Conheça a história da mulher negra que foi mumificada em 1900 e hoje inspira peça de teatro em SP


Jacinta Maria de Santana teve seu corpo utilizado por ‘experimentos científicos’ na Faculdade de Direito da USP; após protestos, unidade retirou homenagem ao médico

Por Gonçalo Junior
Atualização:

Pouco se sabe sobre a vida de Jacinta Maria de Santana, mulher negra que vivia em situação de rua do centro de São Paulo por volta do ano de 1900. Os raros registros históricos mostram que ela se sentiu mal no dia 26 de novembro, com dificuldade para respirar e náusea. Cambaleou na Rua Dutra Rodrigues, perto da Estação da Luz, e morreu a caminho da Santa Casa de São Paulo.

Seu corpo ficou aos cuidados do médico e catedrático Amâncio de Carvalho, que lecionava Medicina Legal na Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco. O professor, que fazia pesquisas para embalsamar cadáveres, foi acusado de expor o corpo de Jacinta em espaço público e na sala de aula da faculdade como curiosidade científica por pelo menos três décadas. O cadáver teria sido submetido a humilhações durante trotes por estudantes.

Após cerca de 120 anos de esquecimento, a história foi recuperada pela historiadora Suzane Jardim, mestranda em Ciências Sociais da Universidade Federal do ABC. Ao analisar jornais publicados por entidades negras no século XX, Suzane encontrou um texto de 1929 que noticiava o enterro de uma múmia. A descoberta se transformou em uma reportagem do site Ponte Jornalismo em 2021.

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Alessandro Marba e Gislaine Nascimento durante a peça 'Jacinta', que está em cartaz em São Paulo até 10 de dezembro Foto: BOB SOUSA

O texto, por sua vez, inspirou a Cia do Pássaro - Voo e Teatro, companhia com 12 anos de existência, a criar o espetáculo Jacinta – Você só morre quando dizem seu nome pela última vez, em cartaz em São Paulo.

“Nosso projeto quer inverter o processo de apagamento e desumanização dessas pessoas, devolvendo a elas seus nomes e suas histórias”, afirma o diretor Dawton Abranches. “Suas histórias nos auxiliam na compreensão das relações de poder e submissão da sociedade.”

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Sob a influência estética da mitologia afro-brasileira, o espetáculo revela características históricas do período em que Jacinta viveu e mostra como algumas se refletem na sociedade atual. A atriz Gislaine Nascimento relata a história da protagonista, mas reflete sobre sua própria trajetória, mostrando a linha tênue entre atriz e personagem. O personagem Tata (Alessandro Marba) dilui as fronteiras de tempo e espaço, acentuando a atualidade do drama.

Além da pesquisa da historiadora Suzane Jardim, autoras negras como Leda Maria Martins, Cida Bento, Neusa Santos Souza e Sueli Carneiro dão sustentação à dramaturgia. “A peça e todo o nosso projeto pretendem ser mais uma via de reflexão sobre as heranças desse período, para que possamos criar estratégias de combate a essa realidade. Para isso, começamos tentando devolver a humanidade tomada de Jacinta, alicerçados nos estudos de outras mulheres pretas contemporâneas”, diz o diretor.

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O espetáculo integra a “Trilogia do Resgate”, que recupera o apagamento de personalidades históricas. O primeiro foi Baquaqua, em 2016, criado a partir da única biografia escrita por um ex-escravizado no Brasil. E o próximo será sobre Tebas, Joaquim Pinto de Oliveira, arquiteto negro escravizado no século XVIII e que influenciou diretamente o pensamento arquitetônico na cidade. Abranches conta que companhia traz, desde a sua fundação, o que chama de “fricção” entre branquitude e negritude nas pesquisas de criação artística para encenação das obras.

O projeto é realizado por meio do 16.º Prêmio Zé Renato de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, cumpriu temporada na sede da companhia, o Espaço Cia do Pássaro, e circulou por Centros Educacionais Unificados (CEUs), sempre com oficinas e conversas públicas lideradas por mulheres pretas.

A repercussão tem sido positiva, especialmente entre alunos da rede pública de ensino. Professores também relatam que a peça inspira discussões nas salas de aula.

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Homenagens ao médico foram retiradas pela Faculdade de Direito

Ainda em 2021, a Faculdade de Direito criou uma comissão para apurar o caso de Jacinta Maria de Santana. O debate só avançou no segundo semestre de 2022, quando estudantes do movimento negro passaram a cobrar um posicionamento da faculdade.

