Cracolândia: Comércio da Santa Ifigênia tem portas a meia altura e rodízio de ligações ao 190


Fluxo de usuários passou a ocupar ruas da região comercial no centro de São Paulo. Lojistas e moradores realizaram protesto. Governo promete reforço no policiamento

Por Ítalo Lo Re

"Para onde agora? Cadê o fluxo?", perguntou uma dependente química a um grupo de três homens que usavam crack sentados na calçada da Avenida Rio Branco, quase em frente a uma base fixada pela Polícia Militar na esquina com a Rua dos Gusmões. Um dos usuários, então, levantou a cabeça e com um movimento de pescoço indicou o cruzamento da via com a Rua General Osório, um dos locais com maior concentração de dependentes químicos durante esta quinta-feira, 7. O fluxo havia sido dispersado de lá pela Guarda Civil Metropolitana no início da manhã, mas logo retornou.

A reportagem do Estadão esteve um dia inteiro acompanhando os deslocamentos dos usuários de droga na Santa Ifigênia, na zona central de São Paulo. O que se viu nesta quinta foi um clima de apreensão entre lojistas – alguns deles deixaram as portas a meia altura durante todo o dia – e moradores em alerta constante diante da situação. À noite, vizinhos chegam a fazer rodízios para ligar para a PM.

Vizinhos chegam a fazer rodízios para chamar a Polícia Militar. Foto: Alex Silva/Estadão
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“Não atendi ninguém hoje, só por celular”, disse o lojista Matheus Alves, de 22 anos. Há cerca de um ano, ele alugou um ponto e montou uma assistência técnica de celular na Rua General Osório, a poucos metros da esquina com a Avenida Rio Branco. As proximidades do local, contudo, foram tomadas pelo fluxo de usuários de droga durante as últimas semanas, o que acabou prejudicando os negócios – algumas lojas chegaram a fechar em definitivo.

Diante do baixo movimento, Matheus ainda não chegou a esse ponto, mas baixou as portas por inteiro às 16h desta quinta e encerrou o expediente uma hora antes do habitual. “Vou ficar fazendo o que aqui?”, desabafou à reportagem. Segundo ele, desde que o fluxo saiu da Praça Princesa Isabel, onde se estabeleceu por alguns meses, os comerciantes passaram a ter de lidar com uma rotina de imprevisibilidade e insegurança. Não à toa, ele deixou a porta a meia altura enquanto a loja esteve aberta, a exemplo do que fizeram outros comerciantes.

Movimentação do fluxo da Cracolândia na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua General Osório. Foto: Alex Silva/Estadão
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"Daqui a pouco eles são dispersados de novo, mas logo voltam", disse Matheus, explicando que são nos deslocamentos que há mais risco de arrastões. Com medo de que isso ocorra, a maioria das lojas da região mantém ao menos um dos funcionários de costas para o interior do estabelecimento e de frente para a rua, observando as movimentações. Ao menor sinal de risco, baixam as portas rapidamente e gritam para que estabelecimentos vizinhos façam o mesmo.

Lojistas e moradores realizaram protesto 

Com a migração da Cracolândia para as ruas do bairro, na manhã desta quinta, lojistas da Rua Santa Efigênia, uma das referências da cidade de São Paulo em comércio de eletroeletrônicos, realizaram um protesto pedindo medidas para melhorar a situação. Eles baixaram as portas de 9h às 11h e dezenas de lojistas caminharam até o prédio da delegacia que atende o bairro. Entre os gritos e escritos nos cartazes empunhados pelos comerciantes, estavam desde “Queremos trabalhar” a “Segurança para os moradores de Santa Ifigênia”.

