Cracolândia perto da Estação da Luz assusta passageiros e vizinhos: ‘Decidi largar a faculdade’


Concentração de dependentes químicos se moveu esta semana, levando medo a mais áreas do centro de SP; população relata furtos de celulares, medo de sair de casa e estratégias para fugir de crimes

Por Ítalo Lo Re e Tiago Queiroz
Atualização:

“É absurdo colocarem a Cracolândia na entrada de uma estação”, diz uma mensagem. “Todo dia agora, bem na hora de chegar em casa?”, reclama outro. “Fica absurdamente perigoso”. Essas são algumas das queixas enviadas nas últimas horas em um grupo de WhatsApp de moradores de um prédio na Rua Mauá, no centro de São Paulo, onde a Cracolândia passou as noites de terça-feira, 7, e quarta-feira, 8. “Se eu pudesse voltar atrás (da decisão de morar na região), eu voltaria”, disse uma moradora de 40 anos.

Fluxo migrou de trecho da Rua dos Gusmões para a Rua Mauá Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Há alguns meses vendo a Cracolândia na Rua dos Protestantes da janela do apartamento, ela agora também tem de lidar com o fluxo na porta do condomínio. Ficou encurralada. “Antes de levar meu filho de 3 anos para a escola, tenho de olhar para a rua primeiro para ver se dá para sair ou não”, disse ela, que se mudou para lá há três anos. A ideia era propiciar melhor qualidade de vida para os três filhos, mas o entorno da Estação da Luz tem vivido uma rotina de medo nos últimos meses.

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Como mostrou o Estadão, até outubro, ao menos 11 endereços já foram ocupados pela Cracolândia no ano, segundo mapeamento da Prefeitura. Havia pelo menos dois meses, o fluxo passava o dia na Rua dos Protestantes e a noite na Rua dos Gusmões, no cruzamento com a Avenida Rio Branco. A rotina do dia se mantém, em uma espécie de “horário comercial”, mas nas duas últimas noites os dependentes químicos têm se fixado à noite bem ao lado da Estação da Luz.

Duas portas que davam acesso à estação pela Rua Mauá foram fechadas. Agora, só é possível acessar a CPTM pelo lado da Praça da Luz ou pela entrada do Metrô, na Avenida Cásper Líbero. Integrantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) negam ter havido condução do fluxo. Moradores e comerciantes da região, porém, argumentam que a Prefeitura poderia ao menos ter impedido a Cracolândia de se deslocar para lá.

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‘Tomo remédio para dormir’

“Era por volta de 23 horas, já estávamos deitados, e começou uma gritaria, uma ‘bateção’ nos tapumes. Logo em seguida, começamos a ouvir barulho de bomba, tiro de borracha”, disse a moradora do prédio vizinho sobre a madrugada da última quarta-feira, 8. Mãe de três filhos, ela afirma que um deles, de 16 anos, preferiu ir morar com os avós na zona leste diante de toda a situação. “Tomo remédio para dormir. Não só eu, como outros moradores aqui do prédio.”

Com medo de ser assaltado por conta da aproximação da Cracolândia, o servidor público Luiz Carlos Afonso, 48 anos, afirma que decidiu trancar a faculdade no último semestre. “Na Rua Mauá eles acabam afetando mais os passageiros, só que já na Rua dos Protestantes, onde passam o dia há alguns meses, eles também já estavam entre o caminho da minha casa até a estação. Decidi largar a faculdade”, afirmou.

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Duas portas que davam acesso à Estação da Luz pela Rua Mauá foram fechadas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Afonso estava no 8º período de um curso noturno de Enfermagem, no Paraíso, zona sul. Pegava Metrô todos os dias e chegava na Estação da Luz por volta das 23h. Agora, não se vê mais à vontade para fazer isso. Em agosto, um vigilante foi morto no Largo de General em uma tentativa de assalto por integrantes do fluxo, que na época já ocupava a Rua dos Protestantes. “Eu o conhecia, estive com ele no dia”, disse Afonso.

Há um mês, a vendedora Rayane Godoy, de 29 anos, foi assaltada na saída do trabalho, na região da Rua José Paulino. Desesperada pela possibilidade de perder o iPhone recém-comprado, saiu correndo atrás dos bandidos. Foi parar perto do fluxo, na Rua dos Protestantes, onde pediu ajuda a um GCM. “Por sorte, um deles conseguiu recuperar meu celular”, disse. “Só não conseguiram achar o dinheiro que estava junto: R$ 600 para pagar a escola do meu filho.”

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No caso do enfermeiro Edson de Souza, de 55 anos, o alvo foi um amigo, que trabalha como pipoqueiro nos arredores do Parque da Luz. Há alguns dias, o trabalhador teve o celular roubado enquanto conferia se o pagamento de um cliente havia caído no aplicativo de banco. Para especialistas, os bandidos nem sempre são integrantes do fluxo, mas se aproveitam da aglomeração para se esconder após os roubos.

