Bairro da Liberdade: SP prevê esplanada com centro comercial e área de grandes eventos; entenda


Projeto prevê 12 mil m² em laje construída entre viadutos; proposta de ‘maior esplanada de cultura oriental do mundo’ é inspirada em arquitetura japonesa contemporânea

Por Priscila Mengue
Atualização:

A Prefeitura de São Paulo pretende criar uma praça pública em uma laje entre quatro viadutos e acima da Radial Leste-Oeste, com 12 mil metros quadrados. A proposta envolve a implementação de um centro comercial, praça de exposições, centro de inovação e cultura e outras instalações, inspiradas na arquitetura japonesa contemporânea. Em desenvolvimento, o projeto foi batizado de Esplanada Liberdade, no distrito homônimo do centro paulistano.

Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), a ideia é criar “a maior esplanada de cultura oriental do mundo, com vocações culturais, comerciais, gastronômicas, de lazer, turismo e serviços”. A ideia é potencializar o uso público e a atratividade turística do bairro, especialmente no trecho entre a Rua Conselheiro Furtado e a Avenida Liberdade. Há um entendimento de parte de comerciantes da região e da Prefeitura que o distrito precisa de mais espaços abertos para atender aos milhares de turistas que passam pelas vias da região nos fins de semana.

A proposta, porém, deve ter resistência de uma parte da população. Nos últimos anos, movimentos negros têm criticado um apagamento da identidade de outros povos que viveram no distrito em meio ao avanço de intervenções que destacam a ligação com a imigração japonesa, como a mudança de nome da Estação de metrô para Japão-Liberdade, dentre outras.

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A proposta ainda não tem datas oficiais para inauguração e início das obras ou valor de implementação estimado. Há um projeto referencial e novas contribuições técnicas com estudos de viabilidade e arquitetônicos serão selecionadas até 15 de janeiro, por meio de um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI). Os trabalhos serão remunerados em até R$ 3 milhões.

Além disso, a proposta pretende criar um novo cartão-postal, com arquitetura contemporânea de referências asiáticas, especialmente japonesas, com uma das novas construções no formato de origami, por exemplo. As referências apontadas são os premiados Toyo Ito e Kengo Kuma, que participou do projeto da Japan House, da Avenida Paulista.

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“É um sonho antigo da região, de ter uma área ampla na região da Liberdade”, disse ao Estadão o secretário municipal da Casa Civil, Fabricio Cobra. Segundo ele, trata-se de um demanda levada pelo setor privada à Prefeitura. “Falta um local amplo de convívio dentro da Liberdade, que se transforma na região de maior potencial turístico da cidade.”

Questionado sobre o motivo do projeto destacar referências orientais em meio às críticas de apagamento da memória negra da Liberdade, Cobra citou o projeto do Memorial dos Aflitos, que será erguido junto à capela de mesmo nome, que tratará desse tema.

“A esplanada não tira essa característica. A cidade pode conviver com uma série de ações, manifestações culturais”, afirmou. Ele citou o Bom Retiro como exemplo de bairro com um convívio multicultural harmonioso, embora lá também haja crescente discussão sobre o apagamentos de memórias culturais frente ao avanço da presença coreana.

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A proposta ainda não tem datas oficiais para inauguração e início das obras ou valor de implantação estimado  Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Conheça a proposta prevista para cada quadra da esplanada

Pelas características dos viadutos e da radial, a esplanada será diagonal, em que o ponto mais alto ficará a 20 metros do mais baixo. Rampas e escadas precisarão acompanhar o declive entre os vãos dos Viadutos Guilherme de Almeida, Cidade de Osaka, Mie Ken e Shuhei Uetsuka, que formarão três quadras (batizadas de “superior”, “central” e “inferior”).

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A ideia é valorizar a vista do entorno e permitir que as escadarias possam ser utilizadas como arquibancadas. Está em estudo a inclusão na proposta de intervenções em espaços do entorno, como a Praça Almeida Júnior, a Praça da Liberdade e o futuro Memorial dos Aflitos.

Projeto da Esplanada Liberdade prevê construção de laje entre viadutos Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Com foco no uso comercial, a quadra superior será entre a Avenida Liberdade e a Rua Galvão Bueno. A previsão é que tenha um centro comercial de 3 mil metros quadrados, com espaços para locação, e uma praça coberta elevada, com uma arquitetura inspirada nos origamis. A ideia é que esse trecho também receba exposições, intervenções artísticas em geral e feiras variadas.