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Gerente de uma loja de celulares na Rua Santa Ifigênia, Vanessa Fonseca, de 42 anos, foi uma das mais ativas durante a manifestação. Ela conta que o marido, que é proprietário de duas lojas, trabalha na rua há 20 anos e nunca tinha vivido uma situação tão instável nos negócios como neste ano. “Então decidimos protestar para ver se melhora, né? Vamos ver se dá em alguma coisa”, disse ela, que contou que a manifestação foi marcada de maneira espontânea. “Acho que todo mundo está com a mesma sensação, a clientela caiu muito.”

Um dia antes, na manhã de quarta-feira, 6, dependentes químicos do fluxo passaram pela Rua Santa Ifigênia após uma dispersão e entraram em confronto com lojistas e puxadores – que são os trabalhadores autônomos que tentam levar a clientela para comprar em lojas mais distantes e, assim, ganhar comissões com as vendas. As imagens das brigas, que envolveram até pedaços de pau, foram compartilhadas nas redes sociais.

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Na madrugada do mesmo dia, um bar na esquina da Rua dos Gusmões com a Rua dos Guaianazes foi saqueado. Proprietário do local, o comerciante Jailton Oliveira, de 52 anos, disse ter tido um prejuízo de cerca de R$ 30 mil. Nesta quinta, ele já estava com as portas abertas novamente, mas disse que ainda não sabia como iria pagar as contas. “Espero que as coisas melhorem.”

Proprietário de um bar, Jailton Oliveira teve o seu estabelecimento saqueado na última quarta-feira. Ele teve um prejuízo de R$ 30 mil. Foto: Alex Silva/Estadão

Sensação de insegurança aumenta

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Enquanto os comerciantes veem a clientela diminuir com a dispersão da Cracolândia para a Santa Ifigênia, moradores do bairro relatam que a sensação de insegurança aumentou de forma significativa durante este ano. Recepcionista em um hotel na Rua Conselheiro Nébias, Fabiana Lopes, de 49 anos, conta que a inquilina de um apartamento que ela aluga, na Rua dos Andradas, tem dado indícios na última semana de que vai entregar o imóvel.

“A Rua dos Andradas virou uma das principais para onde eles têm ido de noite, o pessoal vive mandando imagens da bagunça por lá durante a madruga, com caixa de som e tudo”, disse Fabiana. Diante da situação, ela conta que moradores do bairro se reuniram e montaram um grupo no WhatsApp – hoje com 46 pessoas – para tentar soluções. Além de compartilhar informações de tumultos e para onde o fluxo se deslocou, eles também se revezam para acionar a Polícia Militar.

À reportagem, Fabiana mostra que até os números dos chamados, o que também inclui pedidos feitos à Prefeitura, são enviados no grupo. “Tem sido assim, porque a gente tem tentado encontrar alguma solução”, contou ele, também mostrando vídeos gravados recentemente. “Eu moro aqui há 10 anos. Era uma maravilha, perto de tudo, mas agora não dá vontade mais de sair na rua.”

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Zelador de um prédio na Rua General Osório há 16 anos, Luiz Rodrigues, de 58 anos, conta que a quantidade de moradores que têm se mudado do local tem sido “imensa”. Ele ainda mora no edifício com a família, mas não sem tomar algumas precauções. “Levo minha filha no ponto de ônibus, ali na Avenida Rio Branco todos os dias”, disse. “Ela já é maior de idade, tem 26, mas tem medo. Infelizmente a situação piorou muito.”

Governador e prefeito prometem reforço na segurança

Nesta quinta-feira, o prefeito Ricardo Nunes (MDB)atribuiu os conflitos à escassez de droga. “Existe um momento em que, faltando droga, os dependentes ficam mais agressivos, com um comportamento fora do padrão normal. Infelizmente, nós vamos ter de passar por essa fase. É uma etapa que a gente precisa vencer, mas não podemos parar”, afirmou.

Ele prometeu reforços. “Vou pedir para colocar mais policiais naquela região. Não vamos aceitar que baderneiros, malandros e bandidos acabem com o sossego das pessoas de bem da cidade”, afirmou.