“Como o celular estava desbloqueado, desviaram cerca de R$ 3 mil da conta dele pelo Pix”, disse Souza. Morador de um prédio na Avenida Rio Branco, ele afirma que é visível a piora da insegurança na região de Santa Ifigênia. O bairro é o que mais teve ruas ocupadas pela Cracolândia desde o começo do ano passado, quando a aglomeração de usuários passou a ser itinerante. “Evito tirar o celular do bolso por aqui.”

‘Fluxo’ de usuários de drogas migra durante a noite

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A reportagem do Estadão passou a tarde desta quarta-feira na região da Cracolândia. Até por volta de 17h30, o fluxo ficou concentrado na Rua dos Protestantes. Depois, os usuários foram pela segunda noite consecutiva para a Rua Mauá, concentrando-se bem ao lado da Estação da Luz. Cerca de 60 agentes da GCM estavam por lá no momento da movimentação, além de algumas viaturas da Polícia Militar.

Quando a movimentação ocorreu, parte dos comerciantes já havia baixado as portas – muitos deles passaram a fechar mais cedo, às 17h, por conta da aproximação do fluxo. Já os que permaneciam abertos, como lanchonetes, cerravam as portas pela metade ou tinham a ajuda de amigos para fazer uma espécie de cordão nas entradas. “Piorou muito a situação”, disse o lojista Raimundo Nonato Viana, de 66 anos.

Cerca de 60 agentes da GCM acompanharam movimentação do fluxo Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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De dentro da estação, muitos passageiros se surpreendiam ao encontrar fechadas as portas da saída para a Rua Mauá. “Quando vim para cá (estação), meus amigos aqui de São Paulo me deram algumas dicas para proteger o celular, pertences pessoais”, disse a publicitária Mayse Cavalcante, de 27 anos, que veio de Maceió para acompanhar um show na capital paulista. Ela segurava a mochila rente ao peito à espera de um carro de aplicativo na saída da estação que dá de frente para o Parque da Luz.

Funcionários da CPTM informaram ao Estadão que, com a aproximação do fluxo na noite de terça-feira, 7, o número de vigilantes foi incrementado na Estação da Luz. Segundo eles, os usuários chegaram a quebrar uma das portas na madrugada de quarta. Vigilantes usaram spray de pimenta para conter a ofensiva e, nesta manhã, as portas foram reforçadas, até com gradis improvisados.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública, durante a movimentação da noite de terça, acompanhada pela GCM em conjunto com a PM, os usuários de drogas arremessaram pedras nos agentes envolvidos e um PM foi atingido no braço. Ele foi encaminhado para um hospital e liberado após ser medicado.

Em nota, a Prefeitura disse realizar ações de abordagem e oferta de tratamento e acolhimento diariamente na região central, por meio do Programa Redenção e equipes da assistência social. “As redes de saúde da Prefeitura e do Estado contam com mais de 3,5 mil vagas destinadas ao tratamento de dependentes químicos.”

A pasta completou ainda que a GCM atua na região com patrulhamento comunitário e preventivo, com o objetivo de garantir a segurança dos agentes públicos e da população. Segundo a Prefeitura, foi intensificado “patrulhamento comunitário e preventivo, com a ampliação do número de viaturas e motos na região”, que hoje tem mais de 1,6 mil GCMs.

Em nota, a CPTM disse “manter à disposição dos passageiros o acesso à estação pelo Parque da Luz e pelo Boulevard João Carlos Martins (que liga a estação à Sala São Paulo)”. Segundo a estatal, os funcionários da estação estão preparados para orientar os passageiros quanto a estes acessos.

“É absurdo colocarem a Cracolândia na entrada de uma estação”, diz uma mensagem. “Todo dia agora, bem na hora de chegar em casa?”, reclama outro. “Fica absurdamente perigoso”. Essas são algumas das queixas enviadas nas últimas horas em um grupo de WhatsApp de moradores de um prédio na Rua Mauá, no centro de São Paulo, onde a Cracolândia passou as noites de terça-feira, 7, e quarta-feira, 8. “Se eu pudesse voltar atrás (da decisão de morar na região), eu voltaria”, disse uma moradora de 40 anos.

Fluxo migrou de trecho da Rua dos Gusmões para a Rua Mauá Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Há alguns meses vendo a Cracolândia na Rua dos Protestantes da janela do apartamento, ela agora também tem de lidar com o fluxo na porta do condomínio. Ficou encurralada. “Antes de levar meu filho de 3 anos para a escola, tenho de olhar para a rua primeiro para ver se dá para sair ou não”, disse ela, que se mudou para lá há três anos. A ideia era propiciar melhor qualidade de vida para os três filhos, mas o entorno da Estação da Luz tem vivido uma rotina de medo nos últimos meses.

Como mostrou o Estadão, até outubro, ao menos 11 endereços já foram ocupados pela Cracolândia no ano, segundo mapeamento da Prefeitura. Havia pelo menos dois meses, o fluxo passava o dia na Rua dos Protestantes e a noite na Rua dos Gusmões, no cruzamento com a Avenida Rio Branco. A rotina do dia se mantém, em uma espécie de “horário comercial”, mas nas duas últimas noites os dependentes químicos têm se fixado à noite bem ao lado da Estação da Luz.