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Já a quadra central será voltada à gastronomia, entre as Ruas Galvão Bueno, que terá a calçada alargada, e da Glória. O conceito para esse trecho é incluir um espaço para contemplação da vista da radial, como um mirante, e no desnível, implantar pontos gastronômicos, como restaurantes, casas de chá, bares e afins, todos voltados à culinária asiática.

A quadra inferior, por fim, entre as Ruas da Glória e Conselheiro Furtado, será voltada a grandes eventos ao ar livre e atividades culturais. As apresentações serão concentradas em uma nova construção, pensada para se tornar o principal símbolo da esplanada, com referências da arquitetura oriental contemporânea.

O edifício deve ser um polo de cultura, tecnologia e inovação, com área de exposição, coworking e outros espaços. A área externa do trecho vai comportar até 9 mil pessoas, porém, pela declividade, as apresentações também poderão ser vistas dos níveis superiores.

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A ideia é valorizar a vista do entorno e permitir que as escadarias também possam ser utilizadas como arquibancadas Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Ana Barone afirma que o tipo de proposta construção da esplanada, para “expandir o solo”, têm ganhado espaço em locais muito adensados. Por outro lado, podem gerar impactos negativos no entorno – a exemplo do que ocorreu na implementação do Minhocão, também na região central.

Projetos urbanos potencializaram Liberdade como ‘bairro japonês’

A proposta da esplanada se encaixa em um histórico de ações públicas e privadas que reafirmaram a caracterização da Liberdade como um “bairro japonês”, atraindo turismo para a região, especialmente após o boom dos mangás, dos animes e da cultura pop asiática em geral.

Entre essas intervenções, as principais foram a instalação das lanternas japonesas, nos anos 1970, a colocação das fachadas cênicas em prédios no entorno da Praça Liberdade, por volta de 2008, e a mudança do nome da Estação do Metrô para Japão-Liberdade, em 2018.

Professora da USP, Ana Barone explica que essa reafirmação da identidade partiu de comerciantes locais, que na época eram, em grande parte, de origem japonesa. “Tiveram essa ideia (das lanternas) pra vender produtos orientais no bairro”, explica. “E é uma comunidade que tem um capital econômico que torna esses projetos possíveis”, pontua. “Com essa ‘capa’ de cultura oriental.”

Prefeitura quer erguer lajes entre viadutos da Liberdade Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Professor de História da Unifesp, Odair da Cruz Paiva diz que as discussões sobre a identidade da Liberdade ganharam espaço principalmente após a mudança na Estação do Metrô e da descoberta de ossadas onde existiu o Cemitério dos Aflitos, que funcionou por volta de 1775 a 1858, destinado ao sepultamento de escravizados, criminosos, indigentes, excomungados e condenados à forca. “A comunidade negra reagiu, porque também tem ancestralidade naquele lugar.”

De certa forma, a Liberdade passou a ser um “território em disputa”, na avaliação do professor. “Como em toda a cidade, aquela cercania foi um adensamento de diferentes grupos sociais, diferentes povos”, aponta.

Ele resume que “a história da Liberdade, é uma história de ocultamento”, ao se referir a diferentes transformações nos últimos séculos, como a mudança de nome (antes era Glória), o loteamento do terreno do Cemitério dos Aflitos e o fim de espaços que marcavam a memória de violência do local, como a Praça da Forca, o Pelourinho e outros.

Paiva comenta que a transformação faz parte da trajetória das cidades, mas questiona o porquê de esses espaços não terem mantido marcações e registros do passado. “Desde o início da República, no século 19, já havia um projeto de modernização daquela cercania, que apagou coisas que existiam ali. Há poucos registros históricos”, avalia.

Pelas características dos viadutos e da radial, a esplanada será diagonal, em que o ponto mais alto ficará a 20 metros do mais baixo  Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Hoje, outros povos de origem asiática, como chineses, taiwaneses e coreanos, além de bolivianos, têm forte presença na região, como destaca a historiadora Sênia Bastos, professora na Anhembi Morumbi.

