Cracolândia: porteiros não param no emprego com medo da violência: ‘Ninguém quer ficar’


Rotatividade de profissionais em área do centro de SP cresceu por causa da insegurança, dizem os moradores; Estado afirma que tem intensificado ações de combate à criminalidade na região

Por Gonçalo Junior
Atualização:

O espalhamento de usuários de drogas na Cracolândia aumentou a sensação de insegurança e medo para profissionais que atuam nas áreas de vigilância, zeladoria e segurança, diretamente expostas à movimentação do chamado “fluxo”. Com isso, síndicos e zeladores de condomínios da região central relatam dificuldades para manter porteiros e vigilantes por longos períodos. A rotatividade aumentou por causa da insegurança, dizem os moradores.

Um episódio tornou o clima ainda mais tenso: a morte do vigilante João da Silva Sousa, de 54 anos, vítima de latrocínio (roubo seguido de morte) no Largo General Osório. João não foi morto em serviço, mas a caminho do trabalho, na região do Bom Retiro.

Depois de ser atingido na lateral do tórax por uma arma branca, segundo a Secretaria de Segurança Pública, o vigilante voltou para casa e pediu ajuda no próprio prédio onde mora. Ele chegou a ser hospitalizado, mas não resistiu ao ferimento. O porteiro que o socorreu afirmou que estava traumatizado e que não conseguia dormir após o episódio.

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Edifício no Largo General Osório, no centro de São Paulo, onde vigilante foi morto Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Ninguém quer ficar (trabalhando) como porteiro ou zelador no centro. O pessoal está com medo”, diz o síndico de um prédio na Rua dos Gusmões, esquina da Rua do Triunfo, que prefere não se identificar.

Ele conta que o último porteiro pediu demissão há duas semanas depois de apenas seis meses de trabalho. O motivo foram as ameaças que vinha sofrendo sobre o funcionamento das câmeras de vigilância no prédio.

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O profissional afirmou que foi questionado por um pedestre, que aparentava ser morador de rua ou usuário de drogas, sobre a gravação das imagens. Ele foi aconselhado a retirar as câmeras “para não se prejudicar”. “Queriam que ele tirasse a câmera, mas ele não tinha autonomia para isso”, diz o síndico.

Relato semelhante foi ouvido pelo Estadão em um condomínio na região da Rua dos Protestantes, outro endereço do fluxo. Ali, a dificuldade é encontrar profissionais que se disponham a trabalhar na região por muito tempo. “A rotatividade aumentou nos últimos meses”.

Espalhamento de usuários de drogas da Cracolândia aumentou a sensação de insegurança no centro de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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O medo é comum também em profissionais que atuam em imóveis comerciais. Em um condomínio de lojas na Rua Mauá com seis estabelecimentos – apenas dois estão ocupados –, o agente de segurança privada, contratado pelos empresários, confessa que a situação se tornou mais tensa depois da morte do morador do Largo General Osorio.

“Se pudesse, escolheria outro lugar para trabalhar, mas não tenho essa opção”, diz. “A gente sente que pode acontecer alguma coisa a qualquer momento”.

Nos prédios que abriram mão dos serviços de portaria – na maioria das vezes para economizar os custos da ordem de R$ 20 mil por mês –, a insegurança e as cobranças recaem sobre o síndico. É o que acontece em outro endereço da Rua dos Gusmões. Ali, a principal queixa também está nas imagens das câmeras de segurança.

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“Os moradores fazem denúncias sobre a Cracolândia e as cobranças recaem sobre o síndico. Eu estava no Nordeste, de férias, mas estava sendo procurado por traficantes ou usuários”.

O espalhamento da Cracolândia vem impondo desafios diferentes para todos que trabalham no centro. No mês passado, o Estadão mostrou como os ataques de usuários de drogas com depredação de carros, ônibus e ataques a caminhões de lixo trouxeram medo aos motoristas.