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) também anunciou nesta quinta-feira reforço do policiamento na região central. “A polícia vai continuar agindo para prender os traficantes e para proteger nossos comerciantes da região. Já determinei ao comandante-geral (da PM) que reforce o policiamento na região”, afirmou. /COLABOROU GONÇALO JUNIOR

"Para onde agora? Cadê o fluxo?", perguntou uma dependente química a um grupo de três homens que usavam crack sentados na calçada da Avenida Rio Branco, quase em frente a uma base fixada pela Polícia Militar na esquina com a Rua dos Gusmões. Um dos usuários, então, levantou a cabeça e com um movimento de pescoço indicou o cruzamento da via com a Rua General Osório, um dos locais com maior concentração de dependentes químicos durante esta quinta-feira, 7. O fluxo havia sido dispersado de lá pela Guarda Civil Metropolitana no início da manhã, mas logo retornou.

A reportagem do Estadão esteve um dia inteiro acompanhando os deslocamentos dos usuários de droga na Santa Ifigênia, na zona central de São Paulo. O que se viu nesta quinta foi um clima de apreensão entre lojistas – alguns deles deixaram as portas a meia altura durante todo o dia – e moradores em alerta constante diante da situação. À noite, vizinhos chegam a fazer rodízios para ligar para a PM.

Vizinhos chegam a fazer rodízios para chamar a Polícia Militar. Foto: Alex Silva/Estadão

“Não atendi ninguém hoje, só por celular”, disse o lojista Matheus Alves, de 22 anos. Há cerca de um ano, ele alugou um ponto e montou uma assistência técnica de celular na Rua General Osório, a poucos metros da esquina com a Avenida Rio Branco. As proximidades do local, contudo, foram tomadas pelo fluxo de usuários de droga durante as últimas semanas, o que acabou prejudicando os negócios – algumas lojas chegaram a fechar em definitivo.

Diante do baixo movimento, Matheus ainda não chegou a esse ponto, mas baixou as portas por inteiro às 16h desta quinta e encerrou o expediente uma hora antes do habitual. “Vou ficar fazendo o que aqui?”, desabafou à reportagem. Segundo ele, desde que o fluxo saiu da Praça Princesa Isabel, onde se estabeleceu por alguns meses, os comerciantes passaram a ter de lidar com uma rotina de imprevisibilidade e insegurança. Não à toa, ele deixou a porta a meia altura enquanto a loja esteve aberta, a exemplo do que fizeram outros comerciantes.

Movimentação do fluxo da Cracolândia na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua General Osório. Foto: Alex Silva/Estadão

"Daqui a pouco eles são dispersados de novo, mas logo voltam", disse Matheus, explicando que são nos deslocamentos que há mais risco de arrastões. Com medo de que isso ocorra, a maioria das lojas da região mantém ao menos um dos funcionários de costas para o interior do estabelecimento e de frente para a rua, observando as movimentações. Ao menor sinal de risco, baixam as portas rapidamente e gritam para que estabelecimentos vizinhos façam o mesmo.

Lojistas e moradores realizaram protesto 

Com a migração da Cracolândia para as ruas do bairro, na manhã desta quinta, lojistas da Rua Santa Efigênia, uma das referências da cidade de São Paulo em comércio de eletroeletrônicos, realizaram um protesto pedindo medidas para melhorar a situação. Eles baixaram as portas de 9h às 11h e dezenas de lojistas caminharam até o prédio da delegacia que atende o bairro. Entre os gritos e escritos nos cartazes empunhados pelos comerciantes, estavam desde “Queremos trabalhar” a “Segurança para os moradores de Santa Ifigênia”.

Gerente de uma loja de celulares na Rua Santa Ifigênia, Vanessa Fonseca, de 42 anos, foi uma das mais ativas durante a manifestação. Ela conta que o marido, que é proprietário de duas lojas, trabalha na rua há 20 anos e nunca tinha vivido uma situação tão instável nos negócios como neste ano. “Então decidimos protestar para ver se melhora, né? Vamos ver se dá em alguma coisa”, disse ela, que contou que a manifestação foi marcada de maneira espontânea. “Acho que todo mundo está com a mesma sensação, a clientela caiu muito.”