Segundo ela, parte dos comerciantes, mesmo quando de outras origens, mantém as características alinhadas ao que é entendido como um espaço japonês, enquanto outra reúne produtos e culinária de outras origens. “Se a gente olha o comércio, tem diversidade maior no bairro.”

A Prefeitura de São Paulo pretende criar uma praça pública em uma laje entre quatro viadutos e acima da Radial Leste-Oeste, com 12 mil metros quadrados. A proposta envolve a implementação de um centro comercial, praça de exposições, centro de inovação e cultura e outras instalações, inspiradas na arquitetura japonesa contemporânea. Em desenvolvimento, o projeto foi batizado de Esplanada Liberdade, no distrito homônimo do centro paulistano.

Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), a ideia é criar “a maior esplanada de cultura oriental do mundo, com vocações culturais, comerciais, gastronômicas, de lazer, turismo e serviços”. A ideia é potencializar o uso público e a atratividade turística do bairro, especialmente no trecho entre a Rua Conselheiro Furtado e a Avenida Liberdade. Há um entendimento de parte de comerciantes da região e da Prefeitura que o distrito precisa de mais espaços abertos para atender aos milhares de turistas que passam pelas vias da região nos fins de semana.

A proposta, porém, deve ter resistência de uma parte da população. Nos últimos anos, movimentos negros têm criticado um apagamento da identidade de outros povos que viveram no distrito em meio ao avanço de intervenções que destacam a ligação com a imigração japonesa, como a mudança de nome da Estação de metrô para Japão-Liberdade, dentre outras.

A proposta ainda não tem datas oficiais para inauguração e início das obras ou valor de implementação estimado. Há um projeto referencial e novas contribuições técnicas com estudos de viabilidade e arquitetônicos serão selecionadas até 15 de janeiro, por meio de um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI). Os trabalhos serão remunerados em até R$ 3 milhões.

Além disso, a proposta pretende criar um novo cartão-postal, com arquitetura contemporânea de referências asiáticas, especialmente japonesas, com uma das novas construções no formato de origami, por exemplo. As referências apontadas são os premiados Toyo Ito e Kengo Kuma, que participou do projeto da Japan House, da Avenida Paulista.

“É um sonho antigo da região, de ter uma área ampla na região da Liberdade”, disse ao Estadão o secretário municipal da Casa Civil, Fabricio Cobra. Segundo ele, trata-se de um demanda levada pelo setor privada à Prefeitura. “Falta um local amplo de convívio dentro da Liberdade, que se transforma na região de maior potencial turístico da cidade.”

Questionado sobre o motivo do projeto destacar referências orientais em meio às críticas de apagamento da memória negra da Liberdade, Cobra citou o projeto do Memorial dos Aflitos, que será erguido junto à capela de mesmo nome, que tratará desse tema.

“A esplanada não tira essa característica. A cidade pode conviver com uma série de ações, manifestações culturais”, afirmou. Ele citou o Bom Retiro como exemplo de bairro com um convívio multicultural harmonioso, embora lá também haja crescente discussão sobre o apagamentos de memórias culturais frente ao avanço da presença coreana.

A proposta ainda não tem datas oficiais para inauguração e início das obras ou valor de implantação estimado  Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Conheça a proposta prevista para cada quadra da esplanada

Pelas características dos viadutos e da radial, a esplanada será diagonal, em que o ponto mais alto ficará a 20 metros do mais baixo. Rampas e escadas precisarão acompanhar o declive entre os vãos dos Viadutos Guilherme de Almeida, Cidade de Osaka, Mie Ken e Shuhei Uetsuka, que formarão três quadras (batizadas de “superior”, “central” e “inferior”).

A ideia é valorizar a vista do entorno e permitir que as escadarias possam ser utilizadas como arquibancadas. Está em estudo a inclusão na proposta de intervenções em espaços do entorno, como a Praça Almeida Júnior, a Praça da Liberdade e o futuro Memorial dos Aflitos.

Projeto da Esplanada Liberdade prevê construção de laje entre viadutos Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Com foco no uso comercial, a quadra superior será entre a Avenida Liberdade e a Rua Galvão Bueno. A previsão é que tenha um centro comercial de 3 mil metros quadrados, com espaços para locação, e uma praça coberta elevada, com uma arquitetura inspirada nos origamis. A ideia é que esse trecho também receba exposições, intervenções artísticas em geral e feiras variadas.