“No início de 2023, no tour A História que a História Não Conta, organizado pela Travessia, gestão do (centro acadêmico) XI de Agosto naquele momento, apresentamos aos calouros a história da Jacinta e como a violência contra ela significou violência contra nós mulheres negras que estávamos ocupando aquele espaço”, conta a estudante Amanda Medina, cofundadora da Coligação de Coletivos Negros da USP e representante discente na Comissão de Direitos Humanos da USP.

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“Organizamos mesa aberta ao público para discutir a mudança do nome, fizemos um abaixo assinado que obteve mais de 1.000 assinaturas, entre elas estavam representantes de movimentos negros, mídia, estudantes de dentro e de fora da USP, Centros Acadêmicos e Coletivos”, diz.

A Congregação da Faculdade de Direito da USP decidiu pela retirada do nome de Amâncio de Carvalho, já falecido, de uma de suas salas no dia 30 de março. O órgão também resolveu colocar uma placa explicativa sobre o episódio. “As medidas não foram tomadas pelo diretor, mas pela Congregação, órgão máximo de direção da faculdade”, diz Celso Campilongo, diretor da Faculdade de Direito da USP.

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Uma comissão foi definida para escolher o novo nome da sala, que ainda está indefinido. Os estudantes querem “Sala Mães de Maio”, referência ao grupo de mulheres que perderam filhos em episódios de violência policial nas últimas décadas no País.

“Essa conquista me deu uma certeza gigante de que só a luta coletiva e organizada pelos setores mais oprimidos é capaz de transformar o mundo que a gente vive. Como estudante negra, cotista e futura bacharel em Direito, eu sinto que esse diploma não é só para a minha mãe, é para Jacinta também”, diz Amanda.

Campilongo afirma que o perfil dos alunos do Largo São Francisco mudou bastante nos últimos cinco anos e está mais diversificado. A 191.ª Turma, a primeira de cotistas étnico-raciais da história de uma instituição com quase 200 anos de história, fez a formatura em fevereiro.

“Nos dias atuais nós temos que ter uma atenção redobrada com o perfil socioeconômico e étnico-racial que a gente tem na faculdade. A adoção da lei de cotas foi uma das mudanças mais importantes da USP em seus 90 anos de história”, afirma o professor.

Serviço

Peça: Jacinta – Você só morre quando dizem seu nome pela última vez

Quando: Até 10 de dezembro*

Horários: sábados (20h) e domingos (19h)

Bilheteria: ingressos gratuitos - retirar com 1 hora de antecedência

* No dia 2 de dezembro (sábado, 21h30), encontro público “Dramaturgia e biografias ancestrais”, com a dramaturga e roteirista Dione Carlos. Acessibilidade em Libras neste dia

Onde: Espaço Cia. do Pássaro

Endereço: Rua Álvaro de Carvalho, 177 – Anhangabaú (Linha Vermelha do Metrô).

Realização: Prêmio Zé Renato de Teatro, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e Cia do Pássaro - Voo e Teatro.

Autoria e direção: Dawton Abranches

Elenco: Gislaine Nascimento, Alessandro Marba e Camila Silva

Produção: Plataforma - Estúdio de Produção Cultural

*Este conteúdo foi produzido em parceria com a Cia. do Pássaro e a Coligação de Coletivos Negros da USP

Pouco se sabe sobre a vida de Jacinta Maria de Santana, mulher negra que vivia em situação de rua do centro de São Paulo por volta do ano de 1900. Os raros registros históricos mostram que ela se sentiu mal no dia 26 de novembro, com dificuldade para respirar e náusea. Cambaleou na Rua Dutra Rodrigues, perto da Estação da Luz, e morreu a caminho da Santa Casa de São Paulo.

Seu corpo ficou aos cuidados do médico e catedrático Amâncio de Carvalho, que lecionava Medicina Legal na Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco. O professor, que fazia pesquisas para embalsamar cadáveres, foi acusado de expor o corpo de Jacinta em espaço público e na sala de aula da faculdade como curiosidade científica por pelo menos três décadas. O cadáver teria sido submetido a humilhações durante trotes por estudantes.

Após cerca de 120 anos de esquecimento, a história foi recuperada pela historiadora Suzane Jardim, mestranda em Ciências Sociais da Universidade Federal do ABC. Ao analisar jornais publicados por entidades negras no século XX, Suzane encontrou um texto de 1929 que noticiava o enterro de uma múmia. A descoberta se transformou em uma reportagem do site Ponte Jornalismo em 2021.

Alessandro Marba e Gislaine Nascimento durante a peça 'Jacinta', que está em cartaz em São Paulo até 10 de dezembro Foto: BOB SOUSA

O texto, por sua vez, inspirou a Cia do Pássaro - Voo e Teatro, companhia com 12 anos de existência, a criar o espetáculo Jacinta – Você só morre quando dizem seu nome pela última vez, em cartaz em São Paulo.