Um dia antes, na manhã de quarta-feira, 6, dependentes químicos do fluxo passaram pela Rua Santa Ifigênia após uma dispersão e entraram em confronto com lojistas e puxadores – que são os trabalhadores autônomos que tentam levar a clientela para comprar em lojas mais distantes e, assim, ganhar comissões com as vendas. As imagens das brigas, que envolveram até pedaços de pau, foram compartilhadas nas redes sociais.

Na madrugada do mesmo dia, um bar na esquina da Rua dos Gusmões com a Rua dos Guaianazes foi saqueado. Proprietário do local, o comerciante Jailton Oliveira, de 52 anos, disse ter tido um prejuízo de cerca de R$ 30 mil. Nesta quinta, ele já estava com as portas abertas novamente, mas disse que ainda não sabia como iria pagar as contas. “Espero que as coisas melhorem.”

Proprietário de um bar, Jailton Oliveira teve o seu estabelecimento saqueado na última quarta-feira. Ele teve um prejuízo de R$ 30 mil. Foto: Alex Silva/Estadão

Sensação de insegurança aumenta

Enquanto os comerciantes veem a clientela diminuir com a dispersão da Cracolândia para a Santa Ifigênia, moradores do bairro relatam que a sensação de insegurança aumentou de forma significativa durante este ano. Recepcionista em um hotel na Rua Conselheiro Nébias, Fabiana Lopes, de 49 anos, conta que a inquilina de um apartamento que ela aluga, na Rua dos Andradas, tem dado indícios na última semana de que vai entregar o imóvel.

“A Rua dos Andradas virou uma das principais para onde eles têm ido de noite, o pessoal vive mandando imagens da bagunça por lá durante a madruga, com caixa de som e tudo”, disse Fabiana. Diante da situação, ela conta que moradores do bairro se reuniram e montaram um grupo no WhatsApp – hoje com 46 pessoas – para tentar soluções. Além de compartilhar informações de tumultos e para onde o fluxo se deslocou, eles também se revezam para acionar a Polícia Militar.

À reportagem, Fabiana mostra que até os números dos chamados, o que também inclui pedidos feitos à Prefeitura, são enviados no grupo. “Tem sido assim, porque a gente tem tentado encontrar alguma solução”, contou ele, também mostrando vídeos gravados recentemente. “Eu moro aqui há 10 anos. Era uma maravilha, perto de tudo, mas agora não dá vontade mais de sair na rua.”

Zelador de um prédio na Rua General Osório há 16 anos, Luiz Rodrigues, de 58 anos, conta que a quantidade de moradores que têm se mudado do local tem sido “imensa”. Ele ainda mora no edifício com a família, mas não sem tomar algumas precauções. “Levo minha filha no ponto de ônibus, ali na Avenida Rio Branco todos os dias”, disse. “Ela já é maior de idade, tem 26, mas tem medo. Infelizmente a situação piorou muito.”

Governador e prefeito prometem reforço na segurança

Nesta quinta-feira, o prefeito Ricardo Nunes (MDB)atribuiu os conflitos à escassez de droga. “Existe um momento em que, faltando droga, os dependentes ficam mais agressivos, com um comportamento fora do padrão normal. Infelizmente, nós vamos ter de passar por essa fase. É uma etapa que a gente precisa vencer, mas não podemos parar”, afirmou.

Ele prometeu reforços. “Vou pedir para colocar mais policiais naquela região. Não vamos aceitar que baderneiros, malandros e bandidos acabem com o sossego das pessoas de bem da cidade”, afirmou.

