SÃO PAULO - Os escombros da histórica Vila João Migliari viraram uma espécie de "cemitério" em um protesto realizado neste sábado no Tatuapé, zona leste da cidade de São Paulo. Datada da década de 50, a vila teve 55 dos 60 sobrados demolidos nos últimos seis meses.
Os cinco sobrados que restaram foram provisoriamente tombados na segunda-feira, 2, após um pedido ser aberto na Prefeitura de São Paulo. Enquanto a preservação não for votada em definitivo pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), os imóveis não poderão ser derrubados.
No protesto, os participantes colocaram 50 cruzes brancas de madeira sobre o entulho que restou da demolição. “É uma tristeza. O nosso patrimônio histórico também faz parte da luta pelo meio ambiente”, diz o advogado Danilo Bifone, de 44 anos, do grupo Muda Mooca.
“A ação foi uma forma de demonstrar a nossa tristeza, da perda dessa memória histórica da nossa cidade. São Paulo está sucumbindo diante da especulação imobiliária. As vilas, que tanto contribuíram para a formação do bairro, você não vê mais”, comenta Bifone. Segundo ele, cerca de oito pessoas participaram da intervenção.
Conservada e em uso, a vila começou a ser esvaziada em fevereiro, após o proprietário exigir a saída de todos os locatários. Naquele mês, 20 sobrados foram demolidos do lote em que está sendo construído um edifício da Porte Engenharia. A empresa alega não ter relação com a derrubada dos demais imóveis no domingo, 1º, que ocorreu de forma irregular após ter sido embargada pela subprefeitura da Mooca.
Os sobrados eram dispostos em 12 grandes casas, restando apenas uma (por meio de decisão judicial). A abertura de estudo de tombamento foi votada na segunda-feira 2, quatro meses após ter sido requerida na Prefeitura pelo urbanista e morador do Tatuapé, Lucas Chiconi, de 25 anos.
Chamado de "Conjunto de Vilas Operárias Migliari", o estudo de tombamento inclui ainda duas vilas "irmãs", com estilo semelhante e ligadas à mesma família, localizadas no Pari (centro expandido) e Belém (zona leste). Em nota divulgada nesta semana, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) solicitou que "Prefeitura de São Paulo, Ministério Público e os órgãos competentes realizem a devida apuração dos fatos ocorridos e tomem as medidas cabíveis" sobre a demolição irregular.