O Edifício Copan obteve uma autorização inédita para a instalação de um anúncio gigante na fachada durante as obras de restauro, no centro de São Paulo. A publicidade poderá ser estampada junto à tela que recobre a parte superior direita da fachada voltada à Avenida Ipiranga, com medidas autorizadas de 28 metros de altura e 71 metros de comprimento, totalizando área de quase 2 mil m².
O anúncio poderá ficar exposto por até três anos, por meio de um termo de cooperação ainda a ser firmado com patrocinadores ou apoiadores. O objetivo do condomínio é obter parte dos recursos necessários para o restauro, com custo total estimado de R$ 40 milhões. A primeira fase da restauração foi iniciada recentemente na fachada sul, dos fundos, avaliada em R$ 16 milhões.
A estimativa é que a obra tenha duração de um ano e meio a dois anos em cada fachada, a depender da obtenção de recursos e data de início. O condomínio tem cerca de metade do total dos recursos necessários. A proposta é que o anúncio seja veiculado na parte superior direita a fim de ampliar a visualização de diferentes pontos da vizinhança, como do Minhocão.
O prédio é tombado na esfera nacional e é um dos principais ícones da cidade de São Paulo. É conhecido especialmente pelas curvas, projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
O aval foi decidido por maioria de votos da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), ligada à Prefeitura, na terça-feira, 1º. Esse tipo de intervenção é prevista em decreto de 2017, mas nunca chegou a ser aplicada nessa proporção. Na reunião, técnicos da comissão exibiram exemplos semelhantes realizados na Catedral de Barcelona, em 2022, e no Museu Leonardo da Vinci, em Roma, em 2019.
Esse anúncio poderá ser estampado na “tela fachadeira” do edifício. Como o Estadão mostrou, o prédio enfrenta infiltrações, fungos, danos na armadura de sustentação e até intervenções irregulares na fachada, o que foi constatado em laudos e até denunciado a órgãos de patrimônio.
O restauro foi autorizado em 2021 após anos de desentendimento entre a proposta do condomínio e as exigências dos órgãos de patrimônio. Os técnicos do conselho municipal de patrimônio cultural destacavam a necessidade de obra em todas as faces do edifício e o uso de materiais semelhantes aos originais.
À época, foi ressaltado que não havia riscos estruturais para o edifício, mas que alguns pontos (como os pilares da fachada sul e escadas de serviços) tinham “pontos críticos, com alto grau de deterioração do concreto e suas armaduras” e que necessitavam de “tratamento urgente”. A primeira fase da obra foi iniciada neste ano.
Na reunião, a presidente da comissão, Regina Monteiro, falou sobre a possibilidade de que a experiência seja replicada em outros bens tombados da cidade. “Há uma grande expectativa para que dê certo esse primeiro exemplo”, declarou. “Isso tem no mundo inteiro. Estamos com um tamanho diferenciado (menor) do que é feito no mundo inteiro. É um prédio diferenciado, um ícone de São Paulo.”
O anúncio não poderá ser um luminoso (como em Led), o que é vetado por lei, e conseguirá destinar 90% de sua área para a divulgação de produtos, patrocinadores e afins. Os outros 10% terão logos ligados à Prefeitura de São Paulo.
A deliberação desta semana foi inédita, por abrir o precedente para que esses anúncios sejam veiculados a mais de 10 metros de altura, o que não era previsto na legislação. Se fosse colocado na parte inferior, próximo ao nível da rua, não seria necessário uma autorização específica da comissão.
Síndico do Copan desde 1993, Affonso Celso Prazeres de Oliveira destacou que defende esse tipo de medida há anos e que será importante para viabilizar a obtenção de recursos. “Hoje, já iniciamos o restauro da fachada sul, do fundo do prédio, estimada em R$ 16 milhões, por 18 meses. Falta o recurso para fazer a fachada norte, que é frente do prédio”, disse durante a reunião.
Incentivo foi regulado em 2017, mas não foi aplicado ainda nestes moldes
Um decreto de 2017 permite que imóveis tombados obtenham recursos para restauro por meio da exposição de placas ou similares de patrocinadores e apoiadores. Vinculada à Lei Cidade Limpa, a regulamentação deu origem ao Programa Adote uma Obra Artística. A dificuldade de obtenção de recursos é um dos principais pontos destacados por proprietários e responsáveis por bens tombados paulistanos.
Segundo a Prefeitura, esse tipo de incentivo foi aplicado majoritariamente no restauro de monumentos e teve apenas duas aplicações arquitetônicas e urbanísticas. Ambos os casos envolveram a colocação de pequenas placas, visíveis apenas de perto, em obras simples no Theatro Municipal e na Praça Ramos de Azevedo.
A legislação municipal autoriza esse tipo de veiculação de patrocinadores em até 25% da fachada ou em até 2 mil m² em caso de edifícios de grande área. Nesses espaços, é possível expor “o nome do cooperante e nome dos apoiadores, sua razão social, nome fantasia ou logotipo, sendo admitida a referência a seus produtos, serviços e endereço eletrônico”, segundo o decreto.
O pedido obteve maioria dos votos. Ao menos quatro conselheiros decidiram se abster por dúvidas e questões particulares. Representante do Movimento Defenda São Paulo na comissão, Fabio Cabral chegou a demonstrar preocupação com alguns pontos, como a permissão para a veiculação de produtos no alto dos prédios.
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