Taxistas e motoristas por aplicativo passaram a trocar informações sobre a localização do chamado “fluxo” de dependentes químicos antes de começar uma corrida. Garis que atuam nos caminhões de limpeza relataram deixar os aparelhos celulares na sede para evitar assaltos

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Recentemente, com o retorno das aulas, os moradores reclamam da falta de empresas de transporte escolar para levar as crianças ao Liceu Coração de Jesus, nos Campos Elísios, uma das poucas escolas da região. Segundo os pais, apenas uma empresa faz o itinerário - as outras recusam por causa dos roubos e furtos, principalmente dos aparelhos celulares dos condutores.

Em nota enviada ao Estadão, a Secretaria de Segurança Pública afirma que desde o início deste ano tem intensificado suas ações de combate à criminalidade na Cracolândia.

“Como resultado do empenho do Governo de SP na região, desde o mês de abril quase 1.000 roubos foram evitados nessa localidade. Nos primeiros seis meses deste ano, a polícia conseguiu prender ou apreender 1.322 criminosos, representando um aumento de 68,4% em comparação ao mesmo período do ano passado.”

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Ainda de acordo com a pasta, somente entre os dias 22 e 30 de julho foram presas um total de 88 pessoas na região da Cracolândia, sendo 23 dos indivíduos procurados pela Justiça.

Sobre a morte do vigilante João da Silva Sousa, a SSP informou que o 3° Distrito Policial (Campos Elíseos) investiga o latrocínio. “Guardas Civis foram acionados por populares e ao chegarem no local, encontraram a vítima caída no chão. Ele foi socorrido à Santa Casa de São Paulo, onde faleceu. Segundo informações, a vítima teria sido atacada por um indivíduo que tentou pegar sua mochila, e ao resistir, foi atacado com uma arma branca na lateral do tórax. Diligências prosseguem para esclarecer os fatos.”

O espalhamento de usuários de drogas na Cracolândia aumentou a sensação de insegurança e medo para profissionais que atuam nas áreas de vigilância, zeladoria e segurança, diretamente expostas à movimentação do chamado “fluxo”. Com isso, síndicos e zeladores de condomínios da região central relatam dificuldades para manter porteiros e vigilantes por longos períodos. A rotatividade aumentou por causa da insegurança, dizem os moradores.

Um episódio tornou o clima ainda mais tenso: a morte do vigilante João da Silva Sousa, de 54 anos, vítima de latrocínio (roubo seguido de morte) no Largo General Osório. João não foi morto em serviço, mas a caminho do trabalho, na região do Bom Retiro.

Depois de ser atingido na lateral do tórax por uma arma branca, segundo a Secretaria de Segurança Pública, o vigilante voltou para casa e pediu ajuda no próprio prédio onde mora. Ele chegou a ser hospitalizado, mas não resistiu ao ferimento. O porteiro que o socorreu afirmou que estava traumatizado e que não conseguia dormir após o episódio.

Edifício no Largo General Osório, no centro de São Paulo, onde vigilante foi morto Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Ninguém quer ficar (trabalhando) como porteiro ou zelador no centro. O pessoal está com medo”, diz o síndico de um prédio na Rua dos Gusmões, esquina da Rua do Triunfo, que prefere não se identificar.

Ele conta que o último porteiro pediu demissão há duas semanas depois de apenas seis meses de trabalho. O motivo foram as ameaças que vinha sofrendo sobre o funcionamento das câmeras de vigilância no prédio.

O profissional afirmou que foi questionado por um pedestre, que aparentava ser morador de rua ou usuário de drogas, sobre a gravação das imagens. Ele foi aconselhado a retirar as câmeras “para não se prejudicar”. “Queriam que ele tirasse a câmera, mas ele não tinha autonomia para isso”, diz o síndico.

Relato semelhante foi ouvido pelo Estadão em um condomínio na região da Rua dos Protestantes, outro endereço do fluxo. Ali, a dificuldade é encontrar profissionais que se disponham a trabalhar na região por muito tempo. “A rotatividade aumentou nos últimos meses”.

Espalhamento de usuários de drogas da Cracolândia aumentou a sensação de insegurança no centro de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O medo é comum também em profissionais que atuam em imóveis comerciais. Em um condomínio de lojas na Rua Mauá com seis estabelecimentos – apenas dois estão ocupados –, o agente de segurança privada, contratado pelos empresários, confessa que a situação se tornou mais tensa depois da morte do morador do Largo General Osorio.