“Nosso projeto quer inverter o processo de apagamento e desumanização dessas pessoas, devolvendo a elas seus nomes e suas histórias”, afirma o diretor Dawton Abranches. “Suas histórias nos auxiliam na compreensão das relações de poder e submissão da sociedade.”

Sob a influência estética da mitologia afro-brasileira, o espetáculo revela características históricas do período em que Jacinta viveu e mostra como algumas se refletem na sociedade atual. A atriz Gislaine Nascimento relata a história da protagonista, mas reflete sobre sua própria trajetória, mostrando a linha tênue entre atriz e personagem. O personagem Tata (Alessandro Marba) dilui as fronteiras de tempo e espaço, acentuando a atualidade do drama.

Além da pesquisa da historiadora Suzane Jardim, autoras negras como Leda Maria Martins, Cida Bento, Neusa Santos Souza e Sueli Carneiro dão sustentação à dramaturgia. “A peça e todo o nosso projeto pretendem ser mais uma via de reflexão sobre as heranças desse período, para que possamos criar estratégias de combate a essa realidade. Para isso, começamos tentando devolver a humanidade tomada de Jacinta, alicerçados nos estudos de outras mulheres pretas contemporâneas”, diz o diretor.

O espetáculo integra a “Trilogia do Resgate”, que recupera o apagamento de personalidades históricas. O primeiro foi Baquaqua, em 2016, criado a partir da única biografia escrita por um ex-escravizado no Brasil. E o próximo será sobre Tebas, Joaquim Pinto de Oliveira, arquiteto negro escravizado no século XVIII e que influenciou diretamente o pensamento arquitetônico na cidade. Abranches conta que companhia traz, desde a sua fundação, o que chama de “fricção” entre branquitude e negritude nas pesquisas de criação artística para encenação das obras.

O projeto é realizado por meio do 16.º Prêmio Zé Renato de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, cumpriu temporada na sede da companhia, o Espaço Cia do Pássaro, e circulou por Centros Educacionais Unificados (CEUs), sempre com oficinas e conversas públicas lideradas por mulheres pretas.

A repercussão tem sido positiva, especialmente entre alunos da rede pública de ensino. Professores também relatam que a peça inspira discussões nas salas de aula.

Homenagens ao médico foram retiradas pela Faculdade de Direito

Ainda em 2021, a Faculdade de Direito criou uma comissão para apurar o caso de Jacinta Maria de Santana. O debate só avançou no segundo semestre de 2022, quando estudantes do movimento negro passaram a cobrar um posicionamento da faculdade.

“No início de 2023, no tour A História que a História Não Conta, organizado pela Travessia, gestão do (centro acadêmico) XI de Agosto naquele momento, apresentamos aos calouros a história da Jacinta e como a violência contra ela significou violência contra nós mulheres negras que estávamos ocupando aquele espaço”, conta a estudante Amanda Medina, cofundadora da Coligação de Coletivos Negros da USP e representante discente na Comissão de Direitos Humanos da USP.

“Organizamos mesa aberta ao público para discutir a mudança do nome, fizemos um abaixo assinado que obteve mais de 1.000 assinaturas, entre elas estavam representantes de movimentos negros, mídia, estudantes de dentro e de fora da USP, Centros Acadêmicos e Coletivos”, diz.

A Congregação da Faculdade de Direito da USP decidiu pela retirada do nome de Amâncio de Carvalho, já falecido, de uma de suas salas no dia 30 de março. O órgão também resolveu colocar uma placa explicativa sobre o episódio. “As medidas não foram tomadas pelo diretor, mas pela Congregação, órgão máximo de direção da faculdade”, diz Celso Campilongo, diretor da Faculdade de Direito da USP.

Uma comissão foi definida para escolher o novo nome da sala, que ainda está indefinido. Os estudantes querem “Sala Mães de Maio”, referência ao grupo de mulheres que perderam filhos em episódios de violência policial nas últimas décadas no País.

“Essa conquista me deu uma certeza gigante de que só a luta coletiva e organizada pelos setores mais oprimidos é capaz de transformar o mundo que a gente vive. Como estudante negra, cotista e futura bacharel em Direito, eu sinto que esse diploma não é só para a minha mãe, é para Jacinta também”, diz Amanda.

Campilongo afirma que o perfil dos alunos do Largo São Francisco mudou bastante nos últimos cinco anos e está mais diversificado. A 191.ª Turma, a primeira de cotistas étnico-raciais da história de uma instituição com quase 200 anos de história, fez a formatura em fevereiro.

“Nos dias atuais nós temos que ter uma atenção redobrada com o perfil socioeconômico e étnico-racial que a gente tem na faculdade. A adoção da lei de cotas foi uma das mudanças mais importantes da USP em seus 90 anos de história”, afirma o professor.

