SÃO PAULO - Em meio à guerra contra pichadores, o prefeito João Doria (PSDB) anunciou que vai criar um programa de grafite de rua para promover grafiteiros e muralistas na cidade. A ideia inicial é que cada ação tenha a duração de três meses e inclua 150 artistas a cada edição. Eles serão escolhidos por meio de uma comissão montada pela Secretaria Municipal de Cultura com artistas, críticos e especialistas no assunto.
Poderão ser grafitados imóveis públicos e privados, que serão procurados pela administração municipal para autorizar o uso do espaço. O primeiro ponto do programa, batizado de Museu de Arte de Rua (MAR), será no Baixo Augusta, na região central. A Prefeitura estima gastar R$ 800 mil com o projeto na região.
O prefeito ressaltou que a Avenida 23 de Maio, que teve grafites apagados pela administração municipal, não passará pelo programa. Ele disse que o local terá apenas os sete grafites que foram considerados “preservados” pela Prefeitura – eram oito, mas um deles, do artista Eduardo Kobra, foi pichado e também será apagado.
Durante o anúncio da medida, Doria voltou a dizer que apoia grafiteiros e muralistas, mas que pichadores não são bem-vindos. “Isso vai nos ajudar a embelezar São Paulo, recuperar várias áreas, a criar visibilidade adequada para o trabalho artístico de grafiteiros e muralistas”, disse.
O secretário de Cultura, André Sturm, afirmou que a comissão receberá as propostas dos grafiteiros e seus currículos, mas não haverá necessidade de enviar a prévia dos desenhos. “Eles serão escolhidos em função do currículo e do histórico.” Cada novo espaço – que será sempre em áreas abertas – terá uma seleção diferente, segundo Sturm.
Crítica. O grafiteiro e curador responsável pela Bienal do Grafite, Binho Ribeiro, disse que dificilmente o programa será bem-sucedido e que Doria deveria, antes de anunciar qualquer projeto, pedir desculpa à população por ter apagado grafites na cidade. “Qualquer conquista para a categoria é importante, mas não diminui o que foi feito. Uma parte dos artistas não vai querer participar desse projeto, e a outra parte será marginalizada dentro da categoria, se aceitar”, afirmou.
Para ele, tudo poderia ter sido evitado com diálogo. “O prefeito agiu de maneira desastrosa. Você não chega na casa de uma pessoa invadindo. Será que ele vai censurar o artista que se manifestar de forma contrária a ele?”
Sem limites. A grafiteira Barbara Goy, uma das artistas responsáveis pelos grafites na Avenida 23 de Maio, diz que não existe delimitação do grafite. “Limitar onde pode fazer e onde não pode não existe. Não é assim que funciona o grafite. Será perda de tempo e dinheiro”, disse. Ela ressaltou que, até agora, não conhece nenhum grafiteiro que tenha sido procurado pela Prefeitura para o projeto. “Torço para que ele (prefeito) esteja realmente disposto a fazer estes projetos pela cidade, mas sem limitar. O grafite sempre foi a liberdade de expressão dos artistas de rua.” Ela também criticou a forma como o prefeito tem lidado com pichadores na cidade. “Ele só piora a situação. Cada vez que vejo o Doria falando sobre pichadores, ele joga álcool na fogueira. Uma hora isso vai explodir”, disse.
A professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie Nadia Somekh diz que o problema não tem solução fácil e o programa anunciado por Doria não resolverá o problema do grafite. “O grafite é algo que não é autorizado. Quando o prefeito fala que vai fazer um grafitódromo, não é mais grafite. É arte urbana. É muito bom, acho ótima esta produção de cultura e parabenizo a iniciativa, mas não é grafite.”
Ela também diz que o Cidade Linda deveria focar na limpeza da sujeira na cidade. “Arte não é sujeira. Deveriam limpar o lixo de verdade.”