Duas portas que davam acesso à estação pela Rua Mauá foram fechadas. Agora, só é possível acessar a CPTM pelo lado da Praça da Luz ou pela entrada do Metrô, na Avenida Cásper Líbero. Integrantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) negam ter havido condução do fluxo. Moradores e comerciantes da região, porém, argumentam que a Prefeitura poderia ao menos ter impedido a Cracolândia de se deslocar para lá.

‘Tomo remédio para dormir’

“Era por volta de 23 horas, já estávamos deitados, e começou uma gritaria, uma ‘bateção’ nos tapumes. Logo em seguida, começamos a ouvir barulho de bomba, tiro de borracha”, disse a moradora do prédio vizinho sobre a madrugada da última quarta-feira, 8. Mãe de três filhos, ela afirma que um deles, de 16 anos, preferiu ir morar com os avós na zona leste diante de toda a situação. “Tomo remédio para dormir. Não só eu, como outros moradores aqui do prédio.”

Com medo de ser assaltado por conta da aproximação da Cracolândia, o servidor público Luiz Carlos Afonso, 48 anos, afirma que decidiu trancar a faculdade no último semestre. “Na Rua Mauá eles acabam afetando mais os passageiros, só que já na Rua dos Protestantes, onde passam o dia há alguns meses, eles também já estavam entre o caminho da minha casa até a estação. Decidi largar a faculdade”, afirmou.

Duas portas que davam acesso à Estação da Luz pela Rua Mauá foram fechadas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Afonso estava no 8º período de um curso noturno de Enfermagem, no Paraíso, zona sul. Pegava Metrô todos os dias e chegava na Estação da Luz por volta das 23h. Agora, não se vê mais à vontade para fazer isso. Em agosto, um vigilante foi morto no Largo de General em uma tentativa de assalto por integrantes do fluxo, que na época já ocupava a Rua dos Protestantes. “Eu o conhecia, estive com ele no dia”, disse Afonso.

Há um mês, a vendedora Rayane Godoy, de 29 anos, foi assaltada na saída do trabalho, na região da Rua José Paulino. Desesperada pela possibilidade de perder o iPhone recém-comprado, saiu correndo atrás dos bandidos. Foi parar perto do fluxo, na Rua dos Protestantes, onde pediu ajuda a um GCM. “Por sorte, um deles conseguiu recuperar meu celular”, disse. “Só não conseguiram achar o dinheiro que estava junto: R$ 600 para pagar a escola do meu filho.”

No caso do enfermeiro Edson de Souza, de 55 anos, o alvo foi um amigo, que trabalha como pipoqueiro nos arredores do Parque da Luz. Há alguns dias, o trabalhador teve o celular roubado enquanto conferia se o pagamento de um cliente havia caído no aplicativo de banco. Para especialistas, os bandidos nem sempre são integrantes do fluxo, mas se aproveitam da aglomeração para se esconder após os roubos.

“Como o celular estava desbloqueado, desviaram cerca de R$ 3 mil da conta dele pelo Pix”, disse Souza. Morador de um prédio na Avenida Rio Branco, ele afirma que é visível a piora da insegurança na região de Santa Ifigênia. O bairro é o que mais teve ruas ocupadas pela Cracolândia desde o começo do ano passado, quando a aglomeração de usuários passou a ser itinerante. “Evito tirar o celular do bolso por aqui.”

‘Fluxo’ de usuários de drogas migra durante a noite

A reportagem do Estadão passou a tarde desta quarta-feira na região da Cracolândia. Até por volta de 17h30, o fluxo ficou concentrado na Rua dos Protestantes. Depois, os usuários foram pela segunda noite consecutiva para a Rua Mauá, concentrando-se bem ao lado da Estação da Luz. Cerca de 60 agentes da GCM estavam por lá no momento da movimentação, além de algumas viaturas da Polícia Militar.

Quando a movimentação ocorreu, parte dos comerciantes já havia baixado as portas – muitos deles passaram a fechar mais cedo, às 17h, por conta da aproximação do fluxo. Já os que permaneciam abertos, como lanchonetes, cerravam as portas pela metade ou tinham a ajuda de amigos para fazer uma espécie de cordão nas entradas. “Piorou muito a situação”, disse o lojista Raimundo Nonato Viana, de 66 anos.

Cerca de 60 agentes da GCM acompanharam movimentação do fluxo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

De dentro da estação, muitos passageiros se surpreendiam ao encontrar fechadas as portas da saída para a Rua Mauá. “Quando vim para cá (estação), meus amigos aqui de São Paulo me deram algumas dicas para proteger o celular, pertences pessoais”, disse a publicitária Mayse Cavalcante, de 27 anos, que veio de Maceió para acompanhar um show na capital paulista. Ela segurava a mochila rente ao peito à espera de um carro de aplicativo na saída da estação que dá de frente para o Parque da Luz.

Funcionários da CPTM informaram ao Estadão que, com a aproximação do fluxo na noite de terça-feira, 7, o número de vigilantes foi incrementado na Estação da Luz. Segundo eles, os usuários chegaram a quebrar uma das portas na madrugada de quarta. Vigilantes usaram spray de pimenta para conter a ofensiva e, nesta manhã, as portas foram reforçadas, até com gradis improvisados.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública, durante a movimentação da noite de terça, acompanhada pela GCM em conjunto com a PM, os usuários de drogas arremessaram pedras nos agentes envolvidos e um PM foi atingido no braço. Ele foi encaminhado para um hospital e liberado após ser medicado.