Já a quadra central será voltada à gastronomia, entre as Ruas Galvão Bueno, que terá a calçada alargada, e da Glória. O conceito para esse trecho é incluir um espaço para contemplação da vista da radial, como um mirante, e no desnível, implantar pontos gastronômicos, como restaurantes, casas de chá, bares e afins, todos voltados à culinária asiática.

A quadra inferior, por fim, entre as Ruas da Glória e Conselheiro Furtado, será voltada a grandes eventos ao ar livre e atividades culturais. As apresentações serão concentradas em uma nova construção, pensada para se tornar o principal símbolo da esplanada, com referências da arquitetura oriental contemporânea.

O edifício deve ser um polo de cultura, tecnologia e inovação, com área de exposição, coworking e outros espaços. A área externa do trecho vai comportar até 9 mil pessoas, porém, pela declividade, as apresentações também poderão ser vistas dos níveis superiores.

A ideia é valorizar a vista do entorno e permitir que as escadarias também possam ser utilizadas como arquibancadas Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Ana Barone afirma que o tipo de proposta construção da esplanada, para “expandir o solo”, têm ganhado espaço em locais muito adensados. Por outro lado, podem gerar impactos negativos no entorno – a exemplo do que ocorreu na implementação do Minhocão, também na região central.

Projetos urbanos potencializaram Liberdade como ‘bairro japonês’

A proposta da esplanada se encaixa em um histórico de ações públicas e privadas que reafirmaram a caracterização da Liberdade como um “bairro japonês”, atraindo turismo para a região, especialmente após o boom dos mangás, dos animes e da cultura pop asiática em geral.

Entre essas intervenções, as principais foram a instalação das lanternas japonesas, nos anos 1970, a colocação das fachadas cênicas em prédios no entorno da Praça Liberdade, por volta de 2008, e a mudança do nome da Estação do Metrô para Japão-Liberdade, em 2018.

Professora da USP, Ana Barone explica que essa reafirmação da identidade partiu de comerciantes locais, que na época eram, em grande parte, de origem japonesa. “Tiveram essa ideia (das lanternas) pra vender produtos orientais no bairro”, explica. “E é uma comunidade que tem um capital econômico que torna esses projetos possíveis”, pontua. “Com essa ‘capa’ de cultura oriental.”

Prefeitura quer erguer lajes entre viadutos da Liberdade Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Professor de História da Unifesp, Odair da Cruz Paiva diz que as discussões sobre a identidade da Liberdade ganharam espaço principalmente após a mudança na Estação do Metrô e da descoberta de ossadas onde existiu o Cemitério dos Aflitos, que funcionou por volta de 1775 a 1858, destinado ao sepultamento de escravizados, criminosos, indigentes, excomungados e condenados à forca. “A comunidade negra reagiu, porque também tem ancestralidade naquele lugar.”

De certa forma, a Liberdade passou a ser um “território em disputa”, na avaliação do professor. “Como em toda a cidade, aquela cercania foi um adensamento de diferentes grupos sociais, diferentes povos”, aponta.

Ele resume que “a história da Liberdade, é uma história de ocultamento”, ao se referir a diferentes transformações nos últimos séculos, como a mudança de nome (antes era Glória), o loteamento do terreno do Cemitério dos Aflitos e o fim de espaços que marcavam a memória de violência do local, como a Praça da Forca, o Pelourinho e outros.

Paiva comenta que a transformação faz parte da trajetória das cidades, mas questiona o porquê de esses espaços não terem mantido marcações e registros do passado. “Desde o início da República, no século 19, já havia um projeto de modernização daquela cercania, que apagou coisas que existiam ali. Há poucos registros históricos”, avalia.

Pelas características dos viadutos e da radial, a esplanada será diagonal, em que o ponto mais alto ficará a 20 metros do mais baixo  Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Hoje, outros povos de origem asiática, como chineses, taiwaneses e coreanos, além de bolivianos, têm forte presença na região, como destaca a historiadora Sênia Bastos, professora na Anhembi Morumbi.

Segundo ela, parte dos comerciantes, mesmo quando de outras origens, mantém as características alinhadas ao que é entendido como um espaço japonês, enquanto outra reúne produtos e culinária de outras origens. “Se a gente olha o comércio, tem diversidade maior no bairro.”

