoral norte paulistano, provocando morte, sobretudo na Vila Sahy, antiga Vila Baiana. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Perto da casa da avó de Alan, viviam os recém casados Caio e Michele Gomes, de 21 e 22 anos. “No dia da chuva, ele me pediu pra trazer em casa, quando eu deixei ele aqui já estava alagado ali embaixo”, conta Elenildo Batista Gomes, de 47 anos, pai de Caio, que trabalha como caseiro. Eram 23 horas, o temporal havia começado por volta das 20 horas de sábado. “Eu não fiquei preocupado porque a casa era alta, não achei que podia ter deslizamento de terra.” Quando Elenildo chegou ao Camburi, recebeu a última mensagem do filho: “pai, quase não consigo entrar em casa”. “Quero dar um enterro digno para meu filho e minha nora e tocar a vida.”

No meio dos pedaços de concreto e lama, um violão quebrado, cobertores infantis, brinquedos e roupas. Uma das casas que ruiu, segundo os moradores, tinha 30 turistas de São Paulo, que haviam alugado o local para passar o carnaval. Cerca de 500 famílias moram na Vila, outras tantas tinham alugado suas casas simples no feriado.

No meio do dia, um corpo foi encontrado na área, antes da chuva voltar - dessa vez, ela foi rápida e os trabalhos puderam recomeçar. Não era o tio de Alan nem o filho ou a nora de Elenildo.

Os desabamentos deixaram mortos e inúmeros desabrigados. Continuidade das chuvas deixa a região em alerta para novos desabamentos. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Ninguém mais tem coragem de dormir aqui”, conta Daniel de Oliveira Silva, estudante de educação física, de 20 anos, que nasceu na Vila Sahy. O medo é que a chuva volte forte e leve mais casas. A de Daniel tem o térreo tomado de lama, dois carros e uma moto da família estão soterrados no que era a garagem. “Muita gente correu por aqui, mas tinham duas trombas de água que se encontraram nesse ponto, muitos ficaram soterrados”, afirma, mostrando a rua onde mora. Ele e a família ficaram na parte de cima da casa e só saíram pela manhã.

Há ainda árvores prestes a tombar no alto do morro, mostra o voluntário Rodrigo de Paula, que já ajudou em tragédias como as de Brumadinho e Petrópolis. Segundo ele, além da chuva, o sol também é um problema porque a lama seca e dificulta o trabalho de resgate.

Do outro lado da rodovia, turistas alugavam nesta terça-feira helicópteros por cerca de R$ 20 mil e pegavam barcos na praia, agora barrenta, para deixar a cidade. Só é possível sair da Barra do Sahy pelo ar, mar ou dirigindo em direção a São Sebastião, com a Rodovia dos Tamoios. Para o outro lado, em direção a Juquei, a estrada continua totalmente interditada.

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