“Se pudesse, escolheria outro lugar para trabalhar, mas não tenho essa opção”, diz. “A gente sente que pode acontecer alguma coisa a qualquer momento”.

Nos prédios que abriram mão dos serviços de portaria – na maioria das vezes para economizar os custos da ordem de R$ 20 mil por mês –, a insegurança e as cobranças recaem sobre o síndico. É o que acontece em outro endereço da Rua dos Gusmões. Ali, a principal queixa também está nas imagens das câmeras de segurança.

“Os moradores fazem denúncias sobre a Cracolândia e as cobranças recaem sobre o síndico. Eu estava no Nordeste, de férias, mas estava sendo procurado por traficantes ou usuários”.

O espalhamento da Cracolândia vem impondo desafios diferentes para todos que trabalham no centro. No mês passado, o Estadão mostrou como os ataques de usuários de drogas com depredação de carros, ônibus e ataques a caminhões de lixo trouxeram medo aos motoristas.

Taxistas e motoristas por aplicativo passaram a trocar informações sobre a localização do chamado “fluxo” de dependentes químicos antes de começar uma corrida. Garis que atuam nos caminhões de limpeza relataram deixar os aparelhos celulares na sede para evitar assaltos

Recentemente, com o retorno das aulas, os moradores reclamam da falta de empresas de transporte escolar para levar as crianças ao Liceu Coração de Jesus, nos Campos Elísios, uma das poucas escolas da região. Segundo os pais, apenas uma empresa faz o itinerário - as outras recusam por causa dos roubos e furtos, principalmente dos aparelhos celulares dos condutores.

Em nota enviada ao Estadão, a Secretaria de Segurança Pública afirma que desde o início deste ano tem intensificado suas ações de combate à criminalidade na Cracolândia.

“Como resultado do empenho do Governo de SP na região, desde o mês de abril quase 1.000 roubos foram evitados nessa localidade. Nos primeiros seis meses deste ano, a polícia conseguiu prender ou apreender 1.322 criminosos, representando um aumento de 68,4% em comparação ao mesmo período do ano passado.”

Ainda de acordo com a pasta, somente entre os dias 22 e 30 de julho foram presas um total de 88 pessoas na região da Cracolândia, sendo 23 dos indivíduos procurados pela Justiça.

Sobre a morte do vigilante João da Silva Sousa, a SSP informou que o 3° Distrito Policial (Campos Elíseos) investiga o latrocínio. “Guardas Civis foram acionados por populares e ao chegarem no local, encontraram a vítima caída no chão. Ele foi socorrido à Santa Casa de São Paulo, onde faleceu. Segundo informações, a vítima teria sido atacada por um indivíduo que tentou pegar sua mochila, e ao resistir, foi atacado com uma arma branca na lateral do tórax. Diligências prosseguem para esclarecer os fatos.”

O espalhamento de usuários de drogas na Cracolândia aumentou a sensação de insegurança e medo para profissionais que atuam nas áreas de vigilância, zeladoria e segurança, diretamente expostas à movimentação do chamado “fluxo”. Com isso, síndicos e zeladores de condomínios da região central relatam dificuldades para manter porteiros e vigilantes por longos períodos. A rotatividade aumentou por causa da insegurança, dizem os moradores.

Um episódio tornou o clima ainda mais tenso: a morte do vigilante João da Silva Sousa, de 54 anos, vítima de latrocínio (roubo seguido de morte) no Largo General Osório. João não foi morto em serviço, mas a caminho do trabalho, na região do Bom Retiro.

Depois de ser atingido na lateral do tórax por uma arma branca, segundo a Secretaria de Segurança Pública, o vigilante voltou para casa e pediu ajuda no próprio prédio onde mora. Ele chegou a ser hospitalizado, mas não resistiu ao ferimento. O porteiro que o socorreu afirmou que estava traumatizado e que não conseguia dormir após o episódio.

Edifício no Largo General Osório, no centro de São Paulo, onde vigilante foi morto Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Ninguém quer ficar (trabalhando) como porteiro ou zelador no centro. O pessoal está com medo”, diz o síndico de um prédio na Rua dos Gusmões, esquina da Rua do Triunfo, que prefere não se identificar.