Serviço

Peça: Jacinta – Você só morre quando dizem seu nome pela última vez

Quando: Até 10 de dezembro*

Horários: sábados (20h) e domingos (19h)

Bilheteria: ingressos gratuitos - retirar com 1 hora de antecedência

* No dia 2 de dezembro (sábado, 21h30), encontro público “Dramaturgia e biografias ancestrais”, com a dramaturga e roteirista Dione Carlos. Acessibilidade em Libras neste dia

Onde: Espaço Cia. do Pássaro

Endereço: Rua Álvaro de Carvalho, 177 – Anhangabaú (Linha Vermelha do Metrô).

Realização: Prêmio Zé Renato de Teatro, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e Cia do Pássaro - Voo e Teatro.

Autoria e direção: Dawton Abranches

Elenco: Gislaine Nascimento, Alessandro Marba e Camila Silva

Produção: Plataforma - Estúdio de Produção Cultural

*Este conteúdo foi produzido em parceria com a Cia. do Pássaro e a Coligação de Coletivos Negros da USP

Pouco se sabe sobre a vida de Jacinta Maria de Santana, mulher negra que vivia em situação de rua do centro de São Paulo por volta do ano de 1900. Os raros registros históricos mostram que ela se sentiu mal no dia 26 de novembro, com dificuldade para respirar e náusea. Cambaleou na Rua Dutra Rodrigues, perto da Estação da Luz, e morreu a caminho da Santa Casa de São Paulo.

Seu corpo ficou aos cuidados do médico e catedrático Amâncio de Carvalho, que lecionava Medicina Legal na Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco. O professor, que fazia pesquisas para embalsamar cadáveres, foi acusado de expor o corpo de Jacinta em espaço público e na sala de aula da faculdade como curiosidade científica por pelo menos três décadas. O cadáver teria sido submetido a humilhações durante trotes por estudantes.

Após cerca de 120 anos de esquecimento, a história foi recuperada pela historiadora Suzane Jardim, mestranda em Ciências Sociais da Universidade Federal do ABC. Ao analisar jornais publicados por entidades negras no século XX, Suzane encontrou um texto de 1929 que noticiava o enterro de uma múmia. A descoberta se transformou em uma reportagem do site Ponte Jornalismo em 2021.

Alessandro Marba e Gislaine Nascimento durante a peça 'Jacinta', que está em cartaz em São Paulo até 10 de dezembro Foto: BOB SOUSA

O texto, por sua vez, inspirou a Cia do Pássaro - Voo e Teatro, companhia com 12 anos de existência, a criar o espetáculo Jacinta – Você só morre quando dizem seu nome pela última vez, em cartaz em São Paulo.

“Nosso projeto quer inverter o processo de apagamento e desumanização dessas pessoas, devolvendo a elas seus nomes e suas histórias”, afirma o diretor Dawton Abranches. “Suas histórias nos auxiliam na compreensão das relações de poder e submissão da sociedade.”

Sob a influência estética da mitologia afro-brasileira, o espetáculo revela características históricas do período em que Jacinta viveu e mostra como algumas se refletem na sociedade atual. A atriz Gislaine Nascimento relata a história da protagonista, mas reflete sobre sua própria trajetória, mostrando a linha tênue entre atriz e personagem. O personagem Tata (Alessandro Marba) dilui as fronteiras de tempo e espaço, acentuando a atualidade do drama.

Além da pesquisa da historiadora Suzane Jardim, autoras negras como Leda Maria Martins, Cida Bento, Neusa Santos Souza e Sueli Carneiro dão sustentação à dramaturgia. “A peça e todo o nosso projeto pretendem ser mais uma via de reflexão sobre as heranças desse período, para que possamos criar estratégias de combate a essa realidade. Para isso, começamos tentando devolver a humanidade tomada de Jacinta, alicerçados nos estudos de outras mulheres pretas contemporâneas”, diz o diretor.

O espetáculo integra a “Trilogia do Resgate”, que recupera o apagamento de personalidades históricas. O primeiro foi Baquaqua, em 2016, criado a partir da única biografia escrita por um ex-escravizado no Brasil. E o próximo será sobre Tebas, Joaquim Pinto de Oliveira, arquiteto negro escravizado no século XVIII e que influenciou diretamente o pensamento arquitetônico na cidade. Abranches conta que companhia traz, desde a sua fundação, o que chama de “fricção” entre branquitude e negritude nas pesquisas de criação artística para encenação das obras.

O projeto é realizado por meio do 16.º Prêmio Zé Renato de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, cumpriu temporada na sede da companhia, o Espaço Cia do Pássaro, e circulou por Centros Educacionais Unificados (CEUs), sempre com oficinas e conversas públicas lideradas por mulheres pretas.