Em nota, a Prefeitura disse realizar ações de abordagem e oferta de tratamento e acolhimento diariamente na região central, por meio do Programa Redenção e equipes da assistência social. “As redes de saúde da Prefeitura e do Estado contam com mais de 3,5 mil vagas destinadas ao tratamento de dependentes químicos.”

A pasta completou ainda que a GCM atua na região com patrulhamento comunitário e preventivo, com o objetivo de garantir a segurança dos agentes públicos e da população. Segundo a Prefeitura, foi intensificado “patrulhamento comunitário e preventivo, com a ampliação do número de viaturas e motos na região”, que hoje tem mais de 1,6 mil GCMs.

Em nota, a CPTM disse “manter à disposição dos passageiros o acesso à estação pelo Parque da Luz e pelo Boulevard João Carlos Martins (que liga a estação à Sala São Paulo)”. Segundo a estatal, os funcionários da estação estão preparados para orientar os passageiros quanto a estes acessos.

“É absurdo colocarem a Cracolândia na entrada de uma estação”, diz uma mensagem. “Todo dia agora, bem na hora de chegar em casa?”, reclama outro. “Fica absurdamente perigoso”. Essas são algumas das queixas enviadas nas últimas horas em um grupo de WhatsApp de moradores de um prédio na Rua Mauá, no centro de São Paulo, onde a Cracolândia passou as noites de terça-feira, 7, e quarta-feira, 8. “Se eu pudesse voltar atrás (da decisão de morar na região), eu voltaria”, disse uma moradora de 40 anos.

Fluxo migrou de trecho da Rua dos Gusmões para a Rua Mauá Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Há alguns meses vendo a Cracolândia na Rua dos Protestantes da janela do apartamento, ela agora também tem de lidar com o fluxo na porta do condomínio. Ficou encurralada. “Antes de levar meu filho de 3 anos para a escola, tenho de olhar para a rua primeiro para ver se dá para sair ou não”, disse ela, que se mudou para lá há três anos. A ideia era propiciar melhor qualidade de vida para os três filhos, mas o entorno da Estação da Luz tem vivido uma rotina de medo nos últimos meses.

Como mostrou o Estadão, até outubro, ao menos 11 endereços já foram ocupados pela Cracolândia no ano, segundo mapeamento da Prefeitura. Havia pelo menos dois meses, o fluxo passava o dia na Rua dos Protestantes e a noite na Rua dos Gusmões, no cruzamento com a Avenida Rio Branco. A rotina do dia se mantém, em uma espécie de “horário comercial”, mas nas duas últimas noites os dependentes químicos têm se fixado à noite bem ao lado da Estação da Luz.

Duas portas que davam acesso à estação pela Rua Mauá foram fechadas. Agora, só é possível acessar a CPTM pelo lado da Praça da Luz ou pela entrada do Metrô, na Avenida Cásper Líbero. Integrantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) negam ter havido condução do fluxo. Moradores e comerciantes da região, porém, argumentam que a Prefeitura poderia ao menos ter impedido a Cracolândia de se deslocar para lá.

‘Tomo remédio para dormir’

“Era por volta de 23 horas, já estávamos deitados, e começou uma gritaria, uma ‘bateção’ nos tapumes. Logo em seguida, começamos a ouvir barulho de bomba, tiro de borracha”, disse a moradora do prédio vizinho sobre a madrugada da última quarta-feira, 8. Mãe de três filhos, ela afirma que um deles, de 16 anos, preferiu ir morar com os avós na zona leste diante de toda a situação. “Tomo remédio para dormir. Não só eu, como outros moradores aqui do prédio.”

Com medo de ser assaltado por conta da aproximação da Cracolândia, o servidor público Luiz Carlos Afonso, 48 anos, afirma que decidiu trancar a faculdade no último semestre. “Na Rua Mauá eles acabam afetando mais os passageiros, só que já na Rua dos Protestantes, onde passam o dia há alguns meses, eles também já estavam entre o caminho da minha casa até a estação. Decidi largar a faculdade”, afirmou.

Duas portas que davam acesso à Estação da Luz pela Rua Mauá foram fechadas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Afonso estava no 8º período de um curso noturno de Enfermagem, no Paraíso, zona sul. Pegava Metrô todos os dias e chegava na Estação da Luz por volta das 23h. Agora, não se vê mais à vontade para fazer isso. Em agosto, um vigilante foi morto no Largo de General em uma tentativa de assalto por integrantes do fluxo, que na época já ocupava a Rua dos Protestantes. “Eu o conhecia, estive com ele no dia”, disse Afonso.

Há um mês, a vendedora Rayane Godoy, de 29 anos, foi assaltada na saída do trabalho, na região da Rua José Paulino. Desesperada pela possibilidade de perder o iPhone recém-comprado, saiu correndo atrás dos bandidos. Foi parar perto do fluxo, na Rua dos Protestantes, onde pediu ajuda a um GCM. “Por sorte, um deles conseguiu recuperar meu celular”, disse. “Só não conseguiram achar o dinheiro que estava junto: R$ 600 para pagar a escola do meu filho.”

