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Desde que o Estado foi lançado, São Paulo ficou 400 vezes maior. Quando a primeira edição de A Província de São Paulo saiu da gráfica, em janeiro de 1875, a cidade tinha pouco mais de 31 mil habitantes. Testemunhar e registrar os fatos que aconteceriam na capital paulista a partir daí - transformando-a na maior do País, hoje com 11,9 milhões de moradores - passou a ser, mais do que missão, uma das vocações do jornal.
Pudera. Naquele tempo, não havia nem luz nem bonde elétrico, nenhuma rua era asfaltada, a Avenida Paulista ainda não tinha sido inaugurada e o cargo de prefeito nem sequer existia em São Paulo - o primeiro foi Antônio da Silva Prado, que ficou no poder de 1899 a 1911.
"Realizou-se ontem, depois da sessão solene de posse dos novos vereadores municipais, a primeira sessão ordinária da nova câmara (...). Foi eleito prefeito municipal o sr. dr. Antonio Prado (...). O sr. dr. Antonio Prado, prefeito municipal, dará audiências todos os dias úteis do meio-dia às duas horas da tarde", noticiou o Estado em 8 de janeiro de 1899. Entre ele e o atual chefe do Executivo municipal, Fernando Haddad, 46 políticos se sentaram na principal cadeira da Prefeitura.
Nesses 140 anos, a provinciana cidade se tornou uma das mais efervescentes metrópoles do mundo. Bondes se tornaram elétricos, foram substituídos por ônibus, trens e metrôs - e agora ganham a companhia quase onipresente das ciclovias.
Mobilidade, essa questão central que permeia o desenvolvimento de São Paulo, sempre foi destaque nas páginas do Estado - do primeiro congestionamento paulistano com quase 300 automóveis na inauguração do Teatro Municipal, em 12 de setembro de 1911, aos recentes recordes de engarrafamento.
E se, vez por outra, surgem rumores - sempre impopulares - de que uma possível solução para os problemas do trânsito paulistano seria a criação de pedágio urbano, vale lembrar que isso já ocorreu. E em pleno século 19.
Inaugurado em 6 de novembro de 1892, o primeiro viaduto paulistano, o Viaduto do Chá, foi construído para ligar a Rua Direita ao Morro do Chá, ali no Vale do Anhangabaú. Até 1897, a Companhia Ferrocarril cobrava cerca de 60 réis - ou 3 vinténs - dos pedestres que quisessem atravessá-lo. Eram principalmente integrantes da elite paulistana, que cruzavam o vale para ir ao Municipal ou aos cinemas da região. Não por acaso ficou conhecido também como Viaduto dos Três Vinténs.
Alvo de polêmica, acompanhada de perto pelo Estado, o pedágio acabou revogado pela Prefeitura. Em 1938, o antigo viaduto foi demolido porque não suportava mais o grande fluxo de pessoas. No mesmo ano, uma nova estrutura de concreto armado foi aberta ao público.
Já a Avenida Paulista, outro cartão-postal da cidade, foi inaugurada em dezembro de 1891. "Vão muito adiantadas as obras da grande Avenida Paulista, estando já concluídas em uma extensão de dois quilômetros (...). Quando há tempos dissemos que ela constituiria um dos mais higiênicos e formosos passeios da nossa capital, bem longe estávamos de imaginar tudo o que de aprazível e agradável nela existiria depois de concluídas as obras, o que agora se verifica na parte terminada", publicou o Estado em 11 de outubro de 1891.
Nessa época, as ruas ou eram de terra ou cobertas por paralelepípedos. Em 1909, a Paulista se tornou a primeira via asfaltada da capital - com material importado da Alemanha. Depois, deixaria de ser o endereço dos barões de café para se tornar um centro financeiro da cidade.
Show de luz. O jornal também acompanhou a primeira vez em que uma lâmpada elétrica foi acesa na cidade. A exibição ocorreu em 10 de outubro de 1883 no Parque da Luz - com repeteco dez dias mais tarde. O evento atraiu tanta gente que a administração do parque pediu reforço policial. Curiosos para conhecer aquela "maravilha tecnológica", paulistanos pagaram ingresso para ver o "espetáculo".
"Correu magnificamente a festa da noite de sábado, organizada para exibição da luz elétrica, sendo o produto das entradas para as obras da Misericórdia", noticiou A Província de São Paulo. "Foi grande a concorrência, orçada por perto de 3 mil pessoas. À porta foram vendidas 1.900 entradas, a 1$000 (um real) cada. As crianças tinham entrada grátis e houve também muita gente que conseguiu se fazer de criança."