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) também anunciou nesta quinta-feira reforço do policiamento na região central. “A polícia vai continuar agindo para prender os traficantes e para proteger nossos comerciantes da região. Já determinei ao comandante-geral (da PM) que reforce o policiamento na região”, afirmou. /COLABOROU GONÇALO JUNIOR

"Para onde agora? Cadê o fluxo?", perguntou uma dependente química a um grupo de três homens que usavam crack sentados na calçada da Avenida Rio Branco, quase em frente a uma base fixada pela Polícia Militar na esquina com a Rua dos Gusmões. Um dos usuários, então, levantou a cabeça e com um movimento de pescoço indicou o cruzamento da via com a Rua General Osório, um dos locais com maior concentração de dependentes químicos durante esta quinta-feira, 7. O fluxo havia sido dispersado de lá pela Guarda Civil Metropolitana no início da manhã, mas logo retornou.

A reportagem do Estadão esteve um dia inteiro acompanhando os deslocamentos dos usuários de droga na Santa Ifigênia, na zona central de São Paulo. O que se viu nesta quinta foi um clima de apreensão entre lojistas – alguns deles deixaram as portas a meia altura durante todo o dia – e moradores em alerta constante diante da situação. À noite, vizinhos chegam a fazer rodízios para ligar para a PM.

Vizinhos chegam a fazer rodízios para chamar a Polícia Militar. Foto: Alex Silva/Estadão

“Não atendi ninguém hoje, só por celular”, disse o lojista Matheus Alves, de 22 anos. Há cerca de um ano, ele alugou um ponto e montou uma assistência técnica de celular na Rua General Osório, a poucos metros da esquina com a Avenida Rio Branco. As proximidades do local, contudo, foram tomadas pelo fluxo de usuários de droga durante as últimas semanas, o que acabou prejudicando os negócios – algumas lojas chegaram a fechar em definitivo.

Diante do baixo movimento, Matheus ainda não chegou a esse ponto, mas baixou as portas por inteiro às 16h desta quinta e encerrou o expediente uma hora antes do habitual. “Vou ficar fazendo o que aqui?”, desabafou à reportagem. Segundo ele, desde que o fluxo saiu da Praça Princesa Isabel, onde se estabeleceu por alguns meses, os comerciantes passaram a ter de lidar com uma rotina de imprevisibilidade e insegurança. Não à toa, ele deixou a porta a meia altura enquanto a loja esteve aberta, a exemplo do que fizeram outros comerciantes.

Movimentação do fluxo da Cracolândia na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua General Osório. Foto: Alex Silva/Estadão

"Daqui a pouco eles são dispersados de novo, mas logo voltam", disse Matheus, explicando que são nos deslocamentos que há mais risco de arrastões. Com medo de que isso ocorra, a maioria das lojas da região mantém ao menos um dos funcionários de costas para o interior do estabelecimento e de frente para a rua, observando as movimentações. Ao menor sinal de risco, baixam as portas rapidamente e gritam para que estabelecimentos vizinhos façam o mesmo.

Lojistas e moradores realizaram protesto 

Com a migração da Cracolândia para as ruas do bairro, na manhã desta quinta, lojistas da Rua Santa Efigênia, uma das referências da cidade de São Paulo em comércio de eletroeletrônicos, realizaram um protesto pedindo medidas para melhorar a situação. Eles baixaram as portas de 9h às 11h e dezenas de lojistas caminharam até o prédio da delegacia que atende o bairro. Entre os gritos e escritos nos cartazes empunhados pelos comerciantes, estavam desde “Queremos trabalhar” a “Segurança para os moradores de Santa Ifigênia”.

Gerente de uma loja de celulares na Rua Santa Ifigênia, Vanessa Fonseca, de 42 anos, foi uma das mais ativas durante a manifestação. Ela conta que o marido, que é proprietário de duas lojas, trabalha na rua há 20 anos e nunca tinha vivido uma situação tão instável nos negócios como neste ano. “Então decidimos protestar para ver se melhora, né? Vamos ver se dá em alguma coisa”, disse ela, que contou que a manifestação foi marcada de maneira espontânea. “Acho que todo mundo está com a mesma sensação, a clientela caiu muito.”

