De aulas sobre carreira a fintech para clientes negros, as ações pela diversidade na Faria Lima


Casal de empresários negros conquista espaço no centro financeiro com fintech Conta Black; com formações e mentorias, ONG Black Finance promove inclusão racial por meio da educação

Por Gonçalo Junior
Atualização:

A executiva e empreendedora Fernanda Ribeiro, de 38 anos, diz que não se sente intimidada quando percebe alguns olhares de estranhamento ao entrar no suntuoso prédio com fachada de vidro Faria Lima Financial Center, na avenida homônima. Como mulher, negra e ainda jovem, ela destoa dos ambientes predominantemente brancos e masculinos.

Fernanda trabalha na avenida como cofundadora e CEO da Conta Black, fintech que oferece serviços financeiros e de consumo atrelados a uma conta digital prioritariamente para a população negra. Ela e o marido, Sérgio All, fundaram o banco digital em 2017 com a intenção de resolver a dor de grande parte da população negra e periférica – a falta de acesso ao crédito.

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A chegada da fintech ao condado, como é chamada a região, foi realizada após parceria com o Banco Genial Investimentos, plataforma de serviços financeiros com banco, corretora e agência de investimentos. Antes, Fernanda e All ficavam em um coworking que se estende por três andares da Torre Norte do Centro Empresarial Nações Unidas, no Brooklin Novo, zona sul.

A mudança de endereço foi simbólica, em sua visão. “Somos corpos negros num ambiente acostumado a outros padrões de comportamento, inclusive de vestimenta. Somos pontos fora da curva”, diz. Para ela, é uma “quebra de paradigma”.

O movimento se soma a iniciativas, que têm ganhado força, para tornar o presente e o futuro do ambiente corporativo da Faria Lima cada vez mais diverso. Outro exemplo é o da organização não governamental Black Finance, que busca promover a diversidade racial por meio da educação, com formações e mentorias.

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O casal de empreendedores Fernanda Ribeiro e Sergio All têm hoje um negócio financeiro voltado especificamente para o público negro. Foto: Taba Benedicto/Estadão

No caso de Fernanda, não houve propriamente enfrentamento ou discriminação. A executiva eleita pela Forbes Brasil uma das 10 Mulheres de Sucesso 2023 conta que não foi vítima desse racismo. Mas já aprendeu a diferenciar os tipos de olhares . “Existe o olhar de estranhamento, mas tem o olhar de tentar entender, de alguém que se disponibiliza para cooperar. Há uma abertura dos Faria Limers (apelido dado a quem frequenta a região)”, diz.

Sérgio All valoriza diz ter sido bem recebido. “A Conta Black veio para mostrar que podemos ocupar todos os espaços”, diz. “Nosso relacionamento com pessoas do mercado financeiro tem sido interessante pela troca de experiências, de eles também entenderem como é o nosso ecossistema e comunidade.”

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A discussão sobre diversidade na Faria Lima significa também que os trabalhadores e frequentadores da região tenham olhar voltado à diversidade. Em um cenário de baixa representatividade negra, a presença na Faria Lima é simbólica.

Olhando para as dores de clientes negros

A ideia da Conta Black surgiu quando All, dono de agência de publicidade com 30 funcionários por 25 anos, não conseguiu crédito para comprar equipamentos. O pedido foi feito na instituição que administrava sua folha de pagamento - e seu nome estava limpo.

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Não havia justificativa plausível para o carimbo de “negado”. O mesmo ocorria com empreendedores negros da rede Afrobusiness, fundada pelo casal para conectar empreendores negros.

A Conta Black nasceu como conta digital vinculada a um cartão pré-pago e em 2020 se tornou hub de produtos e serviços financeiros. Hoje, os clientes fazem pagamento, transferência, Pix e usam cartão pré-pago. Os novos projetos incluem uma plataforma de educação financeira, atendimento de telemedicina, fundo de microcrédito, deliveries e marketplaces, entre outros. Quase 80% dos clientes são pretos.