A Prefeitura de São Paulo pretende criar uma praça pública em uma laje entre quatro viadutos e acima da Radial Leste-Oeste, com 12 mil metros quadrados. A proposta envolve a implementação de um centro comercial, praça de exposições, centro de inovação e cultura e outras instalações, inspiradas na arquitetura japonesa contemporânea. Em desenvolvimento, o projeto foi batizado de Esplanada Liberdade, no distrito homônimo do centro paulistano.

Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), a ideia é criar “a maior esplanada de cultura oriental do mundo, com vocações culturais, comerciais, gastronômicas, de lazer, turismo e serviços”. A ideia é potencializar o uso público e a atratividade turística do bairro, especialmente no trecho entre a Rua Conselheiro Furtado e a Avenida Liberdade. Há um entendimento de parte de comerciantes da região e da Prefeitura que o distrito precisa de mais espaços abertos para atender aos milhares de turistas que passam pelas vias da região nos fins de semana.

A proposta, porém, deve ter resistência de uma parte da população. Nos últimos anos, movimentos negros têm criticado um apagamento da identidade de outros povos que viveram no distrito em meio ao avanço de intervenções que destacam a ligação com a imigração japonesa, como a mudança de nome da Estação de metrô para Japão-Liberdade, dentre outras.

A proposta ainda não tem datas oficiais para inauguração e início das obras ou valor de implementação estimado. Há um projeto referencial e novas contribuições técnicas com estudos de viabilidade e arquitetônicos serão selecionadas até 15 de janeiro, por meio de um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI). Os trabalhos serão remunerados em até R$ 3 milhões.

Além disso, a proposta pretende criar um novo cartão-postal, com arquitetura contemporânea de referências asiáticas, especialmente japonesas, com uma das novas construções no formato de origami, por exemplo. As referências apontadas são os premiados Toyo Ito e Kengo Kuma, que participou do projeto da Japan House, da Avenida Paulista.

“É um sonho antigo da região, de ter uma área ampla na região da Liberdade”, disse ao Estadão o secretário municipal da Casa Civil, Fabricio Cobra. Segundo ele, trata-se de um demanda levada pelo setor privada à Prefeitura. “Falta um local amplo de convívio dentro da Liberdade, que se transforma na região de maior potencial turístico da cidade.”

Questionado sobre o motivo do projeto destacar referências orientais em meio às críticas de apagamento da memória negra da Liberdade, Cobra citou o projeto do Memorial dos Aflitos, que será erguido junto à capela de mesmo nome, que tratará desse tema.

“A esplanada não tira essa característica. A cidade pode conviver com uma série de ações, manifestações culturais”, afirmou. Ele citou o Bom Retiro como exemplo de bairro com um convívio multicultural harmonioso, embora lá também haja crescente discussão sobre o apagamentos de memórias culturais frente ao avanço da presença coreana.

A proposta ainda não tem datas oficiais para inauguração e início das obras ou valor de implantação estimado  Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Conheça a proposta prevista para cada quadra da esplanada

Pelas características dos viadutos e da radial, a esplanada será diagonal, em que o ponto mais alto ficará a 20 metros do mais baixo. Rampas e escadas precisarão acompanhar o declive entre os vãos dos Viadutos Guilherme de Almeida, Cidade de Osaka, Mie Ken e Shuhei Uetsuka, que formarão três quadras (batizadas de “superior”, “central” e “inferior”).

A ideia é valorizar a vista do entorno e permitir que as escadarias possam ser utilizadas como arquibancadas. Está em estudo a inclusão na proposta de intervenções em espaços do entorno, como a Praça Almeida Júnior, a Praça da Liberdade e o futuro Memorial dos Aflitos.

Projeto da Esplanada Liberdade prevê construção de laje entre viadutos Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Com foco no uso comercial, a quadra superior será entre a Avenida Liberdade e a Rua Galvão Bueno. A previsão é que tenha um centro comercial de 3 mil metros quadrados, com espaços para locação, e uma praça coberta elevada, com uma arquitetura inspirada nos origamis. A ideia é que esse trecho também receba exposições, intervenções artísticas em geral e feiras variadas.