No caso do enfermeiro Edson de Souza, de 55 anos, o alvo foi um amigo, que trabalha como pipoqueiro nos arredores do Parque da Luz. Há alguns dias, o trabalhador teve o celular roubado enquanto conferia se o pagamento de um cliente havia caído no aplicativo de banco. Para especialistas, os bandidos nem sempre são integrantes do fluxo, mas se aproveitam da aglomeração para se esconder após os roubos.

“Como o celular estava desbloqueado, desviaram cerca de R$ 3 mil da conta dele pelo Pix”, disse Souza. Morador de um prédio na Avenida Rio Branco, ele afirma que é visível a piora da insegurança na região de Santa Ifigênia. O bairro é o que mais teve ruas ocupadas pela Cracolândia desde o começo do ano passado, quando a aglomeração de usuários passou a ser itinerante. “Evito tirar o celular do bolso por aqui.”

‘Fluxo’ de usuários de drogas migra durante a noite

A reportagem do Estadão passou a tarde desta quarta-feira na região da Cracolândia. Até por volta de 17h30, o fluxo ficou concentrado na Rua dos Protestantes. Depois, os usuários foram pela segunda noite consecutiva para a Rua Mauá, concentrando-se bem ao lado da Estação da Luz. Cerca de 60 agentes da GCM estavam por lá no momento da movimentação, além de algumas viaturas da Polícia Militar.

Quando a movimentação ocorreu, parte dos comerciantes já havia baixado as portas – muitos deles passaram a fechar mais cedo, às 17h, por conta da aproximação do fluxo. Já os que permaneciam abertos, como lanchonetes, cerravam as portas pela metade ou tinham a ajuda de amigos para fazer uma espécie de cordão nas entradas. “Piorou muito a situação”, disse o lojista Raimundo Nonato Viana, de 66 anos.

Cerca de 60 agentes da GCM acompanharam movimentação do fluxo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

De dentro da estação, muitos passageiros se surpreendiam ao encontrar fechadas as portas da saída para a Rua Mauá. “Quando vim para cá (estação), meus amigos aqui de São Paulo me deram algumas dicas para proteger o celular, pertences pessoais”, disse a publicitária Mayse Cavalcante, de 27 anos, que veio de Maceió para acompanhar um show na capital paulista. Ela segurava a mochila rente ao peito à espera de um carro de aplicativo na saída da estação que dá de frente para o Parque da Luz.

Funcionários da CPTM informaram ao Estadão que, com a aproximação do fluxo na noite de terça-feira, 7, o número de vigilantes foi incrementado na Estação da Luz. Segundo eles, os usuários chegaram a quebrar uma das portas na madrugada de quarta. Vigilantes usaram spray de pimenta para conter a ofensiva e, nesta manhã, as portas foram reforçadas, até com gradis improvisados.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública, durante a movimentação da noite de terça, acompanhada pela GCM em conjunto com a PM, os usuários de drogas arremessaram pedras nos agentes envolvidos e um PM foi atingido no braço. Ele foi encaminhado para um hospital e liberado após ser medicado.

Em nota, a Prefeitura disse realizar ações de abordagem e oferta de tratamento e acolhimento diariamente na região central, por meio do Programa Redenção e equipes da assistência social. “As redes de saúde da Prefeitura e do Estado contam com mais de 3,5 mil vagas destinadas ao tratamento de dependentes químicos.”

A pasta completou ainda que a GCM atua na região com patrulhamento comunitário e preventivo, com o objetivo de garantir a segurança dos agentes públicos e da população. Segundo a Prefeitura, foi intensificado “patrulhamento comunitário e preventivo, com a ampliação do número de viaturas e motos na região”, que hoje tem mais de 1,6 mil GCMs.

Em nota, a CPTM disse “manter à disposição dos passageiros o acesso à estação pelo Parque da Luz e pelo Boulevard João Carlos Martins (que liga a estação à Sala São Paulo)”. Segundo a estatal, os funcionários da estação estão preparados para orientar os passageiros quanto a estes acessos.

“É absurdo colocarem a Cracolândia na entrada de uma estação”, diz uma mensagem. “Todo dia agora, bem na hora de chegar em casa?”, reclama outro. “Fica absurdamente perigoso”. Essas são algumas das queixas enviadas nas últimas horas em um grupo de WhatsApp de moradores de um prédio na Rua Mauá, no centro de São Paulo, onde a Cracolândia passou as noites de terça-feira, 7, e quarta-feira, 8. “Se eu pudesse voltar atrás (da decisão de morar na região), eu voltaria”, disse uma moradora de 40 anos.

Fluxo migrou de trecho da Rua dos Gusmões para a Rua Mauá Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Há alguns meses vendo a Cracolândia na Rua dos Protestantes da janela do apartamento, ela agora também tem de lidar com o fluxo na porta do condomínio. Ficou encurralada. “Antes de levar meu filho de 3 anos para a escola, tenho de olhar para a rua primeiro para ver se dá para sair ou não”, disse ela, que se mudou para lá há três anos. A ideia era propiciar melhor qualidade de vida para os três filhos, mas o entorno da Estação da Luz tem vivido uma rotina de medo nos últimos meses.