Ele conta que o último porteiro pediu demissão há duas semanas depois de apenas seis meses de trabalho. O motivo foram as ameaças que vinha sofrendo sobre o funcionamento das câmeras de vigilância no prédio.

O profissional afirmou que foi questionado por um pedestre, que aparentava ser morador de rua ou usuário de drogas, sobre a gravação das imagens. Ele foi aconselhado a retirar as câmeras “para não se prejudicar”. “Queriam que ele tirasse a câmera, mas ele não tinha autonomia para isso”, diz o síndico.

Relato semelhante foi ouvido pelo Estadão em um condomínio na região da Rua dos Protestantes, outro endereço do fluxo. Ali, a dificuldade é encontrar profissionais que se disponham a trabalhar na região por muito tempo. “A rotatividade aumentou nos últimos meses”.

Espalhamento de usuários de drogas da Cracolândia aumentou a sensação de insegurança no centro de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O medo é comum também em profissionais que atuam em imóveis comerciais. Em um condomínio de lojas na Rua Mauá com seis estabelecimentos – apenas dois estão ocupados –, o agente de segurança privada, contratado pelos empresários, confessa que a situação se tornou mais tensa depois da morte do morador do Largo General Osorio.

“Se pudesse, escolheria outro lugar para trabalhar, mas não tenho essa opção”, diz. “A gente sente que pode acontecer alguma coisa a qualquer momento”.

Nos prédios que abriram mão dos serviços de portaria – na maioria das vezes para economizar os custos da ordem de R$ 20 mil por mês –, a insegurança e as cobranças recaem sobre o síndico. É o que acontece em outro endereço da Rua dos Gusmões. Ali, a principal queixa também está nas imagens das câmeras de segurança.

“Os moradores fazem denúncias sobre a Cracolândia e as cobranças recaem sobre o síndico. Eu estava no Nordeste, de férias, mas estava sendo procurado por traficantes ou usuários”.

O espalhamento da Cracolândia vem impondo desafios diferentes para todos que trabalham no centro. No mês passado, o Estadão mostrou como os ataques de usuários de drogas com depredação de carros, ônibus e ataques a caminhões de lixo trouxeram medo aos motoristas.

Taxistas e motoristas por aplicativo passaram a trocar informações sobre a localização do chamado “fluxo” de dependentes químicos antes de começar uma corrida. Garis que atuam nos caminhões de limpeza relataram deixar os aparelhos celulares na sede para evitar assaltos

Recentemente, com o retorno das aulas, os moradores reclamam da falta de empresas de transporte escolar para levar as crianças ao Liceu Coração de Jesus, nos Campos Elísios, uma das poucas escolas da região. Segundo os pais, apenas uma empresa faz o itinerário - as outras recusam por causa dos roubos e furtos, principalmente dos aparelhos celulares dos condutores.

Em nota enviada ao Estadão, a Secretaria de Segurança Pública afirma que desde o início deste ano tem intensificado suas ações de combate à criminalidade na Cracolândia.

“Como resultado do empenho do Governo de SP na região, desde o mês de abril quase 1.000 roubos foram evitados nessa localidade. Nos primeiros seis meses deste ano, a polícia conseguiu prender ou apreender 1.322 criminosos, representando um aumento de 68,4% em comparação ao mesmo período do ano passado.”

Ainda de acordo com a pasta, somente entre os dias 22 e 30 de julho foram presas um total de 88 pessoas na região da Cracolândia, sendo 23 dos indivíduos procurados pela Justiça.

Sobre a morte do vigilante João da Silva Sousa, a SSP informou que o 3° Distrito Policial (Campos Elíseos) investiga o latrocínio. “Guardas Civis foram acionados por populares e ao chegarem no local, encontraram a vítima caída no chão. Ele foi socorrido à Santa Casa de São Paulo, onde faleceu. Segundo informações, a vítima teria sido atacada por um indivíduo que tentou pegar sua mochila, e ao resistir, foi atacado com uma arma branca na lateral do tórax. Diligências prosseguem para esclarecer os fatos.”

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