Já a quadra central será voltada à gastronomia, entre as Ruas Galvão Bueno, que terá a calçada alargada, e da Glória. O conceito para esse trecho é incluir um espaço para contemplação da vista da radial, como um mirante, e no desnível, implantar pontos gastronômicos, como restaurantes, casas de chá, bares e afins, todos voltados à culinária asiática.

A quadra inferior, por fim, entre as Ruas da Glória e Conselheiro Furtado, será voltada a grandes eventos ao ar livre e atividades culturais. As apresentações serão concentradas em uma nova construção, pensada para se tornar o principal símbolo da esplanada, com referências da arquitetura oriental contemporânea.

O edifício deve ser um polo de cultura, tecnologia e inovação, com área de exposição, coworking e outros espaços. A área externa do trecho vai comportar até 9 mil pessoas, porém, pela declividade, as apresentações também poderão ser vistas dos níveis superiores.

A ideia é valorizar a vista do entorno e permitir que as escadarias também possam ser utilizadas como arquibancadas Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Ana Barone afirma que o tipo de proposta construção da esplanada, para “expandir o solo”, têm ganhado espaço em locais muito adensados. Por outro lado, podem gerar impactos negativos no entorno – a exemplo do que ocorreu na implementação do Minhocão, também na região central.

Projetos urbanos potencializaram Liberdade como ‘bairro japonês’

A proposta da esplanada se encaixa em um histórico de ações públicas e privadas que reafirmaram a caracterização da Liberdade como um “bairro japonês”, atraindo turismo para a região, especialmente após o boom dos mangás, dos animes e da cultura pop asiática em geral.

Entre essas intervenções, as principais foram a instalação das lanternas japonesas, nos anos 1970, a colocação das fachadas cênicas em prédios no entorno da Praça Liberdade, por volta de 2008, e a mudança do nome da Estação do Metrô para Japão-Liberdade, em 2018.

Professora da USP, Ana Barone explica que essa reafirmação da identidade partiu de comerciantes locais, que na época eram, em grande parte, de origem japonesa. “Tiveram essa ideia (das lanternas) pra vender produtos orientais no bairro”, explica. “E é uma comunidade que tem um capital econômico que torna esses projetos possíveis”, pontua. “Com essa ‘capa’ de cultura oriental.”

Prefeitura quer erguer lajes entre viadutos da Liberdade Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Professor de História da Unifesp, Odair da Cruz Paiva diz que as discussões sobre a identidade da Liberdade ganharam espaço principalmente após a mudança na Estação do Metrô e da descoberta de ossadas onde existiu o Cemitério dos Aflitos, que funcionou por volta de 1775 a 1858, destinado ao sepultamento de escravizados, criminosos, indigentes, excomungados e condenados à forca. “A comunidade negra reagiu, porque também tem ancestralidade naquele lugar.”

De certa forma, a Liberdade passou a ser um “território em disputa”, na avaliação do professor. “Como em toda a cidade, aquela cercania foi um adensamento de diferentes grupos sociais, diferentes povos”, aponta.

Ele resume que “a história da Liberdade, é uma história de ocultamento”, ao se referir a diferentes transformações nos últimos séculos, como a mudança de nome (antes era Glória), o loteamento do terreno do Cemitério dos Aflitos e o fim de espaços que marcavam a memória de violência do local, como a Praça da Forca, o Pelourinho e outros.

Paiva comenta que a transformação faz parte da trajetória das cidades, mas questiona o porquê de esses espaços não terem mantido marcações e registros do passado. “Desde o início da República, no século 19, já havia um projeto de modernização daquela cercania, que apagou coisas que existiam ali. Há poucos registros históricos”, avalia.

Pelas características dos viadutos e da radial, a esplanada será diagonal, em que o ponto mais alto ficará a 20 metros do mais baixo  Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Hoje, outros povos de origem asiática, como chineses, taiwaneses e coreanos, além de bolivianos, têm forte presença na região, como destaca a historiadora Sênia Bastos, professora na Anhembi Morumbi.

Segundo ela, parte dos comerciantes, mesmo quando de outras origens, mantém as características alinhadas ao que é entendido como um espaço japonês, enquanto outra reúne produtos e culinária de outras origens. “Se a gente olha o comércio, tem diversidade maior no bairro.”

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