Como mostrou o Estadão, até outubro, ao menos 11 endereços já foram ocupados pela Cracolândia no ano, segundo mapeamento da Prefeitura. Havia pelo menos dois meses, o fluxo passava o dia na Rua dos Protestantes e a noite na Rua dos Gusmões, no cruzamento com a Avenida Rio Branco. A rotina do dia se mantém, em uma espécie de “horário comercial”, mas nas duas últimas noites os dependentes químicos têm se fixado à noite bem ao lado da Estação da Luz.

Duas portas que davam acesso à estação pela Rua Mauá foram fechadas. Agora, só é possível acessar a CPTM pelo lado da Praça da Luz ou pela entrada do Metrô, na Avenida Cásper Líbero. Integrantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) negam ter havido condução do fluxo. Moradores e comerciantes da região, porém, argumentam que a Prefeitura poderia ao menos ter impedido a Cracolândia de se deslocar para lá.

‘Tomo remédio para dormir’

“Era por volta de 23 horas, já estávamos deitados, e começou uma gritaria, uma ‘bateção’ nos tapumes. Logo em seguida, começamos a ouvir barulho de bomba, tiro de borracha”, disse a moradora do prédio vizinho sobre a madrugada da última quarta-feira, 8. Mãe de três filhos, ela afirma que um deles, de 16 anos, preferiu ir morar com os avós na zona leste diante de toda a situação. “Tomo remédio para dormir. Não só eu, como outros moradores aqui do prédio.”

Com medo de ser assaltado por conta da aproximação da Cracolândia, o servidor público Luiz Carlos Afonso, 48 anos, afirma que decidiu trancar a faculdade no último semestre. “Na Rua Mauá eles acabam afetando mais os passageiros, só que já na Rua dos Protestantes, onde passam o dia há alguns meses, eles também já estavam entre o caminho da minha casa até a estação. Decidi largar a faculdade”, afirmou.

Duas portas que davam acesso à Estação da Luz pela Rua Mauá foram fechadas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Afonso estava no 8º período de um curso noturno de Enfermagem, no Paraíso, zona sul. Pegava Metrô todos os dias e chegava na Estação da Luz por volta das 23h. Agora, não se vê mais à vontade para fazer isso. Em agosto, um vigilante foi morto no Largo de General em uma tentativa de assalto por integrantes do fluxo, que na época já ocupava a Rua dos Protestantes. “Eu o conhecia, estive com ele no dia”, disse Afonso.

Há um mês, a vendedora Rayane Godoy, de 29 anos, foi assaltada na saída do trabalho, na região da Rua José Paulino. Desesperada pela possibilidade de perder o iPhone recém-comprado, saiu correndo atrás dos bandidos. Foi parar perto do fluxo, na Rua dos Protestantes, onde pediu ajuda a um GCM. “Por sorte, um deles conseguiu recuperar meu celular”, disse. “Só não conseguiram achar o dinheiro que estava junto: R$ 600 para pagar a escola do meu filho.”

No caso do enfermeiro Edson de Souza, de 55 anos, o alvo foi um amigo, que trabalha como pipoqueiro nos arredores do Parque da Luz. Há alguns dias, o trabalhador teve o celular roubado enquanto conferia se o pagamento de um cliente havia caído no aplicativo de banco. Para especialistas, os bandidos nem sempre são integrantes do fluxo, mas se aproveitam da aglomeração para se esconder após os roubos.

“Como o celular estava desbloqueado, desviaram cerca de R$ 3 mil da conta dele pelo Pix”, disse Souza. Morador de um prédio na Avenida Rio Branco, ele afirma que é visível a piora da insegurança na região de Santa Ifigênia. O bairro é o que mais teve ruas ocupadas pela Cracolândia desde o começo do ano passado, quando a aglomeração de usuários passou a ser itinerante. “Evito tirar o celular do bolso por aqui.”

‘Fluxo’ de usuários de drogas migra durante a noite

A reportagem do Estadão passou a tarde desta quarta-feira na região da Cracolândia. Até por volta de 17h30, o fluxo ficou concentrado na Rua dos Protestantes. Depois, os usuários foram pela segunda noite consecutiva para a Rua Mauá, concentrando-se bem ao lado da Estação da Luz. Cerca de 60 agentes da GCM estavam por lá no momento da movimentação, além de algumas viaturas da Polícia Militar.

Quando a movimentação ocorreu, parte dos comerciantes já havia baixado as portas – muitos deles passaram a fechar mais cedo, às 17h, por conta da aproximação do fluxo. Já os que permaneciam abertos, como lanchonetes, cerravam as portas pela metade ou tinham a ajuda de amigos para fazer uma espécie de cordão nas entradas. “Piorou muito a situação”, disse o lojista Raimundo Nonato Viana, de 66 anos.