O casal atribui o sucesso ao olhar para a população negra e periférica na hora de criar produtos. Um exemplo é o seguro a partir de R$ 12. Segundo eles, a proximidade com o público-alvo – ou o propósito, como definem – não vai se perder.

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Mentoria para jovens negros

Já o Black Finance aposta em reduzir disparidades raciais e criar oportunidades de carreira, justamente para ter mais Sérgios e Fernandas nesse universo. Cerca de 30 alunos participam de aulas sobre mercado financeiro, soft e hard skills, além de mentoria com executivos. A equipe é liderada por quatro jovens negros.

Os avanços já são concretos. Nos últimos dois anos, a taxa de contratação chega a 70% em programas de trainee e estágios em renomados bancos, principalmente em áreas de front office, incluindo Citibank, Morgan Stanley, Bank of America, Bnp, Itaú BBA.

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“A Faria Lima, embora muitas vezes represente um sonho distante para jovens negros da periferia, simboliza a aspiração por mudança de vida. O Black Finance visa não apenas a quebrar barreiras, mas também inspirar uma geração a acreditar que esse sonho pode se tornar realidade alcançável”, afirma Victor Sátiro, vice-presidente do Black Finance e aluno da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP).

Sátiro explica que os próximos desafios são continuar a preparação excepcional de alunos negros para oportunidades educacionais e profissionais que historicamente eram acessíveis só aos grupos privilegiados. Um compromisso, nas palavras dele, de “superar barreiras sistêmicas, promover a inclusão e equiparar as oportunidades”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com a Conta Black e a Black Finance.

A executiva e empreendedora Fernanda Ribeiro, de 38 anos, diz que não se sente intimidada quando percebe alguns olhares de estranhamento ao entrar no suntuoso prédio com fachada de vidro Faria Lima Financial Center, na avenida homônima. Como mulher, negra e ainda jovem, ela destoa dos ambientes predominantemente brancos e masculinos.

Fernanda trabalha na avenida como cofundadora e CEO da Conta Black, fintech que oferece serviços financeiros e de consumo atrelados a uma conta digital prioritariamente para a população negra. Ela e o marido, Sérgio All, fundaram o banco digital em 2017 com a intenção de resolver a dor de grande parte da população negra e periférica – a falta de acesso ao crédito.

A chegada da fintech ao condado, como é chamada a região, foi realizada após parceria com o Banco Genial Investimentos, plataforma de serviços financeiros com banco, corretora e agência de investimentos. Antes, Fernanda e All ficavam em um coworking que se estende por três andares da Torre Norte do Centro Empresarial Nações Unidas, no Brooklin Novo, zona sul.

A mudança de endereço foi simbólica, em sua visão. “Somos corpos negros num ambiente acostumado a outros padrões de comportamento, inclusive de vestimenta. Somos pontos fora da curva”, diz. Para ela, é uma “quebra de paradigma”.

O movimento se soma a iniciativas, que têm ganhado força, para tornar o presente e o futuro do ambiente corporativo da Faria Lima cada vez mais diverso. Outro exemplo é o da organização não governamental Black Finance, que busca promover a diversidade racial por meio da educação, com formações e mentorias.

O casal de empreendedores Fernanda Ribeiro e Sergio All têm hoje um negócio financeiro voltado especificamente para o público negro. Foto: Taba Benedicto/Estadão

No caso de Fernanda, não houve propriamente enfrentamento ou discriminação. A executiva eleita pela Forbes Brasil uma das 10 Mulheres de Sucesso 2023 conta que não foi vítima desse racismo. Mas já aprendeu a diferenciar os tipos de olhares . “Existe o olhar de estranhamento, mas tem o olhar de tentar entender, de alguém que se disponibiliza para cooperar. Há uma abertura dos Faria Limers (apelido dado a quem frequenta a região)”, diz.

Sérgio All valoriza diz ter sido bem recebido. “A Conta Black veio para mostrar que podemos ocupar todos os espaços”, diz. “Nosso relacionamento com pessoas do mercado financeiro tem sido interessante pela troca de experiências, de eles também entenderem como é o nosso ecossistema e comunidade.”