A repercussão tem sido positiva, especialmente entre alunos da rede pública de ensino. Professores também relatam que a peça inspira discussões nas salas de aula.

Homenagens ao médico foram retiradas pela Faculdade de Direito

Ainda em 2021, a Faculdade de Direito criou uma comissão para apurar o caso de Jacinta Maria de Santana. O debate só avançou no segundo semestre de 2022, quando estudantes do movimento negro passaram a cobrar um posicionamento da faculdade.

“No início de 2023, no tour A História que a História Não Conta, organizado pela Travessia, gestão do (centro acadêmico) XI de Agosto naquele momento, apresentamos aos calouros a história da Jacinta e como a violência contra ela significou violência contra nós mulheres negras que estávamos ocupando aquele espaço”, conta a estudante Amanda Medina, cofundadora da Coligação de Coletivos Negros da USP e representante discente na Comissão de Direitos Humanos da USP.

“Organizamos mesa aberta ao público para discutir a mudança do nome, fizemos um abaixo assinado que obteve mais de 1.000 assinaturas, entre elas estavam representantes de movimentos negros, mídia, estudantes de dentro e de fora da USP, Centros Acadêmicos e Coletivos”, diz.

A Congregação da Faculdade de Direito da USP decidiu pela retirada do nome de Amâncio de Carvalho, já falecido, de uma de suas salas no dia 30 de março. O órgão também resolveu colocar uma placa explicativa sobre o episódio. “As medidas não foram tomadas pelo diretor, mas pela Congregação, órgão máximo de direção da faculdade”, diz Celso Campilongo, diretor da Faculdade de Direito da USP.

Uma comissão foi definida para escolher o novo nome da sala, que ainda está indefinido. Os estudantes querem “Sala Mães de Maio”, referência ao grupo de mulheres que perderam filhos em episódios de violência policial nas últimas décadas no País.

“Essa conquista me deu uma certeza gigante de que só a luta coletiva e organizada pelos setores mais oprimidos é capaz de transformar o mundo que a gente vive. Como estudante negra, cotista e futura bacharel em Direito, eu sinto que esse diploma não é só para a minha mãe, é para Jacinta também”, diz Amanda.

Campilongo afirma que o perfil dos alunos do Largo São Francisco mudou bastante nos últimos cinco anos e está mais diversificado. A 191.ª Turma, a primeira de cotistas étnico-raciais da história de uma instituição com quase 200 anos de história, fez a formatura em fevereiro.

“Nos dias atuais nós temos que ter uma atenção redobrada com o perfil socioeconômico e étnico-racial que a gente tem na faculdade. A adoção da lei de cotas foi uma das mudanças mais importantes da USP em seus 90 anos de história”, afirma o professor.

Serviço

Peça: Jacinta – Você só morre quando dizem seu nome pela última vez

Quando: Até 10 de dezembro*

Horários: sábados (20h) e domingos (19h)

Bilheteria: ingressos gratuitos - retirar com 1 hora de antecedência

* No dia 2 de dezembro (sábado, 21h30), encontro público “Dramaturgia e biografias ancestrais”, com a dramaturga e roteirista Dione Carlos. Acessibilidade em Libras neste dia

Onde: Espaço Cia. do Pássaro

Endereço: Rua Álvaro de Carvalho, 177 – Anhangabaú (Linha Vermelha do Metrô).

Realização: Prêmio Zé Renato de Teatro, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e Cia do Pássaro - Voo e Teatro.

Autoria e direção: Dawton Abranches

Elenco: Gislaine Nascimento, Alessandro Marba e Camila Silva

Produção: Plataforma - Estúdio de Produção Cultural

*Este conteúdo foi produzido em parceria com a Cia. do Pássaro e a Coligação de Coletivos Negros da USP

Pouco se sabe sobre a vida de Jacinta Maria de Santana, mulher negra que vivia em situação de rua do centro de São Paulo por volta do ano de 1900. Os raros registros históricos mostram que ela se sentiu mal no dia 26 de novembro, com dificuldade para respirar e náusea. Cambaleou na Rua Dutra Rodrigues, perto da Estação da Luz, e morreu a caminho da Santa Casa de São Paulo.

Seu corpo ficou aos cuidados do médico e catedrático Amâncio de Carvalho, que lecionava Medicina Legal na Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco. O professor, que fazia pesquisas para embalsamar cadáveres, foi acusado de expor o corpo de Jacinta em espaço público e na sala de aula da faculdade como curiosidade científica por pelo menos três décadas. O cadáver teria sido submetido a humilhações durante trotes por estudantes.