Um dia antes, na manhã de quarta-feira, 6, dependentes químicos do fluxo passaram pela Rua Santa Ifigênia após uma dispersão e entraram em confronto com lojistas e puxadores – que são os trabalhadores autônomos que tentam levar a clientela para comprar em lojas mais distantes e, assim, ganhar comissões com as vendas. As imagens das brigas, que envolveram até pedaços de pau, foram compartilhadas nas redes sociais.

Na madrugada do mesmo dia, um bar na esquina da Rua dos Gusmões com a Rua dos Guaianazes foi saqueado. Proprietário do local, o comerciante Jailton Oliveira, de 52 anos, disse ter tido um prejuízo de cerca de R$ 30 mil. Nesta quinta, ele já estava com as portas abertas novamente, mas disse que ainda não sabia como iria pagar as contas. “Espero que as coisas melhorem.”

Proprietário de um bar, Jailton Oliveira teve o seu estabelecimento saqueado na última quarta-feira. Ele teve um prejuízo de R$ 30 mil. Foto: Alex Silva/Estadão

Sensação de insegurança aumenta

Enquanto os comerciantes veem a clientela diminuir com a dispersão da Cracolândia para a Santa Ifigênia, moradores do bairro relatam que a sensação de insegurança aumentou de forma significativa durante este ano. Recepcionista em um hotel na Rua Conselheiro Nébias, Fabiana Lopes, de 49 anos, conta que a inquilina de um apartamento que ela aluga, na Rua dos Andradas, tem dado indícios na última semana de que vai entregar o imóvel.

“A Rua dos Andradas virou uma das principais para onde eles têm ido de noite, o pessoal vive mandando imagens da bagunça por lá durante a madruga, com caixa de som e tudo”, disse Fabiana. Diante da situação, ela conta que moradores do bairro se reuniram e montaram um grupo no WhatsApp – hoje com 46 pessoas – para tentar soluções. Além de compartilhar informações de tumultos e para onde o fluxo se deslocou, eles também se revezam para acionar a Polícia Militar.

À reportagem, Fabiana mostra que até os números dos chamados, o que também inclui pedidos feitos à Prefeitura, são enviados no grupo. “Tem sido assim, porque a gente tem tentado encontrar alguma solução”, contou ele, também mostrando vídeos gravados recentemente. “Eu moro aqui há 10 anos. Era uma maravilha, perto de tudo, mas agora não dá vontade mais de sair na rua.”

Zelador de um prédio na Rua General Osório há 16 anos, Luiz Rodrigues, de 58 anos, conta que a quantidade de moradores que têm se mudado do local tem sido “imensa”. Ele ainda mora no edifício com a família, mas não sem tomar algumas precauções. “Levo minha filha no ponto de ônibus, ali na Avenida Rio Branco todos os dias”, disse. “Ela já é maior de idade, tem 26, mas tem medo. Infelizmente a situação piorou muito.”

Governador e prefeito prometem reforço na segurança

Nesta quinta-feira, o prefeito Ricardo Nunes (MDB)atribuiu os conflitos à escassez de droga. “Existe um momento em que, faltando droga, os dependentes ficam mais agressivos, com um comportamento fora do padrão normal. Infelizmente, nós vamos ter de passar por essa fase. É uma etapa que a gente precisa vencer, mas não podemos parar”, afirmou.

Ele prometeu reforços. “Vou pedir para colocar mais policiais naquela região. Não vamos aceitar que baderneiros, malandros e bandidos acabem com o sossego das pessoas de bem da cidade”, afirmou.