A discussão sobre diversidade na Faria Lima significa também que os trabalhadores e frequentadores da região tenham olhar voltado à diversidade. Em um cenário de baixa representatividade negra, a presença na Faria Lima é simbólica.

Olhando para as dores de clientes negros

A ideia da Conta Black surgiu quando All, dono de agência de publicidade com 30 funcionários por 25 anos, não conseguiu crédito para comprar equipamentos. O pedido foi feito na instituição que administrava sua folha de pagamento - e seu nome estava limpo.

Não havia justificativa plausível para o carimbo de “negado”. O mesmo ocorria com empreendedores negros da rede Afrobusiness, fundada pelo casal para conectar empreendores negros.

A Conta Black nasceu como conta digital vinculada a um cartão pré-pago e em 2020 se tornou hub de produtos e serviços financeiros. Hoje, os clientes fazem pagamento, transferência, Pix e usam cartão pré-pago. Os novos projetos incluem uma plataforma de educação financeira, atendimento de telemedicina, fundo de microcrédito, deliveries e marketplaces, entre outros. Quase 80% dos clientes são pretos.

O casal atribui o sucesso ao olhar para a população negra e periférica na hora de criar produtos. Um exemplo é o seguro a partir de R$ 12. Segundo eles, a proximidade com o público-alvo – ou o propósito, como definem – não vai se perder.

Mentoria para jovens negros

Já o Black Finance aposta em reduzir disparidades raciais e criar oportunidades de carreira, justamente para ter mais Sérgios e Fernandas nesse universo. Cerca de 30 alunos participam de aulas sobre mercado financeiro, soft e hard skills, além de mentoria com executivos. A equipe é liderada por quatro jovens negros.

Os avanços já são concretos. Nos últimos dois anos, a taxa de contratação chega a 70% em programas de trainee e estágios em renomados bancos, principalmente em áreas de front office, incluindo Citibank, Morgan Stanley, Bank of America, Bnp, Itaú BBA.

“A Faria Lima, embora muitas vezes represente um sonho distante para jovens negros da periferia, simboliza a aspiração por mudança de vida. O Black Finance visa não apenas a quebrar barreiras, mas também inspirar uma geração a acreditar que esse sonho pode se tornar realidade alcançável”, afirma Victor Sátiro, vice-presidente do Black Finance e aluno da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP).

Sátiro explica que os próximos desafios são continuar a preparação excepcional de alunos negros para oportunidades educacionais e profissionais que historicamente eram acessíveis só aos grupos privilegiados. Um compromisso, nas palavras dele, de “superar barreiras sistêmicas, promover a inclusão e equiparar as oportunidades”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com a Conta Black e a Black Finance.

A executiva e empreendedora Fernanda Ribeiro, de 38 anos, diz que não se sente intimidada quando percebe alguns olhares de estranhamento ao entrar no suntuoso prédio com fachada de vidro Faria Lima Financial Center, na avenida homônima. Como mulher, negra e ainda jovem, ela destoa dos ambientes predominantemente brancos e masculinos.

Fernanda trabalha na avenida como cofundadora e CEO da Conta Black, fintech que oferece serviços financeiros e de consumo atrelados a uma conta digital prioritariamente para a população negra. Ela e o marido, Sérgio All, fundaram o banco digital em 2017 com a intenção de resolver a dor de grande parte da população negra e periférica – a falta de acesso ao crédito.

A chegada da fintech ao condado, como é chamada a região, foi realizada após parceria com o Banco Genial Investimentos, plataforma de serviços financeiros com banco, corretora e agência de investimentos. Antes, Fernanda e All ficavam em um coworking que se estende por três andares da Torre Norte do Centro Empresarial Nações Unidas, no Brooklin Novo, zona sul.

A mudança de endereço foi simbólica, em sua visão. “Somos corpos negros num ambiente acostumado a outros padrões de comportamento, inclusive de vestimenta. Somos pontos fora da curva”, diz. Para ela, é uma “quebra de paradigma”.

