Com o avanço da seca, cresce o número de cidades com problemas de abastecimento de água no interior de São Paulo. Em Barretos, no norte do Estado, não chove há mais de 160 dias e parte dos 122.485 moradores já é abastecida com caminhões-pipa. A prefeitura decretou emergência. Foi criado um canal exclusivo para a população pedir o abastecimento com caminhões.
Um comitê de crise foi formado para adotar medidas de mitigação da seca. “Essa iniciativa envolve tanto o setor público quanto o privado, pois estamos usando diversos caminhões-pipa para abastecer os reservatórios do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) e amenizar a grave crise hídrica enfrentada pela cidade. Estamos há um longo período sem chuva”, disse o secretário de Ordem Pública e Defesa Civil, Edson Costa.
Empresas locais e prefeituras de cidades vizinhas, como Bebedouro, Monte Azul Paulista e Jaborandi, enviaram caminhões com água para ajudar no abastecimento da cidade. A prioridade da força-tarefa é abastecer escolas, creches e residências com pessoas acamadas.
Nesta sexta-feira, 27, o atendimento com caminhões foi ampliado para atender o comércio e as moradias das regiões mais afetadas. Apesar de considerar a situação grave, o Saae informou que “não há interrupção geral no fornecimento de água”.
Em São José do Rio Preto, o decreto de emergência devido à estiagem foi publicado no Diário Oficial do município nesta quinta-feira, 26. A cidade está há cinco meses sem chuvas significativas. Conforme o texto, a escassez hídrica “tem causado dificuldades no serviço de abastecimento de água e prejuízos econômicos privados expressivos, especialmente nos setores da agricultura e pecuária”.
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A Represa Municipal, responsável por abastecer 30% dos 480,3 mil moradores, entrou em nível crítico. O Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae) iniciou um plano emergencial de monitoramento do sistema de captação. Os incêndios que atingem a periferia da cidade contribuem para elevar o consumo de água.
Algumas cidades que já racionam água no interior são Artur Nogueira, Bauru, Vinhedo e Atibaia. Em Artur Nogueira, com emergência decretada devido à crise hídrica, o racionamento foi adotado em julho e a prefeitura está distribuindo fardos com garrafas de água potável à população. É preciso apresentar uma conta de água para comprovar a residência.
Em Bauru, os 391 mil habitantes sofrem com a falta de água desde 9 de maio deste ano, quando o rodízio foi iniciado, após a decretação de emergência hídrica. A escassez afeta principalmente os 130 mil moradores abastecidos com a água captada no Rio Batalha, que está muito baixo.
O nível era de 1,55 m nesta sexta, quando o esperado seriam 3,20. Os bairros ficam 24 horas com abastecimento e 48 sem água. A SP-Águas, antigo Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) iniciou o desassoreamento da lagoa de captação para ampliar a reserva de água. A reportagem entrou em contato com a SP Águas e aguarda retorno.
Uso consciente da água é essencial
A Sabesp informou que, com as chuvas entre fevereiro e setembro 35% menores em comparação com o o ano passado, foram adotadas medidas técnicas para reforçar o sistema de abastecimento, como transferências no sistema integrado, contratação de estações móveis de tratamento para aumentar a vazão de água e disponibilidade de caminhões-tanque para emergências, além de ações de conscientização, com distribuição de folhetos, circulação de carros de som e tendas com material informativo.
Segundo a companhia, não há racionamento nos 375 municípios operados, mas a Sabesp reforça que, com a estiagem e altas temperaturas, o uso consciente da água é essencial.
Os sete sistemas que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo estavam com 49,7% do volume útil, operando em estado de atenção, nesta sexta. De acordo com a Sabesp, esse volume mantém a média dos últimos cinco anos, que é de 49,2%. O estado de alerta é acionado quando o volume armazenado fica abaixo de 40%.
O Sistema Cantareira, o principal deles, operava com 51,5%, mas também está em baixa. No final de agosto, o volume útil era de 57%. Este mês, choveu apenas 5,4 milímetros na área de influência do Cantareira, para uma média histórica de 81,2 mm. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) mantém o Cantareira em condição de seca hidrológica de intensidade severa.
Chuvas vão voltar?
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê o retorno gradual das chuvas no Estado de São Paulo para a segunda quinzena de outubro. A previsão é de que as chuvas aconteçam acima da média, compensando em parte o longo período de estiagem no estado.
Já as temperaturas, que estiveram acima da média durante quase todo o mês de setembro, vão ficar próximas da média histórica em outubro, o que significa que não haverá calor em excesso na maioria dos dias. As regiões central e norte do Estado estão sujeitas a temperaturas ligeiramente acima da média, segundo o Inmet.
Rios Pinheiros e Tietê
Nesta sexta-feira, o governo paulista iniciou uma nova operação de bombeamento para melhorar a circulação no Rio Pinheiros, na capital, contribuindo para a melhoria da água e redução na quantidade de algas. A operação será repetida no domingo, 29. Com a estiagem, a vazão que chega ao Pinheiros pelos rios afluentes diminuiu sensivelmente, favorecendo a proliferação de algas que deixam a água esverdeada.
Entre os dias 10 e 11 de setembro foram feitos os primeiros bombeamentos para aumentar a circulação da água, que é dificultada pela falta de declividade do rio.
A longa estiagem também é uma das causas do aumento na mancha de poluição do Rio Tietê. Como mostrou reportagem do Estadão, estudo da Fundação SOS Mata Atlântica apontou que a mancha aumentou 47 quilômetros de 2023 para 2024, chegando a 207 quilômetros e atingindo a região de Barra Bonita, no interior.
Conforme a secretária estadual do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natalia Resende, a estiagem prolongada reduziu o nível dos rios e aumentou a concentração de poluentes nas águas.