Cerca de 60 agentes da GCM acompanharam movimentação do fluxo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

De dentro da estação, muitos passageiros se surpreendiam ao encontrar fechadas as portas da saída para a Rua Mauá. “Quando vim para cá (estação), meus amigos aqui de São Paulo me deram algumas dicas para proteger o celular, pertences pessoais”, disse a publicitária Mayse Cavalcante, de 27 anos, que veio de Maceió para acompanhar um show na capital paulista. Ela segurava a mochila rente ao peito à espera de um carro de aplicativo na saída da estação que dá de frente para o Parque da Luz.

Funcionários da CPTM informaram ao Estadão que, com a aproximação do fluxo na noite de terça-feira, 7, o número de vigilantes foi incrementado na Estação da Luz. Segundo eles, os usuários chegaram a quebrar uma das portas na madrugada de quarta. Vigilantes usaram spray de pimenta para conter a ofensiva e, nesta manhã, as portas foram reforçadas, até com gradis improvisados.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública, durante a movimentação da noite de terça, acompanhada pela GCM em conjunto com a PM, os usuários de drogas arremessaram pedras nos agentes envolvidos e um PM foi atingido no braço. Ele foi encaminhado para um hospital e liberado após ser medicado.

Em nota, a Prefeitura disse realizar ações de abordagem e oferta de tratamento e acolhimento diariamente na região central, por meio do Programa Redenção e equipes da assistência social. “As redes de saúde da Prefeitura e do Estado contam com mais de 3,5 mil vagas destinadas ao tratamento de dependentes químicos.”

A pasta completou ainda que a GCM atua na região com patrulhamento comunitário e preventivo, com o objetivo de garantir a segurança dos agentes públicos e da população. Segundo a Prefeitura, foi intensificado “patrulhamento comunitário e preventivo, com a ampliação do número de viaturas e motos na região”, que hoje tem mais de 1,6 mil GCMs.

Em nota, a CPTM disse “manter à disposição dos passageiros o acesso à estação pelo Parque da Luz e pelo Boulevard João Carlos Martins (que liga a estação à Sala São Paulo)”. Segundo a estatal, os funcionários da estação estão preparados para orientar os passageiros quanto a estes acessos.

“É absurdo colocarem a Cracolândia na entrada de uma estação”, diz uma mensagem. “Todo dia agora, bem na hora de chegar em casa?”, reclama outro. “Fica absurdamente perigoso”. Essas são algumas das queixas enviadas nas últimas horas em um grupo de WhatsApp de moradores de um prédio na Rua Mauá, no centro de São Paulo, onde a Cracolândia passou as noites de terça-feira, 7, e quarta-feira, 8. “Se eu pudesse voltar atrás (da decisão de morar na região), eu voltaria”, disse uma moradora de 40 anos.

Fluxo migrou de trecho da Rua dos Gusmões para a Rua Mauá Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Há alguns meses vendo a Cracolândia na Rua dos Protestantes da janela do apartamento, ela agora também tem de lidar com o fluxo na porta do condomínio. Ficou encurralada. “Antes de levar meu filho de 3 anos para a escola, tenho de olhar para a rua primeiro para ver se dá para sair ou não”, disse ela, que se mudou para lá há três anos. A ideia era propiciar melhor qualidade de vida para os três filhos, mas o entorno da Estação da Luz tem vivido uma rotina de medo nos últimos meses.

Como mostrou o Estadão, até outubro, ao menos 11 endereços já foram ocupados pela Cracolândia no ano, segundo mapeamento da Prefeitura. Havia pelo menos dois meses, o fluxo passava o dia na Rua dos Protestantes e a noite na Rua dos Gusmões, no cruzamento com a Avenida Rio Branco. A rotina do dia se mantém, em uma espécie de “horário comercial”, mas nas duas últimas noites os dependentes químicos têm se fixado à noite bem ao lado da Estação da Luz.

Duas portas que davam acesso à estação pela Rua Mauá foram fechadas. Agora, só é possível acessar a CPTM pelo lado da Praça da Luz ou pela entrada do Metrô, na Avenida Cásper Líbero. Integrantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) negam ter havido condução do fluxo. Moradores e comerciantes da região, porém, argumentam que a Prefeitura poderia ao menos ter impedido a Cracolândia de se deslocar para lá.

‘Tomo remédio para dormir’

“Era por volta de 23 horas, já estávamos deitados, e começou uma gritaria, uma ‘bateção’ nos tapumes. Logo em seguida, começamos a ouvir barulho de bomba, tiro de borracha”, disse a moradora do prédio vizinho sobre a madrugada da última quarta-feira, 8. Mãe de três filhos, ela afirma que um deles, de 16 anos, preferiu ir morar com os avós na zona leste diante de toda a situação. “Tomo remédio para dormir. Não só eu, como outros moradores aqui do prédio.”

Com medo de ser assaltado por conta da aproximação da Cracolândia, o servidor público Luiz Carlos Afonso, 48 anos, afirma que decidiu trancar a faculdade no último semestre. “Na Rua Mauá eles acabam afetando mais os passageiros, só que já na Rua dos Protestantes, onde passam o dia há alguns meses, eles também já estavam entre o caminho da minha casa até a estação. Decidi largar a faculdade”, afirmou.