O movimento se soma a iniciativas, que têm ganhado força, para tornar o presente e o futuro do ambiente corporativo da Faria Lima cada vez mais diverso. Outro exemplo é o da organização não governamental Black Finance, que busca promover a diversidade racial por meio da educação, com formações e mentorias.

O casal de empreendedores Fernanda Ribeiro e Sergio All têm hoje um negócio financeiro voltado especificamente para o público negro. Foto: Taba Benedicto/Estadão

No caso de Fernanda, não houve propriamente enfrentamento ou discriminação. A executiva eleita pela Forbes Brasil uma das 10 Mulheres de Sucesso 2023 conta que não foi vítima desse racismo. Mas já aprendeu a diferenciar os tipos de olhares . “Existe o olhar de estranhamento, mas tem o olhar de tentar entender, de alguém que se disponibiliza para cooperar. Há uma abertura dos Faria Limers (apelido dado a quem frequenta a região)”, diz.

Sérgio All valoriza diz ter sido bem recebido. “A Conta Black veio para mostrar que podemos ocupar todos os espaços”, diz. “Nosso relacionamento com pessoas do mercado financeiro tem sido interessante pela troca de experiências, de eles também entenderem como é o nosso ecossistema e comunidade.”

A discussão sobre diversidade na Faria Lima significa também que os trabalhadores e frequentadores da região tenham olhar voltado à diversidade. Em um cenário de baixa representatividade negra, a presença na Faria Lima é simbólica.

Olhando para as dores de clientes negros

A ideia da Conta Black surgiu quando All, dono de agência de publicidade com 30 funcionários por 25 anos, não conseguiu crédito para comprar equipamentos. O pedido foi feito na instituição que administrava sua folha de pagamento - e seu nome estava limpo.

Não havia justificativa plausível para o carimbo de “negado”. O mesmo ocorria com empreendedores negros da rede Afrobusiness, fundada pelo casal para conectar empreendores negros.

A Conta Black nasceu como conta digital vinculada a um cartão pré-pago e em 2020 se tornou hub de produtos e serviços financeiros. Hoje, os clientes fazem pagamento, transferência, Pix e usam cartão pré-pago. Os novos projetos incluem uma plataforma de educação financeira, atendimento de telemedicina, fundo de microcrédito, deliveries e marketplaces, entre outros. Quase 80% dos clientes são pretos.

O casal atribui o sucesso ao olhar para a população negra e periférica na hora de criar produtos. Um exemplo é o seguro a partir de R$ 12. Segundo eles, a proximidade com o público-alvo – ou o propósito, como definem – não vai se perder.

Mentoria para jovens negros

Já o Black Finance aposta em reduzir disparidades raciais e criar oportunidades de carreira, justamente para ter mais Sérgios e Fernandas nesse universo. Cerca de 30 alunos participam de aulas sobre mercado financeiro, soft e hard skills, além de mentoria com executivos. A equipe é liderada por quatro jovens negros.

Os avanços já são concretos. Nos últimos dois anos, a taxa de contratação chega a 70% em programas de trainee e estágios em renomados bancos, principalmente em áreas de front office, incluindo Citibank, Morgan Stanley, Bank of America, Bnp, Itaú BBA.

“A Faria Lima, embora muitas vezes represente um sonho distante para jovens negros da periferia, simboliza a aspiração por mudança de vida. O Black Finance visa não apenas a quebrar barreiras, mas também inspirar uma geração a acreditar que esse sonho pode se tornar realidade alcançável”, afirma Victor Sátiro, vice-presidente do Black Finance e aluno da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP).

Sátiro explica que os próximos desafios são continuar a preparação excepcional de alunos negros para oportunidades educacionais e profissionais que historicamente eram acessíveis só aos grupos privilegiados. Um compromisso, nas palavras dele, de “superar barreiras sistêmicas, promover a inclusão e equiparar as oportunidades”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com a Conta Black e a Black Finance.

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