Uma decisão sobre a realização do carnaval de rua da cidade de São Paulo é esperada para quinta-feira, 6. Até a data, técnicos ligados à Secretaria Municipal da Saúde enviarão um estudo sobre o panorama epidemiológico da covid-19 ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). Em dezembro, um levantamento semelhante levou ao cancelamento do réveillon da Avenida Paulista.
Capitais como Rio e Florianópolis e cidades referências na festa, como Olinda e São Luiz de Paraitinga, anunciaram que não realizarão o evento diante do avanço da variante Ômicron, do aumento de internações de pacientes com sintomas respiratórios em algumas partes do País e dos surtos de gripe. Enquanto a capital paulista não se pronuncia, ao menos 32 blocos solicitaram o cancelamento de 41 desfiles na cidade, de acordo com balanço municipal de 30 de dezembro.
Em meio às indefinições sobre a realização do evento, a Secretaria Municipal das Subprefeituras publicou no Diário Oficial desta quarta-feira, 5, o adiamento da data de pagamento do patrocínio do carnaval para 20 de janeiro. O contrato de R$ 23 milhões foi assinado com uma empresa ligada à Ambev.
Em coletiva nesta quarta, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que a decisão sobre o carnaval de rua caberá às prefeituras, mas se posicionou contrário à realização. "Não é o momento para aglomerações desta ordem. Portanto, a recomendação é evitar que aconteça."
Já João Gabbardo, coordenador executivo do Comitê Científico do Estado, comentou considerar “impensável manter o carnaval (de rua) nestas condições”. “Mesmo o carnaval de desfile, nós temos que ter uma preocupação, porque essas pessoas, para chegar ao local de desfile, vão se aglomerar no transporte coletivo, vai ter aglomeração na entrada, na saída. E isso sempre é um risco e, neste momento, um risco muito alto. E isso tem que ser analisado com essa preocupação.”
A lista de cancelamentos em São Paulo inclui blocos de artistas e produtores de popularidade nacional, como Pipoca da Rainha (Daniela Mercury), Bloco do Alok, Bloco do Abrava (Tiago Abravanel) e Bloco do Kondzilla (ligado especialmente ao funk). Também estão desfiles locais, como do Bloco do Temperadinho (Cangaíba, na zona leste), do Bloco Perdendo a Linha (Caxingui, na zona oeste) e Localiza Aí BB (Cidade Tiradentes, zona leste). Parte das agremiações costuma se inscrever para mais de uma participação por ano.
Fundador do Bloco do Temperadinho, Mário Luiz Cortes acha “temerário” ir às ruas em fevereiro. A agremiação tem outros dois desfiles que ainda não foram cancelados oficialmente.
“Eu sou contra a realização nas condições sanitárias de hoje”, disse ao Estadão. “A gente vê como o vírus está circulando no mundo. A cidade de São Paulo pode ter feito um excelente trabalho de vacinação, mas isso não significa que todos estaremos imunes por conta da circulação de pessoas, tanto internamente, no Brasil, como pessoas que possivelmente virão de fora.”
Em rede social, o Bloco Perdendo a Linha explicou que a decisão se deve aos “problemas de saúde pública (pandemia do coronavírus) e o risco que uma aglomeração pode gerar”. “Sabemos que isso é doído, pois será o 2º ano sem o nosso bloco na rua. Mas isso se faz necessário por respeito e empatia com todos que foram em algum momento contaminados ou que perderam entes e amigos queridos, além de não alastrarmos este vírus que tanto transtorno nos tem causado”, disse.
Decisão semelhante foi anunciada pelo Localiza Aí BB, de Cidade Tiradentes, na zona leste, que calcula ter atraído mais de 5 mil pessoas no desfile de 2020. “Devido a tantas incertezas que estamos passando, achamos melhor não colocar a vida em risco”, comunicou em rede social. “Entendemos que ainda não é hora de eventos que não tenham um mínimo de controle de segurança e saúde”, acrescentou. Os produtores mantiveram a agenda de ensaios, que exige passaporte da vacina.
Até o dia 23 do mês passado, o número era de 28 desfiles cancelados. Na data, o Estadão também procurou parte dos blocos que desistiram, como o Te Amo, Mas Só Como Amigo (subprefeitura de Pinheiros) e Vem Ku Nóis Ó (subprefeitura da Freguesia do Ó), que confirmaram que o cancelamento foi motivado pela situação sanitária e indefinição sobre a realização do evento, o que dificulta a organização e atração de apoiadores.
A lista de cancelamentos não inclui por enquanto o Bloco do Preta, da cantora Preta Gil, que anunciou que não desfilará no carnaval de 2022. Procurada, a Secretaria Municipal das Subprefeituras diz não ter novo balanço após o de 30 de dezembro.
Como mostrou reportagem do Estadão, parte dos blocos se inscreveu com hesitação para decidir se desfilará apenas perto da data, enquanto outros retomaram os ensaios presenciais e começaram a promover festas. Alguns também consideram a possibilidade de celebrar a data em locais com controle de acesso, como em áreas ao ar livre e casas de festas.
Segundo o regulamento do carnaval de rua, o cancelamento sem ônus para as agremiações é permitido com até 30 dias de antecedência. Caso seja comunicado em prazo inferior, a punição é a proibição de desfilar por dois anos seguidos.