Após cerca de 120 anos de esquecimento, a história foi recuperada pela historiadora Suzane Jardim, mestranda em Ciências Sociais da Universidade Federal do ABC. Ao analisar jornais publicados por entidades negras no século XX, Suzane encontrou um texto de 1929 que noticiava o enterro de uma múmia. A descoberta se transformou em uma reportagem do site Ponte Jornalismo em 2021.

Alessandro Marba e Gislaine Nascimento durante a peça 'Jacinta', que está em cartaz em São Paulo até 10 de dezembro Foto: BOB SOUSA

O texto, por sua vez, inspirou a Cia do Pássaro - Voo e Teatro, companhia com 12 anos de existência, a criar o espetáculo Jacinta – Você só morre quando dizem seu nome pela última vez, em cartaz em São Paulo.

“Nosso projeto quer inverter o processo de apagamento e desumanização dessas pessoas, devolvendo a elas seus nomes e suas histórias”, afirma o diretor Dawton Abranches. “Suas histórias nos auxiliam na compreensão das relações de poder e submissão da sociedade.”

Sob a influência estética da mitologia afro-brasileira, o espetáculo revela características históricas do período em que Jacinta viveu e mostra como algumas se refletem na sociedade atual. A atriz Gislaine Nascimento relata a história da protagonista, mas reflete sobre sua própria trajetória, mostrando a linha tênue entre atriz e personagem. O personagem Tata (Alessandro Marba) dilui as fronteiras de tempo e espaço, acentuando a atualidade do drama.

Além da pesquisa da historiadora Suzane Jardim, autoras negras como Leda Maria Martins, Cida Bento, Neusa Santos Souza e Sueli Carneiro dão sustentação à dramaturgia. “A peça e todo o nosso projeto pretendem ser mais uma via de reflexão sobre as heranças desse período, para que possamos criar estratégias de combate a essa realidade. Para isso, começamos tentando devolver a humanidade tomada de Jacinta, alicerçados nos estudos de outras mulheres pretas contemporâneas”, diz o diretor.

O espetáculo integra a “Trilogia do Resgate”, que recupera o apagamento de personalidades históricas. O primeiro foi Baquaqua, em 2016, criado a partir da única biografia escrita por um ex-escravizado no Brasil. E o próximo será sobre Tebas, Joaquim Pinto de Oliveira, arquiteto negro escravizado no século XVIII e que influenciou diretamente o pensamento arquitetônico na cidade. Abranches conta que companhia traz, desde a sua fundação, o que chama de “fricção” entre branquitude e negritude nas pesquisas de criação artística para encenação das obras.

O projeto é realizado por meio do 16.º Prêmio Zé Renato de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, cumpriu temporada na sede da companhia, o Espaço Cia do Pássaro, e circulou por Centros Educacionais Unificados (CEUs), sempre com oficinas e conversas públicas lideradas por mulheres pretas.

A repercussão tem sido positiva, especialmente entre alunos da rede pública de ensino. Professores também relatam que a peça inspira discussões nas salas de aula.

Homenagens ao médico foram retiradas pela Faculdade de Direito

Ainda em 2021, a Faculdade de Direito criou uma comissão para apurar o caso de Jacinta Maria de Santana. O debate só avançou no segundo semestre de 2022, quando estudantes do movimento negro passaram a cobrar um posicionamento da faculdade.

“No início de 2023, no tour A História que a História Não Conta, organizado pela Travessia, gestão do (centro acadêmico) XI de Agosto naquele momento, apresentamos aos calouros a história da Jacinta e como a violência contra ela significou violência contra nós mulheres negras que estávamos ocupando aquele espaço”, conta a estudante Amanda Medina, cofundadora da Coligação de Coletivos Negros da USP e representante discente na Comissão de Direitos Humanos da USP.

“Organizamos mesa aberta ao público para discutir a mudança do nome, fizemos um abaixo assinado que obteve mais de 1.000 assinaturas, entre elas estavam representantes de movimentos negros, mídia, estudantes de dentro e de fora da USP, Centros Acadêmicos e Coletivos”, diz.

A Congregação da Faculdade de Direito da USP decidiu pela retirada do nome de Amâncio de Carvalho, já falecido, de uma de suas salas no dia 30 de março. O órgão também resolveu colocar uma placa explicativa sobre o episódio. “As medidas não foram tomadas pelo diretor, mas pela Congregação, órgão máximo de direção da faculdade”, diz Celso Campilongo, diretor da Faculdade de Direito da USP.

Uma comissão foi definida para escolher o novo nome da sala, que ainda está indefinido. Os estudantes querem “Sala Mães de Maio”, referência ao grupo de mulheres que perderam filhos em episódios de violência policial nas últimas décadas no País.