Duas portas que davam acesso à Estação da Luz pela Rua Mauá foram fechadas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Afonso estava no 8º período de um curso noturno de Enfermagem, no Paraíso, zona sul. Pegava Metrô todos os dias e chegava na Estação da Luz por volta das 23h. Agora, não se vê mais à vontade para fazer isso. Em agosto, um vigilante foi morto no Largo de General em uma tentativa de assalto por integrantes do fluxo, que na época já ocupava a Rua dos Protestantes. “Eu o conhecia, estive com ele no dia”, disse Afonso.

Há um mês, a vendedora Rayane Godoy, de 29 anos, foi assaltada na saída do trabalho, na região da Rua José Paulino. Desesperada pela possibilidade de perder o iPhone recém-comprado, saiu correndo atrás dos bandidos. Foi parar perto do fluxo, na Rua dos Protestantes, onde pediu ajuda a um GCM. “Por sorte, um deles conseguiu recuperar meu celular”, disse. “Só não conseguiram achar o dinheiro que estava junto: R$ 600 para pagar a escola do meu filho.”

No caso do enfermeiro Edson de Souza, de 55 anos, o alvo foi um amigo, que trabalha como pipoqueiro nos arredores do Parque da Luz. Há alguns dias, o trabalhador teve o celular roubado enquanto conferia se o pagamento de um cliente havia caído no aplicativo de banco. Para especialistas, os bandidos nem sempre são integrantes do fluxo, mas se aproveitam da aglomeração para se esconder após os roubos.

“Como o celular estava desbloqueado, desviaram cerca de R$ 3 mil da conta dele pelo Pix”, disse Souza. Morador de um prédio na Avenida Rio Branco, ele afirma que é visível a piora da insegurança na região de Santa Ifigênia. O bairro é o que mais teve ruas ocupadas pela Cracolândia desde o começo do ano passado, quando a aglomeração de usuários passou a ser itinerante. “Evito tirar o celular do bolso por aqui.”

‘Fluxo’ de usuários de drogas migra durante a noite

A reportagem do Estadão passou a tarde desta quarta-feira na região da Cracolândia. Até por volta de 17h30, o fluxo ficou concentrado na Rua dos Protestantes. Depois, os usuários foram pela segunda noite consecutiva para a Rua Mauá, concentrando-se bem ao lado da Estação da Luz. Cerca de 60 agentes da GCM estavam por lá no momento da movimentação, além de algumas viaturas da Polícia Militar.

Quando a movimentação ocorreu, parte dos comerciantes já havia baixado as portas – muitos deles passaram a fechar mais cedo, às 17h, por conta da aproximação do fluxo. Já os que permaneciam abertos, como lanchonetes, cerravam as portas pela metade ou tinham a ajuda de amigos para fazer uma espécie de cordão nas entradas. “Piorou muito a situação”, disse o lojista Raimundo Nonato Viana, de 66 anos.

Cerca de 60 agentes da GCM acompanharam movimentação do fluxo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

De dentro da estação, muitos passageiros se surpreendiam ao encontrar fechadas as portas da saída para a Rua Mauá. “Quando vim para cá (estação), meus amigos aqui de São Paulo me deram algumas dicas para proteger o celular, pertences pessoais”, disse a publicitária Mayse Cavalcante, de 27 anos, que veio de Maceió para acompanhar um show na capital paulista. Ela segurava a mochila rente ao peito à espera de um carro de aplicativo na saída da estação que dá de frente para o Parque da Luz.

Funcionários da CPTM informaram ao Estadão que, com a aproximação do fluxo na noite de terça-feira, 7, o número de vigilantes foi incrementado na Estação da Luz. Segundo eles, os usuários chegaram a quebrar uma das portas na madrugada de quarta. Vigilantes usaram spray de pimenta para conter a ofensiva e, nesta manhã, as portas foram reforçadas, até com gradis improvisados.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública, durante a movimentação da noite de terça, acompanhada pela GCM em conjunto com a PM, os usuários de drogas arremessaram pedras nos agentes envolvidos e um PM foi atingido no braço. Ele foi encaminhado para um hospital e liberado após ser medicado.

Em nota, a Prefeitura disse realizar ações de abordagem e oferta de tratamento e acolhimento diariamente na região central, por meio do Programa Redenção e equipes da assistência social. “As redes de saúde da Prefeitura e do Estado contam com mais de 3,5 mil vagas destinadas ao tratamento de dependentes químicos.”

A pasta completou ainda que a GCM atua na região com patrulhamento comunitário e preventivo, com o objetivo de garantir a segurança dos agentes públicos e da população. Segundo a Prefeitura, foi intensificado “patrulhamento comunitário e preventivo, com a ampliação do número de viaturas e motos na região”, que hoje tem mais de 1,6 mil GCMs.

Em nota, a CPTM disse “manter à disposição dos passageiros o acesso à estação pelo Parque da Luz e pelo Boulevard João Carlos Martins (que liga a estação à Sala São Paulo)”. Segundo a estatal, os funcionários da estação estão preparados para orientar os passageiros quanto a estes acessos.

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