Um dia após os saques na região da Santa Ifigênia, provocados pela dispersão dos usuários e traficantes de drogas pelo centro da cidade, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou nesta quinta-feira, 7, que esta é uma etapa do combate ao tráfico. "Vamos ter de passar por essa fase", disse. Na quarta-feira, 6, donos de lojas baixaram as portas em alguns horários diante do receio de invasões. Nunes também prometeu aumentar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) no local.
Nos últimos dias, o fluxo vem se concentrando na Rua dos Gusmões, perto da Santa Ifigênia, importante polo de comércio de eletroeletrônicos da região central de São Paulo. Depois de uma operação policial, usuários se dispersaram e alguns tentaram saquear estabelecimentos comerciais. Imagens feitas pelos próprios comerciantes mostram o momento em que suspeitos fogem com bebidas e até um TV de um bar na Rua Guaianazes. Segundo a polícia, quatro pessoas foram presas.
Nunes atribuiu os conflitos à escassez de droga. “Existe um momento em que, faltando droga, os dependentes ficam mais agressivos, com um comportamento fora do padrão normal. Infelizmente, nós vamos ter de passar por essa fase. É uma etapa que a gente precisa vencer, mas não podemos parar”, afirmou.
Embora não tenha citado o número exato de homens que vão atuar, o prefeito detalhou ações de policiamento. “Fiz um concurso para contratar mil guardas da GCM, que está na fase de provas e chamamento. Dobrei de 1.200 para 1.400 vagas na operação delegada (policiais militares que trabalham de folga são remunerados pela Prefeitura). Vou pedir para colocar mais policiais naquela região. Não vamos aceitar que baderneiros, malandros e bandidos acabem com o sossego das pessoas de bem da cidade”, afirmou Nunes durante visita ao programa “Ver na Escola”, na zona oeste de São Paulo.
Dispersão da Cracolândia
Alexis Vargas, secretário executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura, afirma que vai se encontrar com os lojistas. "Nós estamos do mesmo lado. Estamos no mesmo barco. Da mesma forma que nós nos reunimos com os moradores da região da Luz e da região da Praça Princesa Isabel, que agora podemo ocupar os espaços públicos, nós também queremos ouvir os lojistas para entender como reduzir a incomodidade nesta fase”, afirmou ao Estadão.
Ainda de acordo com o secretário, a estratégia de ação na Cracolândia não sofrerá grandes mudanças. "A estratégia está dando certo. A Cracolândia está cada vez menor. Não temos concentrações com mais de 150 pessoas. Antes eram quatro mil", compara.
A dispersão do fluxo pelo centro começou em março, com a saída da região da Estação Julio Prestes, na Luz. De acordo com a Polícia Civil, a movimentação foi determinada pela facção criminosa que comanda o tráfico na capital. Os usuários e traficantes se deslocaram, então, para a região da Praça Princesa Isabel. Após uma megaoperação policial, o fluxo da Cracolândia se espalhou por vários pontos.
Paralelamente às ações policiais, a Prefeitura afirma que vem ampliando os serviços para internação dos usuários. “Temos cinco Caps (Centros de Atenção Psicossocial) no centro e teremos sete, além dos Siats (Serviços Integrado de Acolhida Terapêutica). Esse é o caminho que a Prefeitura está traçando. Evidentemente, se o médico dessas unidades identificar que aquela pessoa necessita de uma internação, nós vamos dar toda infraestrutura”, disse Nunes.
Governo promete aumentar o policiamento
A Polícia Militar informou, em nota, que irá intensificar o policiamento na região. De acordo com a PM, três pessoas foram detidas por um furto ocorrido em um estabelecimento comercial, na madrugada desta quarta-feira, 6, na região de Campos Elíseos. Um quarto autor é investigado pelo 2º Distrito Policial.
"As forças de segurança, em conjunto com o poder municipal, monitoram diariamente os deslocamentos de usuários e realizam trabalho de inteligência para identificar os traficantes que atuam na região", afirma a corporação.
Desde o início da Operação Caronte, em julho do ano passado, a PM informa que 126 pessoas foram presas por ligação ao tráfico e roubos na região e permanecem detidos.
A GCM informou que atendeu a 180 ocorrências, sendo 80 relacionadas a entorpecentes de janeiro até a primeira quinzena de junho deste ano. Nesse mesmo período, 220 pessoas foram conduzidas ao Distrito Policial e 175 ficaram detidas. A GCM apreendeu 9,5 quilos de entorpecentes (cocaína, maconha e crack) e mais de 44 mil reais em espécie.