“Essa conquista me deu uma certeza gigante de que só a luta coletiva e organizada pelos setores mais oprimidos é capaz de transformar o mundo que a gente vive. Como estudante negra, cotista e futura bacharel em Direito, eu sinto que esse diploma não é só para a minha mãe, é para Jacinta também”, diz Amanda.

Campilongo afirma que o perfil dos alunos do Largo São Francisco mudou bastante nos últimos cinco anos e está mais diversificado. A 191.ª Turma, a primeira de cotistas étnico-raciais da história de uma instituição com quase 200 anos de história, fez a formatura em fevereiro.

“Nos dias atuais nós temos que ter uma atenção redobrada com o perfil socioeconômico e étnico-racial que a gente tem na faculdade. A adoção da lei de cotas foi uma das mudanças mais importantes da USP em seus 90 anos de história”, afirma o professor.

Serviço

Peça: Jacinta – Você só morre quando dizem seu nome pela última vez

Quando: Até 10 de dezembro*

Horários: sábados (20h) e domingos (19h)

Bilheteria: ingressos gratuitos - retirar com 1 hora de antecedência

* No dia 2 de dezembro (sábado, 21h30), encontro público “Dramaturgia e biografias ancestrais”, com a dramaturga e roteirista Dione Carlos. Acessibilidade em Libras neste dia

Onde: Espaço Cia. do Pássaro

Endereço: Rua Álvaro de Carvalho, 177 – Anhangabaú (Linha Vermelha do Metrô).

Realização: Prêmio Zé Renato de Teatro, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e Cia do Pássaro - Voo e Teatro.

Autoria e direção: Dawton Abranches

Elenco: Gislaine Nascimento, Alessandro Marba e Camila Silva

Produção: Plataforma - Estúdio de Produção Cultural

*Este conteúdo foi produzido em parceria com a Cia. do Pássaro e a Coligação de Coletivos Negros da USP

Pouco se sabe sobre a vida de Jacinta Maria de Santana, mulher negra que vivia em situação de rua do centro de São Paulo por volta do ano de 1900. Os raros registros históricos mostram que ela se sentiu mal no dia 26 de novembro, com dificuldade para respirar e náusea. Cambaleou na Rua Dutra Rodrigues, perto da Estação da Luz, e morreu a caminho da Santa Casa de São Paulo.

Seu corpo ficou aos cuidados do médico e catedrático Amâncio de Carvalho, que lecionava Medicina Legal na Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco. O professor, que fazia pesquisas para embalsamar cadáveres, foi acusado de expor o corpo de Jacinta em espaço público e na sala de aula da faculdade como curiosidade científica por pelo menos três décadas. O cadáver teria sido submetido a humilhações durante trotes por estudantes.

Após cerca de 120 anos de esquecimento, a história foi recuperada pela historiadora Suzane Jardim, mestranda em Ciências Sociais da Universidade Federal do ABC. Ao analisar jornais publicados por entidades negras no século XX, Suzane encontrou um texto de 1929 que noticiava o enterro de uma múmia. A descoberta se transformou em uma reportagem do site Ponte Jornalismo em 2021.

Alessandro Marba e Gislaine Nascimento durante a peça 'Jacinta', que está em cartaz em São Paulo até 10 de dezembro Foto: BOB SOUSA

O texto, por sua vez, inspirou a Cia do Pássaro - Voo e Teatro, companhia com 12 anos de existência, a criar o espetáculo Jacinta – Você só morre quando dizem seu nome pela última vez, em cartaz em São Paulo.

“Nosso projeto quer inverter o processo de apagamento e desumanização dessas pessoas, devolvendo a elas seus nomes e suas histórias”, afirma o diretor Dawton Abranches. “Suas histórias nos auxiliam na compreensão das relações de poder e submissão da sociedade.”

Sob a influência estética da mitologia afro-brasileira, o espetáculo revela características históricas do período em que Jacinta viveu e mostra como algumas se refletem na sociedade atual. A atriz Gislaine Nascimento relata a história da protagonista, mas reflete sobre sua própria trajetória, mostrando a linha tênue entre atriz e personagem. O personagem Tata (Alessandro Marba) dilui as fronteiras de tempo e espaço, acentuando a atualidade do drama.

Além da pesquisa da historiadora Suzane Jardim, autoras negras como Leda Maria Martins, Cida Bento, Neusa Santos Souza e Sueli Carneiro dão sustentação à dramaturgia. “A peça e todo o nosso projeto pretendem ser mais uma via de reflexão sobre as heranças desse período, para que possamos criar estratégias de combate a essa realidade. Para isso, começamos tentando devolver a humanidade tomada de Jacinta, alicerçados nos estudos de outras mulheres pretas contemporâneas”, diz o diretor.