Também à frente de um dos blocos cancelados, Daniela Mercury já havia sinalizado que não participaria do carnaval de rua deste ano. "Sinto muito em anunciar isso, mas avaliamos bem a situação e chegamos à conclusão que o cenário é muito incerto", declarou a cantora, que costuma desfilar com o Pipoca da Rainha na Rua da Consolação.
Já o Bloco Filhas da Lua, do Bixiga, comunicou a decisão em rede social. "Informamos que as atividades do Bloco Filhas da Lua seguem suspensas por tempo indeterminado", destacou. "As fundadorasdo Bloco estão em diálogo para solucionar algumas questões. Por esse motivo, foi tomada a decisão conjunta de que não faremos desfile no Carnaval de Rua de 2022."
696 desfiles seguem confirmados em São Paulo
A Prefeitura de São Paulo autorizou 696 desfiles para o carnaval de 2022, de acordo com balanço municipal de 30 de dezembro. O número não inclui os blocos que pediram o cancelamento e os 23 suspensos por não enviarem todos os dados exigidos.
Entre as confirmações até o momento, estão blocos novatos, populares e tradicionais, como Esfarrapado, Acadêmicos do Baixo Augusta, Galo da Madrugada, Frevo Mulher (da Elba Ramalho), Bicho Maluco Beleza (Alceu Valença), Monobloco e outros.
A expectativa da gestão Nunes era atrair de 15 a 18 milhões de pessoas. A programação está concentrada majoritariamente em oito dias: 19 e 20 de fevereiro (pré-carnaval), 26, 27, 28 de fevereiro e 1º de março (carnaval) e 5 e 6 de março (pós-carnaval).
Inscrições de desfiles caíram 9,68% no carnaval de rua de SP
Após crescimento ano a ano nas edições anteriores, as inscrições para o próximo carnaval caíram 9,68%. Foram 867 solicitações de desfiles para 2022, ante as 960 de 2020.
O número de desfiles realizados em comparação aos inscritos costuma cair até o carnaval, por motivos relacionados a patrocínio, logística e outros. Em 2020, foram realizados 670 desfiles, de acordo com balanço municipal.
As inscrições também caíram no Rio, de 731 para 620, uma redução de 15,18%. Por lá, os números também costumam variar até a chegada do carnaval. Do total em 2020, por exemplo, 441 foram autorizados a ocorrer.
Uma pesquisa do Observatório do Turismo da Prefeitura, feita em 2020, apontou que 73,6% dos foliões moram na cidade e que 50,4% vai a mais de um desfile. Entre os visitantes, 59,3% vivem na Grande São Paulo, 20,7% no interior paulista, 19,4% em outros Estados e 0,6% fora do País.
Outro dado apontado no levantamento é que o público majoritariamente utiliza transporte coletivo para ir aos desfiles, principalmente ônibus ou trem (51,4%) e ônibus (31,6%). Durante a programação, são frequentes casos de estações e veículos com alta lotação.
Em coletiva realizada em outubro, a Prefeitura destacou que 85% do público frequenta cerca de 10% dos blocos, de médio e grande porte. Os chamados megablocos geralmente são liderados por agremiações e artistas populares e ficam concentrados em grandes vias, como a Rua da Consolação e o entorno do Parque do Ibirapuera, dentre outras.
Veja a lista dos blocos que cancelaram desfiles no carnaval de rua de São Paulo:
Fresquinhas (subprefeitura Vila Prudente)
Tarsilas & Andrades (subprefeitura Sé)
Arena Folia (subprefeitura Vila Prudente)
Bloco do Abrava (subprefeitura Pinheiros)
Bloco do Kondzilla (subprefeitura Pinheiros)
Cobra Criada (subprefeitura Butantã)
Bloco da Osse (subprefeitura Santo Amaro)
Bloco Filhas da Lua (subprefeitura Sé, com três desfiles)
O Baile (subprefeitura Pinheiros, com dois desfiles)
Bloco TT (subprefeitura Pinheiros, com dois desfiles)
Carna-Grime (subprefeitura Sé)
KiaMor de Carnaval (subprefeitura Pinheiros)
Bloco das Gloriosas (subprefeitura Mooca)
Banda Mon Amour (subprefeitura Freguesia do Ó/Brasilândia)
Bloco de Rua Vem Ku Nóis Ó (subprefeitura Freguesia do Ó/Brasilândia)
Bloco Carnavalesco Bufalos de Vila Prudente (subprefeitura da Vila Prudente)
Carnafluxo (subprefeitura da Vila Prudente)
Vra Power (subprefeitura Sé)
Bloco do Fubá (subprefeitura Sé)
Conselho do Samba (subprefeitura Vila Prudente)
Bloco Te Amo Mas Só Como Amigo (subprefeitura Pinheiros)
Afoxé Filhos de Gandhy SP (subprefeitura Sé)
Pipoca da Rainha (subprefeitura Sé)
Bloco do Piruka/Kondzilla (subprefeitura Lapa)
Só Cola Jacaré (na subprefeitura Sé, com cinco desfiles)
Bloco do Temperadinho (subprefeitura Aricanduva)
Bloco Alok (subprefeitura Vila Mariana)
Carnanejo Clube Breja Bar (subprefeitura Santana/Tucuruvi, com dois desfiles)
Perdendo a Linha (subprefeitura Santana/Tucuruvi)
Localiza Aí BB (subprefeitura Cidade Tiradentes)
Moradia e Folia (subprefeitura Mooca)
Festa Ô Milla (subprefeitura Santana/Tucuruvi)