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) também anunciou nesta quinta-feira reforço do policiamento na região central. “A polícia vai continuar agindo para prender os traficantes e para proteger nossos comerciantes da região. Já determinei ao comandante-geral (da PM) que reforce o policiamento na região”, afirmou. /COLABOROU GONÇALO JUNIOR

"Para onde agora? Cadê o fluxo?", perguntou uma dependente química a um grupo de três homens que usavam crack sentados na calçada da Avenida Rio Branco, quase em frente a uma base fixada pela Polícia Militar na esquina com a Rua dos Gusmões. Um dos usuários, então, levantou a cabeça e com um movimento de pescoço indicou o cruzamento da via com a Rua General Osório, um dos locais com maior concentração de dependentes químicos durante esta quinta-feira, 7. O fluxo havia sido dispersado de lá pela Guarda Civil Metropolitana no início da manhã, mas logo retornou.

A reportagem do Estadão esteve um dia inteiro acompanhando os deslocamentos dos usuários de droga na Santa Ifigênia, na zona central de São Paulo. O que se viu nesta quinta foi um clima de apreensão entre lojistas – alguns deles deixaram as portas a meia altura durante todo o dia – e moradores em alerta constante diante da situação. À noite, vizinhos chegam a fazer rodízios para ligar para a PM.

Vizinhos chegam a fazer rodízios para chamar a Polícia Militar. Foto: Alex Silva/Estadão

“Não atendi ninguém hoje, só por celular”, disse o lojista Matheus Alves, de 22 anos. Há cerca de um ano, ele alugou um ponto e montou uma assistência técnica de celular na Rua General Osório, a poucos metros da esquina com a Avenida Rio Branco. As proximidades do local, contudo, foram tomadas pelo fluxo de usuários de droga durante as últimas semanas, o que acabou prejudicando os negócios – algumas lojas chegaram a fechar em definitivo.

Diante do baixo movimento, Matheus ainda não chegou a esse ponto, mas baixou as portas por inteiro às 16h desta quinta e encerrou o expediente uma hora antes do habitual. “Vou ficar fazendo o que aqui?”, desabafou à reportagem. Segundo ele, desde que o fluxo saiu da Praça Princesa Isabel, onde se estabeleceu por alguns meses, os comerciantes passaram a ter de lidar com uma rotina de imprevisibilidade e insegurança. Não à toa, ele deixou a porta a meia altura enquanto a loja esteve aberta, a exemplo do que fizeram outros comerciantes.

Movimentação do fluxo da Cracolândia na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua General Osório. Foto: Alex Silva/Estadão

"Daqui a pouco eles são dispersados de novo, mas logo voltam", disse Matheus, explicando que são nos deslocamentos que há mais risco de arrastões. Com medo de que isso ocorra, a maioria das lojas da região mantém ao menos um dos funcionários de costas para o interior do estabelecimento e de frente para a rua, observando as movimentações. Ao menor sinal de risco, baixam as portas rapidamente e gritam para que estabelecimentos vizinhos façam o mesmo.

Lojistas e moradores realizaram protesto 

Com a migração da Cracolândia para as ruas do bairro, na manhã desta quinta, lojistas da Rua Santa Efigênia, uma das referências da cidade de São Paulo em comércio de eletroeletrônicos, realizaram um protesto pedindo medidas para melhorar a situação. Eles baixaram as portas de 9h às 11h e dezenas de lojistas caminharam até o prédio da delegacia que atende o bairro. Entre os gritos e escritos nos cartazes empunhados pelos comerciantes, estavam desde “Queremos trabalhar” a “Segurança para os moradores de Santa Ifigênia”.

Gerente de uma loja de celulares na Rua Santa Ifigênia, Vanessa Fonseca, de 42 anos, foi uma das mais ativas durante a manifestação. Ela conta que o marido, que é proprietário de duas lojas, trabalha na rua há 20 anos e nunca tinha vivido uma situação tão instável nos negócios como neste ano. “Então decidimos protestar para ver se melhora, né? Vamos ver se dá em alguma coisa”, disse ela, que contou que a manifestação foi marcada de maneira espontânea. “Acho que todo mundo está com a mesma sensação, a clientela caiu muito.”