O espetáculo integra a “Trilogia do Resgate”, que recupera o apagamento de personalidades históricas. O primeiro foi Baquaqua, em 2016, criado a partir da única biografia escrita por um ex-escravizado no Brasil. E o próximo será sobre Tebas, Joaquim Pinto de Oliveira, arquiteto negro escravizado no século XVIII e que influenciou diretamente o pensamento arquitetônico na cidade. Abranches conta que companhia traz, desde a sua fundação, o que chama de “fricção” entre branquitude e negritude nas pesquisas de criação artística para encenação das obras.

O projeto é realizado por meio do 16.º Prêmio Zé Renato de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, cumpriu temporada na sede da companhia, o Espaço Cia do Pássaro, e circulou por Centros Educacionais Unificados (CEUs), sempre com oficinas e conversas públicas lideradas por mulheres pretas.

A repercussão tem sido positiva, especialmente entre alunos da rede pública de ensino. Professores também relatam que a peça inspira discussões nas salas de aula.

Homenagens ao médico foram retiradas pela Faculdade de Direito

Ainda em 2021, a Faculdade de Direito criou uma comissão para apurar o caso de Jacinta Maria de Santana. O debate só avançou no segundo semestre de 2022, quando estudantes do movimento negro passaram a cobrar um posicionamento da faculdade.

“No início de 2023, no tour A História que a História Não Conta, organizado pela Travessia, gestão do (centro acadêmico) XI de Agosto naquele momento, apresentamos aos calouros a história da Jacinta e como a violência contra ela significou violência contra nós mulheres negras que estávamos ocupando aquele espaço”, conta a estudante Amanda Medina, cofundadora da Coligação de Coletivos Negros da USP e representante discente na Comissão de Direitos Humanos da USP.

“Organizamos mesa aberta ao público para discutir a mudança do nome, fizemos um abaixo assinado que obteve mais de 1.000 assinaturas, entre elas estavam representantes de movimentos negros, mídia, estudantes de dentro e de fora da USP, Centros Acadêmicos e Coletivos”, diz.

A Congregação da Faculdade de Direito da USP decidiu pela retirada do nome de Amâncio de Carvalho, já falecido, de uma de suas salas no dia 30 de março. O órgão também resolveu colocar uma placa explicativa sobre o episódio. “As medidas não foram tomadas pelo diretor, mas pela Congregação, órgão máximo de direção da faculdade”, diz Celso Campilongo, diretor da Faculdade de Direito da USP.

Uma comissão foi definida para escolher o novo nome da sala, que ainda está indefinido. Os estudantes querem “Sala Mães de Maio”, referência ao grupo de mulheres que perderam filhos em episódios de violência policial nas últimas décadas no País.

“Essa conquista me deu uma certeza gigante de que só a luta coletiva e organizada pelos setores mais oprimidos é capaz de transformar o mundo que a gente vive. Como estudante negra, cotista e futura bacharel em Direito, eu sinto que esse diploma não é só para a minha mãe, é para Jacinta também”, diz Amanda.

Campilongo afirma que o perfil dos alunos do Largo São Francisco mudou bastante nos últimos cinco anos e está mais diversificado. A 191.ª Turma, a primeira de cotistas étnico-raciais da história de uma instituição com quase 200 anos de história, fez a formatura em fevereiro.

“Nos dias atuais nós temos que ter uma atenção redobrada com o perfil socioeconômico e étnico-racial que a gente tem na faculdade. A adoção da lei de cotas foi uma das mudanças mais importantes da USP em seus 90 anos de história”, afirma o professor.

Serviço

Peça: Jacinta – Você só morre quando dizem seu nome pela última vez

Quando: Até 10 de dezembro*

Horários: sábados (20h) e domingos (19h)

Bilheteria: ingressos gratuitos - retirar com 1 hora de antecedência

* No dia 2 de dezembro (sábado, 21h30), encontro público “Dramaturgia e biografias ancestrais”, com a dramaturga e roteirista Dione Carlos. Acessibilidade em Libras neste dia

Onde: Espaço Cia. do Pássaro

Endereço: Rua Álvaro de Carvalho, 177 – Anhangabaú (Linha Vermelha do Metrô).

Realização: Prêmio Zé Renato de Teatro, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e Cia do Pássaro - Voo e Teatro.

Autoria e direção: Dawton Abranches

Elenco: Gislaine Nascimento, Alessandro Marba e Camila Silva

Produção: Plataforma - Estúdio de Produção Cultural

*Este conteúdo foi produzido em parceria com a Cia. do Pássaro e a Coligação de Coletivos Negros da USP

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