SÃO PAULO - A Prefeitura de São Paulo acatou proposta do Ministério Público Estadual para viabilizar a construção do chamado Parque Augusta, no centro da capital. A gestão João Doria (PSDB) vai oferecer terrenos públicos para indenizar as construtoras Setin e Cyrela, donas da área, e fará o parque, mantendo a área verde em 100% do lote de propriedade das empresas, que antes abrigaria arranha-céus.
Doria informou a decisão aos promotores que acompanham o caso em uma reunião na segunda-feira, 17. “Concordamos em encontrar uma solução conjunta. O encontro com o Ministério Público foi muito positivo, mas não conclusivo. Nos próximos 30 dias deveremos ter um caminho que atenda ao interesse de todos”, disse o prefeito ao Estado.
A Prefeitura vai localizar terrenos públicos que tenham o mesmo valor da área do parque, que fica no espaço formado pela Ruas Augusta, Caio Prado e Marquês de Paranaguá, na Consolação, e os oferecerá às empresas. Ao aceitar esses terrenos, as empresas cederão a área da região central para a Prefeitura – que, segundo o secretário de Justiça, Anderson Pomini, vai procurar parceiros privados para fazer as obras de adaptação necessárias. Em troca, ficariam com a gestão do parque.
“Uma preocupação do prefeito é não criar uma estrutura que a Prefeitura tenha de carregar no futuro. Os parques da cidade estão sucateados e não queremos ter mais esse custo”, disse o secretário. Outra meta é uma solução que não exija investimentos diretos do poder público – e aí a concordância com a cessão de terrenos.
A Cyrela e a Setin informaram, em nota conjunta, que “estão à disposição da Prefeitura para qualquer eventual esclarecimento e diálogo referente ao terreno”, embora lembrem, no texto, que já têm aprovações para a construção de quatro torres na área. Segundo Pomini, o prefeito já começou as tratativas com as construtoras e uma nova reunião, “no fim da semana ou, no mais tardar, na semana que vem”, deve ser realizada para que as negociações avancem. Doria é amigo de Elie Horn, dono da Cyrela, que doou R$ 100 mil à campanha.
Nos cadastros da Secretaria Municipal da Fazenda, a área de 23 mil m² aparece dividida em dois lotes, com valor venal de R$ 122,7 milhões. “Os terrenos (que serão oferecidos em troca) ainda estão sendo levantados, mas provavelmente, por esse valor, será mais de um terreno”, afirma Pomini. Como a transação envolve a cessão de bens, ela terá de passar por aprovação em duas votações na Câmara Municipal. A proposta de acordo também exigirá homologação judicial.
Há um decreto da gestão Jânio Quadros, de 1989, que obriga a manutenção da área aberta. Outra regra, de 2004, determinou tombamento do bosque do terreno. Em 2013, uma lei municipal previu a criação do parque no local.
Os 100 dias da gestão Doria em fotos
Recursos. De acordo com o promotor Silvio Marques, da Promotoria de Patrimônio Público e Social, ao aceitar a proposta do MPE, Doria também poderá sacar cerca de R$ 80 milhões depositados em contas judiciais – e já destinados para a construção do parque.
Esse dinheiro é resultado de uma negociação feita pelos promotores com os bancos Citi, UBS e Deutsch, finalizada em 2015, que estabeleceu indenizações a serem pagas pelas empresas por causa de movimentações de recursos obtidos ilegalmente pelo ex-prefeito Paulo Maluf (PP) para o exterior. No acordo em que os bancos concordaram com os pagamentos, os promotores especificaram que os recursos seriam destinados para a criação de parques – garantindo meios de a cidade indenizar as construtoras.
A gestão anterior, de Fernando Haddad (PT), defendia que esses recursos deveriam ser usados para construir creches municipais e não concordava em buscar outras formas de indenização. Pesava a avaliação de que as redondezas já tinham áreas verdes e os custos eram altos.
Pomini afirma que, ao ter acesso aos recursos, a gestão Doria também deve investi-los integralmente para ampliar a oferta de vagas de creches. O promotor Marques afirma que, terminada a negociação, o MPE acompanhará a escolha dos terrenos repassados às empresas para verificar se os valores são correspondentes. “Teremos de garantir que não haja prejuízo ao Município.”
DEPOIMENTO: ‘Olha, existe uma saída Honrosa’ Célia Marcondes, da Sociedade Amigos de Cerqueira Cesar
Estou com grande esperança.
Quando a gente reivindicava o parque e o (Fernando) Haddad (PT, ex-prefeito da capital) dizia que não tinha dinheiro, nós mostramos algumas possibilidades. Uma delas seria pegar o dinheiro do (Paulo) Maluf (PP, também ex-prefeito), que ia voltar para o Brasil. Outra, a troca do potencial construtivo daquela área, e ali só uma parte tem potencial para aproveitamento, com potencial em outra área, onde tivesse demanda. E uma terceira hipótese era essa, a permuta de imóveis ao redor da cidade com o parque. Assim, as construtoras poderiam construir onde há demanda de moradia, e atender à demanda da população da região central de lazer, de ar respirável, parque.
O dinheiro do Maluf não veio, mas o Ministério Público acabou ajuizando ações e fazendo acordos com os bancos - e neles consta que esse dinheiro era para o parque.
Tentamos fazer acordos, mas as construtoras sempre queriam mais. E isso foi ficando na mão do prefeito. E era aquilo: “Não tem dinheiro, não tem dinheiro”. E foi quando o Ministério Público disse: “Olha, existe uma saída honrosa”. E era nossa terceira hipótese.
A Prefeitura tem inúmeros imóveis abandonados, que podem ser invadidos, e precisam de construção. Podem atender às construtoras e à função social da propriedade. E 100% da área na Augusta vira parque.