Um dia antes, na manhã de quarta-feira, 6, dependentes químicos do fluxo passaram pela Rua Santa Ifigênia após uma dispersão e entraram em confronto com lojistas e puxadores – que são os trabalhadores autônomos que tentam levar a clientela para comprar em lojas mais distantes e, assim, ganhar comissões com as vendas. As imagens das brigas, que envolveram até pedaços de pau, foram compartilhadas nas redes sociais.

Na madrugada do mesmo dia, um bar na esquina da Rua dos Gusmões com a Rua dos Guaianazes foi saqueado. Proprietário do local, o comerciante Jailton Oliveira, de 52 anos, disse ter tido um prejuízo de cerca de R$ 30 mil. Nesta quinta, ele já estava com as portas abertas novamente, mas disse que ainda não sabia como iria pagar as contas. “Espero que as coisas melhorem.”

Proprietário de um bar, Jailton Oliveira teve o seu estabelecimento saqueado na última quarta-feira. Ele teve um prejuízo de R$ 30 mil. Foto: Alex Silva/Estadão

Sensação de insegurança aumenta

Enquanto os comerciantes veem a clientela diminuir com a dispersão da Cracolândia para a Santa Ifigênia, moradores do bairro relatam que a sensação de insegurança aumentou de forma significativa durante este ano. Recepcionista em um hotel na Rua Conselheiro Nébias, Fabiana Lopes, de 49 anos, conta que a inquilina de um apartamento que ela aluga, na Rua dos Andradas, tem dado indícios na última semana de que vai entregar o imóvel.

“A Rua dos Andradas virou uma das principais para onde eles têm ido de noite, o pessoal vive mandando imagens da bagunça por lá durante a madruga, com caixa de som e tudo”, disse Fabiana. Diante da situação, ela conta que moradores do bairro se reuniram e montaram um grupo no WhatsApp – hoje com 46 pessoas – para tentar soluções. Além de compartilhar informações de tumultos e para onde o fluxo se deslocou, eles também se revezam para acionar a Polícia Militar.

À reportagem, Fabiana mostra que até os números dos chamados, o que também inclui pedidos feitos à Prefeitura, são enviados no grupo. “Tem sido assim, porque a gente tem tentado encontrar alguma solução”, contou ele, também mostrando vídeos gravados recentemente. “Eu moro aqui há 10 anos. Era uma maravilha, perto de tudo, mas agora não dá vontade mais de sair na rua.”

Zelador de um prédio na Rua General Osório há 16 anos, Luiz Rodrigues, de 58 anos, conta que a quantidade de moradores que têm se mudado do local tem sido “imensa”. Ele ainda mora no edifício com a família, mas não sem tomar algumas precauções. “Levo minha filha no ponto de ônibus, ali na Avenida Rio Branco todos os dias”, disse. “Ela já é maior de idade, tem 26, mas tem medo. Infelizmente a situação piorou muito.”

Governador e prefeito prometem reforço na segurança

Nesta quinta-feira, o prefeito Ricardo Nunes (MDB)atribuiu os conflitos à escassez de droga. “Existe um momento em que, faltando droga, os dependentes ficam mais agressivos, com um comportamento fora do padrão normal. Infelizmente, nós vamos ter de passar por essa fase. É uma etapa que a gente precisa vencer, mas não podemos parar”, afirmou.

Ele prometeu reforços. “Vou pedir para colocar mais policiais naquela região. Não vamos aceitar que baderneiros, malandros e bandidos acabem com o sossego das pessoas de bem da cidade”, afirmou.

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) também anunciou nesta quinta-feira reforço do policiamento na região central. “A polícia vai continuar agindo para prender os traficantes e para proteger nossos comerciantes da região. Já determinei ao comandante-geral (da PM) que reforce o policiamento na região”, afirmou. /COLABOROU GONÇALO JUNIOR

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