O caso das brasileiras presas na Alemanha após terem as etiquetas das malas retiradas e colocadas em outras com cocaína deixou muita gente que viaja apreensiva. As goianas Jeanne Paolini, de 40 anos, e Kátyna Baía, de 44, foram vítimas de uma quadrilha no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, segundo a Polícia Federal, e foram soltas nesta terça-feira, 11, após mais de um mês detidas sob acusação de tráfico de drogas.
O episódio expõe a vulnerabilidade das bagagens em aeroportos. O Estadão conversou com Fabrício Farias, especialista em segurança da aviação, e Gelson Popazoglo, executivo do segmento de seguros de viagem, para ouvir dicas de cuidados que os passageiros podem ter com seus pertences, como forma de evitar furtos, extravios ou outras ocorrências em aeroportos.
Escolha das bagagens
De acordo com os especialistas, o visual ou modelo da mala não necessariamente são fatores determinantes em caso de roubo ou furto, quando normalmente o alvo é escolhido ao acaso. Entretanto, podem ser um facilitador para encontrar a mala caso aconteça perda ou extravio.
A recomendação de Popazoglo é que se evite bagagens totalmente pretas, que são as mais comuns, e que, caso o faça, que use uma fita, etiqueta ou algum outro item que a caracterize. “Se você comprar uma bagagem diferente, é muito mais fácil de encontrá-la. Ao procurar a companhia aérea identificando uma bagagem colorida ou com algum item sinalizador, torna-se mais fácil para que eles encontrem também”, afirma.
O especialista em segurança Fabrício Farias destaca que um fator de impacto na escolha da mala é a existência de um cadeado embutido, que garante mais proteção que o cadeado usual, por não permitir a mobilidade do zíper. “Qualquer objeto pontiagudo permite que se manobre a abertura do zíper. Então, o interessante é que se use a trava da própria mala para que não haja movimentação do conjunto de ganchos do fecho.”
Momento de fazer as malas
Ao preparar as malas antes de uma viagem, os especialistas recomendam que se faça um registro da montagem, como forma de garantir provas do que foi colocado no compartimento pelo dono. Farias reforça que fazer fotos do momento podem ajudar, mas gravar vídeo é uma forma mais efetiva. “Deixe a câmera em um canto do quarto, mostre um relógio ou jornal em frente à câmera para provar a data em que está montando, e filme o processo de arrumação da mala, mostrando tudo o que está levando.”
A técnica é endossada por Popazoglo, que ainda recomenda que a mala seja feita somente pelo proprietário. “Se houver interferência de outra pessoa, ela pode colocar algo na mala sem você ver, o que dificulta posteriormente para provar que a mala é mesmo sua.” O executivo ainda reforça que, ao fazer as bagagens, nunca se pode colocar objetos importantes, como documentos, na mala que será despachada. “Tudo que é de valor tem que estar com você o tempo todo.”
Tem se popularizado recentemente o uso de rastreadores, como o AirTag, da Apple, dentro das bagagens, como forma de ter controle da localização dos itens. Entretanto, Farias relata que ainda não há um consenso entre os profissionais da aviação sobre a interferência do aparelho no sistema aeronáutico e ainda não há unanimidade na indicação do uso da ferramenta para a segurança de bagagens.
Antes do embarque
Para além do uso de cadeados, o serviço de envelopamento das malas, costumeiramente oferecido nos aeroportos, também pode ser um fator a mais de segurança. Embora a prática seja associada à proteção do objeto contra avarias, o plástico acaba tornando mais complexo o acesso à abertura da mala, dificultando ocorrências como furto ou inserção de objetos, de acordo com os especialistas.
Outra recomendação feita por Popazoglo e Farias é gravar vídeo ou fazer fotos também antes do embarque. Ao despachar a mala, por exemplo, é indicado gravar este momento, registrar o peso mostrado pela balança e quaisquer outros detalhes que possam ser passíveis de questionamentos posteriormente. “Se você gravar tudo, você efetivamente tem provas que você foi quem conduziu suas bagagens do começo ao fim. Ter isso como evidência com certeza vai te ajudar”, diz Popazoglo.
Com as malas despachadas, o cuidado ainda deve ser redobrado com a bagagem de mão. “De forma alguma, deixe a mala para trás. Se parou para tomar o café, deixe-a entre as pernas ou na frente da perna. Em hipótese alguma se distancie ou perca o contato com a mala. Em questão de segundos alguém pode pegar em um momento de distração”, alerta Farias.
A dica para amenizar a dor de cabeça em caso de furto é que antes da viagem o passageiro faça cópia de todos os documentos importantes, como passaporte e reserva de hotel, e deixe-os na nuvem ou envie a si mesmo por e-mail. Carteira e itens como cartões de crédito devem ser sempre mantidos juntos do passageiro, em um compartimento seguro, como um bolso interno.
Após o desembarque
Com o avião de volta em terra firme, ao ir ao encontro da mala despachada, ainda há cuidados a serem tomados. Ao coletar a bagagem na esteira, é importante verificar se há alguma avaria aparente.
Farias também recomenda que se cheque o peso da mala a fim de ver se houve alguma alteração. “Se pintar alguma dúvida no momento em que você retira a mala, chame no mesmo momento a equipe de operação. De forma alguma abra a mala. Filme todo o procedimento, se possível”, afirma.