O novo secretário de Segurança Pública de São Paulo, capitão Guilherme Derrite, afirmou nesta terça-feira, 17, que o combate à alta no número de sequestros em São Paulo envolve orientação da população, para evitar que vítimas caiam em emboscadas, e interlocução da polícia com instituições financeiras.
A declaração foi dada após o secretário ser questionado, em entrevista à Rádio Jovem Pan, sobre reportagem do Estadão desta terça que revelou que os casos de extorsão mediante sequestro atingiram o maior patamar em 15 anos no Estado. Os dados do levantamento foram obtidos via Lei de Acesso à Informação.
A reportagem mostra que a alta recente é associada à maior facilidade em desviar dinheiro via Pix, sistema lançado no fim de 2020 pelo Banco Central, e ao avanço do Golpe do Amor, em que vítimas caem em emboscadas após marcar encontros por aplicativo de namoro.
O secretário afirmou que, segundo dados da Polícia Civil, 70% dos casos de sequestro ocorrem porque “a vítima se coloca em uma condição vulnerável”. Ao Estadão, delegados da Divisão Antissequestro afirmaram que o Golpe do Amor supera até 90% dos casos.
Diante desse cenário, Derrite disse que a alta de sequestros deve ser combatida de duas formas: com trabalho de inteligência da polícia, o que também envolve conscientização da população sobre golpes, e por meio da interlocução com instituições financeiras.
“(O Golpe do Amor) É um crime em que o criminoso se passa por uma mulher, via de regra, marca um encontro e, quando chega lá, sofre esse sequestro”, afirmou. “Cabe a nós orientar a população: cuidado, 70% não é um número irrelevante. É um número muito alto.”
Em paralelo, o secretário afirmou que a Secretaria de Segurança Pública deve “chamar para a discussão as instituições bancárias”. “Nós já temos reuniões marcadas com eles, com os setores de segurança das instituições bancárias, para que eles possam fornecer mecanismos de segurança imediatos para avisar as forças policiais quando valores são transferidos via Pix”, disse.
“O Pix é uma ferramenta que ajudou demais a população, por conta do não pagamento das transferências bancárias, só que o crime se adaptou rapidamente e as forças de segurança agora têm que dar uma resposta à altura”, afirmou. “Trazer os bancos para essa discussão é fundamental.”
O secretário disse que isso não exime o trabalho de inteligência da Polícia Civil, uma vez que, afirmou, os alvos das investigações “são quadrilhas que têm o costume de fazer (sequestros) várias vezes”. “A prisão tem que ocorrer para que a gente desmantele esse número grande que, infelizmente, ocorre no Estado de São Paulo”.
“Eu vi essa matéria falando de aumento de (cerca de) 70% de sequestros do Pix”, afirmou. Como revelou a reportagem, houve 165 casos de janeiro a setembro de 2022, alta de 75% ante o mesmo período do ano anterior (94 notificações).
Prisões pela Divisão Antissequestro mais do que dobrou
O total de prisões pela Divisão Antissequestro mais do que dobrou no período recente: de 138, em 2021, para 303, no ano passado. A Divisão de Antissequestro também fez treinamentos no fim de 2022, com foco nesses crimes.
Segundo o delegado Fábio Nelson Fernandes, chefe da Antissequestro, a capacitação mira abordagem mais efetiva e “desafogar” a divisão especializada, permitindo foco na desarticulação de quadrilhas. Segundo ele, também foram criados núcleos de inteligência para mapear grupos criminosos.
Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que as instituições bancárias atuam em parceria com forças policiais e orientam que os clientes usem as funcionalidades dos apps para ajustar os limites conforme as necessidades.
Já o Banco Central disse, também em nota, que todas as operações com o Pix são 100% rastreáveis, o que permite identificar contas recebedoras. A instituição diz orientar instituições e clientes para que usem plenamente os mecanismos de segurança.